"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Monumentos Naturais




As oliveiras resistem, num tempo em que não há tempo para contemplar. Estão à nossa espera na paisagem, páginas do livro do mundo, para ajudarem a decifrar mistérios, a tamanha beleza.
Estas imagens foram captadas em Novembro, no Almarjinho (barrocal algarvio, concelho de Loulé) e diante delas as palavras não conseguem transmitir a sensação daquelas manhãs de Novembro em que acordava com esta luz e esta harmonia, que tanta falta nos faz.

Páginas de Vida





Aos domingos, sobretudo nestes, de Inverno, mais frios, a rua onde eu moro fica mais silenciosa, ou se preferem, menos barulhenta. É então possível escutar e ver uma dúzia de papagaios, provavelmente fugidos de gaiolas, a pular de galho em galho, debicando tronquinhos secos e fazendo um alarido próprio dessas aves, no pleno gozo da sua liberdade.
Passei um fim de semana calmo como há muito não me acontecia, consegui escrever um artigo de 40 páginas para uma revista, que depois de revisto e corrigido, seguirá para o seu director, com as respectivas imagens e uma bibliografia bem extensa.
Estou lentamente a recuperar as minhas energias perdidas há cerca de dois meses na voragem de um quotidiano onde tem havido exigência e sombra, e a dádiva da recuperação veio do carinho repartido entre casas de amigos em Silves e Moreanes. E do contacto regular com a Ana, a Cristina Martins, a São Baleizão, a Maria Amélia, a Sónia Tomé, a professora Isabel Aldinhas, que me querem vivo.
A menina Maria que me lavava a roupa avisou-me que não tem dinheiro para comprar uma máquina nova, vou ter de procurar uma lavandaria.
Problemas como este em Dezembro atrofiavam-me, agora pacientemente procuro resolvê-los.
Há no entanto uma companhia nova que me traz grandes momentos, para lá dos papagaios e dos amigos. Chama-se "Páginas de Vida" e tem sido uma agradável surpresa, embora saiba, pela consulta que fiz no site da rede Globo, que descambará para contornos sobrenaturais, que, como dizia o outro "não havia necessidade"
Tenho trabalhado todas as noites de costas viradas para o televisor, digitalizando o tal artigo, pensando que ainda consigo ser disciplinado, quando gosto do que faço, ou pelo menos não há pressões absurdas, injustiças gritantes ou exclusões inqualificáveis a turvar o caminho.
Viva então esse fantástico desempenho de Regina Duarte e de Lília Cabral.
fotos recolhidas na net

sábado, janeiro 27, 2007

Terras da Raia



No início de Janeiro voltei às terras da raia de Mértola, e captei estas imagens, no limite do território português .
Só os pássaros e as águas da ribeira de Chança na chamada "Volta Falsa" (travessia da fronteira) derramavam música na paisagem.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Mário Sousa: O Caso Exemplar de Um Sucateiro na Salvaguarda do Património Histórico de Murfacém. O Morábito e o Marroquino...






Mário Sousa trabalha na reciclagem e recuperação de ferro-velho, sucatas... Nascido em Alcântara (Lisboa) foi viver em criança para Murfacém. Deve-se a este homem e ao grupo que liderou para trabalhar nas obras indispensáveis à salvaguarda do monumento emblemático daquela aldeia (a mais antiga do concelho de Almada, freguesia da Trafaria), a fruição de um património largos anos encerrado.
Em 12 de Setembro de 2005, após tomar posse como elemento da direcção (no cargo de obras/urbanismo) da Associação de Moradores de Murfacém e Cova, Mário sonhou reabrir o velho "morábito" para que todos pudessem admirar a jóia da coroa de uma localidade tranquila.
Em 18 de Dezembro desse ano, a antiga ermida da Senhora dos Remédios, que numa imagem inserta na obra do Conde de Arcos sobre a Costa da Caparica apresentava uma torre sineira e uma cruz no frontespício, reabriu para novos visitantes que "dão-nos força, porque dizem que coisas destas nunca devem morrer, é histórico, têm valor e que a própria associação fez bem em recuperar este monumento."
No livro de visitas registam-se opiniões e aplausos de cidadãos comuns, de professores e recentemente (13 de Janeiro) Rabeh Hamid passou por lá e escreveu na sua língua materna (árabe) e em português esta belíssima mensagem:
"Sou um jovem marroquino nascido a 23/12/76, moro agora em Portugal e é a primeira vez que eu visito este museu árabe os meus agradecimentos e felicitações às pessoas de Murfacém pelo cuidado e amor com que tratam o seu património, o que nos permite a todos de o desfrutar."
Foto 1: Paula Lucas da Silva; Fotos 2 a 4 e texto : Luís Filipe Maçarico

