Elvira
Carvalho é uma escritora inspirada.
Desde a caracterização da ambiência dos
pobres nos seus casebres, passando pelos incisivos retratos psicológicos,
usando um simples olhar num espelho, até ao ritmo da acção, o conto “Rosa” tem
a marca de uma grande economia de palavras.
Nada de floreados, apenas o essencial é
dito e muito realismo na descrição do quão brutal pode ser um ser humano.
O infortúnio, o dramatismo, a
sobrevivência dos deserdados da sorte atravessam toda a narrativa.
O texto está repleto de alusões a um
quotidiano duro, numa linguagem despojada, que acompanha com Mestria a
caminhada da protagonista e do mundo que a rodeia.
As memórias trazem até nós recriações
etnográficas, quer da ruralidade (a desfolhada) quer do quotidiano urbano (os
pátios, o chuveiro improvisado, a pipa, a lutas e as perseguições do regime).
A dualidade campo-cidade na vida dos
humildes, dos pastores e dos operários, está bem patente no percurso de Rosa.
Nunca é tarde para partilhar sabedoria.
E isso é o que Elvira Carvalho faz
nesta sua primeira publicação em prosa.
Escrevendo desde há muito, exercitando
os seus conhecimentos vários, Elvira foi mãe, é avó, esposa zelosa, semeando
versos e contos nas suas horas de ócio, ao longo de toda a existência.
Era ainda muito jovem quando a conheci,
escrevíamos ambos para uma secção de jovens poetas, numa revista cujo principal
objectivo era divulgar a programação televisiva, no tempo do canal único e do
seu apêndice.
Ganhámos admiração e estima.
Essa simpatia, que não toldando a minha
objectividade traz-me à lembrança os “Contos Bárbaros”, de João Araújo Correia, algumas páginas de Camilo, o realismo de um cenário de gente humilde, que deixa a alma
do leitor marcada pela crueldade de alguns momentos, pelo sofrimento injusto
que os mais pobres sentiram.
Elvira
Carvalho conhece bem a matéria humana que teceu com palavras
bem aplicadas, urdindo a tela credível, pois há muitas testemunhas vivas
daquela época.
Há que agradecer à autora de “Rosa” por
deixar aos vindouros esta prova de vida de um povo que teve de passar pelo
sacrifício para poder saborear os frutos de uma liberdade duramente
conquistada.
Algumas palavras mais, para saudar todos
os presentes nesta sessão e agradecer à Elvira
Carvalho o privilégio de poder falar sobre o seu percurso, como ser humano
e escritora e sobretudo deixar o aplauso ao Amigo, que desde Espanha a apoiou,
na edição de “Rosa”, esse fantástico Joaquim
Duarte.
Importa sublinhar também a adesão da
Universidade Sénior, cedendo o espaço e à adesão da Câmara Municipal do Barreiro,
- nesta justa homenagem a uma cidadã, que da sua janela olha para o Mundo e
sonha outros Mundos, vivenciando o que a rodeia.
O Barreiro tem em Elvira Carvalho uma personalidade de conteúdo riquíssimo: criativa
e fraterna, que escreve com um língua de clareza e eficácia, e pratica a
partilha dos seus saberes, de forma discreta, usando a Internet, nas diversas formas de diálogo com o Outro - seja no seu
blogue “Sexta - Feira”, como na página do Facebook.
Encontram, no muito que tem legado a um
público atento, valores que nunca serão ultrapassados, enquanto conseguirmos viver
à escala humana.
A sua Poesia merece ser divulgada.
Digo-o, apesar de Amigo, sem concessões. Por isso deixo à Câmara Municipal do
Barreiro um desafio que a Elvira não sabe e que hoje decidi fazer nesta sessão:
patrocinarem uma edição dos seus versos! Faz falta nas Escolas e Bibliotecas.
Uma Mulher assim não nasce duas vezes e é
muito bom tê-la entre nós, seja no convívio mágico ou em páginas, que são
astros à espera de cintilar entre os nossos dedos.
Parabéns, Elvira! Parabéns, Barreiro!
Lisboa, 18-2-2016
Luís
Filipe Maçarico