"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, fevereiro 24, 2013

Santiago Macias, o candidato do PCP a Moura

Conheço-o das crónicas, que escreveu para o "Diário do Alentejo". Li as obras de investigação, sobre a passagem dos Árabes por Mértola e a Herança dessa Civilização na nossa matriz cultural, que publicou, com o seu Mestre e Amigo, Cláudio Torres.
Acompanho-o há anos, no seu blogue  http://avenidadasaluquia34.blogspot.pt/
Foi meu professor, no segundo mestrado, que frequentei no Campo Arqueológico de Mértola: "Portugal Islâmico e o Mediterrâneo". Aprendi coisas importantes com este académico, que é comunista.
Salvé, Professor Doutor Santiago Macias!

É um homem fraterno e sábio, que me envaidece ter como Amigo. E só uma pessoa assim, me faria sair de Lisboa, num dia frio.
Fui este sábado a Moura, participar na sessão de apresentação da sua candidatura, a presidente da Câmara Municipal de Moura, sua terra natal, onde já foi, nos anos 90, presidente da Assembleia Municipal, sendo há dois mandatos vereador.
Se morasse em Moura, era nele que votava.

Faço votos para que ganhe e tenha muitas felicidades, no seu desempenho autárquico. E que o seu percurso, seja tão bem sucedido, quanto a excelente intervenção que proferiu de improviso, com muita categoria.
Tenho lido o que outros candidatos dizem, mas este, de longe, tem uma qualidade incomparável e uma escala humana notável, na forma como olha para a actualidade, o que é um bálsamo, em tempo de entediantes discursatas, sem alma, duma mediocridade gritante.
Parabéns ao PCP, por ter escolhido um candidato deste calibre, em Moura, que aposta no progresso e no desenvolvimento, prosseguindo o bom trabalho do ainda presidente José Maria Pós de Mina.
Talvez não seja por acaso, que inúmeros casais muito novos, com os filhos pequenos, se encontravam no espaço Xerazade, repleto de rostos jovens, oriundos da população mourense, de várias áreas políticas, que aplaudiram imenso os oradores. 


Devo dizer, para meu espanto, pois pensei - erradamente, e o Santiago que desculpe a minha ignorância - que só os comunistas mais velhotes poderiam aparecer, mantendo fidelidade ao Partido. 
Durante uma hora, não pararam de entrar na sala, dezenas e dezenas de pessoas de todas as idades...
Com esta escolha, o PCP está a mostrar que há futuro, para o que defende, apresentando um candidato de muito valor, que dá a cara, pela valorização de uma das mais nobres actividades, infelizmente mal vista, devido aos oportunistas, que têm passado pelos sucessivos governos e alguns municípios.



Texto e fotografias de Luís Filipe Maçarico

Património de Moura: Cataventos.

Tendo passeado por Moura, na tarde deste sábado, deliciei-me a ver (e fotografar) uma diversidade de cataventos que, sobre os telhados da cidade, anunciam ventos, mudanças de tempo, evocando figuras históricas, como o cavaleiro da diligência, ou do quotidiano, como o caçador ou o tractorista, mas também animais simbólicos, como o galo, que anuncia a luz, na voz do seu canto, ou a velocidade espantosa do animal mitológico, conhecido como Pégaso, cavalo alado, símbolo da imortalidade. 
José Prista, fundador da Aldraba e meteorologista, escreveu um artigo,muito interessante, que se recomenda:


É bom sentir que nas nossas cidades, vilas e aldeias do interior, as marcas patrimoniais e identitárias, são orgulho das gentes, resistindo na paisagem humana, promovendo, como é o caso, roteiros de descoberta e admiração.
Parabéns à Câmara de Moura e à sua população, pela qualidade desta memória, ainda viva, que evoca a
criatividade dos ferreiros!

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

Pimbalhosos & Heróis

Embora já pouco me surpreenda, confesso que ainda me perturba saber que há grupos, que sendo património da música popular, por apostarem, em tempo de estupidificação, na recolha e divulgação da música tradicional, são preteridos, - quando não pressionados, a aceitarem quantias irrisórias, - a favor de cantaroleiros pimbalhosos, cujo cachet apresenta as modalidades gargarejo, a qual pode custar dezenas de milhar de euros, ou ginástica labial, vulgo play back, pela módica importância de metade daquele preço.

Conheço casos de convites televisivos, a cantores e grupos lusos de qualidade, pela TV da Galiza, aquando da celebração do 25 de Abril, em terras de Rosalia de Castro, enquanto as televisões portuguesas, ignoram o trabalho desses heróis, que insistem na valorização da cultura, genuinamente popular, e, em vez dos setenta ou oitenta espectáculos anuais, que realizavam, pelos concelhos portugueses, fazem dez actuações, na melhor das hipóteses...