domingo, janeiro 21, 2007

Convento dos Capuchos








Frente ao mar da Costa da Caparica há um tesouro patrimonial, que merece referência neste blogue de partilha das mil e uma coisas de um Sul largo, onde se manifestam legados de crenças, mitos, costumes, rituais diversos, arquitecturas, projectos, festividades, segredos, tanta magia para os sentidos!
No contexto do sul da Europa, Portugal é um espaço de criatividades, que ao longo destes anos temos abordado em tão modesto caderno de reflexões.
No Convento dos Capuchos, ontem à tarde uma noiva posava no miradouro, alunos de piano apresentavam um recital, os gansos do lago cumprimentavam quem passava, esperando por uma côdea de pão e eu, a Paula e o Paulo deliciávamo - nos com a beleza dos jardins e da decoração de nichos, à base de conchas, e de bancos, com fragmentos de azulejos, díspares, formando painéis com uma outra racionalidade, imaginada.
Não admira que com aquele silêncio onde alguns pássaros cantam, os frades se sentissem mais perto do paraíso, que pelo menos havia (e continua a existir) ali...
Texto e fotos de LFM

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Post nº 500: Bom Dia, Eugénio!


Eugénio de Andrade nasceu no dia 19 de Janeiro. Conheci-o nos livros, primeiro. Depois, através da Feira do Livro, falei com ele, ofereci-lhe versos...
Retribuiu-me enviando-me alguns inéditos, autografou alguns livros que me chegaram pelo correio.
Acompanhei-o pelas ruas de Lisboa, rua do Salitre, Tipografia Império, dos seus primeiros poemas publicados em livro (também Pessoa ali editara a "Mensagem"), Rua de São Marçal onde ia visitar uma velha tia, Dona Estefânia...a estátua de Cesário "Já viu como este país maltrata os poetas?"
Estive ao seu lado, porque me chamou no meio da multidão que o aplaudia, na sua terra natal, durante uma homenagem da Câmara Municipal do Fundão, como meses antes percorrera essa Póvoa de Atalaia, com ele a servir de cicerone e Dario Gonçalves fotografando os passos, os gestos, o olhar, o silêncio, oliveiras e as velhas de preto que lhe traziam pães daqueles que ainda sabiam a infância...
Não gosto de falar do dia em que aqueles que estimei partiram, gosto de lembrá-los quando abriram os olhos para este mundo.
Durante anos o meu poeta trocou correspondência, critiquei-o, presenteei-o, foi sempre gentil, amigo, discreto.
Hoje recordo-o com este segundo poema de "Branco no Branco", um dos livros que mais me tem acompanhado:

"É um lugar ao sul, um lugar onde
a cal
amotinada desafia o olhar.
Onde viveste. Onde às vezes no sono

vives ainda. O nome prenhe de água
escorre-te da boca.
Por caminhos de cabras descias
à praia, o mar batia

naquelas pedras, nestas sílabas.
Os olhos perdiam-se afogados
no clarão
do último ou do primeiro dia.

Era a perfeição."

Bom dia, Eugénio! Os seus poemas continuam a comover-me...

Texto e foto (Jerba) de Luís Filipe Maçarico

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Batente de Porta em El Almendro


Batente da porta de Juan Rosa, a cuja casa voltei em Janeiro. Em 17 de Outubro de 2004 entrevistei-o no âmbito da investigação que realizei para poder escrever o livro "Memórias do Contrabando em Santana de Cambas Um Contributo para o seu Estudo".
Torno àquele dia, desfolhando a página 61 da obra:
"Yo era muy pequeño, chivato...comencé en los años 40...Contrabandistas? No. Éramos defensores de la Muerte...Los portugueses fueron extraordinarios, fueron solidarios al máximo."
Juan já fez oitenta anos.
Foi bom revê-lo no dia do lançamento do livro, em Dezembro de 2005 e agora, em El Almendro.
Há pessoas que nos tocam profundamente, pelo exemplo da sua vida. É o caso.
LFM: texto e foto.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

O Postigo de Puebla de Guzman


Um postigo em Puebla de Guzman com motivos medievais, de cariz orientalista.
Quantas vezes se abriu para a notícia, o boato, a sentença, a quadrilhice, a alegria?
Quantas vezes guardou o silêncio, o rosto, os gestos?
Uma porta de alumínio acaba com tudo.
Repare-se no prego chapeado que decora a madeira e no recorte da moldura, que parece extraído de uma ilustração das Mil e Uma Noites...
Tem o peso do tempo, a marca de várias gerações que o abriram e fecharam...
Quanto mais tempo irá durar?
Texto e foto: LFM

