"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, maio 31, 2009

Dois Olhares Sobre Quem Manda em Portugal



O RANÇO SALAZARISTA


Cada vez mais nos afastamos uns dos outros. Trespassamo-nos sem nos
ver. Caminhamos nas ruas com a apática indiferença de sequer sabermos quem somos. Nem interessados estamos em o saber. Os dias deixaram de ser a aventura do imprevisto e a magia do improviso para se transformarem na amarga rotina do viver português e do existir em Portugal.

Deixámos cair a cultura da revolta. Não falamos de nós. Enredamo-nos na futilidade das coisas inúteis, como se fossem o atordoamento ou o sedativo das nossas dores. E as nossas dores não são, apenas, d'alma: são, também, dores físicas.

Lemos os jornais e não acreditamos. Lemos, é como quem diz - os que lêem. As televisões são a vergonha do pensamento. Os comentadores tocam pela mesma pauta e sopram a mesma música. Há longos anos que a análise dos nossos problemas está entregue a pessoas que não suscitam inquietação em quem os ouve. Uma anestesia geral parece ter sido adicionada ao corpo da nação.

Um amigo meu, professor em Lille, envia-me um email. Há muitos anos, deixou Portugal. Esteve, agora, por aqui. Lança-me um apelo veemente e dorido: 'Que se passa com a nossa terra? Parece um país morto. A garra portuguesa foi aparada ou cortada por uma clique, espalhada por todos os sectores da vida nacional e que de tudo tomou conta. Indignem-se em massa, como dizia o Soares.

Nunca é de mais repetir o drama que se abateu sobre a maioria. Enquanto dois milhões de miúdos vivem na miséria, os bancos obtiveram lucros de 7,9 milhões por dia. Há qualquer coisa de podre e de inquietantemente injusto nestes números. Dir-se-á que não há relação de causa e efeito. Há, claro que há. Qualquer economista sério encontrará associações entre os abismos da pobreza e da fome e os cumes ostensivos das riquezas adquiridas muitas vezes não se sabe
como.

Prepara-se (preparam os 'socialistas modernos' de Sócrates) a privatização de quase tudo, especialmente da saúde, o mais rendível. E o primeiro-ministro, naquela despudorada 'entrevista' à SIC, declama que está a defender o SNS! O desemprego atinge picos elevadíssimos. Sócrates diz exactamente o contrário. A mentira constitui, hoje, um desporto particularmente requintado. É impossível ver qualquer membro deste Governo sem ser assaltado por uma repugnância visceral. O carácter desta gente é inexistente. Nenhum deles vai aos jornais, às Televisões e às Rádios falar verdade, contar a evidência. E a evidência é a fome, a miséria, a tristeza do nosso amargo viver; os nossos velhos a morrer nos jardins, com reformas de não chegam para comer quanto mais para adquirir remédios; os nossos jovens a tentar a sorte no estrangeiro, ou a desafiar a morte nas drogas; a iliteracia, a ignorância, o túnel negro sem fim.

Diz-se que, nas próximas eleições, este agrupamento voltará a ganhar. Diz-se que a alternativa é pior. Diz-se que estamos desgraçados. Diz um general que recebe pressões constantes para encabeçar um movimento de indignação. Diz-se que, um dia destes, rebenta uma explosão social com imprevisíveis consequências. Diz a SEDES, com alguns anos de atraso, como, aliás, é seu timbre, que a crise é muito má. Diz-se, diz-se.

Bem gostaríamos de saber o que dizem Mário Soares, António Arnaut, Manuel Alegre, Ana Gomes, Ferro Rodrigues (não sei quem mais, porque socialistas, socialistas, poucos há) acerca deste descalabro. Não é só dizer: é fazer, é agir. O facto, meramente circunstancial, de este PS ter conquistado a maioria absoluta não legitima as atrocidades governamentais, que sobem em escalada. O paliativo da substituição do sinistro Correia de Campos pela dr.ª Ana Jorge não passa de isso mesmo: paliativo. Apenas para toldar os olhos de quem ainda deseja ver, porque há outros que não vêem porque não querem.

A aceitação acrítica das decisões governamentais está coligada com a cumplicidade. Quando Vieira da Silva expõe um ar compungido, perante os relatórios internacionais sobre a miséria portuguesa, alguém lhe devia dizer para ter vergonha. Não se resolve este magno problema com a distribuição de umas migalhas, que possuem sempre o aspecto da caridadezinha fascista. Um socialista a sério jamais procedia daquele modo. E há soluções adequadas. O acréscimo do desemprego está na base deste atroz retrocesso.

