"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, julho 31, 2016

Gula da Inciativa Privada Sem Regras Destrói Lisboa e o seu Património de Escala Humana


Excerto de entrevista, muito elucidativa, sobre o que se passa em Lisboa:

Outro assunto polémico é o do Alojamento Local (AL), Em média em Lisboa, os turistas ficam 1,4 noites alojados na hotelaria nacional. Nas casas disponíveis no Airbnb, a média é 4,4. O que é que a hotelaria não está a conseguir oferecer?

A questão não é essa. A hotelaria oferece algo que não tem nada a ver com AL. Os clientes do AL não são os da hotelaria. Temos coisas que o AL não tem e não concorremos com o AL. O que nos preocupa é que esteja a haver por parte dos habitantes uma reacção negativa aos turistas em geral e aí somos atingidos. O AL não está regulado para conviver bem com o habitante. Não podemos ter um alojamento num edifício onde há pessoas que trabalham durante o dia e descansam à noite. O turista vem para se divertir e a convivência com os habitantes tem sido difícil.

Diz que o AL não está regulado. Em concreto, o que falta?

Entendemos que o condomínio deve autorizar os AL. Nos anos 60, nas Avenidas Novas, em Lisboa, fez-se imensas habitações que não tinham ocupantes e a câmara autorizou que se pudesse instalar escritórios, desde que os moradores autorizassem. Isso era feito com o pagamento de uma contribuição de condomínio superior. Há casos em que o AL é perfeitamente comportável, mas a decisão deve ser daquela comunidade.

Não seria limitador para o negócio do AL? Dificilmente haverá consenso entre condóminos.

Se os habitantes não quiserem, acha mal? Nós estamos preocupados é com a reacção negativa aos turistas. Não queremos cair numa situação como se caiu em Berlim ou em Nova Iorque.

O Governo já disse que vai rever a lei. Foram chamados a participar nessa discussão?

Sim, nós temos a nossa opinião. No fundo, incide sobre as instalações que devem ser fiscalizadas e vistoriadas. Vim de Havana recentemente e o AL tem de passar por uma vistoria. As coisas têm de ter um mínimo de funcionalidade.

Mas há hoteleiros a entrar no AL.

Com certeza. É uma tendência moderna, das pessoas que hoje viajam e que há 20 anos não viajavam. Há uma nova geração que gosta deste alojamento. Sabemos que quando chegarem aos 40 anos vão querer ir para hotéis.

Este é o tema mais quente que têm entre mãos?

Não. A nossa preocupação é ter mais turistas. Para que esta situação amanhã não se transforme numa concorrência inconveniente temos de ter mais turistas. Em 2015 tivemos uma taxa de ocupação média de 65%, mais 4% face a 2014. Mas há zonas em Portugal que estão abaixo dos 50%. E só podemos ultrapassar isso trazendo mais turistas. Mesmo em Lisboa, o aumento da oferta que se tem verificado tem de ser rapidamente compensado com o aumento da procura.


[Há muito tempo que neste blogue e na Página Facebook ando a criticar esta situação. Cheguei a ser ofendido com críticas parvas, e eis que agora é o responsável pela associação de hotelaria a abordar a situação. E pergunto-me ainda porque razão a Câmara Municipal, A Assembleia da República, as diversas forças partidárias não elaboraram legislação que impeça a morte das lojas históricas mas igualmente a habitação, que é sonegada às pessoas (muitas de idade avançada), ameaçadas de despejo, desertificando-se a Baixa, numa fase oportunista em que um certo turismo é o grande boom.. Há quem defenda que não se pode privar a iniciativa privada de comer o bolo...Mas não há regras?Como será daqui a uns anos? ]

Entrevista completa em:

Algumas Notas sobre o Museu do Aljube 4 - A Sequência Narrativa: Aspectos Mais e Menos Conseguidos

