"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, junho 29, 2016

Estranha Intervenção dos Fiscais do Metro Sul do Tejo



No passado dia (feriado em Almada) de S. João Baptista, dirigi-me no Metro Sul do Tejo a  uma superfície comercial (naturalmente fechada), situada na Ramalha.
À saída das carruagens, uma substancial brigada de fiscalização exigia - na plataforma de acesso - aos utentes o respectivo título de viagem, fazendo parar o comboio enquanto efectuavam a acção. (Note-se que não contesto a tarefa, mas a forma, que considero ter o seu quê de absurdo...)
No regresso à estação, o aparatoso volume de fiscais mantinha-se, bloqueando até as portas do comboio  para Cacilhas, impedindo quem pretendia entrar na composição, provavelmente para evitar a fuga de algum incumpridor. 
Dois polícias guardavam as "costas" aos funcionários da empresa, tendo-se dirigido alguns, além de rirem boçalmente do embaraço que causaram a passageiros como eu, ao banco onde me sentara, incidindo sobre a minha pessoa (quinze minuto depois de ter mostrado o passe aos mesmos "inspectores") a - redundante - exigência de exibir o cartão validado, só para chatear, por ter manifestado o desagrado  pela sua actuação.
Uma parte destes indivíduos, que porventura um dia destes serão excluídos pela empresa - procedimento comum neste mundo ferozmente capitalista - actuam com arrogância, prepotência e até algum sadismo, ao contrário do que sucede nas demais empresas de transporte, pois impedem as composições de circularem enquanto não concluem o procedimento autoritário de demonstração de poder. 
Com elegância de elefante...
Coitados! Olhando para algumas das referidas criaturas, que se julgam uma espécie de tropa de élite, só porque têm uma farda vestida, logo nos apercebemos, pelo trato e pela compostura, a fantástica formação que tiveram...

Luís Filipe Maçarico


terça-feira, junho 28, 2016

“ROSA”: A SABEDORIA DE ELVIRA CARVALHO NUM LIVRO ESSENCIAL



Elvira Carvalho é uma escritora inspirada.
Desde a caracterização da ambiência dos pobres nos seus casebres, passando pelos incisivos retratos psicológicos, usando um simples olhar num espelho, até ao ritmo da acção, o conto “Rosa” tem a marca de uma grande economia de palavras.
Nada de floreados, apenas o essencial é dito e muito realismo na descrição do quão brutal pode ser um ser humano.
O infortúnio, o dramatismo, a sobrevivência dos deserdados da sorte atravessam toda a narrativa.
O texto está repleto de alusões a um quotidiano duro, numa linguagem despojada, que acompanha com Mestria a caminhada da protagonista e do mundo que a rodeia.
As memórias trazem até nós recriações etnográficas, quer da ruralidade (a desfolhada) quer do quotidiano urbano (os pátios, o chuveiro improvisado, a pipa, a lutas e as perseguições do regime).
A dualidade campo-cidade na vida dos humildes, dos pastores e dos operários, está bem patente no percurso de Rosa.
Nunca é tarde para partilhar sabedoria. E isso é o que Elvira Carvalho faz nesta sua primeira publicação em prosa.
Escrevendo desde há muito, exercitando os seus conhecimentos vários, Elvira foi mãe, é avó, esposa zelosa, semeando versos e contos nas suas horas de ócio, ao longo de toda a existência.
Era ainda muito jovem quando a conheci, escrevíamos ambos para uma secção de jovens poetas, numa revista cujo principal objectivo era divulgar a programação televisiva, no tempo do canal único e do seu apêndice.
Ganhámos admiração e estima.
Essa simpatia, que não toldando a minha objectividade traz-me à lembrança os “Contos Bárbaros”, de João Araújo Correia, algumas páginas de Camilo, o realismo de um cenário de gente humilde, que deixa a alma do leitor marcada pela crueldade de alguns momentos, pelo sofrimento injusto que os mais pobres sentiram.
Elvira Carvalho conhece bem a matéria humana que teceu com palavras bem aplicadas, urdindo a tela credível, pois há muitas testemunhas vivas daquela época.
Há que agradecer à autora de “Rosa” por deixar aos vindouros esta prova de vida de um povo que teve de passar pelo sacrifício para poder saborear os frutos de uma liberdade duramente conquistada.

