"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, outubro 31, 2011

Porque Não Impôr o Recolher Obrigatório?



Acabei de assinar a Petição contra a redução/extinção dos horários nocturnos da rede METRO e CARRIS! onde escrevi o seguinte comentário:

"Governo ou terrorismo? Massacram-nos com impostos, roubam-nos o salário, decretam o fim dos subsídios de férias e de Natal, impedem-nos o acesso à Saúde, dificultam a Justiça, debilitam o ensino, facilitam o desemprego, poupam os tubarões e ainda pensam em interditar transportes durante a noite. Porque não impôr o recolher obrigatório e fuzilar os prevaricadores?"

http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N15917

quinta-feira, outubro 27, 2011

Retrocesso


Em 1906 e 1911 duas prestigiadas colectividades de Lisboa, foram fundadas para combater o alcoolismo, que grassava entre a classe operária...Tempos difíceis de míngua, de grande disparidade social...

A luta do povo, ao longo do último século, proporcionou uma vida menos atribulada...

Em 2011, cem anos depois, o vinho é taxado a 6%, enquanto uma sopa, uma água, uma peça de teatro, passam a ter IVA de 23%.

Salazar dizia que beber vinho era dar pão a um milhão de portugueses. Pelos vistos, deixou seguidores diligentes, que o homenageiam, fazendo empobrecer o povo, fazendo recuar a marcha dos dias...

Eu sei que foi nas tabernas que o fado floresceu e pelo Alentejo, nas tabernas, o Cante teve uma das suas melhores escolas...

Mas o fatalismo, que os vampiros desenfreados parecem querer impôr aos trabalhadores, é opressivo, pois empurram de novo as pessoas para um quotidiano humilhante...

Acredito que a luta da razão obterá resultados, que terão o sabor da desforra, perante a afronta. E quando alguém erguer uma taça de vinho, que seja para festejar a vitória sobre os novos esclavagistas.

Que não se afogue a energia no álcool, pois ela faz falta, para enfrentar a ameaça mais insultuosa, com que os trabalhadores foram confrontados.

LFM (texto e foto)

domingo, outubro 23, 2011

Eleições na Tunísia


Decorridos nove meses sobre a Revolução de Jasmim, a Tunísia vota hoje, escolhendo entre 110 partidos. Há 11 mil candidatos para 217 lugares na Assembleia Constituinte. Votam 7,5 milhões de eleitores.
Que os tunisinos escolham o melhor futuro é o meu desejo.

terça-feira, outubro 18, 2011

As Novas Rotundas Gémeas ou Uma Scut dentro da cidade.



Nasceram duas novas rotundas-gémeas!
Quem vem de Alcântara e chega ao pé da escola de joalharia, perto do restaurante Meninos do Rio, depara-se com uma grande surpresa...
O que dantes era uma via, com continuidade, está interdita.
Quem vem do Cais do Sodré, depara-se com a mesma proibição.



Os sinais de trânsito não têm qualquer registo da CML ou da APL...
Entretanto, a EMEL passou a cobrar todo o espaço de estacionamento disponível. Quem decidiu assim e porquê?



Há alguns dias, induzi em erro um taxista, assegurando que se circulava até ao Cais do Sodré, pois perto da estação dos barcos, já havia passagem entre Alcântara e aquela zona. Qual não é o meu espanto e frustração, quando fomos interrompidos pelas rotundas/fronteira.



Perguntei então a um fiscal da empresa municipal de estacionamento, como se passava para o outro lado (senti-me de repente esmagado pela prepotência de uma entidade desconhecida) o qual esclareceu, que pode haver uma saída, para os incautos que se deparam com a rotunda: entrar num parque de estacionamento junto ao Tejo, atravessá-lo e sair mais à frente, onde a via interrompida pela rotunda, se retoma.


Só que tem de se pagar, de cada vez que se utilize a passagem daquele parque, 40 cêntimos. Uma scut dentro da cidade...não sei se estão a ver!? E que dizer do cartão que anuncia a entrada para o pequeno mónaco chunga?
Será que esta nova portagem se destina a tapar mais um buraco colossal, talvez aquele que as más línguas dizem que a Emel tem?


