"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, março 30, 2008

Évora, Jóia do Património Mundial










Há vinte anos conquistou o título de Cidade Património da Humanidade, atribuído pela UNESCO, devido às inúmeras jóias do seu espaço urbano e à preservação adequada que as manteve até ao nosso tempo.

Évora é, como me disse certa vez uma jovem brasileira (Helen Dias) aquela cidade onde apetece viver "mil anos".

As suas praças de vivências, rumores e tanta harmonia onde a vida respira sob um azul rútil, como diria a minha conterrânea e amiga Maria Amélia, uma eborense que tem no quintal um jardim andaluz, com cerejeiras, limoeiros e odores de jasmim, hortelã, alfazema, alecrim e rosmaninho.

Évora apresenta uma das mais belas catedrais do país e o templo de "Diana", que emblematicamente coroa a passagem dos séculos, tesouro romano que continua a ser cenário de deslumbre para os viajantes de todo o Mundo.

A luminosidade do Alentejo inunda e destaca a brancura dos edifícios, projecta jogos de claridade e penumbra entre arcadas e fachadas de imóveis onde o traço de grandes arquitectos em épocas distintas sobressai.

Procurem e admirem o esplendor das igrejas da Graça, S. Francisco, S. Antão, S. Mamede, da Misericórdia, detenham-se diante da Capela de São Brás, observando a minuciosa e criativa elegância dos seus contornos.

Embrenhem-se no labirinto medievo das suas ruelas, arcos, becos, espantem-se com a profusão de aldrabas e batentes, ainda intactos e contemplem os postigos misteriosos, que nos fazem imaginar personagens de romances antigos, talvez de Herculano ou Alexandre Dumas.

Sentem-se na Praça do Giraldo, deambulem por todas as esquinas, por todo o serpenteado de ruínhas, saboreiem nomes como a Rua do Imaginário, da Mangalaça, a Travessa Torta, o Beco do Themudo, e outras toponímias que Túlio Espanca interpretou.

O manuelino e o barroco convivem por todo o lado.

Desde o Largo das portas de Moura, desfruta-se a inigualável varanda do palácio Cordovil, o tanque onde o azul e a pedra se reflectem num fantástico leque de espelhos e ao fundo, lá para os lados da Sé, a janela manuelina de Garcia de Resende. É impossível ignorar tanta beleza e não ficar bafejado pelo espírito desta cidade com uma aura particular, comparável às urbes da Itália renascentista.

A muralha que abraça e se entrelaça em artérias como as Alcaçarias, o Aqueduto das Águas de Prata, as arcadas de luz mágica. A estatuária que irrompe nos frontespícios, nas fontes, em palácios e templos, os nichos de alguns recantos, a cantaria presente em inúmeros prédios, as preciosidades das forjas que ainda cantam, o silêncio inesperado de travessas salpicadas pela voz dos sinos. Évora é também o prazer de aspirar aromas de cozinhados irresistíveis, ou a possibilidade de saborear uma gastronomia autêntica, vinhos divinais e uma doçaria conventual incontornável.

Évora é uma terra de emoções fortes e cores vibrantes. O azul como o sol, bem como a lua e as nuvens escuras não têm meia - medida. São intensos.

A noite profunda, quente, dos "sepulcros caiados de branco" acorda "espíritos benéficos". É ainda Maria Amélia, a senhora do jardim perfumado que fala, passeando no espaço de cágados e alcachofras, de trepadeiras e malmequeres onde os pássaros irrompem até que o crepúsculo os adormeça.

Entre cereais, Évora cintila, alvejando na presença ancestral uma luz que enleva e cativa.

Luís Filipe Maçarico (Artigo publicado no número 32 do quinzenário "Conversas de Café"

http://www.conversasdecafe.pt/cc/ConversasDeCafe_032_Mar2008.pdf

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