"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, maio 31, 2006

Segurança Social


Hoje no "Público", página 36, notícia a 4 colunas: "Deputado do PS critica "falta de coragem" na Segurança Social"
Respigo este excerto:
"O deputado considera que as propostas do Governo são uma solução que "tenderá, ano após ano, a reduzir os direitos dos trabalhadores."
"No fundo, estamos a nivelar os direitos por baixo. Nós e toda a Europa."
(...) E lembrando que cada vez mais o trabalho do homem é substituído por máquinas, termina com uma ironia: "Se continuarmos a ter contribuições só sobre o factor trabalho, ainda vamos ver os robots a contribuir para a Segurança Social."
Lamento desiludir-vos, mas quem disse isto não foi Manuel Alegre, e aposto que a sumidade poética deve ter votado pela polémica alteração das sessões da Assembleia a fim de poder ver o futebol.
O autor da frase chama-se Vítor Baptista, coordenador do partido governamental na comissão de Orçamento e Finanças.
Foto de LFM (Pomarão, Maio 2006)

segunda-feira, maio 29, 2006

Alves: Uma Imagem


Alves é um lugar da freguesia de Santana de Cambas. Passei por lá na semana passada, durante um curto período de fuga à rotina citadina. E partilho esta imagem, que não precisa de muitas palavras, neste primeiro dia da incursão do presidente da República ao país real, na luta contra a exclusão, em terras de gritante interioridade, um pouco mais acima em Montes Altos (lugar da mesma freguesia) e Mina de São Domingos, também no concelho de Mértola, perto da raia.
Apenas acrescento que o senhor que aparece na fotografia, ao lado da companheira de uma vida, me disse que tem dias em que não vende nada, porque os potenciais clientes não aparecem, pois não têm dinheiro para gastar num copo...

domingo, maio 28, 2006

Eduardo Paniagua e Três Culturas








Ontem em Mértola, no recuperado Cine Teatro, assistiu-se a um excelente espectáculo, com música dos judeus sefarditas, dos árabes andaluzes e dos cristãos da Espanha Medieval, onde três culturas se desenvolveram.
Eduardo Paniagua apresentou cada intervenção do grupo, nomeadamente Ki Eshmerá Shabat, interpretada por um artista judeu que cantou em hebraico.
A sonoridade do alaúde, da flauta, do saltério, da darbuga, do pandeiro, das campaínhas, da cítara, das palmas, mais as vozes de um marroquino e de um andaluz, a solo e de todos em coro, transportou os espectadores para lugares do imaginário e da pura delícia, que a fruição da música com cambiantes orientais a tais divagações desafia.
Paniagua dedica-se há dez anos à recolha dos tesouros musicais que chegaram até nós através da oralidade. Este projecto tem três discos editados. O CD referente ao espectáculo que em Mértola assinalou o lançamento do 4º Festival Islâmico, que acontecerá no próximo ano em Maio, em data ainda por anunciar, integra uma voz feminina (Aurora Moreno) e mantém a beleza que ao vivo é uma maravilha.
Eduardo Paniagua nasceu em Madrid en 1952, é arquitecto e especialista em música da Espanha medieval. Aos 16 anos gravou os seus primeiros quatro discos o grupo Atrium Musicae, trabalhando nesse projecto entre 1966 e 1983, realizando concertos na Europa e América. A discografia produzida desde então, bem como a fundação de vários grupos, proporcionaram o reconhecimento internacional, pela qualidade e rigor do seu trabalho. Tem participado em festivais do mundo árabe, no Egipto, Líbano, Tunísia.
Para mais informações consultem:
http://www.ctv.es/USERS/pneuma/grupo.htm
Recomendo este disco e este espectáculo. estejam atentos!
(texto e fotos de LFM)

sexta-feira, maio 19, 2006

O Vómito do Futebol


É estranho que, quando falo com amigos, adeptos de futebol, eles mostrem desconhecer quem é Scolari. Proponho um pequeno exercício...Façam a experiência: escrevam no motor de busca sem aspas: Scolari+Pinochet e vejam o que aparece...
Nesta pesquisa quis confirmar o que já sabia há alguns anos, fruto da leitura atenta dos jornais, para mostrar aos que me lêem algo que me envergonha como português e cidadão do Mundo. Há poucos minutos descobri que jornais ingleses e franceses também falaram disso e não resisto a partilhar excertos de um texto, extraído de um blogue, que me chamou a atenção precisamente por causa da abordagem deste assunto:

