"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, junho 26, 2006

Sabugal: Histórias da Raia -3
























Tenho o prazer de partilhar mais de duas dezenas de imagens da interessante exposição sobre Contrabando, recolhidas durante as Jornadas dedicadas àquele tema, realizadas no Sabugal, com o apoio do município local e da Sabugal Mais.
A exposição está patente no Museu Municipal até Agosto.
Nestas fotografias poderão encontrar os tecidos, as máquinas de coser roupa, o minério, vários apetrechos necessários para transportar as mercadorias clandestinas e a representação dos dois lados da fronteira, através das fardas e armas expostas, outrora pertencentes aos guardas fiscais e carabineros.
Margarida Alves, José Prista, José Rodrigues e António Eloy: Como esta temática pode um dia vir a ser trabalhada por vocês (um pelo menos tem esse compromisso perante a comunidade de Santana de Cambas) aqui fica o eco da mostra no Sabugal...
(fotos e texto de LFM)

Sabugal: Histórias da Raia-2


Há quem defenda que fazer uma exposição, um museu sobre as estórias e a História do povo é cristalizar a vida desse povo, que a memória, a identidade são conceitos gastos e porosos...
Contudo, a banda desenhada, a imagem virtual, o jogo de computador, o filme, a fotografia, o livro, o testemunho oral, podem ganhar outra dimensão se integrados num contexto de exibição de vestuário utilizado e mercadorias contrabandeadas, como suponho que irá ser implementado em Melgaço.
No Sabugal até Agosto a exposição sobre o Contrabando pode ser visitada por aqueles que queiram lembrar e por todos os que não sabem como custou aquecer o lugar onde hoje se sentam.
(texto e foto de LFM*)
*O Blogger não me está a deixar postar mais fotografias das muitas que queria mostrar, vá-se lá saber porquê. Quando houver hipótese mostro mais imagens...

Sabugal: Histórias da Raia -1



A semana passada dei uma saltada ao Sabugal, para conhecer melhor o concelho. Com a preciosa colaboração da Eduarda Rovisco, do José Rodrigues e da Dina Rodrigues, visitei o viveiro das trutas dos Foios com o presidente da autarquia local que é um divertido contador de histórias de contrabandistas, o Soito e Alfaiates, de cujo castelo guardei uma imagem para partilhar.
No auditório municipal durante um fim de semana largo falou-se muito de Contrabando, da memória e da identidade, do desenvolvimento local e da investigação, que se multiplica, finalmente, em torno de uma actividade que ocupou milhares de pessoas da raia.
Já passou algum tempo sobre este evento, mas do muito que escutei e da exposição sobre esta temática que permanece, ficam algumas imagens e o prazer que tive em conhecer pessoalmente o advogado e cidadão espanhol António Ballesteros Doncel, cuja conferência me encheu as medidas.
Ballesteros escreveu "Los Mochileros" e durante muito tempo, suponho que décadas, guardou o texto até um amigo aconselhar publicação. Em 1972 o livro apareceu e já vai na 4ª edição, segundo me revelou seu filho. Em 2000 a Diputación de Badajoz - Departamento de Publicaciones reeditou esta obra numa versão bilingue, com tradução portuguesa de Maria Antónia Pires R.
Desculpem mas não resisto a dizer-vos que hoje, quando cheguei a casa, vindo do trabalho, tinha este livro no meu correio e uma dedicatória:
"Para Luís Filipe Maçarico con todo afecto A Ballesteros Junio 2006"
Um dia destes voltarei a falar do autor e do livro que é uma das "bíblias" sobre o assunto. Recomendo.
(texto e fotos de LFM)

quinta-feira, junho 15, 2006

O Meu Hotelzinho de Jerba







Desculpem o egoísmo, mas do meu hotelzinho de Jerba apenas partilho estas imagens. Há segredos que têm de ser muito bem guardados. Os últimos paraísos estão a acabar, por isso convém não perder este, que foi descoberto em Agosto de 1991, quando a Tunísia costuma ter temperaturas de quase 50 graus. Prefiro ir lá quando está menos abafado, Outubro, Novembro, Abril...
Num tempo em que a viagem é um bem de consumo, eu continuo a querer ficar ali, alheio à confusão, sossegando o espírito, escrevendo o meu poema, repousando das caminhadas em busca de ânimo. Depois passo pelo marché e aspiro todos os aromas das ervas curativas e das especiarias. A seguir vou ao Central e regalo-me com um pires de azeitona e harissa, mais um scalope dinde. Antes de tudo isso terei visitado Bechir Kouniali, o pintor da ilha. O mar ter-me-á hipnotizado e quando encontro Mabrouk e Nizzar para prosseguir conversas de uma vida a noite já espalha uma tapeçaria de estrelas misteriosas.
Jerba é um cenário magnífico para nos reconciliarmos com o Mundo, por ali estive já algumas vezes exausto e triste, de lá voltei regenerado, graças ao hotelzinho mágico, que os sugadores de viagens apressadas não têm tempo de conhecer, mas têm sempre muita inveja, porque querem estar em todo o lado e nunca conseguem estar em sítio algum...
(Texto e fotografias-Março 2006- de LFM)


domingo, junho 11, 2006

Flor do Jacarandá (clique em cima da fotografia para ver bem as flores)


Flor do jacarandá
Cai, leve no passeio
Céu d´outro mar sonhado
Chão de anilado estio.
A florir, lá no mês de sonho tapete de voar
Nas luas de zefiro
Estrada de santiago
Manda a...

chuva de estrelinha, azul pavão
Brilha na noite
Vou de namorada, mão na mão
Perdi a escada para o céu
Dos pardalinhos
Na ilusão da boa fada
Toco na varinha de condão
Durmo na rua onde a...

