"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quinta-feira, agosto 30, 2007

PRAÇA DA ARMADA, NÚMERO VINTE E SEIS


Na implacável contabilidade
das noites onde envelheço,
À janela da velha casa
Entre as brisas de Junho e
os nevoeiros de Dezembro
Permaneço.

Esperando o quê?

Cicatrizando mágoas, ausências,
O peso do tempo,
Escutando o vento...
À janela da velha casa
Eu venço!

Acima de tudo
Procuro o verso
Onde respira o Mundo...
E permaneço.

2-1-2002; 30-3-2002

LUÍS FILIPE MAÇARICO
Fotografia de ROSÁRIO FERNANDES

terça-feira, agosto 28, 2007

A Tapada das Necessidades no Olhar de Rosário Fernandes



















Há quem diga que Lisboa tem poucos espaços verdes e depois passe fins de semana, com as crianças, em centros comerciais. Na freguesia dos Prazeres, junto ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, abundam árvores, um ar mais saudável, maravilhas para a contemplação e o silêncio, propício à leitura e à reflexão, povoado por cânticos de pássaros. Agosto é mês de cigarras... também elas deslumbram naquele reduto saudável, por estes dias de Estio.
Rosário Fernandes, jornalista alentejana encantou-se pelo paraíso que aquele espaço guarda, como as suas fotografias bem documentam.
Quando é que vai conhecer este grande jardim da cidade?
Junte-se ao Grupo dos Amigos da Tapada das Necessidades, que desejam uma Tapada mais cuidada. É que não obstante as belas imagens que aqui partilhamos, aquele espaço necessita de um plano de salvaguarda e fruição, cuja decisão tarda, nomeadamente no arranjo dos acessos, na recuperação de estátuas, fontes, pequenos lagos, recantos e edifícios (há diversas casinhas abandonadas e vandalizadas), moinho e sanitários (perto da estufa grande). Naquele lugar privilegiado, o Estado demonstra estar contra o Estado, havendo vários vestígios desta postura, nomeadamente junto ao atelier de pintura da rainha D. Amélia, actualmente ocupado por Jorge Sampaio, que ali possui um gabinete. O lixo das obras de recuperação desse património jaz em torno de alguns dragoeiros, a dois passos do fantástico Jardim de Cactos. O alindamento de um dos jardins interiores do palácio das Necessidades traduziu-se numa lixeira em volta de uma estátua de Baco, cuja base ostenta há meses sacos vazios de cimento...
No entanto, a beleza é tão profunda, as surpresaas são tão envolventes, que a Tapada merece a sua visita e você o prazer de se deliciar com esta jóia quase secreta da cidade.
Bons passeios e boas fotografias!
Texto: LFM; Fotografias: Rosário Fernandes.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Lisboa, Rua do Alecrim










No final da artéria há prédios que não acordam da ruína. Esta Rua do Alecrim tem sido alvo de vários abandonos. Aldrabas surripiadas, esperas que já não podem ouvir a sonoridade daquele belo artefacto das forjas de antanho, portas vandalizadas com inscrições que espelham o vazio do nosso tempo e a agressividade, este mal estar que as cidades mostram nas entrelinhas e na pele das paredes, nos rostos sem sonho.
Todavia, o olhar descobre algumas pérolas para partilhar....
Texto e fotos de LFM

sábado, agosto 18, 2007

Descoberta Mágica na Tapada das Necessidades








Descobri, há uma semana, na Tapada das Necessidades, um casal de bailarinos exímios, dois belos patos reais, que se exibem nas águas do lago, onde outrora reinava um bando de gansos.
Vieram cumprimentar-me, mas eu não tinha pão para lhes dar...
Segundo um soldado da GNR, estes animais andam por ali há cerca de um ano, mas a verdade é que nunca os tinha visto e ninguém me falara deles...
Esta manhã procurei-os e por momentos regressei à Infância...
Texto e fotos (as 3 primeiras do passado sábado e as restantes de hoje):LFM

sexta-feira, agosto 17, 2007

PORTUGAL É A CHAVE DO NOVO APRENDIZADO Entrevista com Helen Dias



APETECE-ME FICAR MAIS TRÊS MIL ANOS!

