"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, junho 30, 2008

Uma Semana em Odeceixe








Odeceixe voltou a ser o meu paraíso. É uma terra bonita, com gente muito simpática, praias de sonho, lugares para visitar que ficam na memória, dentro do concelho onde se integra (Aljezur).

Revisitei a Arrifana onde não ia há vários anos, foi bom rever a Cristina, comer no Oceano umas febras excelentes, contemplar uma paisagem ímpar, descobrir a ponta da Atalaia e olhar para os vestígios do Ribat investigado por Mário e Rosa Varela Gomes.
Foi excelente encher de colorido a alma, com a fantástica obra da população, que uma vez mais fez mastros, flores de papel maravilhosas, quadras, marchas e desfrutar a alegria das pessoas no ar morno dos fins de tarde da vila, saboreando abrunhos e ameixas silvestres, escutando melros felizes como eu.
Boas férias para quem ainda não teve!
Fotos e palavras de LFM

domingo, junho 22, 2008

Marcas do Barroco em Alpedrinha




Há coisas extraordinárias!
Andava eu à procura - na Internet - de imagens do maneirismo e do barroco na arquitectura, quando me surgiu esta pérola que apresenta a igreja matriz de Alpedrinha como sendo a matriz...do Fundão!
http://www.lifecooler.com/portugal/patrimonio/IgrejaMatrizdoFundao
Será que ninguém reparou nesta enormidade, neste erro crasso?
Adiante!
Fotografei há umas semanas atrás algumas formas curiosas que aparecem na arquitectura de Alpedrinha e que partilho hoje.
Parecem-me Volutas (sirvo-me do "Vocabulário técnico e crítico de Arquitectura", Quimera, 3ª edição, 2002, p.280) aquelas formas que surgem no escadório da matriz e nas escadas de acesso ao chafariz monumental de D. João V.
Marcas do Barroco na paisagem urbana de Alpedrinha, estão lá há séculos e a par das janelas manuelinas, dos palácios, do pelourinho, das fontes, dos templos, são testemunhos da passagem de gerações através dos séculos...
Estes patrimónios imperceptíveis, com a sua riqueza de pormenores merecem um olhar mais atento. Não concordam?
LFM (texto e fotos)

quinta-feira, junho 19, 2008

Portugal Olé


Hoje no meu serviço apostei que a Alemanha vencia a selecção portuguesa (2-1).
A equipa escolhida por Scolari, galifão de voz enfadonha, confesso admirador de Pinochet, que agora vai mamar para outro lado, pautou-se por uma atitude de vedetismo, abrindo as casas para mostrar o vazio mental em que vivem e jogando com erros antigos, que nenhuma Virgem de Caravagio salva, com equipas mexerucas a quem ganharam, perdendo com uma equipa fraca.
Não houve qualquer preocupação com a miudagem, que vê neles ídolos a imitar, quando foram entrevistados por um repórter do mesmo nível. Apenas o vazio, o vazio, o vazio...mais alguns risos imbecis.
E porque têm o deles garantido (sugado dos nossos impostos), se perderem, haverá sempre um bode expiatório: os árbitros, a partida do treinador para outra vacaria e tantas outras justificações de pacotilha.
Nunca ganharei numa vida o que aqueles senhores arrecadam por mês. Por isso estou-me nas tintas. Se perderem é para o lado que durmo melhor. A mim interessa-me dignidade no emprego, saúde garantida, salário capaz de vencer os obstáculos do quotidiano, justiça e educação adequadas, governo democrático que oiça os cidadãos, que entenda os sinais de mal estar.
A crise que atravessamos deixou-me menos só no bairro onde moro desde menino. Em 2004 foi o histerismo nacionalista nas janelas. Agora, a minha rua encontra-se livre dessa contaminação. Não há uma única bandeira na minha rua.
A classe média e os pobres com lucidez que não se deixaram alienar com futebóis, têm encontrado motivos de sobejo, para desejar não serem portugueses ao longo dos últimos meses.
E uma parte dessas pessoas, já não se deixa embalar com o saltitante "Portugal Olé" dos emigrantes na Suíça ou dos moradores da Quinta do Loureiro, que transferem os êxitos indispensáveis às suas vidas, para entidades transcendentes: os mercenários da bola, as Senhoras de Fátima e arredores...
Se perderem, amanhã já começa a deixar de haver Portugal, este Portugal oportunista que se predispõe a enfeitar janelas. Amanhã, se os caniches de Scolari agonizarem aos pés dos germânicos, acordaremos com a ampliação do vazio cada vez maior das carteiras, da falta de cultura e da falta de paciência. Tudo de trombas. E Scolari tem mais dias de férias antes de levar o seu circo deprimente para Inglaterra.
É que convém não esquecer, que os Ministros do Trabalho da União Europeia aproveitaram o desenrolar deste Euro, para aprovarem a semana das 65 horas de trabalho. E que está aí o SIADAP, sigla que designa a avaliação na Função Pública, que deixou de ser feita por concurso e passa a desenrolar-se por vontade exclusiva do chefe e um código de trabalho perseguidor do de Bagão Félix, que considera a legislação actual tenebrosa, à espera de tramar o povo que lava no rio e cumpre promessas aos santinhos. Para não falar no meio milhão de desempregados e nos dois milhões de pessoas que vivem no limiar da pobreza.
Santa Eucarária nos valha, que desde o tempo dos romanos "não sabemos, nem nos deixamos governar"...

