"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, dezembro 31, 2017

Perspectivas e Emoções Sempre Novas

Quem me conhece e acompanha as andanças regulares por Alpedrinha deve ter a ideia (perto da realidade) de eu ter vindo aqui dezenas, talvez centenas de vezes.
E é sempre diferente a perspectiva, porque esta antiga sede de um território, que se expandia até à Orca, desperta novas emoções e olhares que são poesia visual. Aliás, os desmedidos horizontes, onde se insinua Monsanto e a campina de Idanha, são um dos grandes motivos pelos quais aprecio andar por estes caminhos.

Luís Filipe Maçarico (Texto e Fotografias)

Arco Íris na Gardunha




A tarde deste derradeiro dia de 2017 lembrou-me Nicola di Bari e o seu "I giorno dell' arcobaleno". A serra da Gardunha e os campos de Alpedrinha ficaram coroados pelo arco-íris. 
"Erano i giorni dell'arcobaleno, /finito l'inverno tornava il sereno..."


Quem acredita em superstições, entre muitos outros sinais, saiba que "ver um arco-íris significa que em breve poderá haver mudanças na vida para melhor, prosperidade, união, alianças positivas, saúde, realização de um sonho em breve, e também dizem que poderá acontecer um novo amor ou até casamento, e que poderá ser duradouro ou para sempre para os que estão solteiros, e também poderá ainda significar vida nova ou mudança de local em breve para melhor" (recolha na Net)


LFM (Texto e fotografias)

sábado, dezembro 30, 2017

Alpedrinha parecida com páginas de Júlio Dinis e Eça de Queirós e a Salzburgo de Mozart


Quando pela primeira vez entrei na "Pensão Clara", o período natalício estava no auge e apercebi-me da coexistência da ancestralidade com a transformação do Mundo para a modernidade.
De repente, Júlio Dinis, cujas páginas saboreara na adolescência, bem como o Eça de "A Cidade e as Serras", estavam ali, ao vivo, em comidas caseiras, pelas mãos de uma Mestra, a Dona Maria da Graça Nabais, cujas sopas e iguarias eram de comer e chorar por mais.
O legado ficou para Maria dos Anjos Caniça, que se tornou na Mestra das lampreias de ovos e de um sem número de cozinhados de truz.
Este foi um dos motivos que sempre me fez regressar e volto com regularidade à chamada Sintra da Beira, supostamente assim designada, pela Marquesa de Alorna, embora não haja um documento,  que testemunhe essa classificação.
Tornei por muitas razões, mas destaco mais duas: as águas, que segundo António Salvado Mota, consoante a fonte (e são várias) têm supostas virtudes. E o órgão de tubos ibérico, onde Monia Roxo executou um tema que me transportou naquela Páscoa de 1989, até à Salzburgo de Mozart.
Alpedrinha é contudo muito mais. Pessoas e recantos. Palavras e silêncios...

LFM (Texto e Fotos)

Alpedrinha Eterna

Desde o final dos anos 70, quando me associei (pela mão do saudoso senhor Guerra) à Liga dos Amigos de Alpedrinha, a cujos corpos sociais pertenço há mais de uma década, que esta vila da Beira Baixa foi cenário de encantos e desilusões, de poesia e sonhos, de espantos e momentos menos bons. Foi no rescaldo de uns Chocalhos, que descobri que era diabético. Mas também por cá muitos dos meus livros foram apresentados e por estas quelhas passeei, com amigas e amigos que ficaram a conhecer a beleza da paisagem e o valor do património histórico (nem sempre cuidado e recuperado como era necessário)...
Voltei a subir o caminho romano até à Capela de São Sebastião, a entidade que protege e guarda as localidades dos perigos de invasão, de doenças e pragas.
Os olhos contemplaram o Palácio do Picadeiro e outras referências monumentais, como o milenar caminho romano...
Alpedrinha é hospitaleira e os visitantes têm aqui muitos motivos para desfrutar, em qualquer época do ano. Venham por bem mas não se inibam de deixar opiniões, pois os paraísos só existem em livros e no cinema.

