"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, janeiro 25, 2017

Afinal há um rio que separa as duas margens ou os transportes que dificultam a mobilidade

Quando mudei para Almada, pensei que além de ter noites mais tranquilas e um espaço maior para os meus livros, haveria uma ponte a ligar as duas margens.
Sendo verdade, só está ao alcance de quem conduz, pois quem está dependente dos transportes públicos vivencia uma experiência atroz.
No passado domingo almocei com os meus Amigos Teresa e José. Juntou-se a nós a Vilar(inha)...
Esperei meias horas, para Carnide onde residem estes Amigos e no regresso.
Da Praça S. João Baptista até ao Pragal, usei o Metro Sul do Tejo (do qual tenho passe), depois esperei pelo Fertagus - o comboio da ponte (tenho bilhetes). Em Sete Rios carreguei o cartão com mais viagens da Carris e do Metro de Lisboa. Chegado ao Colombo, andei a pé - menos que da residência actual ao MST. Tudo junto ultrapassa o tempo da viagem de comboio entre Santarém e Santa Apolónia!
Afinal há um rio que me separa das pessoas da margem norte - sobretudo no Inverno - com sofrimento.
É o preço de viver numa cidade, onde há casas cujas rendas custam muito menos do que as da capital, onde os custos de viver no centro histórico se derramaram até Algés.
Por vezes ocorre-me a poesia de Bertolt Brecht e sou obrigado a pensar para que serve um Governo, - quaisquer que tenham sido os partidos a governar (e a apoiar), nos últimos decénios, - que condena um povo a receber reformas (e ordenados mínimos) de precaridade, que não conseguem fazer face às despesas de electricidade, água, gás, telefone, arrendamento, alimentação, transporte e saúde, entre consultas, exames e medicamentos, manifestamente  incomportáveis.
Bem podem as novas divas do Fado a Património Mundial ganirem dores, que não conseguem retratar o sofrimento que aumentou nos anos da troika e ainda dói, pois está (quase) tudo por resolver...

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)



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