"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, agosto 25, 2010

Por um Grãozinho de Afecto


Saciando
a fome
por um grãozinho
de afecto

surge

vindo de árvores
ou telhados

ternurenta
respiração
de asas

que embalei
com sílabas
meigas e

passeei
pelo jardim
da infância

Príncipe
dos voos
mais livres.

Amigo
Radioso

estrela
fugaz
que noite após noite
dia após dia
se aparta
e regressa.


Luís Filipe Maçarico (Poema e imagem)

sexta-feira, agosto 20, 2010

Esquizofrenia



Há dias, um governante fez contas esquizofrénicas: que a floresta queimada este ano, é mais extensa do que a soma dos dois últimos anos ardidos, mas ainda assim, que a área total terá correspondido a menos território verde atingido do que há cinco ou oito anos...
Não dá para acreditar este mau gosto constante da estatística bacoca, a querer provar o improvável.

Uma árvore não é só uma árvore.
São animais mortos, de quem ninguém fala, ninhos, habitats, alimento, destruídos, um equilíbrio ecológico que desaparece.
Quem perde um familiar num acidente de viação, não recupera aquela vida com argumentação idiota tipo: no ano passado, no mesmo período faleceram em acidentes mais 15%.
Ainda estamos a digerir um disparate e já outra bomba de estupidez estoura.

Está confirmado - e questiono-me porquê - vão ser fechadas,pela Democracia, sete centenas de Escolas do Ensino Básico, muitas delas mandadas construir pelo Salazarismo.
Pergunto-me qual a razão, para terem sido extintas, nas últimas décadas, deste tempo dito democrático, várias linhas de comboio, que foram construídas entre 1853 e 1890, durante a Monarquia Constitucional e que aproximavam terras e produtos.
Ou seja, porque se trava o precário desenvolvimento de um interior desertificado e deprimido?

O que importa, para os políticos - merceeiros, a mando dos patrões da América e dos capatazes europeus, que fazem contas com os dedos manchados da gordura do poder, em papel pardo de tanta cegueira economicista, é decidir contra os mais fracos, porque quando se trata de terem carros e escritórios para sentarem os excelentíssimos traseiros, é fartar vilanagem, com os gastos, que nisso não podem poupar. Mas isto só acontece porque há muita gente conivente, nem que seja por não agir.

Causa-me repugnância que haja tanta populaça a votar nos partidos alternadeiros e a trancar hipóteses de futuro para os seus descendentes - cá por mim acalento a suspeita que o Zé Povinho também gostava de Ser Engenheiro - e como se isso não bastasse, que também existam intelectuais, de cravo murcho ao peito, lambendo metade da bota ao dono, fingindo morder a outra metade...
Não percebo, como se pode andar uma vida inteira a ter atitudes de esquerda, como é o caso de um mandatário distrital do actual governo, que foi ministro de Vasco Gonçalves, e trair-se a si mesmo, juntando-se a quem faz do povo uma esfregona...

Luís Filipe Maçarico (texto) Imagem (Net-Bela Lugosi caricaturado, desempenhando um vampiro)

segunda-feira, agosto 16, 2010

Recorde Português:70% da área ardida nos 27 países da União Europeia ocorreram em Portugal


Esta manhã, escutei na Antena 1 que 70% da floresta ardida, em 2010, nos 27 países da União Europeia correspondem aos incêndios ocorridos este Verão, em Portugal.
São números obtidos pelos satélites, que os dados oficiais desmentem, pois por essa via, dizia ainda a notícia, só metade desses valores coincidem...

Há bocado, no Jornal da Noite da SIC comovi-me com as imagens de Castro Daire, das populações sofridas naquele e noutros locais do país. A dada altura, uma mulher lançou o seu grito desesperado: "O Ministro que venha cá, os pobres ficam sem nada e eles lá no poleiro."
Com a Justiça que não existe, dizia ainda esta mulher, os incendiários são dados como loucos e podem continuar a desgraçar a vida dos que vivem da terra.