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Ana e os Morábitos



No início de Janeiro descobri a ermida de S. Sebastião, na EB de Mértola, que terá sido reconstituída pelo Campo Arqueológico de Mértola.
O cunho mudéjar, com a integração da cúpula, fez os meus olhos terem um brilhozinho de encantamento.
Nos últimos tempos esta temática tem-me sensibilizado, há cerca de dois meses saiu na revista Callípolle um artigo sobre a arquitectura religiosa do sul, onde as construções tipo-morábito são abordadas.
Cada dia que passa tento documentar-me mais e saber um pouco do muito que ainda há para desbravar, neste e noutros assuntos.
Um abraço carinhoso, especial, desde este modesto blogue para a Ana, porque também ela se vai (re) descobrir construíndo o dossier da sua vida, para obter uma certificação de aptidões necessária, que abre outros horizontes.
A Ana, afinal, faz parte de muitas descobertas da minha vida e foi com ela que entrei pela primeira vez no morábito de Murfacém...
Morábito: eremita do Islão, procurado pelo seu saber (conselhos), que foi sepultado no lugar onde viveu em despojamento e retiro espiritual, fazendo jejum e orando.
Fotos de LFM:
1-Morábito de Murfacém (Dezembro 2006)
2- Ermida de S. Sebastião, Mértola (Janeiro 2007)

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Eduardo Ramos em Lagoa com Rão Kyao



Eduardo Ramos vai actuar no próximo dia 20 no auditório municipal de Lagoa e desta vez vai ter a companhia de um outro músico de grande qualidade, também ele virado para referências que para o cidadão comum se apresentam como opções exóticas: Rão Kyao.
Parabéns a ambos por este encontro de amigos e de sonoridades.
Nas fotos, Eduardo Ramos cantando no interior do morábito de S. Pedro de Alvor, no dia 30 de Dezembro de 2006, para experimentar a acústica do espaço (fotos de LFM)

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Parabéns Atlético Clube de Portugal: Quando os Pequenos Derrotam os Grandes


Quando eu era pequeno, havia cabeçudos e festa nas ruas de Alcântara para festejar a subida do clube do bairro operário à primeira divisão.
Passados tantos anos hoje foi dia grande neste bairro de Lisboa, onde moro desde criança. O Atlético Clube de Portugal, os seus dirigentes, a sua massa associativa, o treinador e os jogadores estão todos de parabéns, porque ao eliminarem o Futebol Clube do Porto da Taça de Portugal provaram que os pequenos podem vencer os grandes...
Imagem recolhida na Net.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Mário Soares, Artista de Vila do Bispo


Em Vila do Bispo, nasceu em 1970, um artista chamado Mário Soares. Trabalhador da Misericórdia local, ocupa o seu tempo livre, desde os 15 anos, fazendo obras de arte em madeira que podem ver melhor na página que ele tem na Internet.
Tive o privilégio de o conhecer e de apreciar esses belos trabalhos.
Acho que merece ser divulgado. Espero começar a ouvir falar dele em breve, porque sei que mais tarde ou mais cedo vão surgir exposições deste artista.
http://oficinadomario.com.sapo.pt/

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Mensagens de Ghomrasni Mabrouk




No espaço de pouco mais de uma semana chegaram-me de Houmt Souk, a capital da ilha de Jerba duas mensagens que não posso deixar de partilhar pelo que simbolizam, num tempo difícil para a Humanidade.
Primeiro, porque é cintilação de uma amizade que a distância não quebra, depois, porque é talvez uma das mais belas provas de respeito e fraternidade que ansiamos viver com todos os povos. Vem do outro lado do mar que nos separa, vem de uma outra forma de estar, de uma outra religião... e contudo, consagra a bela Kantara (ponte) entre pessoas que se irmanam para lá das diferenças. Como eu gostava de ver algumas das pessoas com quem tenho construído outras "pontes" olharem assim para o Outro. Faltou-lhes certamente semear um sorriso, uma palavra que mostre quem somos.
Quantos portugueses se poderão gabar de ter recebido estas mensagens? Conheço dois ou três...

AS MENSAGENS:
24 de Dezembro às 22 h 34m:
"Bonne fete pour toute la famille" (Boa festa para toda a família)

31 de Dezembro as 22h 53m
"Jour après jour un anné a fait le tour et voila le retour le plus beau jour plain de joi e d'amour et un petit mot pour ce jour bonne anné 2007"- seguem-se os nomes do autor deste texto, ao qual junta os da esposa e dos 3 filhos ( dia após dia o ano fez a sua volta e eis-nos chegados ao mais belo dia pleno de alegria e de amor e uma pequena palavra para este dia: BOM ANO DE 2007.
Imagens: antigas, da ilha de Jerba, recolhidas na Net