"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, março 18, 2018

Portas de Azamor, com Janica

Graças a Maria João Jonatas Ramos, a minha querida Amiga Janica, que esteve em Marrocos, com o seu companheiro Eduardo Ramos, convidado para mais uma brilhante actuação do seu repertório musical, onde aborda a essência do Al-Andaluz, evocando os poetas luso-árabes e recriando a ambiência da Silves islâmica, posso hoje partilhar fotografias que remetem para o quotidiano de uma cidade, que entre 1486 (ano em que os seus habitantes pediram a protecção do rei português D. João II) e 1541 (data do abandono, por ordem de D. João III, daquela antiga feitoria), ou seja 55 anos, teve a presença portuguesa, ainda hoje bem espelhada nas suas ruas, casas e baluartes ( da autoria de Diogo e Francisco Arruda - 1514)...

Ao longo de três décadas Azamor teve governadores, enviados por Lisboa, e ainda há ruas com nome português (tal como em Arzila) e o estilo manuelino de arcos e construções é visível, fazendo parte da herança do património de Portugal em Marrocos.

Concentremo-nos nestas nove imagens: em termos da pintura das portas, impera o azul - ou forte ou claro e o castanho escuro ou esbatido, havendo ainda um ocre marinho.
A decoração inclui um apurado trabalho de portais e por vezes componentes simétricos, representando  a Natureza - elementos florais.
Realço a presença bastante evidente de batentes no topo da porta, que supostamente seriam destinados aos cavaleiros, que chamariam os residentes (familiares ou criados) para poderem entrar nos pátios, que muitas destas habitações possuem ( este método é transversal aos países do Norte de África, havendo um site argelino que refere esta particularidade e em Jerba, os caranvansail têm portões com batentes altos para este efeito)...

Que segredos guardam estas portas? Que vozes escutaram? Que mãos chamaram pelos habitantes das casas? Quem foram os ferreiros que lhes deram asas, para nos contarem estórias?

Grato por esta colorida colecção, onde o olhar se detém nos pormenores, por vezes mágicos, assim o sonho nos acompanhe na deambulação das palavras e dos silêncios...

Texto e pesquisa: LFM; Fotografias: Maria João Jonatas Ramos

1 comentário:

Laura Garcez disse...

Texto bastante interessante!
"Caranvansail"... Só conhecia o termo em inglês.