Vejo o amado Gerês destruído, os animais acossados por um fogo destruidor, que rouba os pastos e os haveres das pessoas.
No ano em que Santana Lopes foi ministro, ardeu a serra algarvia. Agora é no Norte.
Doeu a alma ver idosos e bichos fugindo do fogo.
É preciso mudar esta política, que deixa o país pior, de governo para governo.
Será assim tão difícil concretizar a protecção efectiva do ambiente, das pessoas, dos animais e dos bens, sempre entregues à sua amarga sorte?

LFM: Texto Foto: LUSA/Internet

domingo, agosto 15, 2010

Com Houssemeddinn Chachia em Mértola


Autor do blogue http://moriscostunez.blogspot.com/ Houssemeddinn Chachia, natural de Cap Bon, é estudante da Universidade de Manouba, Tunísia, e está em Mértola, desenvolvendo uma pesquisa em torno das fontes árabes que referem o Gharb Al-Andalus, o paraíso perdido para alguns, questão acerca da qual é muito crítico.

A Tunísia é um país onde voltei várias vezes por inúmeros motivos. Sem querer ser exaustivo, referirei alguns: Hospitalidade, gastronomia, património, beleza natural e Amigos.
Ia eu num comboio a caminho do sul, em Abril de 1993 com a Xana e a Cláudia e de repente Wafa, Mouna e Aïmen riram, atraíndo a atenção das minhas amigas. Vai daí, ofereço-lhes um caderno e uma esferográfica da campanha Lisboa Limpa tem Muita Pinta, um desenho de café e um poema. A mãe, professora, saiu com eles em Sfax, dizendo-nos que, para a próxima, devíamos visitar as Ilhas Kerkennah. Nós continuámos para Gabès.
O pai escreveu-me, quando já tinha regressado há algum tempo a Portugal. Que devia ir ao arquipélago visitá-los. Acabou por ser o meu tradutor para árabe e "Os Pastores do Sol" nasceram desse encontro mágico que umas crianças sorridentes proporcionaram.

Esta e muitas mais histórias fizeram-me gostar daquela gente e dos seus lugares. Ainda me vejo a dançar (como os árabes) música Raï em el Kef, numa noite fantástica e as mulheres a dizerem quem é aquele que sabe dançar tão bem. E o cantor argelino, que foi depois assassinado, animando a noite, inebriando aquele Agosto de 1991.

Houssem Chachia teve a gentileza de aceder falar comigo, numa interessante conversa, onde me explicou que o Islão proclama certas coisas e o popular pratica outras.
A religião muçulmana assegura que o Corão protege, sem ser necessários complementos como santos ou utensílios do domínio supersticioso.
Mas por vezes os versículos são contraditórios e as interpretações não são claras. Chachia evocou a Sura Al-Falak, onde o olhar nocivo dos invejosos é mencionado, devendo opor a esse mal as forças benéficas.

Segundo ele, a Mão (que árabes e judeus usam, como protecção) pode ser algo que resta, da tradição fatimida, todavia, aquilo que prevalece e que tem força, é o Cinco contido nessa Mão, e não a Mão (khomsa)...

Quanto à designação Main de Fatma...o nome dado ao objecto é khamsa (Cinco em árabe). E ninguém diz por lá Mão de Fátima...como é uso ser dito por estas bandas...

Eu próprio, cuidando que estava certo, ao papaguear o que alguns conceituados eruditos e académicos diziam, ainda servi de pilar para outros se apoiarem nos textos em que foram induzidos em erro. Mea culpa. Mas isso vai dar uma tese de mestrado, espero. Pois do confronto de ideias nasce sempre outra coisa. Suponho que mais apurada e escorada em melhores argumentos.