Texto e fotos de LFM

sexta-feira, dezembro 29, 2017

Ensinamentos Inúteis de Outros Tempos

Só de pensar que quando era criança tive de decorar as linhas de caminho de ferro de Portugal Continental, de Angola e Moçambique, as serras, os rios e afluentes, em vez de aprender os ensinamentos básicos acerca da saúde, para saber lidar com algumas doenças, como os diabetes, sinto uma imensa repugnância. Maior ainda o nojo, sabendo que na suposta democracia, governos dos partidos da alternância encerraram ramais e linhas de comboio.
Enchi o cérebro de inutilidades ( ainda bem que tenho mecanismos de esquecimento) e afinal não soube aplicar noções básicas, para uma alimentação saudável, o exercício e outras questões essenciais relacionadas com o corpo e a mente.
No Curso Geral do Comércio tinha  Noções de Higiene, mas o Professor, um enfermeiro afectado, era achincalhado por matulões repetentes e aprendia-se pouco. Nada mais.
O ensino baseava-se, da primária até ao secundário, no Império Colonial, nos Heróis de um Cristianismo bacoco, nacionalista e se cheguei aqui, foi por via de muita leitura e do ensino nocturno, através do qual completei o 12º (já pós 25 de Abril) e ainda dos Cursos Universitários (que não foram lecionados em estabelecimentos particulares/ aviários).

Nada aprendi porém, nesses Cursos, que me ensinasse a lidar com o sedentarismo praticado no departamento do desporto, onde desempenhei funções de antropólogo.

Viajar é um dos meus lemas favoritos. A itinerância integra o sangue que me corre nas veias.
A escrita é o meu exercício mental e a insulina passou a ser uma companhia mais próxima.
Não é fácil receber de herança, gota de pai e mãe e diabetes Melitus 2, da avó paterna.
[Mas convenhamos que tudo teria sido menos constrangedor, com alguns conhecimentos complementares, além do que vamos lendo, ouvindo e vendo, pois as escolas - a não ser as que formam trabalhadores da saúde, ensinam quase nada para enfrentar a vida, na sua essência, com todos os obstáculos que temos de superar.]

Luís Filipe Maçarico (texto e foto)

O que desejo para 2018

Que 2018 seja o melhor ano das nossas vidas. E que a frase mais escutada da boca das pessoas jovens (sobretudo raparigas saudáveis e bonitas) seja: "Eu tenho sonhos e quero realizá-los" em vez do nefando e jamais escutado na primeira metade da minha existência: "Viver um dia de cada vez!"
Chega de gente benemérita e de pseudo religiões, criadas para manietar os desvalidos e fracos de espírito.
Haja vontade de viver e de teimar em concretizar projectos. Só assim um país pode avançar no progresso e na fraternidade.

LFM: texto e selfie.


Hélder Pacheco Toda uma Vida...

Hélder Pacheco, o historiador do Porto, em entrevista ao "Público", publicada há algumas semanas, afirmou que segue o lema do seu amigo padre Almiro, o qual diz que "vale mais a gente gastar-se do que enferrujar-se."
Uma frase assim é todo um projecto de vida, de intervenção pública, cultural e política.
https://www.publico.pt/2017/12/10/sociedade/entrevista/a-minha-ligacao-ao-porto-e-feita-de-pequenas-coisas-actos-sublimes-de-felicidade-1793237

Introdução de LFM Fotografia: Público.

sexta-feira, novembro 24, 2017

Pedro

O puto que fazia jornais de parede, na casa dos pais jornalistas, no Campo Grande, chamava-se Pedro e era um miúdo bem disposto, que tratava a língua com enorme elegância. 
O pai fazia o "Crocodilo" numa revista semanal, gozando com o que lhe era permitido gozar (durante o tempo da censura) e a mãe, que fora a primeira relatora em directo na rádio, de futebol, descobriu jovens poetas na Tele Semana e prosseguiu no "Sete", mais tarde na "Capital" o seu desempenho, valorizando a Cultura, a todos os níveis.
Ao longo da vida, Pedro Rolo Duarte desenvolveu inúmeros projectos, imbuídos de espírito crítico, indagou sobre Artes e Percursos, saboreou a Música, celebrou o prazer de produzir informação de qualidade nos jornais, na televisão e na rádio.
Acompanhei-o - em cada manhã de sábado, - escutando o "Hotel Babilónia", com o não menos divertido e culto João Gobern, o qual, agora, fica sem a companhia fundamental do Pedro, facto que vai ditar o fim do programa, que terá mais duas semanas de existência, dedicadas ao resistente jovem.
A notícia feriu-me pela injustiça de uma respiração interrompida, quando ainda tanto tinha para dar, pela sabedoria, pela partilha, pelo espírito bem humorado, e por ser filho e irmão de duas Amigas muito queridas, a quem apresento os meus sentidos pêsames.
À Maria João Duarte e à Fátima Rolo Duarte, o beijinho triste, onde a poesia fica em silêncio. Com lágrimas.