Vivemos num país que já nada tem a ver com o País de Abril. Aliás, penso, seriamente, que pouco tem a ver com a democracia. O quero, posso e mando de José Sócrates, o estilo hirto e autoritário, moldado em Cavaco, significa que nem tudo foi extirpado do que de pior existe nos políticos portugueses. Há um ranço salazarista nesta gente. E, com a passagem dos dias, cada vez mais se me acentua a ideia de que a saída só reside na cultura da revolta.

Baptista Bastos


SÓCRATES - VOANDO BAIXINHO


Como apreciação ao facto de mais uma vez, milhares e milhares de professores terem enchido as ruas, desta vez, num Sábado escaldante que convidava a uma tarde amorfa, na praia, para lhe dizerem alto e bom som o que pensam das suas políticas pedestres para o ensino, o lamentável presidente do conselho que nos tocou em azar, apenas conseguiu produzir umas declarações, algo entre o patético e o ameaçador, afirmando ter visto entre os manifestantes alguns dirigentes político-partidários, regougando mais umas baboseiras sobre "intrumentalização" e "caras destapadas".

Não sabe ou não quer saber a execrável criatura, que o facto de estarem, se for sinceramente, solidários com a luta dos professores, só valoriza esses dirigentes políticos.

Não sabe ou não quer saber o inútil, que o facto de se lutar por causas que muitas vezes ultrapassam em muito o problema pessoal do chequezinho ao fim do mês, eleva o ser humano e, neste caso, os professores, a patamares de dignidade que ele nunca conheceu e não sabe, por isso, distinguir do preço dos seus fatinhos feitos por medida.

Não sabe ou não quer saber a imprestável figurinha histórica, que o título de militante por uma causa, vale milhares de vezes o seu título de “6º mais elegante e bem vestido”.

O seu parceiro de campanha “ibero-socialista”, Zapatero, está envolvido numa feia polémica, por utilizar o avião Falcon do Estado Espanhol para se deslocar a comícios do PSOE (e um do PS, aqui em Portugal). Há já quem queira ver José Sócrates igualmente envolvido nessa polémica pela utilização do Falcon espanhol.

Polémica inútil! Sócrates já só voa de abutre!

Fernando Samuel,
in:
http://samuel-cantigueiro.blogspot.com/2009/05/socrates-voando-baixinho.html

sábado, maio 30, 2009

Recuso-me a Ser Merda!



O calor foi intenso ontem e hoje no Alentejo. Beja andou à volta dos 35 graus. Mértola não lhe ficou atrás.
Duas mulheres preencheram as aulas do Mestrado Portugal Islâmico e o Mediterrâneo. Ontem, Manuela Barros e as Fronteiras da Língua. Hoje,Isabel Cristina Fernandes, falou-nos do Povoamento. Duas professoras acessíveis, com muita sabedoria.



Regressei a Lisboa com a Ana e o Pedro, satisfeito por ter cumprido mais um fim de semana de presença no curso, com o bem estar de quem deseja aprender mais e absorver tudo com serenidade.
Mértola, em cada fim de semana, é uma ressurreição para quem trabalha numa câmara, sabendo que no final do ano terá - se não houver atritos com as chefias - classificação Bom, equivalente a um ponto, tendo de somar 10 pontos para conseguir passar de Principal para Assessor e poder ganhar uma migalhinha mais...ou seja, daqui a dez anos, talvez suba de categoria, pois ter licenciatura, mestrado ou doutoramento, neste momento, face ao que este governo decidiu para a função pública, tanto se lhe dá como se lhe deu...importa é ter bom relacionamento com quem manda...



A decisão de ter ido estudar passou por sobreviver à mediocridade imposta por decreto lei...

O Sonho anima-me, tal como a vontade de viver, de não soçobrar perante o desprezo de quem durante meses enviou palavras únicas e depois mergulhou num silêncio mortal e não sabe que há poesia, emoções, sentimentos, quando se sai da prisão que é o trabalho quotidiano, quantas vezes sem qualquer motivação.
Outros dias, espero que melhores, virão. E pessoas que não traiam, que não mintam.

Recuso-me a ser Merda!