"Portugal é o galo de Barcelos, já sabemos. É Fátima, no ar em simultâneo em quantos canais houver. Também é o Campo Pequeno, remodelado e mostrado às massas, de Norte a Sul, na certeza de que a tourada é tão portuguesa como se pretende que o fado seja. Portugal é o país que ouve e vê, em directos na abertura dos noticiários, um cidadão peçonhento a anunciar vinte e três cavalheiros que vão à Alemanha jogar à bola, com apelos ao patriotismo feitos em grande solenidade, como se na presumível selecção nacional de futebol residisse o segredo da retoma, emocional ou económica.

Luís Felipe Scolari é, para mim, um zero. Desde a primeira hora.(...)Nunca poderia ter consideração por um sujeito que, publicamente, apontou Augusto Pinochet como modelo.

Scolari é um seleccionador de olhos fechados aos critérios técnicos e à valia desportiva. Seleccionou em tempos, como ele gostará de dizer, uma espécie de família ou grupo de amigos, convocados sempre, haja o que houver, joguem ou não joguem nos clubes que representam, estejam ou não em forma. São aqueles quem segue viagem, ele é que sabe, quem não vai fica de fora e a palavra injustiça nada lhe diz. Seguisse ele o exemplo de Pinochet e todos os que o criticam desapareceriam, como talvez desaparecessem os jogadores que as massas ignaras gostariam de ver convocados. Seria mais fácil, (...) poríamos a bandeira nas janelas e pediríamos autógrafos ao treinador de todos nós. De todos, sem excepção, porque tem tempo, nos intervalos de aprontar os craques, para doutrinar o furor patriótico nestas terras onde, suporá, tal coisa nunca antes existira.

Scolari é vaidoso e bem pago. É pedante e cultiva a pose de estado como se fosse mais do que um treinador de futebol. Evidentemente que lhe perguntaram por Ricardo Quaresma, mas, como Portugal é um país onde não faltam brandos jornalistas, todos acham normal que se recuse a responder, argumentando só falar dos atletas que convocou.

(...) Scolari é menos do que julga, mas veio parar a um país onde o fazem assim julgar. Triste espectáculo, este, mas bem inserido na onda de optimismo que o marketing tem vindo a injectar na turba, de tal forma que deve haver uma cada vez maior quantidade de portugueses e portuguesas convencidos de que Portugal é o favorito no Campeonato do Mundo. (...)Foi neste país de pastorinhos que a medíocre equipa da Grécia se sagrou campeã da Europa, não conseguindo, depois, qualificar-se para o Mundial da Alemanha.(...)

Scolari é, enfim, aquilo que as circunstâncias proporcionam. De barriga cheia e bem cheia, e a encher mais os alforges a cada dia que passa, sabe ter a postura que impressiona os descamisados, gostaria ele de ser Evita para cintilar entre jóias. Cultivando aquela imagem falsa de seriedade, promete maravilhas (...) cria na distante perspectiva do sucesso a redenção de um povo cada vez mais asfixiado. Cresceu o número de peregrinos em Fátima, joga-se cada vez mais no Euromilhões. É em países assim que Scolari brilha. Sul-americano que é, sabe-o melhor que todos nós.

