"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, março 30, 2005

Tozeur e o poeta Aboulkacem Chebbi


O oásis de Tozeur tem cerca de 200 mil árvores, 200 nascentes de água doce , algumas a 70 graus centígrados,20 aldeias e aromas e silêncios que inspiram os poetas.
No Belvedere, colina mágica de onde se avista a cidade, o Chott El Djerid- um lago salgado em pleno deserto, Aboulkacem Chebbi contemplava a paisagem, inspirando-se para escrever os seus versos. No Museu Dar Cheraiet, o primeiro museu privado da Tunísia, cujo mentor se tornou presidente da municipalidade de Tozeur, há um espaço onde se reconstitui o quarto do vate. Chebbi tem nome de avenida em Tozeur e num Outubro já distante, no meu dia de anos, descobri um mausoléu dedicado a esta figura que morreu jovem, tornando-se no poeta nacional tunisino.
A impressão que me causou a sua cidade, os seus escritos e o espaço imbuído pelo seu espírito estremeceram o meu ser, originando o poema cujo título tem o nome do poeta e está incluído no meu livro "Os Pastores do Sol":
Aboulkacem Chebbi
Na delicada voz de água dos pássaros
escuto o teu canto de cítara encantada
oh poeta das areias sem mar
e do silêncio onde as tâmaras são de mel
A palavra é romã na tua boca
e o oásis um poema eterno.
(Fotografia do oásis de Tozeur, de minha autoria,1994)Posted by Hello

terça-feira, março 29, 2005

É Festa, É Festa, É Festa, É Festa...


Sofia, Bem Hajas por partilhares tão belo momento! Apetece cantar:

"Quando a gente ama faz qualquer loucura
Só se pensa em cama, se perde a censura
A alma desembesta, é festa, é festa, é festa, é festa...
Até quando o sol raiar"

(Simone, "Baiana de Gema" esplendorosa no Coliseu dos Recreios no dia 14 deste mês, cantando Ivan Lins e Paulo César Pinheiro. Fotografia de Sofia Baltazar) Posted by Hello

domingo, março 27, 2005

Dia Mundial do Teatro


A luz estava perfeita. Boris Karloff, Bela Lugosi, Christopher Lee e outros famosos vampiros do cinema teriam ficado robicundos de inveja...
O almoço fora bem regado e a língua ainda tinha vestígios de tinta de choco.A tasca do tio Gil, a aragem do mar, a companhia do Angel, da Jesus e da Cristina, ele de Barcelona, elas de Madrid, além do Nuno Távora, que captou o momento, foram os ingredientes para este instantâneo criativo. A barra vermelha da camisola do abutre, a cor escarlate da roupa da vítima, o cenário dos portões do castelo de Sesimbra...enfim, não podia ser melhor para estes amantes do Teatro homenagearem a arte de Molière.
VIVA O TEATRO!!! Posted by Hello

Meca no Espichel


Ontem, junto ao morábito do Cabo Espichel, era sábado de Aleluia, nesta Páscoa de um calendário de tradições evaporadas...
Enquanto bandos de portugas se pavoneavam, entre as ruínas da estalajem de um santuário (que deve ter tido dias marcantes de festejos e peregrinos)e roulottes que vendiam churros, mais alguns comerciantes de conchas e búzios, súbito, um vulto ajoelhou-se na paisagem majestosa, diante do mar e o tempo parou.
(foto de Nuno Távora)

sexta-feira, março 25, 2005

Páscoa Suave


Nunca é demais voltar ao deslumbre do Alhambra. Esta imagem ilustra as palavras que estão por baixo deste post: "Amêndoas Doces".
Por favor, usem algum do vosso tempo a lê-las. Suponho que vale a pena. Páscoa Suave para todos!Amigos e inimigos!A estes últimos desejo a vida suficiente, para assistirem às coisas boas que ainda hei-de semear nesta terra...
(Fotografia de CP.) Posted by Hello

Amêndoas Doces

Em 20 de Janeiro, o amigo Augusto Cortes fez este comentário:

"Claro que não existe nenhum comentário sobre a Tunísia noBlog, para isso é preciso senti-la. Talvez em Março volte a Tozeur, houve alguém que em tempos me disse que queria ir não me lembro quem..."