Helen Karine Dias dos Reis nasceu em Divinopolis (Brasil, Estado de Minas Gerais) no dia 16 de Abril de 1978.
Encontrámo-nos algumas vezes em Évora e em Lisboa. Somos amigos, conhecemo-nos através de amiga comum. Um dia destes quis saber porque está em Portugal, pois cada pessoa tem uma história para contar.
Filha de mãe socióloga e pai motorista de carreiras de autocarro, explica assim o seu interesse por Portugal:

"Portugal fazia parte do meu imaginário. Estudamos Portugal desde sempre. O que me motivou a vir para Portugal foi a ânsia de aprender sempre mais, porque não podemos ficar colados só num ambiente, temos que procurar sempre manter a mente aberta. E como Portugal, o povo português está praticamente no sangue brasileiro, acho que é a primeira porta que se deve abrir. Portugal é aquele portão duma quinta do novo aprendizado. Chegamos aqui e temos um leque, de possibilidades imensas, enriquecedoras, agradável.
Eu acho que a pessoa que sabe abarcar tudo, para ela Portugal significa um portão, para quem gosta da procura da sabedoria, a chave."

Helen é um dos milhares de brasileiros que procuraram o nosso país para melhorar a sua vida. Porém, um Curso Superior na Universidade de Évora foi o objectivo maior. Veio para aquela cidade alentejana, que adora: "Évora tem três mil anos; às vezes eu páro e penso: Vinda de um país tão jovem e vivo numa cidade já com três mil anos! Então, eu acho fantástico e apetece-me ficar mais três mil anos!"

Helen vive há quatro anos em Évora, e diz que: “Évora é um sonho, é mesmo uma cidade apaixonante. É que eu gosto mesmo de Évora! É como se fosse um túnel de tempo, estamos ali, é diferente o ar, aquelas muralhas imponentes, aquelas ruas…”
No Brasil completou o 12º ano e um curso profissionalizante de técnica de informática. Em Évora, "fiz um curso preparatório de Matemática (7 meses) que me ajudou a ingressar no Curso de Engenharia Informática. A própria história da Universidade, só o simples facto de estudarmos num lugar histórico... para quem quer estudar verdadeiramente, é mesmo motivador."
Évora é também para Helen, "as velhinhas em geral, um poço de sabedoria. Eu estabeleci uma amizade com as velhinhas de Évora e com as professoras".

CRESCI NO MEIO DE LIVROS, NESSE MEIO EDUCACIONAL

A infância desta jovem brasileira possui um halo de nostalgia, que brilha no seu olhar, quando recorda:
"O meu pai nos deixou quando eu tinha cinco anos. Então fui criada com a minha mãe. Fomos uma família matriarcal.
O meu avô era ferroviário, ajudou a construir a linha que vinha de S. Paulo para Minas. Passou para telégrafo, só ele sabia, naquela região mexer no telégrafo. Adorava ele contar histórias do Código Morse. Andava com bengala e chapéu.
A minha avó tinha uma pensão, morava nessas casas grandes e alugava quartos.Faziam matança de porco, muito vinho, muito pão. A avó era de origem italiana: Família Brazolini...
A minha avó contava histórias: A família chegou vindo da guerra, os navios, as dificuldades, os italianos naquela época, muitos foram trabalhar no cafezal, fogo em Congonhas, o folclore brasileiro - fantasmas, mula sem cabeça...
O meu avô era daqueles fogosos. Minha avó foi lá na casa das mulheres e deu tiros à queima - roupa. Deu pezada na porta e descarregou aquilo, mas não acertou um!A minha avó casou muito jovem, teve 12 filhos, hoje são seis mulheres... O meu avô contava história de escravos, os muros feitos por escravos. Tinha duas vespas.Cresci no meio de livros, minha mãe é professora, li livros de antropologia, Maquiavel, livros sobre questões agrárias, um que se chamava "Directrizes do pensamento filosófico"... A minha mãe casou novamente e quando teve a minha irmã Luana eu estava com 15 anos. E meus amigos eram os professores amigos de minha mãe. Ela esteve na Universidade em 1989. Fez Mestrado em Diamantina. E eu cresci nesse meio educacional..."
QUERO PRESTIGIAR O PAÍS QUE ME ACOLHEU TÃO BEM
Helen é uma lutadora. O desejo de construir o seu espaço corre no seu sangue e nos seus pensamentos:"Não penso muito no Futuro. Eu penso mesmo no presente. O que posso fazer bem no presente para assegurar o futuro. E terminar o meu Curso, concerteza. Eu penso mesmo no Doutoramento.
Quero fazer o Doutoramento em Inteligência Artificial, dedicar-me à pesquisa e o que puder, prestigiar a Universidade, o país que me acolheu tão bem, de braços abertos, para mim será um prazer!"
Portugal precisa de pessoas empenhadas. Quando elas vêm de fora e aprendem ao nosso lado a amar esta terra e as suas gentes, é poesia que se entranha no quotidiano, contra a corrente. A esperança, o sonho, constroem-se assim. De mãos dadas e coração aberto. Bem Hajas Helen!
Entrevista e fotos de Luís Filipe Maçarico