Fonte:http://fontedasvirtudes.blogspot.com

(foto de LFM)

segunda-feira, maio 15, 2006

Café Sidi Chabâane em Sidi Bou Saïd: O Esplendor do Silêncio Debruçado Sobre o Mar















A esplanada estava repleta de turistada e tunisinos em tarde de sol e lazer. Eram dezenas e a luz esbraseava.
Pela décima segunda vez em quinze anos visitava aquele lugar que uma lenda assegura ter sido abrigo espiritual de um dos Luíses do trono francês...
Talvez os meus leitores ao saborearem a beleza deste lugar, através das imagens que consegui captar recriando um espaço íntimo, percebam porque também este Luís vive de contemplação, no êxtase da Luz!
Debruçado sobre o mar reencontrei no azul e na cal o esplendor do silêncio, que vos entrego. Não percam este verso também vosso agora...
(Fotos de LFM)

sexta-feira, maio 12, 2006

Raúl Brandão e Portugal


Esta manhã, em conversa com o poeta José do Carmo Francisco, de quem recebi um livro sobre a sua obra, baseado na tese de mestrado de Ruy Ventura ("José do Carmo Francisco Uma Aproximação"), recolhi dele uma frase de Raúl Brandão*, a propósito de António Nobre, que infelizmente permanece actual:

"Em Portugal, ser diferente dos outros é já uma desgraça; ser superior aos outros é uma desgraça muito maior !"

*in "Memórias" ed. renascença Portuguesa, 1919

(foto de Sónia Frade)

quarta-feira, maio 10, 2006

Lassaäd Maherdi, O Alfaiate de Houmt Souk/Lassaäd Maherdi, Le Tailleur de Houmt Souk


Há cerca de cinco anos descobri que ainda é possível, para um gordo, encomendar umas calças directamente ao mestre alfaiate, que depois de se escolher o tecido e de tirar as medidas apresenta um trabalho magnífico.
Pode parecer pretensioso, mas é a realidade: Em Houmt Souk, na ilha de Djerba, Tunísia, respira e sonha o meu alfaiate: Lassaäd Maherdi, um mestre na arte de receber, um artista do talhe, esculpido com mãos de sábio.
Entre conversas inteligentes e um chá de menta, a obra nasce.
O convívio, a partilha de conhecimentos entre pessoas de culturas diferentes é vital e faz parte de um ritual indispensável.
Sempre que lá vou peço-lhe novas calças. Cujo preço é muito simpático também. Espero voltar muitas vezes ao atellier de Lassaäd, encontrando-o sempre sorridente como na foto. O sorriso aberto é a sua forma de receber.
Il ya cinq ans j'ai découvert qu'il est encore possible pour un homme gros, demander des pantalons directement au maitre tailleur, qui après le choix du tissus e de verifier les dimensions du corps presente son travail magnifique.
Peut être on va penser que je suis snob mais c'est la realité: A Houmt Souk, dans l'ile de Jerba, Tunisie, mon tailleur favorit respire et rêve: Lassaäd Maherdi, un maitre dans l'art de recevoir, un artiste qui taille le tissus avec ses mains de sage.
Entre paroles inteligents et un thè a la menthe, l'oeuvre commence...
La convivence, le partage de connaissances entre personnes de cultures diferents c'est vital et integre les rituels fondamentaux.
Je le visite presque toujours dans mes voyages et je le demande des nouveaux pantallons. Le prix est aussi très sympat. J'espere retourner beaucoup de fois a Jerba et a son atelier, trouvant toujours Lassaäd sourriant comme dans cette photo. Le sourire ouvert est sa maniere de recevoir.
(Foto de Sónia Frade)

segunda-feira, maio 08, 2006

Tapada das Necessidades: Um Paraíso Abandonado-II















A exuberância resistente deste maravilhoso jardim desconhecido de Lisboa compensa-nos da tristeza que nos causa o esquecimento em que vive. Caminhos tortuosos, ervas selvagens invadindo tudo, património construído ao abandono, árvores moribundas, lagos sem peixes (em tempos chegou também a haver gansos) e a gula, que não pára, de diversas entidades que tal como acontece em Monsanto, retalham este parque para instalarem gabinetes de Suas Excelências, como o mamarracho de betão onde uma parcela do Ministério da Defesa assentou arraiais e o atelier de pintura do rei D. Carlos que se destina ao Conselheiro de Estado Jorge Sampaio.
No próximo fim de semana presenteie a sua criança e a sua vontade de respirar numa paisagem repousante, dentro da cidade. Visite a Tapada das Necessidades. Está situada junto ao Palácio com o mesmo nome, onde funciona o Ministério dos Negócios Estrangeiros, perto do velho Hospital da CUF e do Quartel da Marinha que deu nome à Praça da Armada. Autocarros: 13, 27, 49, 60.
Traga também o seu sentido crítico, porque quem cala consente.
(fotos:LFM)

