"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, janeiro 29, 2017

As Cabalas, segundo os manuais dos Camafeus Ardilosos

Há uns anos atrás, indivíduos muito cinzentos, dignos da PIDE do KGB, da STASI ou da CIA, que não gostam que eu me relacione com alguns amigos, engendraram um plano, para transmitir publicamente uma má imagem da minha pessoa.

Neste mundo onde vivemos, há um grupo de sacanas, que impressiona pela capacidade de fazer mal aos outros, usando técnicas do piorio, aprendidas certamente no chafurdo dos seus complexos de inferioridade por resolver, no mau íntimo e azedume de um trajecto torto, em que só aprenderam a lixar os outros, julgando-se donos da verdade.

Decorria o Verão e eu estava no sul.
Abordado por um velho dirigente duma associação de alentejanos na diáspora, fui "relembrado", para não me esquecer de uma determinada data, em Setembro, que era suposto já estar combinada entre mim e o presidente dessa associação, julgando ele que eu tinha - supostamente - dado a palavra, para ir dizer poemas de minha autoria, nessa sessão...constando mesmo o meu nome de cartazes, impressos ou a imprimir.
Fiquei estarrecido, pois na verdade nunca fora contactado por ninguém e no dia "aprazado", já tinha compromissos, esses sim devidamente tratados e assumidos, como acontece entre gente de bem.

Deslindado o caso, que jamais se poderia considerar de equívoco ou mal entendido, o presidente nem sequer se dignou falar comigo, para pedir desculpa. 
Afinal ele sabia muito bem que tinha aceite fazer trabalho sujo, deixando-se manipular por uma eminência parda, que pretendia passar a ideia que eu teria uma qualquer mania de superioridade, desprezando as pessoas humildes, que em vão esperariam por uma intervenção poética, anos depois de lhes ter falado sobre o contrabando na raia transtagana.

Atenção: esta estória nada tem a ver com algo que se passou anos depois, que tem semelhanças, porém não se compara com a maldade que este caso continha, sendo apenas resultado de um mal entendido, que eu não criei, tendo sido esclarecido e apresentadas desculpas...

Assim se inventam as cabalas, segundo os manuais rebuscados de camafeus ardilosos.
Assim se desmontam as armadilhas dos filhos da pauta.
Para bom entendedor meia palavra basta...

Luís Filipe Maçarico

O Estranho Caso do Congelamento dos Cérebros


Sou um inadaptado neste mundo de manadas, ora conformistas ora em ruptura com o quotidiano.
Uma das coisas que não compreendo é a razão de se alugarem casas com, por exemplo, uma parte ocupada com móveis, por parte de quem arrenda...

Na mesma linha, pasmo com a panóplia de casas que são anunciadas, para aluguer, completamente mobiladas.
A imposição aos outros de mobiliário e bibelots, impressiona.
A falta de gosto das pessoas, que aceitam essa imposição, explica muita coisa.

Há dias estava na Fruta Almeidas (passe a publicidade) a saborear dois pastéis de massa tenra e um sumo de pera, perto da porta de entrada e saída. O frio, a chuva, o vento reinavam na rua.
E quem entrava, como quem saía, esquecia-se sempre de fechar a porta, deixando invadir o espaço com uma corrente de ar gélida, de todas as vezes (muitas) que alguém usava aquela porta.
São dois pormenores do dia a dia dos portugueses, que servem de exemplo para perceber o congelamento dos cérebros. E tudo o que daí deriva....

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)

sexta-feira, janeiro 27, 2017

A EXCELENTE SURPRESA DO FILME "ZEUS" DE PAULO FILIPE MONTEIRO

A História está mal contada, a respeito do sétimo Presidente da República Portuguesa - o também escritor - Manuel Teixeira Gomes, que deixou o cargo (para o qual fora eleito em 1923) cinco meses antes do golpe de Estado, que abriu caminho para o Fascismo (o último presidente eleito foi Bernardino Machado).

Sustentando governos reformistas, opondo-se à especulação dos bancos, apoiado numa manifestação de 70 mil operários, que foram a Belém manifestar-lhe o apreço pela sua política,Teixeira Gomes, que fora embaixador em Londres, perante as tentativas de intrigas e golpes baixos, decide demitir-se, deixando a própria família, para embarcar no cargueiro "Zeus", a caminho da Argélia, onde viverá os últimos quinze anos da sua existência. ZEUS é o nome da película, que demorou quase uma década a ser concretizada e conta a vida deste cidadão do mundo.

O realizador PAULO FILIPE MONTEIRO, nesta sua primeira longa metragem, dirige SINDE FILIPE como protagonista, capta a ambiência do Norte de África, onde Teixeira Gomes se auto exilou, colocando ao seu lado um naipe de actores argelinos, de entre os quais se destaca IDIR BENEBOUICHE (no papel de Mokrane, o empregado do Hotel).