Ié Ié Ié Nos Combatentes É Que É!








Nos próximos dias 29 do corrente e 4 e 5 de Julho, a revista "Ié Ié Ié Nos Combatentes É Que É", volta a ser representada, com um elenco numeroso e jovem, que merece muito público, disposto a passar bons momentos de humor e arte.
Flávio Gil é o responsável por mais este trabalho, que surgiu da sua sensibilidade e criação, enquanto autor e encenador.
O grupo é talentoso e hilariante. Não fique em casa e vá apoiá-los até à Rua do Possolo, 7-9 (sede do Grupo Dramático e Escolar Os Combatentes).
Parabéns a estes magníficos rapazes e raparigas pela alegria e pelo desempenho!
Texto e fotos:LFM

sábado, junho 14, 2008

JUNHO NOS COMBATENTES










Nas noites de Junho e desde há muito, o Grupo Dramático e Escolar Os Combatentes continua a mostrar, como é possível as pessoas unidas fazerem uma obra incontornável, em prol do bem estar do colectivo.
Um mar de gente muito jovem anima o espaço destes arraiais, trazendo alegria e esperança, que ajudam a combater as tristezas de um quotidiano cada vez mais difícil de suportar.
Se quer passar algumas horas de boa disposição e convívio, vá até à Rua do Possolo. Está tudo bom: a música, a equipa de trabalho, as sardinhas, o vinho, a cerveja preta, os caracóis, a saladinha com pimento, as farturas.
LFM (texto e fotos)

sexta-feira, junho 13, 2008

Ana Machado


No blogue Anthropos, Ana Machado escreveu o artigo que trancrevemos:

"Vivemos a euforia do Euro 2008 como um antídoto para a nossa depressão colectiva, o nosso desânimo e apatia geral. Investimos todas as nossas esperanças em Ronaldo, Deco, Quaresma, Simão ou Nuno Gomes. Rimos e gritamos para não chorar… Na verdade, se não fosse esta espécie de anestesia que tomamos durante umas horas, já nos teríamos apercebido melhor dos dias difíceis que estamos a viver. Há muitos anos que não me lembro de uma situação como esta dos combustíveis, se é que alguma vez assisti ao que pude observar hoje. Talvez a minha lembrança mais antiga de tempos difíceis economicamente seja a de inícios dos anos 80, quando os meus pais me mandavam ir às 8h da manhã, para a fila do supermercado para comprar leite, porque havia uma crise no sector que fez racionar o número de pacotes que cada cliente devia levar.
Hoje depois da euforia, depois do contentamento da vitória, daquele jogo que me fez ficar pregada ao ecrã, num café do Seixal, confesso que só me apeteceu chorar no regresso a casa, pois não me apercebera bem do que se passava à minha volta. Nas ruas, os carros amontoavam-se, celebravam a vitória de Portugal, agitavam bandeiras e espalhavam gritos ruidosos, mas muitos, acumulavam-se também em extensas filas junto às gasolineiras, gerando o caos e um trânsito compacto de alguns quilómetros. Quando cheguei à Cova da Piedade, tive a sensação que a fila de autocarros que se via, já se estendia até Cacilhas.
Não bastante, e porque já estava a ficar preocupada com a situação, meti-me no primeiro supermercado que encontrei e aí assustei-me mesmo, porque não encontrei quase nada do que pretendia, a maior parte das prateleiras encontravam-se vazias, nem pão, nem leite, nem iogurtes, nem legumes, nem fruta… Que desolação! As pessoas passavam pelas secções de olhos fitos nas prateleiras, incrédulas do que se estava a passar. Uma delas virou-se para mim e disse: «Nem acredito que estou a viver isto…Agora rio-me, mas hoje já chorei muito à procura de combustível, não tinha nada na reserva e não sabia o que fazer…»
Perante este cenário, eu espero que o governo ponha fim a isto rapidamente, sem arrogância, nem violência, e não deixe os portugueses mais prejudicados do que já estão com esta crise moribunda que nos aniquila há anos… Se isto evoluir, nem quero pensar nas consequências, pois tudo isto é uma bola de neve, afectando todos os quadrantes.
Uma coisa parece-me certa, é que é em situações como estas, muito ligeiras ainda é certo, que nos apercebemos como temos uma vida facilitada perante outros povos que vivem em pobreza extrema, fome e bancarrota. Que dias melhores venham!"
Texto: Ana Machado; Foto: LFM

terça-feira, junho 10, 2008

DEMOCRACIA? SÓ SE FOR DE SENHORES E ESCRAVOS!...


Até quando o excesso de notícias sobre a selecção e o portuguesismo dos emigrantes tugas na Suíça e das bandeiras nas janelas dos moradores dos bairros sociais vai servir para esconder os graves problemas sociais, que dia a dia vão aumentando?
Não podemos ignorar a especulação, ligada ao aumento do petróleo e as sucessivas paralisações de pescadores e camionistas, os 250 mil manifestantes na Avenida da Liberdade, a incerteza dos dias que se seguem...porque estas "Águas do Sul" não são paradas!!!

Escutámos a notícia na Antena 1 confirmámos no Público on line e, estupefactos, constatamos definitivamente que estamos a viver um regresso ao século XIX, como diz o blogue de Fernando Baptista: http://urgenciainterna.blogspot.com/2008/06/back-to-1820.html
"Mais de 180 anos depois, regressados a 1820!!!! Deve ser um filme de terror. Só pode."

"Aprovação de directiva comunitária
Ministros europeus chegam a acordo para prolongar semana de trabalho até às 65 horas
10.06.2008 - 11h25
Por PUBLICO.PT
Depois de quatro anos de negociações, os ministros europeus aprovaram hoje a Directiva do Tempo de Trabalho, chegando a acordo sobre a possibilidade de prolongar a semana de trabalho das actuais 48 horas até às 65 horas, se assim o entenderem o funcionário e a empresa. O documento ainda tem de ser votado no Parlamento Europeu. A directiva, cuja aprovação ficou marcada pela abstenção de cinco países, fixa a semana de trabalho na União Europeia num máximo de 48 horas. Em Portugal vigora um máximo de 40 horas. No entanto, é permitido que este máximo possa ser alargado até às 65 horas. Este documento não abrange os contratos com menos de dez semanas de duração. A Comissão Europeia já saudou o acordo político. “Este é um grande passo em frente para os trabalhadores europeus e reforça o diálogo social. Mostra, mais uma vez, que a flexisegurança pode ser posta em prática”, comentou o comissário europeu para o Emprego, Vladimir Spidla.