Luís Filipe Maçarico (texto) Fotografia (recolha na Internet)

terça-feira, novembro 14, 2017

JACOB

Jacob teve por dona, em época distante, uma mulher agreste.
Tornou-se por isso um bicho árido, para seres humanos do sexo feminino, cujo timbre de voz reconhece, atacando.
As senhoras queixam-se das suas investidas intempestivas.
Evitam a aproximação e o animal sente a rejeição.
Todavia, Jacob não reage de igual forma com homens.
Escuta-os com deleite, interage, comunica com eles, repetindo loas, aprendidas no longo tempo da sua vida passada de gaiola em gaiola, de proprietário em proprietário...
Porventura, quem o criou, em cativeiro, traumatizou o psitacídeo.
Terá gritado ou agido com modos tais, que ficaram gravados no cérebro da ave.
Enquanto se delicia com fruta, bolachas e sementes, aconselhadas para a sua espécie, Jacob ouve com atenção os homens que lhe falam ao pequeno coração.
A sua sensibilidade manifesta-se nessas delicadas reacções.
Jacob é uma papagaia, quem sabe se também revoltada pelo equívoco do seu baptismo.

Luís Filipe Maçarico
Almada, 2 e 14-11-2017.

terça-feira, outubro 31, 2017

Encontro da Aldraba em Idanha-a-Nova: Monsanto, Salvaterra do Extremo e Zarza la Mayor

Após um sono reparador, no alojamento rural "Quinta da Pedra Grande", houve uma breve visita a Monsanto, em torno da questão da designação "Aldeia Mais Portuguesa", com Eddy Chambino a lembrar que a "Nave de Pedra", como lhe chamou Fernando Namora, o médico escritor que ali residiu e teve consultório, foi para os seus habitantes motivo de orgulho desusado, pois num concurso do SNI ganharam um galo de prata distintivo. Eddy falou em aldeia-espelho, face a uma identidade exacerbada, com o café mais português e a mercearia mais portuguesa...

A manhã de domingo repartiu-se por dois templos de Salvaterra do Extremo e num miradouro, de onde se avista o castelo de Penafiel (Espanha), guiados por um ex-autarca, o senhor António Bernardo, que ofertou a todos o livro "A Festa de Nossa Senhora da Consolação", da autoria do Professor Bonifácio Bernardo.

Os viajantes prosseguiram, almoçando em Zarza la Mayor e o Encontro terminou, escutando-se narrativas ligadas ao Contrabando, a cargo do autor de "Contrabando em Santana de Cambas", com um resumo do estudo e leitura de duas passagens da obra, intervindo ainda o antigo presidente da Junta de Salvaterra do Extremo e o descendente espanhol, de um português contrabandista além de breves intervenções de participantes, como Manuel Vaz e Rosa Ginja, que relataram experiências familiares.

Bem hajam todos os que quiseram fazer esta viagem e aos anfitriões esplêndidos, que prepararam o Encontro no terreno, idealizando itinerários e contactos, que se revelaram de grande envolvência humana, patrimonial e histórica.
Imenso abraço de gratidão a Eddy Chambino, Carlos Branco, António Bernardo e à Associação RAIA GERAÇÕES !

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias) 

Encontro da Aldraba em Idanha-a-Nova: Um fim de tarde em Idanha-a-Velha

 
Idanha-a-Velha é uma aldeia com um riquíssimo espólio material, habitado por sabedorias ancestrais, como aquele senhor que nos informou como se celebra a serração da velha.
Visitámos desta feita - e sempre apoiados pelo autocarro que a RAIA GERAÇÕES nos proporcionou, e informados por Eddy Chambino - a torre de menagem, após uma caminhada pelas ruas, surpreendidos pelas construções em granito, que por vezes remetem para passados marcantes.
Mulheres idosas e gataria povoam recantos com flores, enquanto o sol se derrete nos rostos.
Memorável e encantatória, esta incursão num espaço, que pertenceu à família Marrocos, detentora de terras de perder a vista e também possuidora de um casarão monumental (que o actual governo vai restaurar com fins culturais), rés-vés com a catedral de influência romano-árabe.
Entardecemos a escutar estórias da História, admirando a torre de menagem, erigida sobre um templo romano...
Muito agradável foi a animação musical, a cargo de Solange (voz) e Tom (músico inglês radicado há anos nestas terras), presente inesquecível com que a associação RAIA GERAÇÕES brindou os viajantes. Bem Haja, Carlos Branco, pela boa surpresa que dinamizou uma noite em Relva (Monsanto)!!!

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)