Contudo, o mais bizarro é não ter ainda encontrado nenhuma explicação ou crítica, na comunicação social, nem sei se os automobilistas, além da ira ocasional fizeram o que deviam, enquanto cidadãos...
E afinal quem teve esta bela ideia?

Texto e fotos de LFM

segunda-feira, outubro 17, 2011

Armindo Rodrigues cantado por Luís Cília

Conheci Armindo Rodrigues, quando no Pavilhão dos Desportos ele, José Gomes Ferreira e Manuel da Fonseca, durante um evento realizado pelo PCP, passaram o testemunho a poetas mais jovens: Eufrásio Filipe, José Vultos Sequeira e eu próprio.
Numa pesquisa no Youtube descobri esta pérola. Luís Cília, cantando Armindo Rodrigues. Do passado ecoam palavras de companheiros que já por aqui lutaram e nos estimulam a prosseguirmos, firmes, na defesa dos direitos, de uma respiração à escala humana, sem temor, nem vergonha de existir.

http://youtu.be/4YC6PUzO7Nw

Soneto do Trabalho de Ary dos Santos







Das prensas dos martelos das bigornas
das foices dos arados das charruas
das alfaias dos cascos e das dornas
é que nasce a canção que anda nas ruas.

Um povo não é livre em águas mornas
não se abre a liberdade com gazuas
à força do teu braço é que transformas
as fábricas e as terras que são tuas.

Abre os olhos e vê. Sê vigilante
a reacção não passará diante
do teu punho fechado contra o medo.

Levanta-te meu Povo. Não é tarde.
Agora é que o mar canta é que o sol arde
pois quando o povo acorda é sempre cedo.


Poema de José Carlos Ary dos Santos

Fotografias: Luís Filipe Maçarico

quinta-feira, outubro 13, 2011

Os Fechos de Picão (Castro Daire)








Diz-me a Irene, que "isto são fechaduras de antigamente. Actualmente, ainda se usam, nas lojas (currais dos animais)...Ainda não fecham à chave. São todas de sítios onde estão gados guardados... Mas até há aqui uma, que se vê que a madeira é nova..."

Irene é natural de Picão, aldeia de Castro Daire, na Beira Alta.


"Já lá andaram os pais, agora andam os filhos...Toda a vida me lembro destas portas serem assim..." E a Irene chama a atenção para uma das fotografias, explicando: "Esta é da capoeira das galinhas de uma prima minha...de noite, fecha, por causa da raposa!"


Aprendo sempre com estas pessoas, que têm a marca do sol e do gelo nas memórias. O Povo, genuíno, nos seus usos e costumes, que guarda a sua identidade, oriundo da geografia afectiva, recheada de estórias e História, tem tanto para nos ensinar!

Bem haja, Irene!

Fotos e depoimento de Irene. Texto: LFM.

domingo, outubro 09, 2011

A Esperança para mim, eram as pessoas...


Pertenço a uma geração que era obrigada a ir para a chamada guerra do ultramar e comecei a trabalhar como varredor de ruas. Não tive pai nem mãe, que me criassem, foi uma avó velha - eu tinha todas as condições, ou para andar à babugem da Igreja, do leitinho em pó dado por senhoras benfazejas, aos pobrezinhos, ou de caciques, ou para ser um marginal.
Não me tenho em grande coisa, sou poeta, antropólogo... sinto na pele, como funcionário público todos os ataques, resisto, resistimos, aguentamos esta decadência...e a esperança, que para mim, eram as pessoas e não deuses, tornou-se neste perder constante, não são os governantes de meia tijela que nos humilham só...um certo povo, dá uma ajuda decisiva, como hoje na Madeira.
Não quero ofender os amigos, mas de facto há sempre uma fundura maior, neste poço sem fundo, que descemos, ano após ano. Saúde, educação, reformas, tudo cortado, trabalho escravo e depois estas notícias. Arre, porra, que é demais!
Começo a achar que os ventos podres, que chegam da Europa e de um Capitalismo repugnante, fascistóide, que levanta a garimpa, com muita arrogância, violência mesmo, vai terminar numa guerra.
Chamar a isto democracia é igual a dizer que eu sou esquimó!
Texto e foto: LFM