Sofia Loureiro dos Santos comenta a notícia desta forma:

"Como é possível que esta União Europeia, que negoceia e aprova tratados nas costas dos cidadãos, tenha a audácia de regressar às leis da selvajaria no mercado de trabalho, olhando para os cidadãos que jurou proteger como uma horda de escravos modernos que, para além do mais, com a globalização, o aumento da tecnologia com a consequente diminuição da necessidade de pessoas para a execução de múltiplas tarefas, e a inexorável subida do desemprego, retiram qualquer capacidade de negociação por parte dos trabalhadores ou dos seus representantes.

Onde está a matriz social democrática europeia? Onde está a defesa da dignidade da pessoa humana e do trabalho como realização pessoal e de contribuição para a sociedade?

A ideologia do lucro a todo o custo e sem olhar a meios está instalada, por muito que hipocritamente se diga o contrário.

A globalização foi defendida como um meio para melhorar o nível de vida de todos, inclusivamente para que a Índia e a China aproximassem os seus padrões de vida dos ocidentais. Está precisamente a acontecer o contrário. A Europa está a deixar-se aproximar dos valores da exploração do trabalho e das pessoas."

DEMOCRACIA? SÓ SE FOR DE SENHORES E ESCRAVOS!...

Já agora, e dentro deste contexto, faz todo o sentido ainda haver a comemoração do Dia da Raça, sendo a fotografia (de LFM, autor também deste texto) que ilustra este post, uma homenagem à frase com que o actual presidente da República brindou todos os portugueses neste 10 de Junho. Cá vamos cantando e rindo...

domingo, junho 08, 2008

Com a Aldraba, na salvaguarda do património


A Aldraba inaugurou ontem a exposição "Aldrabas e Batentes", em Salvaterra de Magos, que aconselhamos a visitar até dia 30 de Junho.
A divulgação e preservação do património "invisível" é a grande motivação desta mostra.
Esta manhã, pelas 10 e meia, na Rua do Alecrim e com Carlos Consiglieri, iniciam-se as Rotas da Aldraba, com uma primeira caminhada em torno do património de Lisboa.
São bons pretextos para passeios com História e convívio.

segunda-feira, junho 02, 2008

Intervenção do Presidente da Direcção no 84º Aniversário da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto


Com a devida vénia, transcreve-se a intervenção do presidente da direcção da CPCCRD, Dr. Augusto Flor, proferida no passado sábado, diante de uma assistência constituída por associativistas e por representantes da Confederação do Desporto, do Comité Olímpico Português, do Secretário de Etado da Juventude e Desporto, da Associação 25 de Abril, Junta de Freguesia de Santa Justa, Grupo Parlamentar do PCP, Verdes, etc.

"Distinta Mesa
Digníssimos convidados
Amigos e colegas associativistas
Minhas senhoras e meus senhores

Na passagem dos 84 anos da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto e do Dia Nacional das Colectividades, desejo saudar todas as colectividades, Clubes e Associações congéneres, bem como todos aqueles que connosco partilham o objectivo de transformar a sociedade, tornando-a mais fraterna, mais solidária, mais inclusiva, mais democrática e mais participativa.

No dia 31 de Maio de 2007, proferi aqui algumas palavras que podia repetir hoje, sem correr o risco de estarem desactualizadas. Refiro-me concretamente à falta de definição da Lei 34/2003 de 22 de Agosto, sobre a qual já passaram três governos e mais de cinco anos de completa ostracismo político. O país perdeu cinco anos de participação activa de uma instituição que tem atrás de si mais de oito décadas de experiência e um conhecimento do terreno que mais ninguém possui.

