"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quinta-feira, dezembro 26, 2013

E não se pode exterminá-los?



Nos últimos meses, comecei a ser bombardeado pelo banco, através do qual recebo o salário. 
Que pretendem as doutas cabeças da instituição financeira? Estão sempre a tentar torpedear..."porque achamos que tem uns euros, que se pensasse bem podia investir num produto, que dá x por cento de juro ao ano" e chateiam, chateiam, até à náusea.

O pior é que se trata de um banco, que foi fundado com propósitos mutualistas, sendo uma associação. Pois agem impiedosamente, de forma comercial, rasteira, como todos os outros. 
A globalização trouxe o terrorismo publicitário, o desespero da intervenção competitiva, na ânsia de angariar consumidores para os tais produtos, que, a serem subscritos, significaria, que ao fim de um ano, de usarem o magro dinheiro que recebemos mensalmente, "compensariam" com uma migalha por não termos podido movimentar a maquia retida...

A TMN sistematicamente e sob a capa de número privado, insulta a inteligência daqueles que têm um telemóvel impingindo, semana sobre semana, dia após dia, estejamos a trabalhar, a almoçar ou até num velório, a porcaria daqueles canais televisivos, que uns execráveis ratos fedorentos propagandeiam, há quatro anos, ou a questionar, porque não subscrevemos o produto y, pois andamos a carregar o telemóvel num menú mais dispendioso. Querem controlar o nosso dinheiro e o seu emprego livre naquilo que nos apetece...

Todos prometem o paraíso, invadindo a nossa privacidade, seja de forma telefónica, seja através da gritaria dos loooooongos intervalos publicitários das televisões ou da TSF, que há muito deixei de escutar por causa de abusarem dessa opção comercialóide.

Tornou-se insuportável aturar tais atentados, que fazem disparar a hipertensão, sobretudo quando desde um call center uma voz jovem nos inquire: "Mas não quer ver televisão, porquê?"

E não se pode exterminá-los? (refiro-me obviamente às chefias, que obrigam os trabalhadores daquelas instituições a agredir-nos no dia a dia)...

LFM (texto e fotografia)





domingo, dezembro 15, 2013

Uma Questão de "Marca"...






Inúmeros municípios portugueses, perderam a sua autonomia em 1895, por causa da reforma administrativa, decretada pelo Primeiro Ministro do Governo do Partido Regenerador, Ernesto Rodrigo Hintze Ribeiro. 
Três anos depois, muitas das Câmaras Municipais foram restauradas, em 13-1-1898, sendo primeiro ministro José Luciano de Castro, do Partido Progressista.

Apetece citar a Infopédia acerca do clima político de então: "Durante o período conhecido como rotativismo o Partido Progressista alterna-se no poder com o Regenerador, entrando mais tarde num processo de declínio e enfraquecimento, marcado por acusações de corrupção e de descontrolo financeiro e ainda pela dissidência de uma fação do partido." (1)
A lista dos municípios anexados é extensa. Alcochete, Aljezur, Cadaval, Constância, Marvão, Palmela, Seixal, Sousel, Vila do Bispo,Vila Velha de Ródão são apenas alguns exemplos.

Como é sabido, no chamado Guião, apresentado há algumas semanas, pelo vice-primeiro ministro, para a Reforma do Estado, é proposta a agregação de municípios, uma ideia que a Troika em 2011 já sugerira, de forma mais brutal - extinção - para reduzir despesas.

O ex ministro Relvas optou então pela fusão e extinção das freguesias, processo que, por falta de um estudo ponderado, ainda anda aos solavancos. 
Em Lisboa, dois Antónios, um Proa, outro Costa, subscreveram este ideário e redividiram em novas e maiores fatias, a cidade. No caso da freguesia onde moro (Estrela), que nasceu da morte de três- Prazeres, Lapa e Santos-o-Velho, ainda não há local definido, para os serviços da nova autarquia funcionarem, e a antiga sede da Junta de Prazeres, em vez de manter o nome, que define um território, foi rebatizada (e reduzida) com o nome de uma rua. Chama-se agora aquele espaço Centro Comunitário da Pampulha. Já houve mexidas nos funcionários, a lei da mobilidade dá muito jeito. E prevê-se, segundo o jornal Expresso que a Câmara transfira serviços para as nóveis freguesias, tais como Bibliotecas e Complexos Desportivos...a procissão ainda vai no adro...
A nova geração de políticos marca pontos, a meu ver negativos...

A Relvas se deve uma reorganização tão capaz, que por exemplo, Vale do Poço, uma aldeia dividida ao meio (uma parte pertencia a Mértola, Junta de Freguesia de Santana de Cambas, outra a Serpa, freguesia de Salvador), não foi mexida, na antiga e incoerente divisão territorial...