terça-feira, agosto 14, 2007

Lucília Lucas: dezanove dias depois...



Lucília Moreira Lucas faleceu no passado dia 27 de Julho. O Avante resumiu em meia dúzia de linhas uma existência de 82 anos e os jacarandás da Praça da Armada foram testemunhas da sua segunda morte: as folhas de papel, onde guardara as suas reflexões acerca das desigualdades sociais que permanecem neste mundo, foram deitadas ao lixo.
Encontrei duas dessas palpitantes folhas espalhadas pelo chão do Jardim, junto ao papelão, onde foram depositados versos e livros de toda uma vida de entrega aos ideais que defendia.
Meia dúzia de linhas no jornal que ela (que nunca foi líder, a não ser de excursões, de opiniões e de pastéis de bacalhau e rissóis de comer e chorar por mais) gostava de ler e o testamento (que não era de prata, ouro e diamantes), de palavras, ora desencantadas, ora doces, com alguma esperança, resultado de um percurso, implacavelmente atirado ao contentor da reciclagem.
Eis o que valemos, quando os filhos que trouxemos a esta terra preferem a memória asséptica, de um fantasma inerte, como se apenas a morte fosse verdade.
No passado dia 1, escrevi este texto, que é um pequeno contributo para recordar a amiga:
LUCÍLIA LUCAS, UMA PESSOA DOCE, ZELOSA E PERTINENTE QUE SONHOU DIAS LIMPOS PARA TODOS

Lucília Lucas foi uma militante incontornável no contexto da freguesia dos Prazeres.
A sua disponibilidade para ajudar o Partido, confeccionando iguarias e petiscos, para angariar fundos é lendária.
Zelosa, com prejuízo para o seu bem-estar, enfrentou inúmeros obstáculos, escudando-se com uma esperança teimosa que não a sossegava até atingir a meta que lhe propunham.
Mulher participativa, Lucília estava onde era necessário, nem que fosse para dar aquele abraço solidário ao amigo que apresentava um livro, declamando Ary dos Santos e "As Portas que Abril Abriu" nas colectividades, cantando a Mãe Preta em refeições de confraternização…

Permanecerá na memória de quantos viveram essa experiência singular, a excursão a Montemor-o-Novo, cujo objectivo era conhecer a Biblioteca acabada de inaugurar.
O grupo visitante era maioritariamente idoso, integrando um número considerável de analfabetos, que valorizavam o facto dos seus netos passarem a ter ao dispor instrumentos de enriquecimento cultural que noutros tempos não fora possível fruir.
Lucília esteve na linha da frente na organização desse acontecimento, animando a viagem, sonhando dias novos, assim repletos de luz e alegria, contribuiu decisivamente para espalhar a mensagem fraterna da igualdade, foi generosa, expôs-se sem medo, defendendo o seu ideal, justificando a caminhada.

Admirada e respeitada pelas suas intervenções na Assembleia de Freguesia, era, não obstante a pertinência das questões que colocava, uma pessoa doce que pugnava pelo regresso à política, no sentido da justeza dos projectos e das posturas de rigor, honestidade e transparência dos protagonistas.
A saúde precária fragilizou-a durante anos - o coração dos lutadores não resiste à erosão do tempo - e Lucília repousa agora no único lugar onde a terra que cantou em hinos de luta e liberdade, a afaga e compensa, pois ela é afinal a grande verdade nesta passagem ensombrada por escolhos, desigualdade e injustiças.
Lucília Lucas deixa o seu nome nos perfumes primaveris que inundaram de beleza as nossas vidas, em cada voo de pássaro, em cada riso de criança, pois o futuro que sonhou há-de ser um dia tão real como os sonhos que cantou.

