"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, dezembro 20, 2009

Alice no país dos Cinzentões


Há pessoas cuja grandeza está no facto de serem discretas no dia a dia, porém gigantes na forma de partilhar o que conquistaram com muita luta. Lutar é o melhor verbo que conhecem, quando decidem sair do anonimato, em nome dos ideais, pelos quais entregaram a juventude. Ideais que as trouxeram de volta, após anos sofridos de sombra e silêncio.
Ela viu a semente de muitos florescer, sorveu a criatividade de dias irrepetíveis, guardou o aroma desses instantes únicos, para ter e dar força neste Inverno prolongado em reino de monos.
Alice Guerreiro é uma das pessoas mais estimulantes que conheço. Mulher de arcaboiço, que vai espalhando gargalhadas e propostas, desmascarando o cinzentismo, que empata a caminhada, rumo à Liberdade que há, para lá da palavra.
Encontrá-la é sempre uma festa.
Ao longo das minhas idas para Mértola, durante os últimos 26 meses, fui sentindo nesta Alice do país tristonho uma âncora, para recarregar energia e seguir viagem, desde Beja, onde costumo chegar num comboio matinal.
Há muito que a não vejo, pois sempre que pode, escapa-se para Milfontes, onde respira sete sílabas de Mar, para escrever o seu poema de solitude, patente em cada sorriso, em cada gesto, em cada vocábulo fraterno, em cada sonho anunciado.
Alice é um desses seres de excepção, que existirão sempre, para além desta passagem turbulenta.
Porque as histórias de vida fantásticas criam-se a partir da magia das palavras, território onde ela passeia, com a sua pronúncia aljustrelense e a sábia reflexão, acerca do que vale a pena alcançar: o amor, a paz, a solidariedade. Alice é uma lenda, símbolo da caminhada de um povo pela dignidade e pela justiça e igualdade que os trabalhadores alentejanos merecem.
A memória dos que ao lado dela ajudaram a erguer o novo Portugal, que outros tantos tentaram asfixiar, registam o punho bem erguido, a sua verve, o sangue quente, o mote arguto, a imparável vontade de seguir em frente, desbravando o pão e o futuro. E como o seu contributo para a revolução é intemporal, apesar da raiva, a esperança irrompe, em cada poro...
Uma Mulher assim é Eterna!
Luís Filipe Maçarico (Texto e fotografia)

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