Luís Filipe Maçarico (Texto e fotografias: 1 - Mértola, rio Guadiana, perto da foz da ribeira de Oeiras; 2 e 3 - Granada.)

sexta-feira, maio 29, 2009

Bastidores de um Festival












Há uma semana atrás, o souk (mercado) do V Festival Islâmico estava a ser montado, sob um sol bastante forte. Repare-se na primeira animação de rua com os Gnawa...
A simplicidade e a grandiosidade do evento deveram-se ao entusiasmo dos trabalhadores da Câmara Municipal de Mértola e à adesão dos diversos intervenientes, nomeadamente dos vendedores marroquinos e dos elementos da Comunidade Islâmica de Granada.
Quem perdeu o festival, só terá hipótese de voltar a ver as ruas com o colorido que apresentamos nestas imagens, em 2011.
Até lá, muita água vai correr debaixo das pontes...
Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)

quinta-feira, maio 28, 2009

A Misturada Que lhes Convém


Do blogue Cravo de Abril e da autoria de Samuel transcrevo o texto A MISTURADA QUE LHES CONVÉM:

A propósito da audição de Oliveira e Costa no Parlamento, escreveu Eduardo Dâmaso, Director-Adjunto do Correio da Manhã:
«Esta é a maior e também a mais indecorosa novela portuguesa dos tempos modernos, com manifesto reflexo na credibilidade dos políticos, dos partidos, dos banqueiros e das instituições.»

A intenção da prosa é óbvia: distribuir as culpas por todos os políticos e por todos os partidos - que é a melhor forma de, por um lado, aliviar as culpas dos verdadeiros culpados; de, por outro lado, espalhar a ideia de que os partidos são todos iguais; e de, com tudo isto, ocultar a verdadeira causa deste e de muitos outros casos que por aí andam à espera do carimbo «arquive-se!»: a política de direita que há 33 anos flagela Portugal praticada por governos PS e PSD - sozinhos, de braço dado, e com ou sem o CDS/PP atrelado.

A prova de que o «caso BPN» é um filho natural da política de direita, está no caudaloso envolvimento nele de governantes de governos de Cavaco Silva - que foi, durante trágicos dez anos, um dos mais exímios praticantes dessa política antidemocrática e antipatriótica, ao serviço dos interesses do grande capital.

Ora, metendo todos os partidos no mesmo saco, Eduardo Dâmaso produz a misturada que mais convém aos beneficiários da política de direita.
Que os outros se sintam bem assim ensacados, é natural: estão em casa...
Mas há um partido que não entra nesse saco, e tentar metê-lo lá é tempo perdido: porque essa não é a sua casa; porque é diferente dos que são todos iguais: porque é O Partido.
Texto de Fernando Samuel; Fotografia de Luís Filipe Maçarico

Lançamento dos "Cadernos Temáticos" da Aldraba no Salão Nobre da Câmara Municipal de Mértola






Os Cadernos Temáticos foram o grande desafio que a direcção cessante e a nova direcção da Aldraba, de uma forma muito empenhada levaram a cabo.

E num salto de gigante, a Associação do Espaço e Património Popular, passou da honrosa mostra da sua exposição sobre Aldrabas e Batentes, numa garagem de Mértola, durante o IV Festival Islâmico em Maio de 2007, para o Salão Nobre da Câmara Municipal neste novo Maio de 2009, em que se desenrolou o V Festival.

Cláudio Torres apresentou esta obra, proporcionando a todos os presentes uma verdadeira aula acerca dos objectos relacionados com o poder simbólico da mão, José Prista referiu-se a pormenores interessantes, decorrentes dos três anos de elaboração e melhoramento do trabalho, José Alberto Franco sintetizou os objectivos da associação, criada em 25 de Abril de 2005 e Manuel Marques, em nome da CMMértola iniciou a sessão.

O público que encheu o espaço, correspondeu à expectativa, criada em torno do estudo, que constituiu um dos momentos altos da animação cultural do evento.
Este primeiro caderno sobre "Aldrabas e Batentes de Porta. Uma Reflexão sobre o Património Imperceptível" foi muito procurado, pela abordagem invulgar, embora não inédita pois o autor já escreveu sobre o tema em revistas como "Almansor", "Callípole" e "Arqueologia Medieval".

Todavia, muita gente (onde se incluem responsáveis autárquicos, construtores, arquitectos) desconhece a história e simbólica destes objectos ancestrais, que durante séculos serviram para chamar os habitantes de palácios, residências senhoriais, templos e habitações do povo.

