Ao longo da minha vida de Poeta, registei com muita alegria a opinião dos Professores, que acompanharam o meu crescimento.
Maria Manuel Montenegro Miguel, na Escola Preparatória Francisco Arruda estimulou-me bastante, registando num teste que eu escrevia muito bem!
Maria Fernanda Sousa, na Escola Comercial Ferreira Borges, incentivou-me a escrever, comentando (através de correspondência mantida ao longo dos anos) os meus versos, com uma linguagem de extraordinário apuro.
Foram as minhas professoras de Português no caminho normal de um estudante comum.
Quando em adulto e após vir de Moçambique, ingressei na varredura da CML e decidi nas horas livres frequentar o 10º, 11º e 12º do Curso Nocturno, no Liceu D. João de Castro, tive a honra de ter como Professor o escritor Carlos Correia que na última aula disse aos meus colegas que iam ouvir falar de mim, pois eu era poeta.
A profecia cumpriu-se e tudo o que sou deve-se a esses apoios.
Falemos dos leitores.
Na apresentação do primeiro livro (Da Água e do Vento), na Feira do Livro, apareceu uma rapariga simpática, quase em êxtase, enaltecendo a minha poesia, de uma forma tão teatral que me lembrou aquela frase "cantas bem mas não me alegras!". Disse ela, pestanejando muito: "Obrigado, Poeta por existires!"
Desde então, recebi elogios de confrades, aplausos de leitores, mas também descobri que uma criatura que julgava amiga arrecadara os meus livros na cave do prédio onde mora, numas estantes metálicas para arrumos de ferramentas e utensílios, junto com os detergentes e os trastes.
Um poeta transtagano, seguramente infeliz, talvez por nunca ter conseguido realizar os seus sonhos megalómanos, olhou para o volume, em que eu celebrava a terra onde nasci - Alentejo e começou a vomitar correcções, tipo aqui riscava esta frase e deixava ficar este verso, etc.
Não me deixo levar com estes sinais fugazes, umas vezes positivos, outras vezes contrários.
Vem isto a propósito de ao longo dos anos apresentar raras vezes o que escrevo. Se procuro alguma coisa é a tranquilidade e morrer em Paz. Ouvir o silêncio, é-me precioso.
Contudo, em 1 de Outubro e a convite dos "Amigos do Alentejo" bisei a declamação poética de temática alentejana, desta vez optando por outros autores: Romão Moita Mariano, Mestre ferreiro de Pias, poeta apurado, sábio e ainda Eduardo Olímpio e Manuel da Fonseca.
Antes da função se iniciar, uma senhora de Serpa - integrante de um Grupo local de Cante no Feminino, dirigindo-se a mim pediu: "Senhor Luís dê-me cá um bejo que eu gosto muito dos seus poemas."
Aparvoado, soube pela senhora, Ana Rita de seu nome, que ela estivera no lançamento na Casa do Cante do meu "É de Noite Que me Invento" e que o conteúdo dissera-lhe muito.
Explicando que decidira dizer outros poetas e perante o seu lamento, pois estavam pessoas que não conheciam a minha escrita, recitei-lhe num cantinho o meu poema "Olho nos Olhos Estes Velhos" e pedi-lhe a morada para lhe enviar livros meus.
Recebi hoje a carta desta leitora que vale mais que muita prosa laudatória, pela qual, quando somos jovens, tanto ansiamos...
Esta Amiga partilhou a sua sabedoria, numa caligrafia belíssima, de conteúdo mágico...
Não resisto a transcrever um excerto, que me transmitiu uma força extraordinária para continuar neste Mundo:
"Na minha primavera dos sonhos, e eu em Paris, Maio 68 também em grande eu sonhava...Aprendi e vivi a liberdade!Porém, houve sonhos realizados, outros desencontrados, alguns sempre sonhados.. (...) A vida nunca se perde quando partilhada, amada para o bem comum.
Sinto que me vou deste mundo onde passei como faísca que arde. Apenas a deixar cinzas de tantos sonhos sonhados...
Que o sonho não acabe. Que se realizem os sonhos."
Digam lá se há prémio melhor para um escritor do que esta carta, esta reacção.
Luís Filipe Maçarico (fotografia de AIC)