No mesmo dia, de Leiria, escreveu-me o José Luís Pereira Jorge:

"Caro Luís: Acabo neste momento de visitar o teu blog. Gostei daquela foto (pela curiosidade) em que apareces com uma linha capaz de desfilar numa passerelle. Bem, é que eu nunca te conheci assim. Belos poemas, cheios de sentimento. Um abraço. José Luís. PS quando é que nos dás o prazer de uma visita?"
A 17 de Fevereiro, a Paula Cristina Lucas da Silva, com quem gostaria de estar estes dias como foi habitual durante anos, em Alpedrinha,enviou este comentário via hotmail, a propósito de uma evocação da Gardunha com neve no dia do casamento dela com o Paulo Grilo:

"Adorei a surpresa no teu Blog! És o máximo!Nem me lembro da fotografia... eu o Paulo e a Ana... mas foi de certeza na Serra da Gardunha que tanto amamos!Sabes que adoro aquele poema... já o disse milhentas vezes, e sinto-me sempre envaidecida por haver um poema teu sobre o meu casamento... a neve, a tua presença, a família, os amigos, a minha união apaixonada, enfim, a magia daquele dia inesquecível!Para ti, um beijinho especial por tanta ternura e capacidade de surpreender pela positiva!"

Dois dias depois, a Ana Fonseca enviou-me um mail onde me dizia:
"Luís Não há nade de novo no blog?????? Que se passa???? (...)Tenho saudades tuas, fico feliz por estarmos juntos na 6ª feira (...) Sinto a vida a escoar-se e nós a sorver muito pouco. Este sentimento tão bonito que nos une tem de ser "alimentado". Já pensaste bem em todo este tempo que nos conhecemos???? Tudo o que já passámos juntos??? Tanta cumplicidade partilhada??? Vamos ter de começar a pensar em escreveres um livrinho (prometo que ilustro), era tão giro... Falar das nossas novelas, dos nossos banhos no Meco e na Toca do Pai Lopes... Torreira... da nossa azinhaga... festas do Avante.... exposições dos meus desenos... do teu arroz maravilha.... Castelo de S.Jorge apanhando penas desvairadamente... das nossas toneladas de pedras pintadas até ao amanhecer.... bom, fica a mensagem e a saudade. Obrigada ao destino que fez com que nos cruzássemos. Amo-te. Ana."
Maria Elisa Santos escreveu-me em 27 de Fevereiro esta simpática e envolvente mensagem:
"Luis,
Talvez gostasse de estar onde estás agora,
mesmo debaixo deste céu de chumbo,
que nos ronda mas aqui não mora,
nem da terra sente o estertor profundo...
...
Sim, estou em casa, sempre em casa, a casa que me cerca e me prende.
Mas li o teu blog, e sobre os aflorados enredos políticos apetece-me transcrever aqui um poema do Konstandinos Kavafis, o poeta de Alexandria onde nasceu em 1863. Morreu em Atenas em 1933 e por isso também o chamam de poeta grego. Nas traduções em Portugal, bem díspares por sinal, surge às vezes como Constantino Cavafy. "Veio ter comigo" nas páginas inesquecíveis do Quarteto de Alexandria, de Laurence Durrell, nos anos 70...
Aqui está então o poema:

"Chè Fece... Il Gran Rifiuto
"A algumas pessoas um dia cai
em que o grande Sim ou o grande Não sobrevém
dizer. Logo surge ao de cima a que tem
pronto dentro de si o Sim e ao dizê-lo vai
além da sua honra e do que está convencida.
A que negou não se arrepende. De novo interrogada
voltaria a dizer não. Mas tem-na derrotada
aquele Não - o correcto - toda a sua vida....
Desejo-te um resto de bom domingo. Elisa"
Da Ana Fonseca, em 12 de Março recebi outro mail a propósito de preocupações de saúde:
"Mas que raio de conversa vem a ser essa, dessas mensagens "provocantes" de "AVCÊS"???? Somos eternos como só os diamantes são capazes e enquantos durarmos as nossas vidas serão uma só. Por mais vendavais de lixo ou tempestades de mágoas as raízes não desgrudam. Estamos aqui para o que der e vier. E conto contigo como tu comigo... isto já não é contar é já a certeza de estarmos. Não será isto verdade? Acho que sim. Amo-te amo-te amo-te amo-te beijos doces Ana."