Luís Filipe Maçarico (texto) António Brito (fotografia)

Apresentação dos "Cadernos de Areia em Mértola". O Olhar de António Brito






O olhar de António Brito registou momentos simpáticos da apresentação dos "Cadernos de Areia" no Largo da Alcachofra em Mértola no passado dia 21.
Agradeço a reportagem ao António e a todos os que por lá passaram, amigos, público anónimo, presidentes da Assembleia Municipal e Câmara Municipal de Mértola, bem como do respectivo vereador da Cultura, Vereador Jorge Revez, Presidente da Junta de Freguesia de Santana de Cambas e Presidente da Câmara Municipal de Castro Verde que me deram a honra da sua presença.
Ao Miguel Rego, ao Eduardo Ramos e ao Manuel Passinhas, à Professora Susana Gomez-Martinez e ao Mário Elias, tal como aos associados e dirigentes da Aldraba, o meu agradecimento pelo apoio.
Luís Filipe Maçarico (texto) António Brito (Fotografias)

quarta-feira, maio 27, 2009

Paulo Barriga e a Livraria "Vemos Ouvimos e Lemos"


Paulo Barriga fez questão de me levar à efémera sucursal da livraria "Vemos Ouvimos e Lemos", que funcionou em Mértola, na antiga Biblioteca (ex-cadeia), durante os quatro dias do V Festival Islâmico. O que fiz com grande honra e prazer
Ali apresentei com agrado e boa afluência de leitores a leitura de poemas do livrinho mágico - "Cadernos de Areia".
António Baeta, autor desta fotografia, disse o primeiro poema da sessão, e Eduardo Ramos participou entusiasticamente, cantando poetas luso-árabes.
Um agradecimento ao Paulo Barriga pela iniciativa, que me soube muito bem. Procurem-no na livraria original, em Serpa...E viva Mértola!

terça-feira, maio 26, 2009

Texto de Miguel Rego na Apresentação da 2ª Edição dos "Cadernos de Areia" no V Festival Islâmico de Mértola




O aceitar fazer a apresentação dos Cadernos de Areia do Luís Filipe Maçarico foi, naturalmente, um risco, para mais pela responsabilidade que é fazê-lo integrado num evento da importância do Festival Islâmico de Mértola.

E é um risco porque, muito simplesmente, não conseguimos reduzir a sua escrita a um livro, a um quadro de letras, a um verso e escalpelizá-lo, seja ao nível da sintaxe, da semântica ou ainda da fonética ou da etimologia. Muito menos encaixá-lo em qualquer escola literária.

E o risco, claro está, assenta na incapacidade de ser capaz de ler e criticar objectivamente, dessa forma, estes Cadernos de Areia. E essa incapacidade advém, principalmente, da necessidade de às palavras associar a dimensão humana do escritor/antropólogo/investigador, como quiserem, de juntar a sua história de vida agrilhoada na centelha do seu percurso, de mesclar sua estatura humana e política que, de há muito, o leva a tomar posição. Simplesmente, tomar posição.

Impossível missão esta para um (a)crítico literário, que é a pele que estou neste momento a vestir.

Difícil tarefa para quem vê em ti, Luís Filipe Maçarico, um eterno e incansável ganhão que trata a palavra com as palmas das mãos vestidas de pasmo e alegria; vestido de uma imensa modéstia na eterna procura dos actores que fazem e fizeram a História e as estórias; da forma como levas os teus passos viajantes na procura da deferência pela memória, opção que te traz preso à interminável demanda do que está para além do tangível e que se chama Liberdade.

Talvez porque os nossos caminhos se entrecruzam a sul, com a sede de beber todo o sul que trazes no olhar, estas linhas que trago aqui hoje sejam mais claras se falarem de como consegues aqui, neste pequena edição de autor, multiplicar a serenidade da tua escrita na simplicidade do azul, do eterno azul do Mediterrâneo, mar cadinho do teu querer ser, de que este velho burgo, Mértola, é, também ele, palco. Onde se olha “o mar sem canseira”, como na ilha de Kerkennah, ou as “palavras apalpam as estrelas”, como o fizeste em Gafsa, ou “esperando que os peixes descansem na rede” de Ezzeddine e do seu filho, enquanto “o chá ferve na pequena cafeteira sobre as brasas”.

É isto que encontro neste teus Cadernos da Areia. Não apenas uma viagem que fizeste e fazes nas tuas intermináveis e compartidas viagens, por um país na confluência de dois mundos, como é a Tunísia.

Não apenas o reflexo da serenidade do teu olhar na altiva Le Kef, onde o branco adormece no que resta da tarde sobre as pedras calcárias da qashba. Nem as imagens da velha Tamzeret, onde escreveste deserto, palmeira, império da areia e invocaste a partida antes do último cantar do galo, como se traçasses com as tuas mãos o destino de todos os homens.

Nem os sabores de Gabes, onde comeste romãs no oásis do mar e adormeceste ao som do bater compassado dos remos dos pescadores a entrar no porto tranquilo.