Algumas palavras mais, para saudar todos os presentes nesta sessão e agradecer à Elvira Carvalho o privilégio de poder falar sobre o seu percurso, como ser humano e escritora e sobretudo deixar o aplauso ao Amigo, que desde Espanha a apoiou, na edição de “Rosa”, esse fantástico Joaquim Duarte.

Importa sublinhar também a adesão da Universidade Sénior, cedendo o espaço e à adesão da Câmara Municipal do Barreiro, - nesta justa homenagem a uma cidadã, que da sua janela olha para o Mundo e sonha outros Mundos, vivenciando o que a rodeia.

O Barreiro tem em Elvira Carvalho uma personalidade de conteúdo riquíssimo: criativa e fraterna, que escreve com um língua de clareza e eficácia, e pratica a partilha dos seus saberes, de forma discreta, usando a Internet, nas diversas formas de diálogo com o Outro - seja no seu blogue “Sexta - Feira”, como na página do Facebook.
Encontram, no muito que tem legado a um público atento, valores que nunca serão ultrapassados, enquanto conseguirmos viver à escala humana.
A sua Poesia merece ser divulgada. Digo-o, apesar de Amigo, sem concessões. Por isso deixo à Câmara Municipal do Barreiro um desafio que a Elvira não sabe e que hoje decidi fazer nesta sessão: patrocinarem uma edição dos seus versos! Faz falta nas Escolas e Bibliotecas.
Uma Mulher assim não nasce duas vezes e é muito bom tê-la entre nós, seja no convívio mágico ou em páginas, que são astros à espera de cintilar entre os nossos dedos.
Parabéns, Elvira! Parabéns, Barreiro!


Lisboa, 18-2-2016

Luís Filipe Maçarico

sexta-feira, junho 24, 2016

Mais Uma Vítima da Gula "Turística" em Lisboa

 Acabei de ler na página Facebook da Clara estas palavras:


"Hoje não há reiki ou boas energias que me valha!!! É oficial!!!já não quero estar sempre bem disposta ou ser compreensiva..ou fingir que tudo se resolve! Estamos mesmo a ser expulsos do centro da cidade!Os meus vizinhos foram notificados em casa... eu recebi uma notificação no emprego,em mão, para sair voluntariamente da casa onde vivo há 10 anos!!!!O prédio foi vendido a uma empresa espanhola para mais um Acolhimento Local!Daquelas cenas em que se brinca por uns dias às casinhas, a fingir que moram em Lisboa! Não... não somos contra o turismo,somos contra a desumanização da cidade!!!!!Estamos contra este mercado imobiliário desonesto e sem pensar nos lisboetas, nas pessoas. Numa reunião sobre habitação disseram-me ..."há ..até pensei que já não morava ninguém na baixa" Mora sim!!!!Tenho amigas com mais de 80 anos ...que nasceram e sempre moraram aqui.É ou era o nosso Bairro. Não estamos cá por ser moda. Há 10 anos,diziam-me que vir para a minha casa não era boa ideia porque a baixa estava vazia.Havia um PDM que nunca foi executado. Onde estão as leis neste país?Mas mesmo assim, há 10 anos viemos reabilitar a baixa com as pessoas que já viviam aqui,com os comerciantes!nós pessoas normais,que trabalhamos,pagamos impostos...Não foi por moda,foi uma opção de vida,numa cidade que amamos.Podemos escolher onde viver... não? Infelizmente...a maioria já se foi embora! Os meus vizinhos do prédio em frente,dois casais novos,tiveram de se ir embora porque aumentaram a renda para o dobro(pagavam 750€),agora é um hostel clandestino de um sr.estrangeiro,é um exemplo de centenas. Não,não sou contra o turismo... mas "eles",quem está a comprar quarteirões inteiros e expulsa quem lá mora,quem tem lojas (mesmo daquelas que vendem e são necessárias), é que são contra os lisboetas!!!Recebi uma notificação,por mão,no local do trabalho,foda-se!!!!!"

