"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Duas Exposições em Loulé








Uma é permanente e está patente no Museu Municipal. Na sua essência, é uma mostra arqueológica, que atravessa séculos. O espólio é muito importante, no que concerne aos romanos e árabes que por ali deixaram rasto, na cultura, nos comportamentos, no subsolo...
Porém, falta aos magníficos obsjectos, bem expostos, um olhar que os traga até nós, que os faça sair do mutismo em que estão arrumados nas vitrines, com um enquadramento arquitectónico belíssimo, em duas antigas dependências da Alcaiadaria do castelo de Loulé. Efectivamente, os objectos podiam contar a história dos mouros e romanos que naquele concelho algarvio respiraram, muito antes de nós chegarmos...
Na revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé,"al'-ulyã", nº 4, de 1995, pp.161 a 163, Manuel Pedro Serra explica que o Museu, inaugurado em Maio desse ano, é resultado de recolhas provenientes de escavações arqueológicas, assumindo que "o período islâmico" é, "talvez a colecção mais coerente que de momento o Museu possui, provenientes das campanhas de escavação realizadas nas ruínas do antigo Castelo de Salir", "sob a orientação de Helena Catarino, desde 1987".
Perto dali, num outro espaço, dentro da zona histórica da cidade de António Aleixo, até 18 de Março, é possível admirar outra exposição de Arqueologia:"Paisagens de Loulé O Mar, Os Campos e A Cidade."
O visitante admira objectos e imagens do Litoral, da Cidade: de Al'-Ulyã a Loulé, do Barrocal e da Serra. Aqui houve a preocupação de facultar um excelente catálogo, cujos textos têm a autoria de Isabel Luzia, integrada numa vasta equipa técnica, que trabalhou com qualidade, como é o caso da concepção gráfica, vídeo e multimédia de Susana Leal.
Da visita que fiz a estas exposições, recordo um testemunho delicioso de uma guardiã desta segunda mostra, que confessou a satisfação enorme de andar nas escavações a ajudar a desenterrar estes tesouros.
Quando os funcionários sentem que estão a ser úteis à Comunidade, percebe-se que têm chefias inteligentes, que sabem planear e envolver todos aqueles que com eles trabalham, para fazer da cidade um lugar melhor. Nessa urbe, afinal possível, o passado não é um caco velho (embora possam ser mais enriquecidas, quiçá com o olhar de um antropólogo, as citadas exibições de objectos) e o presente é acima de tudo o respeito por quem trabalha, para que o empenho seja festa e a alegria transborde no dia a dia colectivo.
Noutros sítios deste país, que ostenta tantas vezes uma desmedida pequenêz mental, sente-se na face das pessoas que nos recebem, o ar de casa mortuária, o cheiro a mofo que sai de objectos e de posturas, impelindo a não voltar, e claro,apetece fugir daquelas trevas para o sol da rua.
Porque qualquer lugar da função pública, onde os indivíduos sejam reduzidos a Alliens, está condenado ao definhamento, à doença e à queda, a médio prazo, do cérebro que engendrou o fenómeno, certamente mais preocupado com o seu curriculum e o dos amigos, não se importando de sugar toda a energia daqueles que deveria coordenar para o bem estar da Comunidade.
Ao apreciar as peças que estão em exposição na Galeria de Arte do Convento do Espírito Santo, com as palavras felizes de uma funcionária, em fundo, senti que em Loulé os Museus têm um segredo.
Vão até lá, para descobrir!
Parabéns ao engenheiro Luís Guerreiro, que dirige a Divisão da Cultura e do Património Histórico de Loulé!
(fotografias realizadas no início do mês em Loulé, por LFM. As duas últimas imagens pertencem à referida segunda mostra)

Sem comentários: