aguas do sul

"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sábado, agosto 10, 2024

VIVA NELSON ÉVORA

 Nelson Évora é um atleta com educação e espírito desportivo irrepreensíveis. Que fez o seu trajecto sem imputar - que me lembre- aos colegas, as vicissitudes que foi desbravando e ultrapassando com a sua persistência.

O cubano faminto de protagonismo que por cá se acoitou, para ganhar medalhas no salto em que é perito, tem-se pautado pela oposição ao colega e recentemente ouvi nas notícias e debates radiofónicos que possui mau feitio, ao ponto de elementos da sua equipa desejaram "que vença o melhor" em vez de desejarem que ele ganhasse a medalha de ouro. O que não me parece ter acontecido por mero acaso...

Casualmente assisti a uma entrevista televisiva em que após sagrar-se vice-campeão, nunca sorriu e despejou queixas acerca de só ter conseguido a prata por falta de apoios, por maus ambientes, etc. ameaçando acabar com a carreira. 

Em Portugal já temos gente desta aos milhares por quilómetro quadrado para quem a culpa é sempre de outros, do vento, da chuva, do sol, das gaivotas ou dos pombos que cagam sem avisar. A arrogância parece ser a medida de todas as coisas para estes pseudo seres humanos, que anseiam estar sempre no topo, não tendo a humildade suficiente para aceitarem que erram, que falham, que nem sempre podem triunfar sobre toda a concorrência.

Por mim, a criatura poderia pedir a Espanha que lhe abrisse as comportas para descarregar o seu fel. 

Viva Nelson Évora!

LFM


A DESREGULAÇÃO DO TURISMO

 


Oiço na rádio que o turismo está sem regulação.

Que se desconhece o número de tuk tuks.

Que Lisboa corre o risco (como noutras capitais europeias) de os turistas irem ver turistas.

E depois de tanta conversa fiada, no passado dia 7 deparei-me com os Restauradores pejados de autocarros de turistas.

Será que esta gente que vem usufruir de uma gastronomia mais barata (cada vez mais a perder genuinidade e virada para o gosto de quem vem de fora) se consola com a selfie que tem um símbolo da cidade por detrás da sua cabeça para provar que esteve cá, sem saber "ler e escrever" no que diz respeito à nossa História?

E eu que conheço muita Europa, tendo sido viajante (e sendo antropólogo) espanto-me com a permanência do caos. Com a ausência de uma regulamentação.

Recordo-me de ter ido a Florença e Siena nos anos 80 e haver às portas das cidades parques para estacionar os autocarros estrangeiros.

Porque falamos tanto e fazemos tão pouco nesta área? Havendo um país tão bonito para descobrir e distribuir as multidões de visitantes que se concentram nas cidades principais, porque não os encaminhar para outras regiões tão belas e marcantes, a todos os níveis?

LFM

terça-feira, agosto 06, 2024

Vinte Anos de Águas do Sul

Fotografia realizada na Feira do Livro aquando do lançamento de um livro meu

 Em Agosto de 2004 começou esta aventura. 

Com o tempo aprendi que há abutres à espreita, incapazes de criarem, pois são desprovidos de inteligência, roubando poemas dos outros (neste caso, meus), como foi o caso de uma presidente de Junta de Freguesia, que numa publicação que assinei em co-autoria se intrometeu com uma frase surripiada daqui, afirmando numa "entrevista" que lhe fizeram "como eu costumo dizer..." (e toca a citar a frase poética sem citar o autor).

Até uma fotografia que fiz há muitos anos com uma máquina rudimentar, onde está Eugénio de Andrade, o meu amigo Lourenço e uma senhora de Póvoa de Atalaia, está sendo reproduzida sem mencionarem a autoria.

Todavia o mal não é exclusivo daqui. Há anos descobri um poema meu em francês dedicado a Aboulkacem Chebbi, o poeta nacional tunisino, retirado do meu livro "Les Bergers du Soleil" (Os Pastores do Sol), por uma mulher (árabe?) tendo tido o trabalho de me "infiltrar" no fórum onde  o crime se consumava para comentar que o poema tinha sido feito e entregue na Biblioteca Nacional em Tunis em 1996!!!

Alguns anos depois dos blogues surgiu o Facebook, onde tenho publicado muita informação acerca das minhas andanças poéticas. Livros editados, viagens, partilhas criativas.

Volto aqui de vez em quando. Hoje para celebrar duas décadas de existência. o balanço é positivo, porém há um cuidado redobrado com o que se divulga por causa dos predadores.

Agradeço a fidelidade dos leitores.

Luís Filipe Maçarico

sexta-feira, julho 12, 2024

MARIONETES

 É simplesmente repugnante a opinião canina dos especialistas militares que se pronunciam sobre a voz do dono, a propósito das ameaças bélicas que pairam sobre o mundo em que habitamos.

Ninguém fala (e havia tantos tudólogos no tempo da pandemia) acerca das poeiras que poluem os céus e que ultrapassam as do Sahara que segundo algumas notícias chegaram a atingir a Escandinávia. Ou seja, os resíduos das bombas que explodem em Gaza e noutras guerras, para lá da Ucrânia, não vão parar à Gronelândia...

Não oiço nenhum especialista referir as alergias que cada vez mais atacam os portugueses.

Apenas oiço criaturas, que parecem saídas de um museu de figuras de cera, com direito a tempo de antena, falando dos benefícios para o Ocidente da pertença à Nato (a doutora loira) ou das vitórias imparáveis sobre os russos dos ucranianos (aquele general penteadinho com pronúncia minhota), contestados por outros, que defendem o inverso. 

