Fotografia de Maria Clara Amaro
Novo livro de Luís Maçarico apresentado em Entradas
O regresso do poeta do
silêncio
É
um poeta ligado à terra, às pessoas, à memória das pessoas, às sensações e aos
sentidos.
Luís
Filipe Maçarico lançou ontem no Museu da Ruralidade, em Entradas, o seu décimo
quarto livro de poesias: Transumância das pequenas coisas.
São 23 poemas onde o poeta, que completa 60 anos a 29 de outubro, tece uma
profunda reflexão sobre a “caminhada da vida”. Uma vida sempre ligada à sua
terra natal, o Alentejo, sempre ligada às gentes da sua terra, à sua história,
à sua cultura, à sua maneira de ver o mundo. À sua mundividência e à sua
fraterna e contemplativa espiritualidade.
Luís Filipe Maçarico
60 anos, natural de Évora
Poeta
e ensaísta, Luís Filipe Maçarico fez publicar 14 livros de poesia desde 1991,
altura em que deu à estampa Da água e do vento.
É técnico superior na Câmara de Lisboa e dedica boa parte do seu tempo livre ao
associativismo. É mestre em antropologia e história. Publicou sete livros
nestas áreas do conhecimento, entre os quais Aldrabas e
batentes de porta – Uma reflexão sobre o património impercetível.
Que
transumâncias são estas que agora convergiram neste livro?
É o insistente percurso, rumo a horizontes de liberdade. É a
vontade de viver, onde haja indícios de harmonia. É a busca da respiração, à
escala humana, num território onde seja possível concretizar sonhos. É a
tentativa de aperfeiçoamento, nesta curta passagem. Que se faz com ideais, palavras, mas também com afetos e luta, por
uma existência equilibrada e feliz. Este verão, não fiquei um único fim de
semana em casa. De Monchique a Évora, de Montejunto a Viana do Castelo e de
Odeceixe à Gardunha, a poesia seguiu sempre comigo, pastoreando gestos,
emoções, e o espírito dos lugares.
O
Luís Filipe Maçarico é um poeta da terra e dos sentidos. É correto afirmar que
o Alentejo, a cultura telúrica alentejana, espreita sempre por detrás da sua poesia?
O silêncio é um dos meus alicerces. Desde miúdo que estar só não
me desestabiliza. Os desmedidos horizontes são mais inspiradores. Por isso, o
sol, o pão, o vinho, o cante, o prazer de uma sombra ou de uma amizade, todas
as palavras terrosas e a poesia do Manuel da Fonseca me são vitais. O Alentejo
faz parte do ADN do meu imaginário. Évora, urbe à qual regresso, frequentemente
e é rumor de vozes, com refrigérios para a alma; Beja, percorrida vezes sem
conta, para ver florir o sorriso dos amigos; Mértola, terra amada, com aquele
Festival único, permitindo viver dias poéticos, entre a multidão, foi a última
universidade: por lá concluí o melhor curso, frequentado em fruição absoluta,
com colegas, professores e população, inesquecíveis; Santana de Cambas, na raia
dos contrabandistas contribuindo para preservar a memória daquelas práticas
numa investigação em livro, que proporcionou um Museu; Castro Verde, campo
fecundo para a Poesia, graças ao presidente Francisco Duarte, ao vereador Paulo
Nascimento e ao amigo-poeta Miguel Rego, que fizeram com que as asas do sonho,
não ficassem na gaveta das utopias. Felizmente, são inúmeros os sítios, onde
vivi e a poesia irrompeu. Creio que haverá muito pouco terreno, entre a serra
de S.Mamede e os confins de Almodôvar e Ourique, onde não fiz um verso.
Para
além de poeta também é ensaísta na área da antropologia e da história. Que
futuro, que esperança, consegue descortinar para o homem que habita este
território histórico e cultural que é o Alentejo?
Se houver sabedoria, para manter o equilíbrio entre a terra, as
gentes e os bichos, se o património identitário marcar uma forte presença no
quotidiano, o Alentejo poderá ser um bom lugar para viver. Assim, os
alentejanos saibam criar riqueza, unindo esforços para não deixar morrer o
sonho.
Conforme
revela a autora do prefácio a este livro, a professora Maria Antonieta Garcia,
o Luís Maçarico é um poeta que “sonha fraternizar o mundo”. Acha mesmo que
ainda sobra espaço para a fraternidade no mundo em que vivemos?