A sequência narrativa do Museu do Aljube, terá sido criada, a partir de uma Comissão Instaladora, constituída por nomes como Domingos Abrantes e Fernando Rosas, existindo um Conselho Consultivo, com vários nomes, de onde destaco António Borges Coelho, Cláudio Torres, José Manuel Tengarrinha e Ruben de Carvalho, URAP, etc.
A Fundação Mário Soares, o Museu da República e Maçonaria de Pedrógão Grande, o Centro de Documentação sobre o 25 de Abril da Universidade de Coimbra, a RTP,  terão sido algumas das fontes documentais, além dos inúmeros jornais e boletins da Resistência, referidos no espaço destinado à Imprensa Clandestina. 
Trata-se (a par da Exposição Permanente da Fortaleza de Peniche) de um lugar de memórias dolorosas.
Não raro, como ontem, entre os visitantes, encontramos pessoas como a Ana Lucília, que recordou que aos 12 anos ali foi visitar o pai, mineiro de Aljustrel.
Alice Guerreiro, viúva de João Honrado, contou-me que a mãe de João, com diabetes altos veio de Beja a Lisboa visitar o filho ao Aljube e que a visita foi proibida.
Domingos Abrantes, segundo a guia e responsável pelo serviço educativo, Judite Álvares, durante uma visita de crianças do 1º ciclo, foi convidado a contar o que acontecia naquela prisão. No final uma menina ficou incrédula, questionando: "Mas isso é mesmo verdade?"
A mesma Alice Guerreiro, há dias, em Beja, teve de lembrar a uns vizinhos, num café, que a vida no tempo de Salazar não era tão boa como eles a estavam pintando, pois foi trabalhar aos sete anos e aos 15 teve de emigrar para a Bélgica.
Importante no Museu a dolorosa alusão aos "Bons Costumes", evocando a morte de Militão Ribeiro, os tarrafais, a Pide, a tortura. E a sede da Pide, tornada condomínio de luxo, evaporou-se, restando imagens filmadas, fotografias, o sofrimento marcado pelos depoimentos pelos então jovens, como José Pedro Soares e Aurora Rodrigues ou Maria Custódia Chibante.
O painel com centenas senão milhares de fotos tipo passe dos prisioneiros é impressionante e um grande momento da visita, tal como a evocação dos perseguidos pelo colonialismo.
O bilinguismo, útil para visitantes estrangeiros, nem sempre está presente. E tive de me agachar para ler um documento de Maria Lamas, pois o criador insistiu em colocar informação ao nível dos joelhos do visitante e falta iluminação adequada para a cronologia, da criação à extinção da PIDE. Um banco para os mais pequenos (adultos de baixa estatura e crianças) permitiria por exemplo a visualização, através do postigo, de um dos "curros", como os fascistas chamavam às celas.
A apoteose dos cravos e da libertação está bastante bem conseguida. Respira-se finalmente alegria, após um percurso penoso, pela viagem à História recente mas também pelo calor que em dias estivais se sente.
Nota positiva aos funcionários do Museu, pelo acompanhamento profissional dos visitantes.
Referência também feliz à exposição fotográfica sobre a Resistência e a Liberdade no Porto, da autoria de Sérgio Valente ("Um Fotógrafo na Revolução), patente até meados de Outubro.

Texto e fotografias de Luís Filipe Maçarico


Algumas Notas sobre o Museu do Aljube 3 - Uma Sala Com Excesso de Informação

A segunda sala do Museu do Aljube pretende meter o Rossio na Rua da Betesga.
Com o Professor Doutor José Barata Moura, aprendi que tudo o que se cola (cartazes de propaganda política ou qualquer outra forma de veicular informação) abaixo do olhar, perde-se enquanto proposta de divulgação.
E embora haja quem pense que um Antropólogo não entende de Museologia (licenciei-me na UNL e a cadeira de Museologia foi lecionada por Coutinho Gouveia, no tempo em que essa área ainda não se tornara num curso autónomo, nem havia tanta universidade de aviário a fazer especializações da treta), tenho a noção que uma overdose de informação afugenta o visitante, por saturação.
Sente-se claustrofobia, pois pretende-se num quartinho veicular décadas e décadas de Fascismo, sintetizando-se o impossível.
Mesmo que seja propositada a ideia de causar essa asfixia no visitante, não concordo, pois dá vontade de fugir, perdendo-se conhecimento.
Pode ser esta parte remetida para outra atenção, levando-se o catálogo.
Mas um Museu deste tipo deve ser apreendido, sobretudo pelos mais jovens, nos pormenores, nas imagens, nas frases, na cronologia (que não deve derramar-se quase ao nível dos pés....)
Este modelo, aplicado na segunda sala do Aljube, deveria ser revisto.

Luís F. Maçarico (texto e fotografias)

Algumas notas sobre o Museu do Aljube. 2 - Os Poetas

Excelente a escolha dos excertos poéticos que pontuam a visita ao Museu do Aljube.
Nomes incontornáveis da nossa cultura e da resistência ao fascismo.
Pertinente a citação de Camões, que continua infelizmente actual.
Parabéns pela escolha.

Luís F. Maçarico (Palavras e fotografias)

Algumas Notas sobre o Museu do Aljube. 1- A parte não museológica (bar e loja)

No último andar do Aljube que funciona como miradouro, uma garrafa de água - de baixo teor alcalino, de meio litro, custa 1,50€. Em Almada, na "Fruprogress", passe a publicidade, compro por 45 cêntimos uma garrafa de litro e meio da água mais alcalina de Portugal, que limpa o ácido no sangue, recomendada para doentes de várias patologias, inclusive cancro. Dizem-me que o bar é concessionado, tipo a culpa não é nossa. A t. shirt branca sendo acessível (cinco euros) provém do trabalho escravo do Bangladesh. A malfadada tira do tamanho e da origem não engana....Como dizia Sophia um dos poetas citados no Museu "Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar."

sexta-feira, julho 29, 2016

Dois Sábados em Pias, Celebrando o Percurso de Mestre Romão Mariano- ferreiro, poeta, músico, cantor, actor












Participei em Pias, durante dois fins de semana - nos dias 16 e 23 (dois sábados à noite), na celebração do percurso de Mestre Romão Moita Mariano, o ferreiro poeta músico cantor actor. O pátio da Junta de Freguesia daquela vila do concelho de Serpa teve sempre, nas duas edições do evento,muitas dezenas de pienses, que durante mais de duas horas escutaram os poemas de Mestre Romão, através do próprio e de convidados como Maria José Balancho, Manuel Balancho, Luís Filipe Maçarico, Maria José Afonso, duas crianças do Ensino Básico local (dia 16) e os Mini Mainantes, mais  a actuação dos Grupos Corais de Pias: Ceifeiras, Camponeses, Mainantes, duas jovens fadistas e dois músicos dos "Cantares do Sul".

Está de parabéns o Executivo da Junta de Freguesia de Pias, pelo apoio a esta ideia, desenvolvida por Madalena Borralho, que assim concretizou um dos vários objectivos do Espaço Museológico Rural, criado há onze meses.

Um Poetódromo assim só vi em Morille em 2015, em que a população daquele  ayuntamiento de Salamanca assistiu à intervenção de poetas espanhóis e portugueses, como Fernando Fitas, João Mendes Rosa, António Salvado (celebrado por poetas presentes) e Suso Sudón.
Nos confins do Alentejo, autarcas e Povo mostraram como se pode Amar Portugal, salvaguardando a memória e a cultura da sua terra.

Luís Filipe Maçarico (texto) Fotos de A.I, LFM e Rui Cambraia (autor daquela imagem onde estou com Mestre Romão Mariano).

sexta-feira, julho 15, 2016

Excerto do Poema de Aboulkacem Chebbi "A Vontade de Viver"

Excerto final do poema de Aboulkacem Chebbi "A Vontade de Viver", escrito em 16-9-1933 (Tradução minha, a partir da versão francesa):

Se a luz está dentro do meu coração e na minha alma
Porque terei medo de caminhar na obscuridade?
Desejaria não ter vindo a este mundo
E jamais ter nadado entre as estrelas
Desejaria que a alvorada nunca tivesse abraçado os meus sonhos
E que a claridade jamais tivesse acariciado os meus olhos
Desejaria não ter deixado de ser quem era
Uma luminosidade livre e espalhada sobre toda a existência

