"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, março 27, 2019

Falta de Brio e Consciências Pesadas

Quem se aposentou a partir de 2013 e anos seguintes, mas que apresentara a documentação, solicitando que a pensão fosse atribuída em 2012, acabando por recebê-la apenas em 2014, sofreu vários cortes. Primeiro, porque nesses anos de troika e de governação austeritária, a idade de reforma subiu três  anos em 2013 e mais um em 2014, sendo a pensão calculada em função da data em que foi atribuída. 
Pelo que foi confiscado a dezenas de milhar, recorreram alguns trabalhadores, cujos sindicatos os apoiaram, tendo o Tribunal Constitucional dado razão aos lesados, que acreditaram poder aposentar-se numa altura mais propícia.
Em certos casos, a entidade que devia defender aqueles que se viram perante uma situação inesperadamente adversa, recusou fazê-lo e quem protestou, ainda foi ofendido, como se não tivesse qualquer direito, colocando-se esses juristas sindicais (que desejo sejam poucos, ainda que sujem o prestígio de instituições que sempre defendi) do lado dos rapinadores. 
Perante o acórdão do Tribunal Constitucional [solicitado a pronunciar-se por causidíacos honestos que aceitaram defender trabalhadores em situações semelhantes] obrigando a rever o cálculo do valor atribuído, penso apenas isto: Como podem advogados elitistas e demagogos ter brio profissional, perante uma derrota tão estrondosa? E quanto aos organismos que os empregam, será que dormem descansados os seus porta-vozes? Um pedido de desculpas será o mínimo que se exige.
LFM

terça-feira, março 05, 2019

Festival Eurovisão das Cançonetas: Chacha e Kitsch

Independentemente do mérito de "Amar pelos Dois", enquanto toada musical na voz do repudiado pelos Doutos Júris dos Concursos de Gorgeios, a começar pela patroa do Rock in Rio, passando pelo brutóide senhor Manel, alguém acredita que o Festival da Eurovisão das Cançonetas é algo mais do que aquele show chacha e kitsch para os zés povinhos mirones da Europa e arredores se deixarem hipnotizar durante umas horas?

O jardim à beira mar criticou, escandalizado, Simone a cantar "quem faz um filho/ fá-lo por gosto", hoje recordação dourada, todavia apuparam Ary dos Santos, enquanto autor de canções polémicas e mordazes, como "Tourada", que tenho escutado, reinterpretada pela rapper Capicua.

Os inquisidores do gosto execraram Isaura e a cantora do cabelo de rosa, detestaram Salvador Sobral que, após a travessia no deserto, invectivou um público serpenteante: "se eu desse agora um peido vocês também aplaudiam?" De Bestial a Besta foi um passo...

O Conan dos telemóveis é afinal o espelho de uma época e de uma gente que detesta ver a sua banalidade espelhada. Inteligente, criou um personagem e colou-o à pele. O sucesso (por via da diversidade sonora, face aos modelos clássicos) explodiu. Num tempo em que as canções de protesto - apesar de tão actuais, face à permanente exploração e austeridade - são silenciadas, a inebriação do néon e as jóias de pechisbeque são exaltados. Vítor Rua e Miguel Esteves Cardoso são fans...

A verdade é que o rebanho afasta-se da diferença, do que não é formatado. Acaso vos preocupais em lutar por uma existência menos escrava, ò cidadãos adormecidos numa vidinha certinha, sem coragem nem rasgo que protestais por causa de uma melopeia? 

Por detrás da musicata espalhafatosa ou do ruído mais ou menos teatral, alguém acredita que o Festival da Eurovisão ao realizar-se em Israel não tem intenções políticas? 
Nestas como em muitas outras coisas, são os mandaretes que contam, os povos são meros figurantes, que aplaudem sonâmbulos.

Para quem não esteja atento, Portugal ganhou há dois anos porque foi um recado nas entrelinhas para se investir no "Marrocos da Europa", como os ingleses designam o nosso país, comprando-se casas e terrenos, fazendo-se negócios com lucros elefantisíacos. Como destino turístico de manadas impedidas de irem a latitudes  perigosas. Alguém duvida?

Luís Filipe Maçarico (texto) Fotografia recolhida na Net

Do divertimento Identitário ao bamboleio decalcado

Com excepções em que o sol espreita, o tempo do Carnaval é quase sempre de chuva e frio.
Porque razão em algumas localidades se pretende fingir que estamos nos trópicos, com reis carnavalescos importados, vindos directamente de uma novela brasileira? 
Vertiginosamente, tradições que eram genuínas deram lugar a macaquices, com as figurantes bamboleando como se estivessem num sambódromo...
Felizmente, o Carnaval manteve-se tradicional, até hoje, enquanto festa de inverno e divertimento identitário, em Podence e Torres Vedras, havendo outros exemplos, como em Vale de Ílhavo, onde a sensibilidade com o património ainda impera.
Não consigo perceber a motivação de autarcas e colectividades, no afã de apagar a marca portuguesa, dando lugar a decalques de outras latitudes que acarretam oneroso espavento. Quem beneficia?
LFM (texto) Fotografia de Diana Alves.