O senhor que há uns meses atrás comentou que eu desejava ver a Baixa vazia, quando comecei a aperceber-me deste flagelo (que me obrigou a deixar a cidade) devia lavar todos os dias a cara com merda. Lisboa está uma selva e há dias no "Público" o presidente dos Alojamentos Locais (incluíndo os Hostels) assegurava que 1/3 do Turismo da Capital é deste género. Dispenso-me de fazer comentários a essas e outras declarações, pontuadas pela arrogância do entrevistado.
Entretanto, desaguam na cidade - por dia - multidões de visitantes e diz-se que os alojamentos que existem ainda não são suficientes...

LFM

quarta-feira, junho 15, 2016

Viva as Festas de Lisboa!

Julgando não sofrer de xenofobia nem de fanatismos, pergunto-me o que terá de fazer a Marcha de Alcântara ( e outras) para merecer um outro olhar e avaliação, por parte do Júri das Marchas de Lisboa.
A fixação há longo tempo num ou dois bairros leva seguramente ao descrédito do certame.
Não me parece saudável, face à qualidade e originalidade dos Amigos da SFAE e de muitos bairros, que trazem o melhor de si para a rua na Noite de Santo António.

Tive oportunidade de assistir na televisão ao desfile na Avenida e pergunto-me sobre o porquê da classificação.
Sei que me vão acusar de radical, mas adorava que todas as Marchas injustamente classificadas este ano, em 2017 deixassem o júri a avaliar uma Marcha só ou duas...
Lisboa está à beira de ter marchas constituídas por figurantes a fazer de portugueses, como muito bem notou uma entrevistada pelo Público, face à avalanche de turistas que nada trazem de bom e aos comerciantes que não pagam impostos e oferecem ordenados diminutos.

Esperem! sugiro que também haja uma Marcha da Turistada, com rapaziada inglesa e americana a gritar Fuck You, como sucedeu há duas semanas, quando fui ao Bairro Alto e de um 3º andar castiço, alugado tipo hostel chunga, o grupo com quem eu estava, de antigos colegas de trabalho, foi insultado por imberbes marmanjos europeus. 
Indizível a tasca que vomitava Amália, servindo tapas intragáveis, trazidas por uma senhora que podia ser birmanesa ou malaia...
Tão gira a interculturalidade!
Viva as Festas de Lisboa!
Lisboa é linda vista de longe. Um bom cenário para filmes indianos....

LFM


Mesmo que as Hienas Uivem Até ao Fim do Mundo

Na página Facebook onde me detenho mais tempo, ao contrário do que pensam, a "minha vida" que partilho é capa de revista. 
Por lá, a vida é bela, passo o tempo a passear, a energia é intensa e nada de mal sucede, como se fosse imortal.
A verdade, porém, é diversa.

Existe muita intimidade que não é exibida, escancarada. Apenas a pele dos dias. Não o interior do Ser. A essa devassa, a esse manjar para feras, não é possível aceder.
O que vivo ou sofro no meu interior, as doenças, os maus momentos são enfrentados na mais profunda solidão. Apenas os Amigos Sinceros me conhecem, apenas aqueles (e aquelas) que nunca me desiludiram sabem quem eu sou e ouvem-me falar daquilo que o quotidiano traz de surpreendente.
O Luís do Facebook é uma parte de mim, a parte mais néon, mais divertida. 
O Luís que se angustia, como os outros humanos, não está na montra. 
Lá, apenas o que cintila se encontra.

Sei quem sou e o que quero.
Ao contrário do que muitos pensam, não me encontram, para além do que quero mostrar - no Facebook.
Muita coisa tenho para dizer, mas não é na Internet.
Desenganem-se os que procuram destroços, fragmentos, lágrimas, mágoas. ressuscito a cada traição.
Como um Actor no Palco, o Coração está Forte e o Sorriso é Eterno. Mesmo que as hienas uivem até ao fim do Mundo.

Luís Filipe Maçarico (texto) Rodrigo Dias (fotografia)