Dizia-me hoje, durante o almoço, um jovem amigo transmontano, que obrigar uma Comunidade a conservar portas antigas e não permitir "inovações", ao gosto do proprietário de um imóvel, é atentar contra a liberdade individual.
Esclareci-o que apenas defendo restrições para os Centros Históricos, já tão descaracterizados, e dei até o exemplo de Fornelos, onde uma casa tem uma porta de "elevador"...
A piroseira, a pimbalhice, não pode, em nome de uma suposta liberdade pessoal, imperar e desfeiar os nossos lugares, destruíndo o legado, que os nossos antepassados nos entregaram, conservado durante centenas de anos, apesar do analfabetismo que infelizmente caracterizava o nosso povo, no final do século XIX...
Na Monografia "Penaguião "Terra" e Gente", de J. Gonçalves Monteiro, edição do Município de Santa Marta de Penaguião, 2001, há uma citação exemplar, da Illustração Portuguesa, nº 557, de 23 de Outubro de 1916, tão actual, que transcrevo:
"O respeito pelos monumentos, a veneração das relíquias do passado, em geral o culto pela beleza, derivando do objecto ou do que ele representa são sentimentos que só se desenvolvem por uma educação cuidada e não por uma instrução superficial, mais nociva às vezes do que a ignorância absoluta".
Vem isto a propósito daquilo que chamei a jóia da Coroa - o castelo de Penedono. Mas conforme escrevi na minha página Facebook:
"Não se iludam....O património em redor não está devidamente cuidado. Cada casa tem uma porta de alumínio de cor diferente... Como tenho dito várias vezes, os centros históricos, por todo o lado, estão a sofrer verdadeiros atentados de mau gosto, que os Municípios permitem, e assim por mais festas medievais que promovam, não resgatam a aldraba, o batente, a porta e outros pormenores, que são deitados para o lixo. Os turistas estrangeiros seguramente não apreciarão estas aberrações. Os portugueses continuam a aceitar tudo e a colaborar nesta morte do património identitário."
Correndo o risco de me repetir, acrescento: Só conhecendo o valor de um objecto, de um monumento (histórico, arquitectónico, afectivo) poderemos gostar e salvaguardar o património.
Seria tão bom que as Câmaras Municipais, como a de Penedono, promovessem os batentes de porta, através da edição de postais, publicações e exposições evocando o(s) velho(s) ferreiro(s) que moldaram mãos, cabeças de animais, argolas, aldrabas, e a panóplia artesanal que não se repete, quando chamamos os residentes. Mas também caberá às Escolas locais um desempenho complementar, desafiando os alunos a desenhar e fotografar as portas mais antigas, com simbologias raras na pedra e na madeira, no sentido até daqueles que espalharam o feísmo, pudessem repensar, ajudando mudar - para melhor - o cartão de visita da sua terra, que também são estes pormenores.
Um castelo rodeado por alumínios variados, ao bel prazer dos proprietários de residências e firmas, fica certamente mal acompanhado.
E Penedono merece ficar mais bela na fotografia.
Luís Filipe Maçarico