"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, julho 28, 2015

Cacia, um Património a Salvaguardar


O património azulejar de Cacia corre riscos. Desconheço se há alguma regulamentação no sentido da sua protecção, quer por parte da Junta de Freguesia, quer através de directivas da Câmara Municipal de Aveiro, que promovam a sua salvaguarda.
As casas apalaçadas, com a ornamentação característica da Arte Nova, ainda são visíveis, mas não sabemos durante quanto tempo. Pormenores como batentes de porta são igualmente dignos de nota, nesse levantamento.
As vivendas dos "Torna-Viagem", os emigrantes que entre os séculos XIX e XX, construíram as suas residências na terra natal, com a fortuna adquirida no Brasil, apresentam algum abandono. Felizmente que existem edifícios habitados e cuidados. Honra aos descendentes que conservaram o legado!
Creio que há uma associação em Cacia, que se preocupa com estas coisas. Desconheço se foi realizado um inventário, acerca deste prodigioso património, que merecia até uma publicação, com um estudo sobre as famílias que as habitaram e os arquitectos que proporcionaram este esplendor.
Podia ser um bom cartaz da identidade local e um excelente postal turístico.
Cacia tem esta beleza, que se perderá se ninguém tomar medidas e deixar a ruína vencer o tempo.
Espero que alguém leia e se preocupe.
Porque mamarrachos e portas de alumínio existem de sobra em inúmeros lugares deste pobre país abandonado.

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

quinta-feira, julho 23, 2015

Homenagem a Leandro Vale no Cementério de Arte, a finalizar o PAN 2015, em Morille


Quase no final do PAN 2015, a população de Morille juntou-se no Cemitério de Arte, com os Amigos de Leandro Vale para homenagear o homem de Teatro.
Primeiro assistiu-se a uma peça de marionetas, espectáculo que foi incluído nas comemorações dos 40 anos da Revolução de Abril, com vozes e manipulação de Teresa Santinhos, Carlos Fernandes e Armando Vieira.
Leandro Vale foi autor e encenador de "Uma Nova Maneira de Contar Abril", que ali naquele chão, repleto de rosmaninho seco, adultos e crianças, nos uniu, para celebrarmos o país que resta.
Leandro escreveu: "Era uma vez um país chamado Portugal. Era uma vez uma canção chamada "Uma Casa Portuguesa". O país continua a existir e a canção também. Só que os tempos mudaram.(...) A história é conhecida...Mas resolvi contá-la de outra maneira".
A peça terminou com alguns sons que nos remetem para Abril de 1974. Ermelinda Duarte, em gravação, cantou de novo "A Gaivota".
Seguiu-se uma intervenção de Fernando Fitas, em nome dos amigos do autor.
A organização do festival proporcionou ao público, através de um televisor, ao entardecer, a passagem do vídeo "Aqui Jaz a Minha Casa", realizado por um jovem cineasta transmontano, com excelente desempenho do também actor, que faleceu em Abril deste ano. 
As lágrimas bailaram nos olhos, quando Leandro apareceu, tão parecido com o também Encenador e Dramaturgo Ildefonso Valério, fundador como ele, de muitos grupos de Amadores de Teatro...

https://vimeo.com/35679059

A cerimónia terminou, ao som da Carvalhesa, com o enterramento do televisor e do vídeo, tendo alguns dos presentes atirado cravos. Difícil controlar a emoção, por ser ali, que um homem de cultura português foi distinguido, pelo seu notável percurso, trabalhando nas aldeias do fim do mundo, levando até às populações do interior esquecido a cintilação de um teatro para o povo.
Carlos d'Abreu, professor da Universidade de Salamanca distribuiu a finalizar, vinho do Porto (que é a jóia maior do Douro), para celebrar o Futuro!

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)