Nem no espanto que nos trazes de Jerba, a ilha africana reinventada de maravilhosas histórias de corsários e cavaleiros loucos, onde o fascínio da neblina nos acorda da sede do mar, mesclado com o silêncio dos homens a fumar nas portas abertas do bazar.

O corpo da tua escrita cresce no respeito pelas raízes de um Sul que desesperadamente procura novos caminhos, novos destinos, que todos os dias reinventa o sonho “no deserto que sempre foi o lugar da tua infância”, como o afirmas no poema Longe. E é essa ternura que encontramos nele e nele procuramos.

Talvez porque a tua escrita, Luís Maçarico,
cinzelada nas tardes adocicadas dos anos,
tem sido para mim o aconchego duma chávena de chá, onde guardamos o breve aroma da efémera flor do destino, como o dizes nesse fim de viagem que é o poema “Um chá de estrelas”,
não consigo ir muito mais além do que reinventar a tua escrita nas ruelas de cal e azul ocre que são as cores do oásis que alimenta cada deserto.

Ofereces-nos essa imagem na Gafsa das 100 000 palmeiras onde as portas abertas e os calcários vermelhos reinventam o espaço da eternidade que também encontramos na Ilha de Kerkennah, onde os homens olham o mar sem canseiras.

És tu nestes Cadernos de Areia e é por isso que, apesar de tudo, não sinto a ingratidão de não saber transpirar a escrita, como dizia o Pedro Ferro, que tu merecias e que a apresentação desta segunda edição bem merecia.

Releio-te e descubro-te todos os dias no teu blogue Águas do Sul. E, asseguro-te: fascina-me olhar a simplicidade da tua força. O suave da tua voz e o teu brinde pelo direito à indignação, como o fizeste na Alameda, no 1º de Maio deste ano. Os teus constantes fotogramas documentando o teu percurso no que resta do dia antes de hibernares para a manhã de amanhã, que tanto pode ser por uma sala de teatro como por uma noite de poesia ou um colóquio sobre aldrabas.

Fascina-me, Luís Maçarico o sereno da tua forma de dizer revolta e a forma como o fazes escrevendo.

E é nessa tua escrita, que não é apenas a tua obra de poesia, ou os teus trabalhos de investigação, ou as tarefas profissionais que te esgotam na incompetência e na incapacidade de compreender a simplicidade do ser humano com que te afogam muitos burocratas e carreiristas, que constantemente me encontro. E é nessa amálgama de sentidos que enquadro estes Cadernos de Areia.

Tão bem vestido no táctil papel de arroz que respira odores de outras viagens e especiarias.

E é nestes Cadernos de Areia que reencontro o “Branco infinito onde o azul dos olhos da manhã nos abre o pátio mais escondido”.

E esse pátio é a certeza que o teu trabalho é muito mais do que qualquer escola literária, norma gramatical ou exercício de fonologia. É o “poema futuro, luminosa oliveira, manhã desejada!”


MIGUEL REGO (Texto)
ANTÓNIO BAETA (Fotografias, com uma retirada - com a devida vénia e agradecimento - do seu blogue: http://blogal.blogspot.com/ )

NOTA:Miguel Rego é o amigo de camisa aos quadrados, que tem um rolo com duas folhas de papel com este texto na sua mão direita. Nessa imagem (a primeira) estou ladeado pelo cantor e amigo Eduardo Ramos e pelo vereador da cultura da CMM, João Miguel Serrão Martins.

segunda-feira, maio 25, 2009

ALHAMBRA-OS PALÁCIOS E OS JARDINS (TERCEIRA PARTE)






















Enquanto a arte dos romanos evidencia o peso da pedra, exibindo a robustez de colunas e frontespícios, a arte islâmica é o êxtase da leveza, utilizando o gesso e o estuque, verdadeiras peças de filigrana para exaltar a cultura muçulmana.
As imagens falam por si. É arrepiante de belo cada um dos espaços, que, sucessivamente se vão desvendando ao visitante espantado por tanta harmonia e perfeição.
Rodeados de Arte e Natureza, os califas de Granada devem ter tido inspiração suficiente para a contemplação e para a poesia, que alimentava o ser humano de beleza e sensibilidade.
Um prodígio, os jardins. Lugares por excelência para o encontro, que atenuaram tristuras de amor, levadas daqui. Por ali deixei suspiros, na impossibilidade de partilhar a dor de uma ausência absurda.
Fui esquecido certamente. Felizmente para a civilização que nos legou o Alhambra, não há machado que corte a raíz ao pensamento.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)