Tapada das Necessidades: Um Paraíso Abandonado






Há algum tempo que não disfrutava de um espaço mágico que está situado perto da minha residência. Refiro-me à Tapada das Necessidades. Que encontrei muito abandonada, conforme as imagens mostram: Motivos escultóricos quebrados e tombados, edifícios degradados, estufas recuperadas desactivadas,lagos secos, lixo um pouco por todo o lado.
Os Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Agricultura são duas das entidades que deveriam recuperar e promover a manutenção deste pulmão verde da cidade. Ao invés, deixaram-no ao abandono.
E se houvesse gente disposta a criar o GRUPO DOS AMIGOS DA TAPADA DAS NECESSIDADES?
(fotos LFM)

segunda-feira, maio 01, 2006

Aldraba é Sinónimo de Trabalho de Equipa e Nome de Site


Em 2005, no dia da Liberdade, nascia a Aldraba. Sonho ousado para quem não tinha sede, mas mesmo assim fizeram-se estatutos, debatidos ao longo de cinco meses de reflexão de uma Comissão Promotora que reunia em casa de dois futuros vice-presidentes da direcção eleita em Assembleia Geral fundadora, que aprovou os estatutos e o programa de actividades.


Decorreu um ano. O fôlego desta jovem associação está patente nos resultados: mais de 100 associados, parcerias com diversas autarquias, seis encontros (Montemor-o-Novo, Viana do Alentejo, Alqueva I - visita à barragem e interacção com populações das aldeias da Luz (Mourão) e da Estrela (Moura), Alqueva II - debate na Ordem dos Arquitectos sobre as aldeias da Água, com Isabel Guerra, Raúl Caixinha e Maria João George, Coruche e Aljustrel).

Mas não é tudo...Houve também 3 exposições: Aldrabas e Cataventos, Momentos de Rua nos Pátios de Lisboa, Centenário de Adeodato Barreto. Fizemos duas assembleias muito participadas, mantivemos um blogue que vai a caminho do ano e meio de existência, criámos dois e-mails, um no hotmail, outro no gmail, mas não parámos de sonhar. É por isso que desde há alguns meses decidimos realizar um filme sobre a vida e a obra de Mestre Jorge Rua de Carvalho, homem do associativismo, do teatro de amadores, da poesia popular, do fado operário e do reencontro com a memória dos pregões de Lisboa e das brincadeiras de infância dos anos 20-30.

Fizemos parte do júri do concurso de pintura sobre o contrabando em Santana de Cambas e fizemo-nos representar na apresentação do livro sobre o mesmo tema que foi realizada na nova sede da Junta de freguesia local, numa inesquecível jornada de memórias e fraternidade transfronteiriça. No pré-lançamento desta obra em Alpedrinha também estivemos presentes.

Na Aldraba não há um presidente iluminado, há uma equipa que interage, que produz todo este trabalho, o qual efectivamente é colectivo e o nosso prestígio advém desse compromisso de cada um com o todo que são os associados.
Temos uma postura que recusa a de certas agremiações cujo objectivo primordial é" ensinar o povo a respirar".
Por isso chegámos aqui: o nosso boletim é motivo de satisfação e aplauso, bem como o site que nos propusémos criar e agora é uma realidade.

http://www.aldraba.org.pt/

A todos os que transformaram o sonho em realidade, do cidadão anónimo ao companheiro que se destacou na Sociedade pelo seu desempenho a bem do colectivo, é chegado o momento de demonstrar reconhecimento e orgulho, por termos semeado, justamente neste blogue, a inquietação que gerou um dos mais belos ideais realizados em vida.
Obrigado, companheiros de sonhos!