Ora, neste país tão genuíno, tão rico em estórias, no âmbito político, o novo executivo da Câmara Municipal de Santa Marta de Penaguião, justificou assim uma das suas primeiras medidas, ao que parece aprovada por unanimidade - a mudança de 13 de Janeiro, para 29 de Julho, do feriado municipal. Ou seja, em vez de festejar a sua autonomia, reconquistada no início do ano de 1898, através dos heróis de então, passa (como se os santos não tivessem as suas romarias e festejos anuais) sob o pretexto de criar uma marca, a celebrar o feriado no dia da Santa, abdicando do facto de ser uma entidade civil e pública, apagando a memória de um património histórico que julgamos importante, parecendo subordinar-se aos Cânones da Religião...
Explicam os novos decisores: 
"Com o objetivo de promover a Padroeira da Região Demarcada do Douro e para dar jus ao seu nome, o executivo municipal penaguiense, desde a sua tomada de posse no passado dia 12 de outubro, decidiu tomar algumas decisões/medidas.
A nova marca “Santa Marta” baseia-se no conceito de reviver a lenda do Conde Guillon e da Santa, apostando no desenvolvimento do turismo, da ação social, da educação e da economia. Com efeito, o executivo local pretende “deixar de apostar no betão e no cimento” para se dedicar principalmente às pessoas. Para tal, deverá pôr em prática, ao longo de todo o seu mandato, algumas medidas, que já passam por:
- Alterar a data do feriado municipal de 13 de janeiro para dia 29 de julho, dia da Padroeira da Região Demarcada do Douro, podendo assim assinalar a data com várias iniciativas culturais e protocolares, junto da grande comunidade local e emigrante de Santa Marta de Penaguião, fazendo da vila de Santa Marta o centro do “Douro” nesse dia".
Seguem-se as promessa de baixar o IMI, de abdicar do IRS, a favor dos locais, da  valorização da castanha, da construção de uma escola EB2/3 para manter os jovens do concelho a estudar no território, etc. etc., o que em si, parecem boas medidas. 
No entanto, a mudança do feriado municipal, deixando cair no esquecimento a data da restauração do concelho, trocando-a por ofertas aliciantes de bem estar, faz-me suspeitar que este concelho poderá não ter um futuro autónomo e que nos bastidores da política paroquial, alguns acordos devem andar a ser esboçados, para agradar a Coelhos, Seguros, Portas & Troikanos.
Régua e Vila Real, que absorveram Penaguião, durante algum tempo, podem voltar a ter - a par dos estrangeiros, que compram as quintas do Douro - a tutela da fragmentação deste território. 
Como o Povo parece ter deixado o cérebro em local incerto, e como aconteceu na actualidade (veja-se o que sucedeu com o 5 de Outubro e o 1º de Dezembro, negociados entre dois ex-poderosos, o ex ministro Álvaro Santos Pereira e o ex-cardeal patriarca Dom Policarpo), todos os pretextos são bons para afirmar como diz uma múmia, que "estar vivo é o contrário de estar morto", valendo tudo.
Surpreendido (é verdade, ainda me espanto, após tudo o que já vi e escutei) com as atitudes do novo pessoal político, que nos governa, seja no Estado Central, seja nas autarquias, particularmente naquilo que concerne ao apagamento da memória identitária, tenho de citar uma frase de Dias Gomes, autor do "Santo Inquérito":
"Há um mínimo de dignidade que um homem não pode vender, nem em troca do próprio sol!"

 Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)


(1) Partido Progressista. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-12-15].
Disponível na www: .

quinta-feira, dezembro 12, 2013

Escandalosamente Humano

 

Tenho dito aos amigos que gostava de viver num país de eterna Primavera...
Os aromas estimulam e, quando a Natureza renasce, a energia vital regenera-se.
Não é ainda o tempo dos calores tremendos, que todos os anos provocam incêndios devastadores.
Já não é a época dos frios desmotivadores, das chuvas gélidas, por isso parece-me, mesmo que as temperaturas não sejam quentes, que Abril e Maio são meses empolgantes, criativos.
O Outono, com as florestas cor de cobre e o folhedo atapetando o chão, as castanhas e os medronhos aliciando o palato, não me empolga, e a escrita é melancólica, o clima interfere com os sentidos, ter o sol na alma, não é o mesmo que senti-lo, aquecendo a caminhada...
O Inverno, inóspito, que reduz a paisagem à aridez, produz inércia, a escrita é triste. Há um vazio na nossa pegada solitária... 
Sinto um desencanto atroz, pois assisto impotente ao processo em que o país definha e apenas vislumbro uma fraca alternativa, ao tsunami da reviravolta de tempos que vivi com entusiasmo, pensando que o Mundo seria mais justo.
Verdadeiramente motivador foi sempre Março, com uma filigrana de ternura nas árvores e a esperança de dias tépidos ao virar da esquina e cânticos de melros madrugadores.
Gostava de viver num país de eterna Primavera, onde a par da Natureza renascida, as pessoas pudessem ser mais fraternas e a escala humana fosse a medida de todas as coisas.

Neste Outono do nosso descontentamento, sendo o lucro monetário o deus - todo - poderoso das políticas e das relações dos seres ditos racionais, surge como uma cintilação distinta e segura uma voz anónima vinda do Norte.
E na hora de receber uma medalha, celebrando os direitos humanos, José António Pinto desafiou os governantes a travarem “imediatamente este processo de retrocesso civilizacional que ilumina palácios, mas ao mesmo tempo deixa pessoas a dormir na rua”.
Por vezes, seja por causa tempo, ou da escassez de força anímica, fico derreado. As notícias diárias interferem com a felicidade. Não creio em amanhãs cantantes sem ver o envolvimento daqueles, sem os quais nada acontecerá. 
A injustiça, a crueldade e a violência entram de rompante na folha de jornal, no écran do computador. Mas súbito, alguém diz Não, com muita coragem, sem alarde, mas com uma segurança que me faz acordar da letargia...
As palavras de José António Pinto surgiram, no outro dia, como sinal que é possível viver, num Abril com sabor a eternidade, onde a franqueza, a partilha, o sonho e o respeito pelos outros, podem ser a bandeira.
Sem religiões, que apregoam todavia esse bem estar, assegurando apenas algum assistencialismo, sem poderes que prometem essa aleluia, mas promovem o empobrecimento, sem mentiras que grassam por todo o lado, afastando os cidadãos da res pública....
Obrigado José António Pinto, irmão de todos os que sofrem, por seres escandalosamente humano!

Texto: Luís Filipe Maçarico Fotografia: Recolhida na Internet