Excerto de entrevista, muito elucidativa, sobre o que se passa em Lisboa:
Outro assunto polémico é o do Alojamento Local (AL), Em média em Lisboa, os turistas ficam 1,4 noites alojados na hotelaria nacional. Nas casas disponíveis no Airbnb, a média é 4,4. O que é que a hotelaria não está a conseguir oferecer?
A questão não é essa. A hotelaria oferece algo que não tem nada a ver com AL. Os clientes do AL não são os da hotelaria. Temos coisas que o AL não tem e não concorremos com o AL. O que nos preocupa é que esteja a haver por parte dos habitantes uma reacção negativa aos turistas em geral e aí somos atingidos. O AL não está regulado para conviver bem com o habitante. Não podemos ter um alojamento num edifício onde há pessoas que trabalham durante o dia e descansam à noite. O turista vem para se divertir e a convivência com os habitantes tem sido difícil.
Diz que o AL não está regulado. Em concreto, o que falta?
Entendemos que o condomínio deve autorizar os AL. Nos anos 60, nas Avenidas Novas, em Lisboa, fez-se imensas habitações que não tinham ocupantes e a câmara autorizou que se pudesse instalar escritórios, desde que os moradores autorizassem. Isso era feito com o pagamento de uma contribuição de condomínio superior. Há casos em que o AL é perfeitamente comportável, mas a decisão deve ser daquela comunidade.
Não seria limitador para o negócio do AL? Dificilmente haverá consenso entre condóminos.
Se os habitantes não quiserem, acha mal? Nós estamos preocupados é com a reacção negativa aos turistas. Não queremos cair numa situação como se caiu em Berlim ou em Nova Iorque.
O Governo já disse que vai rever a lei. Foram chamados a participar nessa discussão?
Sim, nós temos a nossa opinião. No fundo, incide sobre as instalações que devem ser fiscalizadas e vistoriadas. Vim de Havana recentemente e o AL tem de passar por uma vistoria. As coisas têm de ter um mínimo de funcionalidade.
Mas há hoteleiros a entrar no AL.
Com certeza. É uma tendência moderna, das pessoas que hoje viajam e que há 20 anos não viajavam. Há uma nova geração que gosta deste alojamento. Sabemos que quando chegarem aos 40 anos vão querer ir para hotéis.
Este é o tema mais quente que têm entre mãos?
Não. A nossa preocupação é ter mais turistas. Para que esta situação amanhã não se transforme numa concorrência inconveniente temos de ter mais turistas. Em 2015 tivemos uma taxa de ocupação média de 65%, mais 4% face a 2014. Mas há zonas em Portugal que estão abaixo dos 50%. E só podemos ultrapassar isso trazendo mais turistas. Mesmo em Lisboa, o aumento da oferta que se tem verificado tem de ser rapidamente compensado com o aumento da procura.
[Há muito tempo que neste blogue e na Página Facebook ando a criticar esta situação. Cheguei a ser ofendido com críticas parvas, e eis que agora é o responsável pela associação de hotelaria a abordar a situação. E pergunto-me ainda porque razão a Câmara Municipal, A Assembleia da República, as diversas forças partidárias não elaboraram legislação que impeça a morte das lojas históricas mas igualmente a habitação, que é sonegada às pessoas (muitas de idade avançada), ameaçadas de despejo, desertificando-se a Baixa, numa fase oportunista em que um certo turismo é o grande boom.. Há quem defenda que não se pode privar a iniciativa privada de comer o bolo...Mas não há regras?Como será daqui a uns anos? ]
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