Refiro-me ao facto de ter sido constituído o Conselho Nacional do Desporto, no seguimento das iniciativas governamentais donde se pode destacar a nossa participação no Congresso Nacional do Desporto. Não há entidade nenhuma neste país, que represente o desporto recreativo, o desporto popular, o desporto de todos e para todos como esta Confederação. Também neste caso, estamos a ser vítimas de ostracismo político.

Refiro-me ainda à falta de políticas e de um interlocutor por parte do Governo da nação, bem como à falta de apoios técnicos, logísticos e financeiros a grande parte das colectividades do nosso país. Não é possível definir políticas culturais, recreativas e desportivas para o país sem ter em conta a opinião de quem a pratica todos os dias, a toda a hora em todos os lugares deste nosso país. A constituição de um Conselho Nacional do Associativismo Popular, continua a ser uma necessidade histórica que, pela sua ausência, penaliza as populações, o associativismo, em suma, a sociedade.

Passou um ano e o mundo, as sociedades, as colectividades e a Confederação, não pararam. Neste período, concluímos a fase de Consolidação Nacional do Projecto 2001 Associações; Disseminámos e concluímos o Projecto Interculturacidade; Tomámos a iniciativa de reunir as nossas congéneres associativas e apresentámos propostas ao OE; Candidatámo-nos e estamos a desenvolver projectos no âmbito do Programa EQUAL, no que respeita à Digitalização e Qualificação do 3º Sector; Temos em fase adiantada nova proposta de legislação associativa a apresentar em breve à Assembleia da Republica; Estabelecemos Protocolos com inúmeras Câmaras Municipais de norte a sul; Estamos a desenvolver o Projecto Rotas do Associativismo ao qual já aderiram várias Regiões de Turismo; Prosseguimos com o Projecto Agita Portugal, pela sua saúde mexa-se; Constituímos a base sólida para definitivamente se institucionalizarem os Jogos Tradicionais em Portugal através de um projecto que foi apresentado publicamente no passado dia 24; Candidatámo-nos a um projecto de criação de um Centro de Documentação Associativa Popular à Fundação Calouste Gulbenkian; Estabelecemos parcerias de cooperação com várias entidades públicas e privadas que hoje aqui formalizámos; Concebemos e instalámos o nosso Espaço Museu 31 de Maio que constituía um sonho de muitos dirigentes e associativistas. Neste particular, permitam-me que destaque todos aqueles que ao longo dos 84 anos de vida desta instituição, preservaram o espólio que, a partir de hoje, passa a estar acessível a todos. Permitam-me ainda felicitar a equipa que se empenhou nestes últimos 5 meses: a Alexandra, o António, a Eduarda, o João, a Margarida, a Maria, e o Nuno. À excepção de um deles, os restantes, são desempregados que se encontram em programas ocupacionais e que, como tal, não estão a desempenhar aquilo que mais sabem e mais gostam de fazer. No entanto, empenharam-se, “vestiram a camisola” e o Espaço Museu é uma realidade.

Olhando para este exemplo, é caso para perguntarmos como seria este país se aqueles que vendem a sua força de trabalho fossem devidamente reconhecidos, retribuídos e lhes fossem dadas as oportunidades a que só alguns têm acesso, em vez de “Livros Brancos” que, a serem traduzidos em legislação laboral, irão tornar ainda mais difícil a vida de quem trabalha por conta de outrem, como é o caso de mais de mais de 80% dos Dirigentes Associativos?

Por fim, não poderia deixar de destacar o apoio da Junta de Freguesia de São Vicente de Fora e o trabalho verdadeiramente abnegado da nossa colega de Direcção e Directora responsável pelo Espaço Museu, Helena Monteiro. Para todos o nosso sincero reconhecimento.