Peço desculpa pela transcrição destas mensagens aos autores, mas em época de partilha de suaves propósitos, apeteceu-me saborear estas amêndoas doces, com a vantagem de não partirem dentes, não deixarem dores e fazerem muito bem ao coração. Outras mensagens não menos belas foram recebidas durante estes três meses, porém, considero que estas são exemplo da ternura e da amizade que um ser humano precisa e merece. Talvez, permitam-me a vaidade, porque não sou um tipo de falinhas mansas nos lábios e punhais aguçados nos gestos, como muito boa gente que por estas ruas se pavoneia. Explodo também, e de que maneira, quando me traiem.Mas quem é que aceita ser enganado, por gente sem escrúpulos?
Ainda bem que tenho amigos como estes e outros, presenteando-me diariamente com um oxigénio de palavras e sentimentos que me ajuda a enfrentar rotinas e desatinos.
Páscoa Feliz a todos os que visitam este blog-amigos, conhecidos e até furtivos visitantes a quem algumas destas palavras assentam que nem uma luva!!!

segunda-feira, março 21, 2005

Jerba


Mergulharás na ânfora
de luz da tarde com
um gato tonto de sol
aos pés e a prata
das oliveiras no olhar

depois, um rebanho
deslizará na poeira
dos caminhos e o coração
partirá para o mar.

(poema escrito na ilha de Jerba, Tunísia, em 1994. O texto está na página 12 do livro "Os Pastores do Sol", que teve edições de autor nas 1ª, 3 e 4ª versões. A 2ª edição foi em 1996, da responsabilidade da Escola Profissional do Fundão, que me levou a Poitiers para o apresentar na Rue des Trois Rois, em Maio, por ocasião da Fête du Monde... O livro viajou várias vezes até à Tunísia, entre 1995, ano da 1ª edição e 2004. O jornal "La Presse" referiu-se a ele de forma muito elogiosa.
No mês passado Ana Maria Walter Rasmussen, querida companheira de sonhos, autora do profundo e vital "Águas de Março", http://aguasdemarco.blogspot.com um blogue de categoria, idealizado e partilhado desde a Dinamarca, falou do livro, publicou poemas, emocionou-me e permitiu que a minha poesia fosse conhecida por mais pessoas. Um grande beijinho de saudade, pois há algum tempo que não bebemos da sua prosa inspirada de fonte, que transforma o quotidiano em mágico espelho de emoções...
A fotografia, de minha autoria, retrata o momento inspirador destes versos. O rebanho que desliza na poeira dos caminhos é este. Andei semanas à procura desta imagem. Encontrei-a ontem no meio de papelada relacionada com aldrabas...nem sei como ali foi parar! Mas o importante é que depois de ter passado este Dia Mundial da Poesia a tentar inserir a foto no blogue, finalmente consigo partilhar connvosco a memória de um tempo feliz. Saravá!) Posted by Hello

sexta-feira, março 18, 2005

Rita Pavone, os Incansáveis e o Mais Jovem Surrealista de Telheiras


Após um bife picado no Heness'ys que estava uma déli *, viajei na net à procura de Rita Pavone, que eu escutava no Rádio Clube Português, em 1960-62, antes de ir para a escola primária, entre as sete e as oito da matina, no programa Talismã...
Uma lágrima traquinas resolveu espreitar: a pequena diva irreverente da canção italiana desse tempo tem 60 anos e vai afastar-se dos palcos em Dezembro deste ano.
Na tarde abafadiça chegam entretanto palavras que trazem um novo ânimo.
Os incansáveis companheiros da Aldraba-Associação do Espaço e Património Popular José Prista e Margarida Alves têm estado a preparar uma exposição a inaugurar no próximo dia 1 de Abril.
É verdade e, sendo uma iniciativa da "Aldraba" terá certamente beleza e dignidade.
Por outro lado, a minha querida amiga Isabel Mendes Ferreira falou-me de um acontecimento que partilho com os meus leitores: nasceu em Telheiras o blogue do João. Dito assim não tem pilhéria nenhuma. Mas se eu acrescentar que o João é um rapaz de 11 anos, é melhor prepararem-se, porque vão ter uma grande surpresa se quiserem ir lá bisbilhotar...
Apresento-vos o mais jovem surrealista de Telheiras, quiçá da blogosfera e dos territórios jamais calcurreados por Harry Potter: "O Moscardo Laranja" http://moscardolaranja.blogspot.com
(fotografia de Vanda Oliveira) * delíciaPosted by Hello

quarta-feira, março 16, 2005

CANÇÃO DA ALDRABA


Ó minha casa da serra
sem disfarces de caiado,
Como é do uso da terra
e também do meu agrado!

