Nas suas mãos mágicas
os pássaros e as oliveiras de Belgais
floriram como sonatas e sorrisos
de criança. Neste país não há lugar
para asas, versos, sonatas sem dor.
Mastiga-se a máscara o tédio
a merda de termos de ser poucochinho
senão a inveja senão o governo senão
pede-se desculpa à vida por se estar vivo
e agradece-se a todas as Nossas Senhoras
a finta, o jogo, a taça, o golo!
Neste país o lugar das pessoas sensíveis
é o exílio é viver inadaptado entre urros
arrotos e muitas bandeiras a forrar amiséria
de ser português. Neste armazém de ignorantes
à espera da novela seguinte
do escândalo seguinte,
do acidente que se segue,
os governantes maltratam
os bancos engordam
a mediocridade subiu ao trono.
No coração frágil da pianista
há palavras que não podem morrer
Foge sim, porque a respiração
tornou-se insuportável. É preciso voar
resistir e respirar. Recomeçar
noutro país, noutra terra, noutro lugar.
28-7-2006
(poema de Luís Filipe Maçarico; fotografia recolhida na Web)