"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, maio 24, 2019

A Fisiatra Profeta

Há um bom par de anos tive de fazer fisioterapia e a fisiatra que me acompanhou e com quem tinha o gosto de reflectir o país, revelou-se profética.
Dizia ela que Portugal se transformaria num lugar de criados para turistas estrangeiros.
A realidade mostrou que aquela médica tinha razão.
Os hotéis, os alojamentos locais, que surgiram na sequência do fecho de inúmeras lojas históricas e do despejo de milhares de habitantes das grandes cidades, testemunham a transformação que alguns (ligados aos negócios emergentes) aplaudem como sinal de modernidade e desenvolvimento - fictício, porque os edifícios alindados são inacessíveis a portugueses, além de constituírem futuros cenários fantasmagóricos, quando a gula dos negociantes não for realizável, pois o boom do turismo acabará por esfriar.
O prenúncio do território esquartejado, mesmo no mundo rural, galopa nas notícias que vemos, ouvimos e lemos com apreensão. As oliveiras da híper produção que contaminam o Alentejo só produzem ( e em tempo reduzido) à custa de fertilizantes, pesticidas e herbicidas, sugando pássaros migratórios aos milhares, no varejo mecânico nocturno e água do Alqueva desmedidamente, além de prejudicarem os humanos.
Houve quem engalanasse em arco por Portugal ter completado 840 anos como nação soberana.
Mas por este andar, o viveiro de escravos de magnatas vai enfrentar problemas, do trabalho à saúde, passando pela cultura. A língua portuguesa tal como o chão está infestada de tóxicos. Porque dizem "plafond", em vez de limite e tantos estrangeirismos quando falam, os portugueses?
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)


Notícias Falsas em Períodos Eleitorais

Uma das coisas deploráveis das redes sociais são as notícias falsas.
Uma grande parte das pessoas partilham-nas, sem se preocuparem com o que estão a divulgar.
É usual aparecerem mentiras sobre a morte de artistas felizmente vivos.
Aconteceu assim com Roberto Carlos e com Stallone, entre uma panóplia de nomes. Questiono-me acerca da intenção, seguramente maléfica.
Lamento que todos aqueles que partilham tais aberrações, não tenham critério de rigor e qualidade, ainda que por vezes tenham escolaridade e inteligência para fazerem a triagem, não vendo que os sites onde se abastecem apresentam mentiras do mais grosseiro, idiota e ordinário, como por exemplo: homem ficou asfixiado na passarinha da namorada.
O ódio e preconceito contra a política, devido à corrupção que alguns protagonistas consumaram, leva os utentes do Facebook a deixarem-se contaminar por sites que foram desmascarados publicamente. Como aquele em que se diz que os deputados consomem refeições que valem 100 euros por dez, no refeitório da Assembleia da República.
Há uma cegueira e uma perda de faculdades, quando se trata de meter tudo no mesmo saco e execrar.
Com esta atitude, apela-se veladamente à abstenção, em períodos eleitorais, se estas coisas aparecem durante a campanha,. Chego a duvidar se estas partilhas serão ingénuas. As pessoas são responsáveis por aquilo que metem nas suas páginas.
Mas como dizia o outro: É a vida. 
Alguém escolherá, enquanto os incautos indrominados ficam a vociferar e a vomitar no Facebook, que como é sabido se trata de uma forma muito eficaz de mudar o mundo.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)

domingo, maio 05, 2019

Estória de um Camafeu


A figura é aberrante, grotesca, monocórdica, mas todos se curvam, porque é "doutoral".
Numa terra de cegos, em termos culturais, qualquer camafeu que anseie aparecer, consegue perpetar a cintilação do curriculum para encher o olho à ignorância de um certo Poder diletante, na  feroz e escandalosa ambição de ser promovido, trepando de degrau em degrau, até atingir o patamar sobranceiro.
Preenche assim um vazio, que os "pasmados" em redor não são capazes de superar, porque a vidinha onde chafurdam é o território do seu pleno direito a serem poucochinho. País-pocilga.

Mas verdadeiramente quem conhece o Camafeu? 
Alguns intelectuais apontam-no como autor de uns não-livros. 
O meio académico, onde foi inserido, apesar de o considerar medíocre, alimenta-se no sistema de vasos comunicantes e na respiração boca a boca, com a pronta performance destes lacaios e das correspondentes laicas, que sustêm, à custa de uma diligente graxa,  a asfixia anquilosante. 
A academia tem especial predilecção por tais seguidores servis, verdadeiras cavalgaduras mumificadas, zurrando pseudo cientificidades, surripiadas numa velha mercearia, com enxúndia e  onde se vende bacalhau a pataco.

Todavia, há todo um país que ignora estes estafermos, para lá das cátedras apodrecidas e de uma imprensa sem nível, cujas folhas acabam por servir para absorver a gordura do peixe frito.
Acredito que, na sua incessante e desvairada busca por mais títulos, o basbaque anseia ser presidente de mais qualquer coisa, nem que seja de uma associação de vão de escada.
E enquanto palita os dentes amarelados, cofiando os pintelhos do queixo arrota, idealizando-se forrado de couro a chicotear aqueles que ousaram contestar a sua imensa sabença, berrando "Eu é que sou o Grande Investigador! Vá amochem, que nenhum de vocês presta!"

[Qualquer semelhança com a Realidade, não passa de um delírio da Ficção]

Texto de Luís Filipe Maçarico. Imagem: Giorgio de Chirico (recolhida na Net)