Transcrevo da revista "Alentejo", nº 45, pp.24-25, este artigo de minha autoria:
Embora existam notícias menos negativas
sobre a actualidade no Alentejo, optei uma vez mais por falar do que não está correcto
e merece reprovação colectiva.
Algumas associações, cujo objectivo é a
salvaguarda do património ambiental, têm apresentado publicamente libelos
questionando a justeza e a legalidade de práticas intensivas, que afectam os
humanos, os animais e a natureza.
Pergunto-me, face ao que leio, vejo e
escuto, onde estão as autoridades os cidadãos, as colectividades, as
autarquias, os abaixo assinados, as manifestações, as preocupações evidentes de
todos e até os autores populares do Cante, para se insurgirem contra a agressão
ao Alentejo, que sob o pretexto do desenvolvimento e do progresso, está a matar
a identidade alentejana. Será que protestaram nas diversas cidades e foram
silenciados pela comunicação social? Desconhecemos qual a atitude (perante
estas más notícias) dos cidadãos e dos seus representantes locais e nacionais.
Há que falar nos pássaros que morrem aos
milhares, sugados pelas máquinas que substituíram o varejo da azeitona nos
olivais super-intensivos e da monstruosa invasão de herbicidas, pesticidas e
fertilizantes, que afecta a terra e o indispensável equilíbrio ecológico, pondo
em causa a saúde de todos os seres.
No DN de 20-2-2019, noticia-se que foi
pedida a proibição da apanha nocturna de azeitonas, através de meios mecânicos,
que sugam olivas matando milhares de aves migratórias, alojadas nas ramagens,
para descansarem antes de atravessarem o mar, rumo a África.
É preciso que os alentejanos reajam a
estas notícias tristes, que foram difundidas na rádio, nos telejornais, no “Jornal
de Negócios”, no “Público”, no “Expresso”, etc.
Sabemos que o Cante é a representação de
um tempo, que através das vozes e dos trajes revive a época em que os homens
foram jovens trabalhadores.
Esta tradição reinventada tem contudo
assimilado algumas modas, onde o desemprego e a ignorância arrogante dos
senhores dos gabinetes em Lisboa, que do campo sabem nada integram o
repertório. Porém, não chega denunciar os desmandos, mesmo se cantando frente
aos principais representantes dos órgãos do poder, com os meios de comunicação
social presentes. Os media transformam tudo em folclore e consumo, é sabido…
É preciso reinventar também uma
intervenção mais eficaz que mostre a funesta situação que se vive e que sem
esclarecimento ilude os incautos.
No Facebook já encontrei amigos que
elogiavam o Alentejo verde, arborizado, sem perceberem bem os contornos nocivos
do que estavam a elogiar, até porque estes novos meios de fazer agricultura,
não dão trabalho aos muitos alentejanos que são obrigados a deixar o
território.
Entretanto, o “Público” de 30 de Outubro
de 2018 titulou “mais de um milhar de azinheiras [foram] arrancadas para dar
lugar a olival intensivo.” A tenebrosa ocorrência decorreu entre Avis e Sousel
e apesar de negada, fotografias do antes e depois provaram a devastação.
Constatou-se então que a dimensão deste
atentado não foi detectada por “nenhuma autoridade nacional ligada ao Ambiente
ou à Agricultura”, tendo uma associação entregue uma queixa pública.
Prejudicial às pessoas e ao próprio
turismo, o que aconteceu configura destruição de uma paisagem cultural.
Quem está atento e se revolta com estes
atentados?
O associativismo é que nos salva, afinal,
de ficarmos completamente reféns de interesses tubarónicos para os quais o
lucro, mesmo que para o atingir se corram terríveis riscos, como desequilibrar
o ecossistema que nos protege de calamidades, pragas, infestações, doenças.
Até quando os olhos estarão fechados,
pactuando por omissão, face ao alastramento desta tremenda contaminação de
solos e almas?
Luís Filipe Maçarico
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