No que concerne ao novo amigo tunisino, a temática dos mouriscos, que expulsos do Al Andalus se estabeleceram no Norte de África, é fascinante.
O site que criou partilha filmes e artigos que dá prazer seguir. Sons e cores que se saboreiam, imaginando sabores, ambiências, contactos enriquecedores.
Espreitem o blogue de Houssemeddinn e acompanhem a viagem por Testour, em busca dos antepassados mouriscos. Vale a pena!

Glossário
(Designações árabes - recolhidas em Samira Sethom: Le bijou traditionnel en Tunisie - e o seu significado em português):

Khomsa - Mão
Khamsa - Cinco

Texto e fotografia de Luís Filipe Maçarico

quarta-feira, agosto 11, 2010

SS e a Igreja de S. Paulo de Elvas: Ordem para Demolir!









O Ministério da Defesa, proprietário do edifício pretende demoli-lo, antigo templo da Congregação dos Monges Paulistas da Serra de Ossa.

A Igreja de S. Paulo, em Elvas, construída no século XVIII, consta no Plano Director Municipal, enquanto imóvel em vias de classificação.

Numa altura em que se fala da candidatura de Elvas a Património da Humanidade, que sentido faz alienar este testemunho?

Ao diário "Público", no mês passado, Augusto Santos Silva, Ministro da Defesa, manifestou a intenção de mandar demolir aquela igreja, pois segundo ele, põe em risco pessoas e bens.

A igreja, que está em ruína há mais de um século, alberga ninhos de andorinhão preto e uma providência cautelar da Quercus suspendeu a retirada daqueles ninhos, em 7 de Julho, por parte do Ministério do Ambiente.

Por outro lado, a directora da Cultura Regional do Alentejo, Aurora Carapinha, suspendeu a ordem de demolição do Ministério comandado por SS.

A petição está on-line e sugiro que assinem, para dar mais força à cidadania, uma vez que, como se tem visto no nosso país, nem todos os poderes são exercidos democraticamente.
Se quiserem saber mais acerca deste caso, leiam o blogue:
Texto e pesquisa: LFM; Fotos do blogue "Antes Que Te Deitem Abaixo".

Estranha Constatação


É cíclico.
O resto da floresta do país, que é poupada num Verão, arde no Agosto seguinte.
Politiqueiros de meia tijela, doutorais, arrotam e vociferam balelas, quando o próprio Estado não limpa as suas propriedades: "Que a populaça não desbasta o mato e depois que não se queixe, se o fogo roçar as casas..."
Bombeiros denunciam que se trata de fogo posto.
Mas o estranho é que estas cenas se repetem, quando os governos ficam decadentes e desacreditados.
LFM (texto e fotografia)

terça-feira, agosto 10, 2010

Para Rosário Barradas com Carinho e Admiração



Era uma vez um país, onde ir ao Hospital Público tratar da vista implicava poder cegar, porque o medicamento aplicado podia ser trocado e...
Era uma vez um país, onde ir à Clínica Privada tratar dos olhos poderia originar cegueira, porque as bactérias assassinas podem andar à solta e...
Neste país donde vos escrevo e onde respiro e luto, há milhares que votam naqueles que permitem ambas as situações, como se fossem cegos, e não obstante verem, ouvirem e lerem, continuam a fingir, na mais santa e cómoda "ignorância", que não souberam, não escutaram, não assistiram...
Por isso, agradeço à minha colega Rosário Barradas, pela coragem de ter dado a cara, na luta pela dignidade de todos os seres humanos, como eu e vocês leitores, que podemos ficar cegos assim de um momento para o outro, por causa disto e daquilo.
Força, Amiga!
Luís Filipe Maçarico (texto) DN (foto)

domingo, agosto 08, 2010

Dias Lourenço: Obrigado, Camarada!