Telhas em onda quebrada,
meu triste telhado antigo,
paredes terra lavrada
e semeada de trigo.

Eu não tenho que roubar,
nunca fiz mal a ninguém:
nada tenho a recear
como muita gente tem.

Porta do meu coração,
também lá oiço bater...
- mas, ali, só entrarão
um dia, quando eu morrer.

Ó minha porta d'aldraba!
A minha casa é de todos...
Já pouca gente se gaba
desta franqueza de modos.

Aldraba da minha porta,
Meu poema de humildade...
- quantos entram, quantos saem,
sem nos deixarem saudade!

Sai, porém, alguém amado:
Tens um som dorido e fundo.
Então devias pesar
mais do que o pêso do mundo!

Quem vai prá guerra ou pró mar
há-de erguer-te na saída:
és a última a falar
na hora da despedida.

Ceguinha, sempre vigias,
mas não conheces ninguém,
e sem diferença anuncias
má gente e gente de bem.

Tiveste berço na forja
dum desgraçado ferreiro;
criou-te ao calor das brasas;
cobre-te a neve em janeiro.

Encontrei-te não sei onde.
já perdida, enferrujada...
Vieste viver comigo
- só te fiz mais desgraçada.

A culpa me seja leve,
hás-de vir a perdoar.
Olha: vestida de neve,
és noiva que vai casar.

Pudesse eu erguer a voz
em teu louvor, algum dia!
- O que nos fazes a nós
coisa alguma pagaria...

E a porta geme com o vento;
pesam as noites escuras...
Então, o teu sofrimento
sobe-te à bôca, murmuras...

Aldraba, gasta, a bater,
cantiga de bom agoiro:
se a Bem-Amada te erguer,
concerto-te a fino oiro!

Branquinho da Fonseca - "Poemas", Coimbra 1926

(Poema recolhido por Luís Amaro e enviado pelo leitor deste blog e amigo Engº Francisco Colaço, Presidente da Junta de Freguesia de Aljustrel a quem agradeço esta preciosidade)
Fotografia da professora Hélia Bernardes, de Alpiarça. Posted by Hello

domingo, março 13, 2005

O Nuno, as Aldrabas de Abrantes e a Caligrafia da Amizade


O Nuno Távora, tal como o Jorge, ama o Teatro (estão ambos a estudar no Conservatório) e o interesse pela fotografia também é comum. Eles marcaram o lançamento do meu livro "Caligrafia do Silêncio", dizendo poemas meus, como notou Isabel Mendes Ferreira, de uma forma muito sentida.estou-lhes eternamente grato e nunca é demais dizê-lo em público, porque a disponibilidade e entrega deles é uma qualidade extraordinária.
Surgiram no final deste domingo em duas fotografias com muito significado, pois partilharam de forma original a descoberta de um património "invisível". Para ambos, um grande abraço e já agora, quem quiser dar uma vista de olhos pelos blogues deles, não faça cerimónia:
Posted by Hello

O Jorge e as Aldrabas de Abrantes


Acabei de receber um delicioso mail do Jorge Ismael Cabral, com duas fotos e este texto:
"Olá meu chapa! Este fim de semana fomos de viagem até terras de Abrantes e Mação. E quando demos por nós, estávamos a fazer de caçadores de aldrabas... aqui vão alguns exemplos da grande aventura... temos mais... aldrabas, batentes, tudo e tudo. Abraço."
Meu querido amigo: Bem Hajas por esta gentileza! Só falta uma coisa: em que rua e em que número de porta estão estes magníficos exemplares? Posted by Hello

