Montemor-o-Novo é uma cidade bastante rica em património material.
Contudo, a perda recente de algum património emblemático, no que concerne às aldrabas e batentes, deixou-me apreensivo, enquanto cidadão, ao revisitar as ruas desta simpática e bela cidade alentejana, devendo, na minha opinião, os autarcas desta e de outras terras reflectir acerca de alguns "atentados" a esse património...
Porque é a descaracterização, a perda de qualidade e de identidade que espera os sítios se efectivamente, perante o que está a suceder, não se tomarem medidas...
Os batentes em forma de serpente ou mastim, raríssimos, se nada se fizer para a sua preservação, em última instância nem que sejam mostrados num museu, não regressarão (pois os ferreiros já não batem o malho em Montemor-o-Novo) às portas da cidade quando alguém, após a morte dos idosos que residem na parte antiga, os retirar impunemente como tem acontecido. Urge inventariar e proteger! Sensibilizar proprietários e inquilinos. Será que é difícil entender isto?
Em Montemor-o-Novo, em 2005 havia um portão no nº 7 da Travessa dos Lagares. Em 2009, o portão desapareceu, bem como as três aldrabas que ostentava, fazendo lembrar o que sucedia em tempos no Magrebe - uma para o homem, outra para a mulher, outra para a criança, segundo relatos de indivíduos contactados, em Fez (Marrocos) e Nefta (Tunísia).
A venda do espaço pelo antigo proprietário a uma empresa que depois encontrou um comprador, esteve na origem dessa perda. A empresa, segundo relato de uma moradora, terá retirado o portão, não se sabendo o que fizeram às três aldrabas, reduzindo a entrada a uma portinha apertada, azul escura, que nada tem a ver com a antiga passagem do espaço público para o privado.
Apesar de passeios temáticos, chamando a atenção para aquele património, apesar de um artigo na revista Almansor, apesar da sugestão da publicação de postais (que serviriam para divulgar esses tesouros junto dos próprios moradores e proprietários), que nunca foram editados, apesar dessas preocupações...caíram em saco roto e está à vista o resultado.
Montemor-o-Novo perdeu uma parte do seu património. Mas como se isso não bastasse, não há ninguém que intervenha, relativamente à forma como portas e janelas manuelinas são tratadas (a fotografia mostra bem o que afirmamos)...
É este o legado que vamos deixar aos vindouros e que chegou até nós atravessando gerações?
Cidades forradas de alumínio, desfeiando (e desumanizando, porque apagando a memória) o que foi construído à escala humana?
Respeito o trabalho autárquico e os eleitos, mas não posso deixar de fazer este reparo, antes que seja tarde.
Por favor, senhores autarcas do Município de Montemor-o-Novo e das freguesias urbanas (e rurais), intervenham, não deixem morrer as marcas importantes da passagem dos nossos antepassados trabalhadores, criativos, artistas, que antes de nós fizeram estas jóias de arte, como quem pinta um quadro, escreve um livro ou planta um olival.
Luís Filipe Maçarico