sábado, outubro 08, 2011

"Novo Amanhecer" de Rosa Dias: Etnografia da Memória


















Esta tarde, com Isabel Wolmar, Rosa Calado (dirigente da Casa do Alentejo), Natália Pinto (da Alma Alentejana) e um representante de Rui Nabeiro, participei na apresentação em Lisboa do novo livro de ROSA DIAS. De referir que Rosa Calado salientou que Rosa "tem todo o Alentejo dentro dela. Ela é Povo"e Isabel Wolmar, destacou que se trata de "Poesia de profunda filosofia existencial. A sua poesia saiu da crisálida, fez-se mariposa e voou, voou, até ao infinito".

Transcrevo agora o texto que escrevi propositadamente para este evento:


Em toda a sua obra publicada (e inédita), Rosa Dias realiza uma Etnografia da Memória, que a Poesia enriquece, num jogo de apuro, com as palavras, que são paleta e objectiva, recolhendo elementos para quadros, que atravessam a fronteira dos sentidos, transportando o leitor até paisagens de amplos horizontes, onde o verso tem escala humana.

Na sua poesia, emerge a génese alentejana e camponesa, o património imaterial, que consubstancia as Festas do Povo, as profissões laboriosas das gentes do campo, as tradições marcantes, o saber - fazer identitário dos mestres, a linguagem pródiga em regionalismos, o colorido de um humor distinto, que apenas os alentejanos sabem fruir. Há na dimensão dos seus retratos, das suas telas rimadas, o fulgor de páginas de escritores, como o Silva Picão, de “Através dos Campos” ou o João Mário Caldeira de “Margem Esquerda do Guadiana, As Gentes, A Terra Os Bichos”.

Rosa Dias recorre, qual antropólogo, à observação - participante, para descrever vivências, interacções, modos de ser e de fazer, e até para registar que certos rituais pertencem ao passado, pois “o mundo está em mudança, hoje a vida tem outro fado.”

Em “Novo Amanhecer”, o livro que já nos levou a Campo Maior, numa noite de Verão mágica, importa realçar que o género é pedra de toque, para Rosa falar da sublimação dos dias, através do olhar feminino, assumidamente como complemento vital da Humanidade, na conjugação homem/mulher, em colectivo, pelos territórios do Amor.

Na página 63 há um poema que vale todo o percurso de tão esplêndida existência, pois se Eugénio de Andrade escreveu “Num prato da balança um verso basta / para pesar no outro toda a minha vida”, Rosa Dias conta-nos, em “A força de querer”, escrito há oito anos:

“Disse um dia, vou em frente;/ Gritou a vida, isso é que não!/ Julgas-te gente? Não és gente/ Larga a escola; ganha o pão//

“Assim me roubaram o prazer/ De estudar, p’ra ser alguém/ Mas esta força, do querer/ Ninguém a roubou, ninguém…//

“Ter de novo na minha mão/ A saca, o lápis, a sebenta/ Foi dizer sim, a esse não/ A caminho dos sessenta…”

A toada aleixiana, que pode estar subjacente à origem desta poesia, de raiz tradicional, é suplantada pelo cunho vincadamente alentejano, pela pegada desta cidadã do mundo, pela tatuagem dos dias no seu ADN, pois a par dos hinos ao sul, saboreamos passagens pelos Açores, por Alpedrinha, andanças por Lisboa, reflexões onde o Mundo surge, enquanto realidade do quotidiano, ao ponto de também ter composto um texto actualíssimo: o rap rep da minha vida.

Depois de Toadas Alentejanas (1989) e Anexins e Nomes Engraçados de Campo Maior (1997), “Novo Amanhecer” marca uma indomável vontade de viver e partilhar uma arte, que explodiu um dia, com a urgência da fome ou da respiração, no sangue intempestivo do Verbo.