Instantes de um Domingo de Março


Acordo numa cama desfeita. Tempestuoso, o sono.
Estou em stress, quase a terminar um trabalho árduo, que preenche há muitos meses bastante espaço do meu tempo livre.Cinzenta, a manhã...
Passei o sábado a reescrever e a digitalizar as alterações que fiz à dissertação de mestrado, cujo final festejei antes do tempo. Desde Janeiro que estou a rever e a emendar. Um encore, portanto.
Amanhã, se tudo correr bem entrego à orientadora a 4ª versão.Espero que seja aprovada.
Ao mesmo tempo que escrevo estas notas breves, escuto Juan Manuel Serrat. Eterno cantor da sensibilidade e da mudança sonhada.
Olho para esta gaivota e apetece-me fugir na asa dela para outras paragens.
Correu-se a Meia Maratona em Lisboa e certos condutores, que usualmente pastam a família por estas ruas, com netos e avós encafuados no opel a caminho do almoço dominical sempre na cervejaria enfarta-brutos enfrenesiam-se perante a fileira de viaturas que aguarda o desimpedimento das artérias cortadas para a grande festa desportiva. Ao leme do opel os citados pais, atropelam o matinal sossego, fazendo irrascíveis inversões de marcha, deixando atrás de si ruído, fumo e mau olhado.
No café de bairro tomo o pequeno almoço habitual, mas o cheiro a tabaco que os clientes da manhã deixaram, torna o ambiente irrespirável.
Na Antena 1 a Ana Sousa Dias entrevistou Simone, a propósito do novo disco "Baiana de Gema", com música de Ivan Lins. Delicio-me. A gaivota é ela a viajar na música, entregando-se nesses acordes mágicos, de juras de amor com saudades de amar. Tenho pena de não poder voltar a vê-la. As minhas amigas que nos anos 80 foram ao concerto com ela, estão quase todas mortas-vivas. Os bilhetes até são acessíveis, mas há quem prefira encher a alma de atrofio. Pelo menos quero ver se compro o disco. Gostei de "Seda Pura", gosto da voz de Simone e nunca me esqueço de cantar em coro "Você é Real", no Coliseu dos Recreios com um sorriso feliz. Era o tempo da ilusão...
Posted by Hello

quinta-feira, março 10, 2005

Federico em Albaycin


Federico terá estado aqui
sorvendo crepúsculos
mirando o Alhambra
com seus amigos gitanos,
entre cavalos e romãs...
Quantos poemas os olhos
beberam em S. Nicolas?
Quantos segredos as madrugadas
embalaram? Quantas noites
as guitarras cantaram para
Federico* em Albaycin?
Quantas vezes entre piteiras
e ciprestes "a las cinco de la tarde",
em silêncio, amou, num verso?

Luís Filipe Maçarico, Inédito, Granada, 10-10-01 (Foto de C.P.)
*Federico Garcia Lorca Posted by Hello

Alhambra


Em cada estuque
um versículo de suspiros...
por cada azulejo
mil luas de fantasia...
Quanta história
oculta nos arabescos
das paredes!
Quanto silêncio
de séculos guardado
pelos ciprestes!
Quantos amores secretos
nas fontes derramadas...
Quantos olhares partilhados
nas mais sombrias águas...

Luís Filipe Maçarico, Inédito, Granada, 9-10-2001 (foto de Cristina P.) Posted by Hello

terça-feira, março 08, 2005

Estas são as Mulheres

Estas são as mulheres
Que trazem o sol nas mãos
E o entornam entre canseiras e afagos.

Estas são as verdadeiras rainhas
Que governam dentro de sete paredes
De suspiros e angústias, de risos e desejos.

No seu colo os filhos crescem,
Os homens adormecem, a vida desliza…

Estas são as deusas que enfrentam
Todas as tempestades
Respondendo à mágoa com o sonho.
Ensinando sempre a resistir.

Estas são as mães e as amadas
Onde o poema vem beber a música.

Estas são as mulheres
Que dizem aos quatro ventos:
O meu dia são todos os dias
Porque a vida sem as mulheres
É como uma casa sem telhado.

Luís Filipe Maçarico

segunda-feira, março 07, 2005

Abençoados


Desfolhando o jornal da diocese de Évora "A Defesa", nº 4206, de 2 de Março, deparou-se-me um curioso e simpático artigo do padre António Fernando Marques, que tomou conhecimento da existência da "Aldraba", enquanto o barbeiro lhe cortava o cabelo. Ao ler o "Diário do Sul", F.Marques irmanou-se com o espírito desta associação e nas suas palavras, onde perpassa um profundo conhecimento acerca do respeito pelo património material e imaterial, está uma espécie de benção que a "Aldraba" recebe de um cidadão que é membro da Igreja. A associação merece do padre António Fernando Marques o aplauso que partilha com todos os grupos que se preocupem com a memória e a identidade.
(fotografia dos promotores e amigos da "ALdraba-Associação do Espaço e Património Popular", aquando do 2º encontro desta associação em Viana do Alentejo, retirada do blogue http://aaldraba.blogspot.comPosted by Hello

domingo, março 06, 2005

Visões, silêncios,sedes


Guardo o breve aroma
da efémera flor
do destino. Sei que o tempo
evapora jasmim e rosa.
Os passos no oásis
ainda há pouco já são
memória. Atravesso
nuvens. Transporto
visões silêncios sedes
Um deserto de afecto
e um chá de estrelas
para acordar sem mágoa...