A Quadrilha, os Navegante, a Ronda dos Quatro Caminhos e alguns outros, cujas actuações apresentam e exaltam a criatividade e beleza do imaginário popular, merecem que lhes compremos discos, que os sigamos, que trauteemos os temas, que adaptaram e tornaram conhecidos.
É uma forma de amarmos o que é nosso, sem nacionalismos bacocos, mas com a vaidade de nos revermos nesses vocábulos e acordes, de ganharmos asas, de sermos melhores.

Porque chupar os peitos da cabritinha ou meter e tirar o carro na garagem da vizinha, é uma cuspidela, um piscar malicioso, apelando ao riso boçal, quando se bebeu de mais. Como quem dá um traque, na casa de banho, ao fazer força, para defecar...

Luís Filipe Maçarico (texto e foto)


domingo, fevereiro 17, 2013

Intercidades e Surrealismo na linha da Beira Baixa e no Ramal de Beja

As estatísticas revelam menor utilização do comboio.
Pudera! Com a emigração de muitos milhares de portugueses, com a impossibilidade de outros tantos estudarem ou trabalharem, devido ao aumento das propinas e do desemprego, inevitavelmente os números terão de reflectir o duro contexto em que vivemos.
Todavia, acresce a isso tudo o desconforto sentido em algumas linhas, como é o caso dos surrealistas Intercidades, que circulam entre Casa Branca e Beja, ou entre Lisboa e a Covilhã.
A inexistência de bar, a ausência do conforto apresentado ao longo dos anos, com carruagens e assentos cómodos, a higiene, tudo isso desapareceu.
Uma viagem, como aquela da linha da Beira Baixa, que em grande parte do percurso se desenrola, rente ao Tejo, mereceria vidros asseados.
Não é porém hábito da CP que cobra preços mais elevados pelo transporte de passageiros em carroças dos anos 70, nos trajectos referidos, cuidar da fidelização dos passageiros.
Chegamos ao destino, com as costas doridas, os olhos magoados da paisagem emporcalhada, através de janelas sujas.
E não há instituição que nos proteja, pois as reclamações deparam sempre com respostas que não correspondem a uma actuação reparadora.
Luís Filipe Maçarico

domingo, fevereiro 03, 2013

Santa Justa: Entre o Sorraia e o Alentejo

Para lá de uma paisagem, com rio e pinhais, naquelas casas há uma gente rija, forjada nas agruras das inúmeras lutas, contra um regime que dificultou - durante décadas - a vida, aos que se manifestavam, contra a fome, a repressão, a falta de liberdade.
Olho para Custódia Marques, que chega de umas compras, e ela diz que ter estado presa, cinco anos, em Caxias, no tempo do fascismo, lhe deu força para enfrentar os problemas. 
Que se não tivesse passado pelas dificuldades enfrentadas, seria igual aos que fazem escolhas eleitorais contra eles mesmos....
Olho para Joaquim José e ele diz - com um sorriso sábio e paciente - que estudou na prisão de Peniche, onde esteve onze anos. Que apesar de todo o mal, tentou extrair, como se fosse mineiro, o lado positivo, rumo a um futuro mais que merecido.

Um vento gélido contrasta com o céu azul, o sol que não chega a aquecer. Contradição, como aquela dos filhos dos que sofreram, terem partido,com a Democracia, para outras paragens, deixando a aldeia envelhecida a despovoar-se...

Nas fachadas das casas prolifera a narração, em azulejos diversos, que remete para tradições e patrimónios de uma identidade rural perdida... 
À soleira das portas, os velhos estão mudos e quedos, rodeados por cães de olhar assustado, abandonados por famílias que emigraram de novo para as Suíças e Franças, do acolhimento que seus familiares, tiveram, a meio do século XIX.
Todos abandonados, entre o rio e a pequena elevação, para lá da qual fica o Alentejo, de onde vieram alguns avós.

No Couço, a solidão dói. Dezenas de casas e lojas estão desabitadas, à venda. Há um silêncio enorme, um desmedido vazio...
Todo o país interior é uma ferida aberta, que o desprezo dos governantes não deixa respirar. 
Por isso, escutar estas pessoas, entre laranjais e fotografias dos seus ausentes, é perceber que Portugal está decadente e agoniza devagar...embora com palavras, que ainda têm o sabor da esperança...

Quando o carro deixa para trás o canito branco, procurando um dono, entre os idosos que fruem o sol da tarde, percebemos que os deixamos a todos, humanos e bichos, entregues a uma sorte, que é pouco luminosa. Aqui viveram e ficaram. Têm muita família sepultada no cemitério altaneiro.
E o rio Sorraia continua a correr.
A luta, desta vez, contra a falta de arranjo da ponte Joaquim Casanova do Beco, tempera o aço, de que são feitos estes resistentes. É a razão maior da sua existência.
Nasceram as primeiras papoilas...

Luís Filipe Maçarico