Em 1996, com a Escola Profissional do Fundão, desloquei-me a Poitiers, a convite do Dr. João Santos Costa, que procedeu à reedição do meu livro trilingue "Os Pastores do Sol" (escrito em português, francês e árabe) que através de alguns poemas celebrava o encontro com a cultura do outro, na Tunísia.
Decorria o Festival "Le Monde en Fête",na Rue des Trois Rois, organizado pela associação "Le Toit du Monde", onde participavam emigrantes de vários continentes, para lá dos portugueses - que nos receberam com agressividade, pois preferiam um rancho folclórico em vez de um poeta, que ainda por cima exaltava a hospitalidade, as diferenças e semelhanças de um povo do Norte de África. E um dos emigrantes, de forma muito ostensiva. recusou o vinho do Fundão dizendo: "Eu não bebo essa merda, eu só bebo whisky", talvez para desesperadamente passar a imagem que era moderno, tinha sucesso na vida ou qualquer aberração do género.
Fomos exemplarmente acolhidos pelos libaneses que depois de receberem a garrafa de vinho, nos ofereceram o primeiro copo e subiram ao palco para lerem poemas em árabe (recordo-me que a sua associação se designava "Une Nadie Arabe") o município local recebeu-nos com elegância e um representante leu poemas em francês e eu, versos do livro na minha língua-mãe.
A escola primária que acolhia meninos dos Palops ensinava a ler por um livro de Salazar e no restaurante "Chez Fernando", depois de um convívio inesquecível com sul americanos, ao jantar, uma gorda que cantava cantigas de Gina Maria (dos Serões para Trabalhadores da FNAT) meteu-me a manápula no bolso das calças quando eu ia a passar, para me provocar, sendo admoestada pelo proprietário.
Nesses dias pernoitei em casa de um Poeta, Michel Robakowski, que me autografara o seu livro "Lieux Nomades". Durante algum tempo correspondi-me com o senhor. Recentemente, através do Facebook o Poeta regressou, evocando esse tempo, pedindo-me amizade para prosseguirmos a caminhada de partilha artística.
É nestes momentos que dou graças ao Cosmos por a minha vida não ser vazia e ter tanta coisa para contar, à escala humana.
Michel RobaKowski é igualmente pintor e foi para mim uma honra ter-me encontrado no FB que serve exactamente para estes momentos mágicos.
Luís Filipe Maçarico (texto) Fotografias de MR e LFM
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