Luís Filipe Maçarico, Inédito, escrito em 11-1-2001, sobrevoando a Serra Nevada (fotografia de Manuel José Graça da Silva) Posted by Hello

sexta-feira, março 04, 2005

Um poema do livro"Caligrafia do Silêncio"


RITUAL

Desse longo latir
Da vida sabes tu

Para chegar aqui
Foi preciso comer merda

Não é fácil sentares-te
À mesa para arrancar
A pele...

Luís Filipe Maçarico, "Caligrafia do Silêncio", 2004

(foto do lançamento deste livro, captada por Vanda Oliveira, no Clube Desportivo Cova da Moura,25-2-2005) Posted by Hello

quinta-feira, março 03, 2005

Uma Aldraba de Bucelas


Esta bela aldraba foi inventariada e fotografada por uma equipa de trabalho espectacular, em Bucelas. O grupo banqueteou-se no "Barrete Saloio" e andou um domingo inteiro, enquanto houve luz do dia, a recolher espécimes para as V Jornadas de Cultura Saloia, por várias freguesias do concelho de Loures. Quando o trabalho é festa apetece viver em constante descoberta.(fotografia de Leonel Costa) Posted by Hello

quarta-feira, março 02, 2005

Efeitos Especiais


Esta noite, depois de ter vencido um asqueroso vírus informático que me atormentou desde domingo,passeei pelo "Picasa", que é um programa para colocar imagens no blog e olhem só o que descobri: mas isto é também uma maneira de chamar a vossa atenção para os dois posts antecedentes. Se não se importam, desçam até ao poema sobre as mulheres e comentem.
Um abraço a todos vocês, minhas e meus leitor(a)es. Posted by Hello

terça-feira, março 01, 2005

Energia Positiva


Sexta feira 25 de Fevereiro, no final do lançamento da "Caligrafia do Silêncio" no Clube Desportivo Cova da Moura.Ainda hoje usufruo da maravilhosa energia que as/os amiga(o)s e leitora(e)s me deixaram com a sua presença serena, positiva e alegre. Bem Hajam a todos os que conseguiram estar. E mau grado as doenças e impedimentos dos que não puderam estar, teria sido complicado se todos os convidados tivessem aparecido.O salão do clube estava a abarrotar e assim toda a gente saiu satisfeita. Escrita por mim esta notícia parece empolada, mas acreditem que foi o que aconteceu. Aliás, há testemunhas, que se quiserem, poderão vir aqui confirmar.De qualquer maneira este livro quebrou um enguiço de 12 anos e agora só quer estar nas mãos dos que gostam de poesia. Boa leitura então! Posted by Hello

As Mulheres


Como este é o mês das flores começarem a irromper em algumas árvores e da esperança renascer, como a mulher é a terra que fecunda a bela semente da vida, como o dia da mulher se aproxima, partilho este poema (a foto é de Eduardo Nascimento e nela estou rodeado pela poetisa Conceição Baleizão e pela pintora Isabel Aldinhas):

As mulheres
Este barro tão belo
Antigo e frágil
Trágico e firme
Esta gota de orvalho
Única
Fonte de luz
Enorme
Que rio tão azul
De palavras e silêncios
Aragem de luas e laranjais
No barco das horas.

As mulheres
Sempre ao meu lado
Sopro suave olhar eterno
Janela inquieta
Sonho sereno
Beijo da terra
Mães dos ventos
Caudal de verde
Rasgando manhãs.

As mulheres
Este cálice de aromas
Abraço quente, estimulante
Bebido com dedos de brisa
Amantes sementes loucas
Corações de mar
Areias de surpresa
Nas praias do tempo.

As mulheres
Estes versos guardados
Em caixa secreta
Preciosa palavra
Viagem sem cais
Eterno voo
Incansável maravilha.

As mulheres
Este barro sensível
Estas estrelas de fogo
Tanta água
Para tanta sede.

Luís Filipe Maçarico, "A Essência", 1993, edição de autor.
 Posted by Hello