Há um bom par de anos tive de fazer fisioterapia e a fisiatra que me acompanhou e com quem tinha o gosto de reflectir o país, revelou-se profética.
Dizia ela que Portugal se transformaria num lugar de criados para turistas estrangeiros.
A realidade mostrou que aquela médica tinha razão.
Os hotéis, os alojamentos locais, que surgiram na sequência do fecho de inúmeras lojas históricas e do despejo de milhares de habitantes das grandes cidades, testemunham a transformação que alguns (ligados aos negócios emergentes) aplaudem como sinal de modernidade e desenvolvimento - fictício, porque os edifícios alindados são inacessíveis a portugueses, além de constituírem futuros cenários fantasmagóricos, quando a gula dos negociantes não for realizável, pois o boom do turismo acabará por esfriar.
O prenúncio do território esquartejado, mesmo no mundo rural, galopa nas notícias que vemos, ouvimos e lemos com apreensão. As oliveiras da híper produção que contaminam o Alentejo só produzem ( e em tempo reduzido) à custa de fertilizantes, pesticidas e herbicidas, sugando pássaros migratórios aos milhares, no varejo mecânico nocturno e água do Alqueva desmedidamente, além de prejudicarem os humanos.
Houve quem engalanasse em arco por Portugal ter completado 840 anos como nação soberana.
Mas por este andar, o viveiro de escravos de magnatas vai enfrentar problemas, do trabalho à saúde, passando pela cultura. A língua portuguesa tal como o chão está infestada de tóxicos. Porque dizem "plafond", em vez de limite e tantos estrangeirismos quando falam, os portugueses?
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)