Desta obra podemos dizer que é excelente, pelo ritmo, que se apoia em três narrativas, sobrepostas em flash back (o quotidiano do sétimo presidente da República Portuguesa, no palácio de Belém, os dias em Bougie e excertos da novela erótica Maria Adelaide, que se confundem com a própria vida do político e escritor algarvio), pelo som primoroso, pela música (de Bernardo Sasseti e Anouar Brahem), pelas interpretações e por uma fotografia excepcional, onde o deserto aparece com um esplendor que raramente vimos na sétima arte.

Quando o cinema português atinge um patamar assim, lamentamos que a estética, a beleza e a qualidade não façam parte do gosto da maioria dos espectadores. Hoje no cinema onde o filme ainda está em exibição, passou a haver em vez de duas, uma só sessão e estiveram apenas oito pessoas a assistir à projecção.

Paulo Filipe Monteiro, também ele actor, pesquisou traços da presença de Teixeira Gomes em Bougie, tendo encontrado uma filha de Mokrane, que partilhou memórias.
Recomendo vivamente que aqueles que tenham possibilidade persigam este filme e desfrutem de um documento tão importante para sabermos mais acerca daquela época conturbada da História de Portugal, como da História da colonização do Magreb.

Podem ver aqui o trailler:


Luís Filipe Maçarico (texto e pesquisa fotográfica)

quarta-feira, janeiro 25, 2017

As Contradições do Museu do Neo-Realismo

Há dois domingos desloquei-me a Vila Franca de Xira, ao Museu do Neo - Realismo, com Amigos à procura de Ferreira de Castro, o autor português mais traduzido. Com livros que se inscrevem, sem dúvidas, no movimento neo-realista. 
O Museu é omisso. E na passagem dos cem anos do nascimento do escritor, nem sequer um painel evocando a sua caminhada pessoal e literária. 

Por outro lado, a exposição permanente parece ter sido concebida, não para todo o público, mas apenas para investigadores, críticos de arte e professores. 
Disse e bem, o meu amigo Rodrigo Dias, que devia haver passagens dos livros que estão destacados, para os menos eruditos poderem conhecer os autores. Por exemplo: A capa dos "Esteiros", de Soeiro Pereira Gomes, desenhada por Álvaro Cunhal integra o espólio visitável. Mas falta um excerto do romance, para quem nunca leu saber como ele escrevia. Os jovens leitores teriam muito a ganhar se a exposição fosse reformulada... 
Num sítio que evoca a discussão entre forma e conteúdo, a arquitectura domina e o resto é um vazio salpicado pelo conhecimento que só abrange alguns...
Valia a pena quem dirige o Museu repensar e superar esta contradição.

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

Afinal há um rio que separa as duas margens ou os transportes que dificultam a mobilidade

Quando mudei para Almada, pensei que além de ter noites mais tranquilas e um espaço maior para os meus livros, haveria uma ponte a ligar as duas margens.
Sendo verdade, só está ao alcance de quem conduz, pois quem está dependente dos transportes públicos vivencia uma experiência atroz.
No passado domingo almocei com os meus Amigos Teresa e José. Juntou-se a nós a Vilar(inha)...
Esperei meias horas, para Carnide onde residem estes Amigos e no regresso.
Da Praça S. João Baptista até ao Pragal, usei o Metro Sul do Tejo (do qual tenho passe), depois esperei pelo Fertagus - o comboio da ponte (tenho bilhetes). Em Sete Rios carreguei o cartão com mais viagens da Carris e do Metro de Lisboa. Chegado ao Colombo, andei a pé - menos que da residência actual ao MST. Tudo junto ultrapassa o tempo da viagem de comboio entre Santarém e Santa Apolónia!
Afinal há um rio que me separa das pessoas da margem norte - sobretudo no Inverno - com sofrimento.
É o preço de viver numa cidade, onde há casas cujas rendas custam muito menos do que as da capital, onde os custos de viver no centro histórico se derramaram até Algés.
Por vezes ocorre-me a poesia de Bertolt Brecht e sou obrigado a pensar para que serve um Governo, - quaisquer que tenham sido os partidos a governar (e a apoiar), nos últimos decénios, - que condena um povo a receber reformas (e ordenados mínimos) de precaridade, que não conseguem fazer face às despesas de electricidade, água, gás, telefone, arrendamento, alimentação, transporte e saúde, entre consultas, exames e medicamentos, manifestamente  incomportáveis.
Bem podem as novas divas do Fado a Património Mundial ganirem dores, que não conseguem retratar o sofrimento que aumentou nos anos da troika e ainda dói, pois está (quase) tudo por resolver...