Lisboa, 1 de Agosto de 2007
(Texto e Fotografia - no primeiro Encontro de Poetas em Alpedrinha, 1994 - de LFM)

quinta-feira, agosto 09, 2007

Abílio Duarte: A Alma do Fado



Reformado da marinha mercante, Abílio Duarte canta fado e escreve uma poesia singular, onde singeleza e erudição, ombreiam com rimas frescas e melodiosas, possuidoras de ritmo interior e sabedoria próprios. É maravilhoso, é um privilégio conviver com o ti Abílio, como carinhosamente lhe chamam a Cristina e o Jorge, um casal com problemas de visão, que o adoptaram, enquanto referência das noites do Fado Castiço, pelo humanismo que a sua postura revela.
"Em termos profissionais fui um saltimbanco, sempre entendi que trabalhar numa mesma casa era atrofiante."
Nascido em 28 de Novembro de 1937, em Lisboa, no Bairro Alto, Abílio percorreu "todo o mundo várias vezes."
Do passado guarda várias mágoas, mas como diz num poema, o seu sorriso às vezes é a fingir, para esconder o sofrimento.
Casado três vezes, lembra-se de "Salazar a mandar sobras para a Alemanha e Espanha, e a minha mãe morreu com 28 anos de tuberculose e os irmãos dela também morreram com tuberculose."
Associativista, esteve na génese da fundação do Grupo Excursionista Vai Tú, da Bica, tendo sido presidente da mesa da Assembleia nos anos 90.
Solidário, Abílio Duarte, percorreu o país, com o Fado de Abril (com José Viana, Tordo e Ary). Afinal, ele é muito mais do que uma pessoa vê.
Homem multifacetado, assinou dezenas de poemas, manuscritos e dactilografados, que um dia destes podem aparecer sob a forma de livro, concretizando o sonho, desejado por qualquer poeta.
Criado entre a Bica, a Madragoa, o Casal Ventoso e Chelas Velho, filho de pescador e mãe varina, Abílio, pelas dificuldades que enfrentou, assegura: "O Salazar ensinou-me a ser comunista".
Quem o quiser conhecer, antes do livro ser editado, pode ir, a partir do próximo mês, à Tasca do Careca, saborear boas iguarias e mergulhar na alma do fado, escutando este fadista e seus amigos.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Património do Velho Pragal





Há uma semana atrás, sob um sol de lume, fotografei alguns aspectos do Pragal antigo, que nos remete para um tempo de hortas e relações de vizinhança mais afectuosas.
É certo que esta postura ainda subsiste em alguns prédios; porém, tornou-se residual, demodée, com a proliferação de urbanizações, onde abundam moradores que não desejam relacionamentos de proximidade, preservando a distância face aos outros. A indiferença é a marca de uma forma "moderna" de estar. Indiferença que se prolonga na pedra, na memória. Perde-se património, esvai-se a identidade...
Na zona antiga do Pragal, que circunda o Centro de Dia da "Alma Alentejana" a paisagem sobrevivente é uma demonstração do inverso do sentido estético, que a tal forma moderna de estar ampliou.
Cliquem em cima das imagens do portal secular e da porta de alumínio para testemunharem o atentado.
Apetece citar Rafael Albertí : "Pero donde los hombres?"
Fotos e texto:LFM

sexta-feira, agosto 03, 2007

OS PRIMOS DO CHÍCHARO



Pedro (Alves) e Carlos (Furtado) organizam há alguns anos em Alvaiázere, terra das suas raízes familiares, o Festival do Chícharo, um acontecimento estimulante, delicioso e incontornável, que Carlos definiu mais ao menos assim, durante um jantar da "Aldraba" na Casa Regional de Alvaiázere:
"Aquela terra não tem o stress do património. Existe é uma serra para subir, uma natureza que convida à descoberta, uma gastronomia rica."
Vão até lá no início de Outubro, que vale a pena. Há exposições, música, tasquinhas, passeios e muitas coisas mais que estes homens inventaram para espalhar prazer e cultura por aquelas redondezas. E sejam muito felizes com as migas de chícharo e o ambiente de festa que se respira por lá...
Texto e fotos de LFM

quarta-feira, agosto 01, 2007

Águas do Sul: Três Anos!


Águas do Sul atingiu o 3º Ano de Vida. Valeu a pena chegar aqui. Vamos continuar!