(canção de Vitorino; foto:LFM)

sábado, junho 10, 2006

Noites de Junho no Cova da Moura



O Clube Desportivo Cova da Moura foi fundado em Março de 1952. Mantém-se com voluntariado e sacrifício dos directores que abrem a sede todos os dias e decidem coisas tão pertinentes como realizar uma noite de fado ou um torneio de jogos de salão inter-sócios.
Neste momento está a ser dirigido pelo segundo mandato consecutivo por uma mulher, operadora de uma fábrica de rebuçados. Antes dela um jovem estudante dirigiu os destinos do clube, que se tem destacado em termos desportivos.
Continuam a animar a tradição das noites de Junho com uma das mais saborosas sardinhas de Lisboa, que a falta de curiosidade dos lisboetas e até da vizinhança permitiu encontrar o espaço com algumas mesas livres para a delícia do petisco.
A semana passada caí na asneira de seguir a sugestão de uma amiga, desfasada das tascas do BA (Bairro Alto). Foi uma das piores experiências da minha vida: a salada vinha com cabelos, a sardinha era preta de tão congelada, a saber a abutre podre. Isto no Bairro Alto para onde costuma ir uma manada de gente que faz gala em se encontrar (ou exibir?) para beber umas zurrapas e não se ouvir no meio de berreiros e sons tronitruantes. A tasca em questão tinha deixado boa impressão no início dos anos 90, e Bual e Graça Morais eram seus frequentadores...Agora, turistas alemãs imberbes deliciam-se a comer merdola... regada com uma qualquer beberragem, desde que lhes cheire a xnapz (o som da palavra alemã que significa álcool, aguardente...)
O Cova da Moura, ao invés, apresenta sardinha do melhor, saladinha de chorar por mais e um vinhito singelo que sabe bem. Ali ao pé da Infante Santo e do Ministério dos Negócios Estrangeiros...
Ainda bem que há colectividades para fazer a diferença até em coisas tão importantes como é o convívio à volta de uma mesa na brisa, entre marchas e risadas de jovens...
Parabéns à presidente Eugénia Paulo e à sua jovem equipa e também ao assador e ex-presidente José Vilhena, de uma competência insuperável.
Eles são os maravilhosos fazedores de uma festa que insiste em espalhar alegria nos ares da cidade, que já pertenceu ao povo, cada vez mais cercada por condomínios, onde vive no meio de cidadãos normais uma gentalha que odeia misturar-se com a populaça e o odor das sardinhas.
Vivó Cova da Moura pela sabedoria da resistência, num tempo de invasão de espaços, outrora habitado e frequentado por gente humilde, que ao perder essa referência se torna noutra coisa, como quem mergulha um tecido cor de céu em lexívia...
( reportagem de LFM)


sexta-feira, junho 09, 2006

Campeonato da Ignorância



Começa hoje o Campeonato Mundial de Futebol. Não se consegue abrir o aparelho de rádio sem escutar não-notícias acerca do padre que foi à Alemanha de propósito entregar uma canção composta para a selecção, outro que chegou de bicicleta desde as berças, para oferecer bandeiras, e tudo é pretexto para dizer nada. Anda tudo à babugem como aquelas gaivotas que pescavam cagalhotos no cano de esgoto ao pé da estação fluvial Sul-Sueste...
Começa hoje um encontro entre os escolhidos das elites do futebol, que se querem fazer passar por representantes de países e a populaça toma por iluminados.
O negócio é colossal. Quantas multinacionais envolvidas! O capitalismo baba-se por ter um alicerce tão robusto, por a ignorância e o fanatismo serem tão bons terrenos para tão basta colheita.
E os alemães aproveitam: é fartar vilanagem! Venha mais uma salsicha de Frankfurt e uma caneca de Munique!
Quanto ganham Scolari, Figo, Ronaldo?
Pergunto apenas isto: para erradicar do Mundo a fome, quantas mulheres se uniriam para formar a mais bela bandeira?E quantos homens dariam o seu contributo moral e material para acabar com a miséria neste planeta? E os tais ilustres quanto dariam do seu bodo-overdose?
Porque razão para as causas mais humanas e arrepiantes as pantufas falam mais alto?
(pinturas de Siqueiros-Nuestra Imagen Actual-e Rivera-La noche de los pobres)

quarta-feira, junho 07, 2006

Nádia Torres


Nádia Torres é uma criadora de objectos e momentos mágicos.
O prazer do convívio, a cariciosa beleza do sorriso, a fruição da vida, estão incrustrados em cada peça de joalharia que inventa, em cada palavra ternurenta com que nos brinda.
Há pessoas assim, especiais, a espalhar luz nos caminhos da manhã...
E foi o que sucedeu na última semana de Maio ao viajante. De repente, a Nádia surgiu e anunciou que estava a estrear o novo atelier. Subimos e deliciámo-nos.
(fotos de LFM, Mértola, Maio 2004)



Diálogo em Mértola


Perto do Guadiana, esta porta embala a nostalgia de um diálogo singular:
Batente e aldraba convivem, alheios a um quotidiano que os derruba e substitui a música ressoada na espera do seu elegante corpo metálico pelo exuberante triunfo do alumínio e dos puxadores platinados...
Felizmente resistem, estes objectos mudos onde por vezes uma mão desafia o tempo.
(Fotografias:LFM)