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)



Viagem Secular numa Colectividade da Capital

Fundada em 30 de Setembro de 1906, a colectividade Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes", elegeu recentemente - e pela primeira vez - três jovens, para Presidentes dos três orgãos dos Corpos Gerentes,  acompanhados pelo conhecimento de alguns dirigentes mais experientes. 
Voltei a integrar a Assembleia Geral, como vice-Presidente, sentindo-me ao mesmo tempo grato e honrado. Fomos eleitos pela esmagadora maioria dos associados presentes, Parabéns, Tiago Mendes, João Freitas e Carla Correia Carreiro
A Assembleia Geral teve a presença do histórico Orlando Rebelo (presidente da mesa da AG durante 17 anos, ex aluno da antiga escola, ex atleta), que saudou os eleitos, desejando bom trabalho em prol da colectividade.
A tomada de posse dos novos eleitos ocorrerá na próxima terça feira dia 31 de Janeiro. 
A velha locomotiva continua a viagem, com uma equipa rejuvenescida!

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)

quarta-feira, janeiro 11, 2017

Há Horas Felizes ou como Os Textos Essenciais da Psicanálise voltaram à minha Biblioteca

Sempre ouvi dizer que emprestar livros é ficar sem eles.
Durante a minha licenciatura em Antropologia na Universidade Nova, ao longo da primeira metade dos anos 90 do século passado, tive o privilégio de ter o Professor Doutor Gabriel Pereira Bastos, em Psicologia Social e Antropologia e Psicanálise, tendo então adquirido os "Textos Essenciais da Psicanálise" de Sigmund Freud, que me ajudaram a compreender melhor a arte de Artur Bual.

Passados anos, emprestei a uma estudante, com fracos recursos económicos, aquela obra. A rapariga formou-se e os livros nunca mais tornaram à procedência...
Contudo, e apenas por 30 euros (desconto de 50%), hoje recuperei, na Livraria das Publicações Europa América, na Avenida Marquês de Tomar, 1 B, em Lisboa, os três volumes que há décadas faziam falta nas minhas estantes, para poder continuar a estudar os artistas (poetas, pintores, etc.) e o imaginário popular, quando sou desafiado a apresentar comunicações em colóquios, como tem sucedido e vai continuar a acontecer, assim tenha vida e saúde.

Os meus agradecimentos a quem não devolveu os velhos exemplares amarelecidos, pois comprei uma edição renovada. E parabéns à Livraria PEA em Lisboa, por ter tão bela oferta.
Há horas felizes!

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)

As Livrarias de Óbidos e a Poesia de Eufrázio Filipe

No passado sábado, tive o prazer de percorrer Óbidos sem o incómodo das enxurradas de turistas que já encontrei noutra ocasião.
Entrei nas três livrarias (todas pertencentes à Ler Devagar, cuja casa-mãe frequentei muitas vezes, em Alcântara, na LX Factory) e em todas elas encontrei livros que mexem comigo.
De Manuel António Pina (Como se Desenha uma Casa) a Edgar Allan Poe (Histórias Extraordinárias), passando por um pequeno volume chamado "O que é Poesia", de Sousa Dias, a jóia da coroa  são três livros de Eufrázio Filipe: "A Linguagem dos Espelhos" (1982), "Mar Arável" (1988), nome do seu blogue, onde partilha a sua poesia mais recente e "Presos a um sopro de vento" (2014).

Deste autor, partilho um poema:

Sem muros nem amos

As andorinhas chegaram mais cedo
ao seu ninho preferido
o de sempre

os senhores do mundo
que não são os senhores da vida
designaram dias
para todos os santos

criaram
não o dia das andorinhas
mas o dia da mulher

na verdade dos desertos
há flores nas areias
mulheres que valem por si

atravessam oceanos
rasgam o chão 

são as mulheres que amo
com asas
sem muros nem amos

Eufrázio Filipe, "Presos a um sopro de vento", p. 50.

Luís Filipe Maçarico (texto, selecção do poema de Eufrázio Filipe e fotografias)

terça-feira, janeiro 10, 2017

SAMUEL apresenta novo trabalho de grande qualidade

Samuel Quedas é um notável intérprete da Música Portuguesa, que transporta o espírito de Abril em canções que tanto nos tocam.
O seu mais recente trabalho é extasiante, arrepiando pelas palavras, tão bem cantadas e tão intensas, pelo coro que sublinha ambiências, paisagens sonoras, pelos músicos com bastante qualidade, na plenitude da vida que exalta e celebra em cada faixa.
Respiração genuína da música, à qual imprime rigor e muita beleza, através de uma voz clara, sempre jovem, voz que atravessa o tempo - como um clarão - e nos transporta para uma realidade onde o inconformismo  diz as suas razões, para lá da serenidade inquieta, da reflexão e da intimidade, partilhada sempre de forma singular, ternurenta, comovente, com simplicidade genial.
Grandes poetas, de qualidade reconhecida, acompanham a sua caminhada, continuando surpreendentes. Samuel canta palavras de Saramago, Gedeão, Armindo Rodrigues, Joaquim Pessoa, Louis Aragon, além de Amélia Muge, Tiago Torres da Silva, João Monge, Nuno Gomes dos Santos e José Mário Branco.
Marcante, este disco é uma companhia magnífica.
Recomendo para se escutar muitas vezes e oferecer.
Os Amigos merecem esta pérola. Parabéns, Samuel!

Luís Filipe Maçarico