Se eu vivesse desligado da realidade, o assunto que trago hoje ao blogue passar-me-ia ao lado, mas, como não ando distraído, nem sinto vómitos quando a política é feita à escala humana, não posso deixar passar o acontecimento, sem um comentário, pois o que tenho visto e escutado mostra a pobreza de espírito de uma certa comunicação social, para não dizer outra coisa...
Um português de referência foi-se embora.
Desta vez, o lutador não engendrou uma fuga, para combater a iniquidade (que ainda lavra no quotidiano).
O fim da caminhada chegou para este herói, de quem ouvi dizer "antigo militante antifascista".
Então, o percurso deste combatente da Liberdade, que empenhou quase 25% da sua existência, lutando pelo Sonho de um Portugal melhor, - ideal que levou Salazar (essa"notável"aberração) a prendê-lo, - tendo sido toda a sua vida resistente contra o Fascismo, com inúmeras tarefas, entre as quais a de director do "Avante", reduz-se nas notícias a "antigo militante antifascista" ?
Este tipo de notícia é possível, na encenação democrática do país inquisitorial.
Um homem nobre da Imprensa livre (digo dessoutra que não abana a cabeça e não lambe as botas aos donos), para mim, que não alinho na hipocrisia fascistóide de muita comunicação social, será sempre um Herói, a quem devo (como a muitos outros que sofreram por isso), poder escrever estas linhas.
Obrigado, Camarada!
Texto e fotografia de Luís Filipe Maçarico

terça-feira, agosto 03, 2010

Metáfora


A pequena
palpitação
da vida
invade os meus
dias,
sob a forma
de uma ave
desprotegida.


No silêncio
da casa,
repleta de memórias,
o seu voo é a música.


A sua pegada, ou melhor
a pegada da poesia,
ilumina
este tempo
melancólico,
perto da velhice.


Um pássaro pode ser
metáfora contra a solidão
na luminosa manhã de Abril...


3/8/2010

Luís Filipe Maçarico (poema e fotografia)

segunda-feira, agosto 02, 2010

Sanidade Mental



A fotografia é dos anos oitenta e mostra bem a fruição visual do Tejo, a partir de um cais onde era possível passear sem barreiras.
Haverá algum lisboeta, cidadão nacional ou do Mundo, com sanidade mental, que não prefira uma paisagem envolvente, como a imagem documenta, a um espaço reconfigurado/interditado por uma barreira de contentores empilhados?
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)

João Honrado e a República*



"A propósito de notícias divulgadas em alguns orgãos locais de comunicação social, sobre um programa de comemorações dos 100 anos da República em Beja, Aljustrel e Mértola, organizado por um Centro de Estudos Documentais do Alentejo (CEDA) - com apoio do Governo Civil de Beja e da Fundação Mário Soares, entre outras entidades -, João Honrado esclarece que não participará em quaisquer iniciativas desse tipo. Mais esclarece o nosso companheiro e amigo João Honrado, republicano e democrata, que não autorizou nem autoriza que o seu nome seja utilizado em tais comemorações."

página 4, do número 355 (Ano VII) do semanário "Alentejo Popular" (22-7-2010)


*Título da notícia

Fotografia de Sónia Frade.

domingo, agosto 01, 2010

1-8-2004/ 1-8-2010: Começa o Sétimo Ano deste Blogue



Ao longo dos seis anos da existência do "Águas do Sul" falámos do Mundo: Guerras e festas, sonhos e decepções. De pessoas, afinal. Do colectivo e do egoísmo. Dos ideais e da traição. Do Poder e da Luta.
Mas também de intimidade. A Poesia acompanhou-nos.
E os Amigos escreveram opiniões, houve partilha.
Um ser dito irracional (um pombo caído pela chaminé), entretanto, tornou-se ícone destes dias do sul. Ensinando muita coisa sobre a inteligência animal. Proporcionando espantos e delícias.
Tempo de descobertas, afectos, emoções.
Nem sabemos ser de outra maneira.
Perante a caminhada que ficou para trás, a promessa de continuar!

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia - Madina Zara/Córdova)