Abençoada arte da fala, que tem proporcionado, de norte a sul, o convívio com esta pessoa maravilhosa, que espalha a harmoniosa beleza de sílabas morenas, trazendo trigais e cantares, lágrimas, suores e sorrisos, esperanças e destinos, em rimas que embalam momentos, encontros, lugares.

Rosa Dias, a menina - ave, que enfeitou de sonho a sua partida para a grande cidade e nela trabalhou, amou e construiu um ninho de amor e poesia, é a mesma que decorrido um percurso, eivado de peripécias e mágoas, nos interroga, como Carlos Drumond de Andrade, acerca da melhor forma de ultrapassar a pedra, que ficou no caminho.

Querida Rosa: É um enorme privilégio ser teu amigo e poder celebrar neste espaço único, como é o teu coração, as décadas de experiência que já acumulaste, qual tesouro onde a luz e a harmonia estabelecem o equilíbrio da essência.

Não há um poeta como tu, és irrepetível, a tua eloquência, a tua vivacidade são uma oferenda para todos nós.

Interpretas como ninguém esse fogo que te alimenta, em cada estrofe, em cada espaço, onde o som e o feitiço de te escutarmos, seduzidos pela musicalidade, pela força telúrica, pela justeza de cada vocábulo, nos permite guardar o pedacinho de lava desse vulcão de sabedoria que só tu sabes.

Como agradecer-te a ternura de seres?

Luís Filipe Maçarico

Fotos: LFM/ Paula Cristina Lucas da Silva

quarta-feira, outubro 05, 2011

Expresso Portugal: Peregrinação a Santa Eucarária











Depois de ter passado uma semana em Odeceixe, felizmente em boa companhia, como este país é moderno que se farta, suportei 4 horas, num Expresso da Rodoviária, para regressar a Lisboa. Mudei de roupa, tomei um banho, mastiguei qualquer coisa e ala que se faz tarde, lá fui eu outravez, noutro Expresso da Rodoviária, a caminho de Mértola, pois na manhã seguinte (sábado) ia ter a última reunião com os professores do Mestrado "Portugal Islâmico" e aquele concelho do Alentejo parece que está noutro planeta, tal é a escassez de transportes que os mertolenses e visitantes sem viatura (ou boleia) têm à sua disposição.

Senão, veja-se: de Lisboa para Mértola, a camioneta das 17:15, denominada pomposamente como Expresso, chega perto das 21 se não atrasar.
O transporte para Lisboa, é de manhã às 9 e 20. Chega-se depois das 13h. Ligações únicas à capital sublinhe-se.

Há também umas carreiras que ligam Beja a Mértola e vice-versa, mas só se efectuam nos dias úteis.
Aquela que frequentei, durante anos, para poder estar a tempo nas aulas do Mestrado, saía da capital de distrito às duas menos um quarto, passava pelas aldeias e só uma hora e um quarto depois completava os 50 km. Para a apanhar, vindo de Lisboa, tinha de utilizar o Intercidades das 9 e picos que chegava a Beja às 11:30 e fazer tempo à espera da ligação...

Digam lá se este país não é bem governado, em matéria de transportes?
Adiante.

Tive boleia nesse sábado, até à Funcheira, onde o Intercidades oriundo de Faro me devolveu à capital.
No domingo seguinte, noutro Intercidades, desci no Fundão e ainda tive hipótese de participar no resto da festa dos Chocalhos, em Alpedrinha, graças a uma carreira que a organização do Festival pôs à disposição dos forasteiros.
Imaginem que fiz tudo isto com um pé torcido, a arrastar-me literalmente, porque em matéria de saúde, o rol também tem muito que se lhe diga, neste inacreditável Expresso Portugal. Apetece-me citar a saudosa Ivone Silva, no Sabadabadu:
"Este país é um colosso, está tudo grosso!!!"
Santa Eucarária me valha!

Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)