Saturado deste carrocel sinistro, rendi-me às telenovelas turcas e passo o meu tempo a seguir as aventuras de heróis e heroínas de uma cultura que conheço de uma visita a Bursa, Istambul e Tróia, desde os anos 80.

E raramente perco tempo a ouvir a propaganda daqueles que atacaram a Sérvia, sem mandato da ONU e passam o tempo a fazer ameaças ao equilíbrio e à paz, acrescentando o seu belicismo ao dos países que não conhecem a linguagem do convívio entre diferentes.

LFM

terça-feira, junho 25, 2024

A Permissividade gera o Caos

 Os distribuidores de comida da Uber e da Glovo, que andam de mota ou bicicleta infringem todas as regras, começando pela infracção de circularem em contramão. Andam algumas vezes sobre os passeios, marimbando-se para quem circula a pé naqueles espaços construídos para esse efeito.

Tenho receio de andar na Av. da República, em Lisboa, por exemplo, onde abundam os utilizadores de trotinetes eléctricas aos magotes, desprezando os peões.

Não gosto de viver nesta época. Porque há uma desmedida permissividade (nunca se vislumbra um agente da autoridade) porque até os turistas que invadem Lisboa se comportam como selvagens no Metro estendendo as patas aos bancos frente aos quais se sentam, que nos dão encontrões sem um sorry ou excusez moi...

LFM

Visões caóticas e odores nauseabundos em Almada Velha

 Almada Velha entregue ao cócó dos cães e às ervas daninhas que crescem de forma impressionante.

Convidamos os leitores que moram perto a fazer um safari entre dejectos caninos e vegetação selvagem.

Como se não bastasse, a Rua Capitão Leitão exala um odor insuportável, nestes dias de calor, a urina humana.

Os frequentadores do arraial que existe no final dessa rua, junto ao antigo edifício da Câmra Municipal, descarregam as bexigas cheias de cerveja em qualquer parede ou esquina, atraíndo baratas e pulgas.

Em qualquer dos casos não sentimos a mão municipal ou da Junta de Freguesia.

LFM

sábado, abril 13, 2024

IMPRESSÕES DE LEITURA DO LIVRO DE ELVIRA CARVALHO “A COR DOS POEMAS”

 



Sophia de Mello Breyner Andersen registou: “Vemos, ouvimos e lemos! Não podemos ignorar!”

O primeiro livro de Poesia de Elvira Carvalho causa alguma surpresa.

Habituado a ler contos em que a autora apresenta uma variedade de enredos, e nos quais encontramos por vezes soluções criativas, com desfechos positivos, neste volume o olhar de Elvira Carvalho é uma paleta de tonalidades sombrias, desfilando em quase todas as páginas uma espécie de cortejo bíblico com todo o tipo de seres feridos física e espiritualmente.

Ocorre-me citar um poeta do século XIX enquanto modelo desta lírica amarga – José Duro que nos legou um dos livros mais tristes da literatura portuguesa – “Fel”.

“Onde quer que ponha os olhos contristados

-Costumei-me a ver o mal em toda a parte-“


“Estranha concepção! Abranjo o mundo todo

E em cada estrela vejo a mesma lama impura,

E em cada boca rubra o mesmo impuro lodo!”

Contribuiu para escurecer as páginas de “A Cor dos Poemas” a própria história de vida da sua criadora, patente nos seus dados biográficos.

A perda do companheiro de seis décadas, a quem dedica o livro, aumentou o desânimo que não esconde e sempre se evidenciou na sua escrita poética, partilhada no blogue “Sexta-feira”. Ele era o seu abrigo e apesar da sua protecção, nunca ignorou o mundo que a rodeia, perante o qual se sente incapaz de transformar conforme os seus sonhos de infância permitiam aspirar. Embora escrever seja transformar.

Como poeta viajante e face ao meu próprio percurso carregado de obstáculos, sendo um pessimista optimista, sinto alguma perplexidade pela proximidade dos versos de Elvira às favelas, às existências sub-humanas vítimas de exploração desenfreada, sem descortinar uma redenção para a injustiça sem limites que infecta o planeta.

Falta uma esperança, uma crença no cosmos, na Humanidade à qual pertencemos.

Esta excelente contista, não encontra aqui pegadas de Florbela, a comunhão com a Natureza, de Cesário Verde, sequer a melancolia de António Nobre. A sua realidade poética não é ao menos a de Rosalia de Castro que cantou o abandono da terra natal, a imigração galega para Havana, o amor aos rios e aos campos que inundaram os seus poemas de identidade magoada mas de referência para um povo empobrecido que teve de dizer adeus às origens.

Em “A Cor dos Poemas” estamos diante do não retorno, do final dos tempos, em que só a Morte espera os seres, mortais sim, mas de asas cortadas, sonhos apagados, futuros sem luz.

Oxalá Elvira volte à Poesia com um legado que aponte para dias contrários a um tempo que os seus versos espelham com fidelidade.

Oxalá seja possível sobreviver a um Mundo cruel, com Amor e sonhos libertadores.

Obrigado Elvira Carvalho pela verdade sem floreados, frontal que a sua escrita nos entrega. E que possa acontecer tal como o Poeta escreveu o desejado “mudam-.se os tempos/ mudam-se as vontades”

 

Luís Filipe Maçarico (Poeta, Antropólogo)

Almada, 2-4-2024