A terminar, se me permitem, gostaria de aqui deixar algumas saudações, uma questão para reflexão e uma proposta. Gostaria de saudar todas as crianças que amanha terão o seu dia, em particular aquelas que sofrem com as guerras que não compreendem, com a fome e as doenças que as matam todos os dias, com os maus-tratos e a exploração de que são vítimas. O associativismo popular, em Portugal, é o garante da integração e da socialização de milhares de crianças nas actividades associativas. Temos muito orgulho disso.

Gostaria de saudar a nossa Selecção Nacional de Futebol que dentro de dias irá disputar o Campeonato Europeu. Estamos convictos que tudo farão para, desportivamente, levar o nome de Portugal o mais longe possível, tanto mais que quase todos eles são resultado do trabalho de base que é feito nas colectividades e clubes de bairro onde descobriram a sua vocação e foram descobertos para essa arte desportiva que é o futebol.

Gostaria de saudar a nossa Delegação Olímpica que dentro de algum tempo irá estar em terras do Oriente, para mostrar o seu valor no respeito pelo espírito olímpico. Também neste particular, estamos perante muitos atletas que começaram as suas carreiras desportivas em pequenos clubes e colectividades. Por isso mesmo sabemos que interiorizaram valores que no momento certo serão determinantes para os resultados desportivos que todos almejamos.

Quanto à reflexão, gostaria de vos desafiar a pensarem, por alguns momentos, com o “pensamento dominante”, isto é, como membros de uma sociedade capitalista. Se a economia é a ciência que estuda a gestão dos recursos disponíveis, e se a inteligência, a arte e a forma de fazer e construir algo não é mais que um recurso disponível, não será justo pensarmos que, o que nós Dirigentes Associativos Voluntário e Benévolos fazemos tem um valor social mas tem também um valor económico? Se a resposta for não, então vamos deixar as coisa ficar como estão. Se a resposta for sim, teremos que pensar como contabilizar nesta sociedade capitalista o valor do nosso trabalho que deverá continuar a ser voluntário e benévolo mas que não significa que deixe de ser considerado e desvalorizado ao valor zero. Reflictamos sobre isto, partindo dos indicadores apresentados pelo nosso estudo que aqui foi sumariamente apresentado.

Quanto à proposta, ela tem algo de sonhador, quase utópico, mas que não pode deixar de ser considerada. O Associativismo Popular, as colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, disseminadas pelo nosso país, contam-se por mais de 17.000. Têm um património incalculável. Só a Confederação tem mais de 2500 peças e objectos, mais de 250.000 documentos que retratam em parte a história deste movimento. Todo este património, pertence, naturalmente, a cada uma das instituições. Mas, como em muitos outros casos, só com a sistematização e centralização de todo este vasto património, é possível ter a ideia do valor histórico, sociológico, antropológico e até económico deste movimento. Para tal é necessário um espaço amplo onde este património respire e possa ser desfrutado por todos. É necessário que este património seja enriquecido com actividades permanentes e regulares onde cada expressão do associativismo popular possa manifestar todo o seu esplendor. Esse lugar existe. Esse lugar é o Pavilhão de Portugal onde há 10 anos atrás foi exposta a cultura portuguesa com o incontornável e indispensável contributo do associativismo popular.

Estou convicto que o Arquitecto Siza Vieira – que daqui saúdo por mais uma extraordinária obra inaugurada há dois dias na cidade de Porto Alegre no Brasil - não deixaria de achar interessante esta proposta, tanto mais que tanto quanto sei, se encontra desgostoso pela falta de utilização daquele património. Espero que todos aqueles que estão aqui connosco neste momento, nos acompanhem nesta proposta que, naturalmente, estamos receptivos a discutir e partilhar com outras organizações congéneres.

Reitero os agradecimentos a todos os que connosco têm feito este trajecto e que com respeito pela autonomia e independência, cooperam para uma sociedade onde cada ser humano se sinta realizado, feliz.

Viva o Associativismo Popular!
Viva Portugal!

Augusto Flor