Aboulkacem Chebbi (Poeta Nacional Tunisino, nascido em Tozeur, em 24 de Fevereiro de 1909. Faleceu em Tunis, aos 25 anos, em 9 de Outubro de 1934)

domingo, julho 10, 2016

Cinco Campeãs Portuguesas

São três as campeãs que hoje, quando as atenções só estão viradas para o Futebol, se destacaram, enquanto desportistas (triplo salto de ouro, meia maratona de de ouro e bronze), nos Campeonatos Europeus de Atletismo, em Amesterdão, levando Portugal ao pódio três vezes. Junto-lhes Dulce Félix e a medalha de prata, conquistada no passado dia 6, nos 10 mil metros.
Na minha opinião têm grande mérito, estas atletas de alto gabarito, a cujos nomes junto a Judoca Telma Monteiro que no Gran Prix de Budapeste, se destacou no mês passado, ganhando a medalha de bronze.
Olho para estas Mulheres com a admiração de quem vê nelas o esforço e o espírito desportivo, de quem sabe que as suas modalidades são enteadas, perante o chamado Desporto-Rei
Mas que não desistem e dão lições de perseverança, combatividade e heroísmo a um povo que gosta mais de Pão e Circo e se entretém com fait divers...
Obrigado, Patrícia, Sara, Jessica, Dulce e Telma, por serem - num país onde as mulheres no Desporto passam quase sempre ao lado das notícias de primeira página - Grandes Atletas deste Tempo!

LFM (texto) Fotos recolhidas na Net

Porcos, Ruidosos e Fedorentos


A sonoridade povoa o nosso território, a começar pelos sinos e pelos chocalhos, nos campos, havendo nas urbes outros sons, como o das viaturas nas artérias e dos cães a ganir pelos donos que vão ao café.
Mas o grande tesouro, para além do Mar é escutar o silêncio.
Aqueles seres que podemos inserir dentro da escala humana, como pessoas, deveriam ter respeito pelos outros, se vivem, não numa vivenda mas num prédio de dez vizinhos, que habitam da cave ao 3º andar.
Assim sendo, não deveriam atirar papéis para o chão, nem beatas nos patamares das escadas.
E sobretudo é verdadeiramente grosseiro atirar com portas, a não ser que haja forte corrente de ar, na fracção que ocupam no imóvel.

Quase de minuto a minuto, entre as 15:00 e as 16:00 podemos escutar sucessivamente - perto de sessenta vezes - estuporadas portas a bater com toda a força. Antes fosse do domínio do onírico, esta alusão...
[O estampido dessas portas a bater desalmadamente, durante a madrugada, é quase como disparar um tiro no silêncio da noite.]
Era assim numa residencial da Costa Vicentina que frequentei durante alguns Verões. Pais jovens e crianças malcriadas dedicavam-se com o mesmo afinco ao ruído, berrando nos corredores, como se se tratasse de um novo desporto...impedindo os outros veraneantes de sossegar...

É assim no lugar que sendo real ultrapassa a ficção. É claro que há excepções. Pessoas muito queridas, que me tratam de forma afectiva e que seria injusto não referir enquanto seres humanos, que respeitam os outros e anseiam um futuro mais harmonioso.

Então e mesmo que me digam que fulana é bem formada, não entendo o prazer ou a inconsciência que tem ao provocar o estrondo, nem da ausência de higiene de cicrano(s), que atira(m) pontas de cigarro, não para o chão da(s) sua(s) casa(s) mas no chão da casa de todos, e também não posso concordar com a ressonância emitida por beltrana, que gasta horas a bradar ao telemóvel, ampliando impropérios com voz de bagaço, no eco dum sítio que tudo fazia crer ser propício à meditação.
Isto para não falar do cheiro intenso a urina - não sei se de animal ou de humano - de um território, pelo qual tenho de passar, tentando fechar as narinas para evitar o vómito.
A violência exprime-se em moldes diversos.
Tenho tentado inverter o status: varri o lixo, lavei o chão colectivo com esfregona e desinfectante cheiroso, espalhar bons aromas, fechar com cuidado as portas para não incomodar ninguém...Em vão!

Não venho de um lugar mais tranquilo, é certo. Nem sou um lorde. Mas aprendi e aplico as regras básicas do civismo.
Portugal está cheio de barulho e sujidade. E temos de gramar isto, se o dinheiro não dá para viver noutros espaços, supostamente mais agradáveis.
Esta talvez seja uma das razões porque ainda não me sinto de alma e corpo neste lado do Tejo, como se estivesse apenas emprestado, à espera de um momento melhor.
O meu coração estará sempre em Alcântara, embora a Lisboa de hoje me cause alergia.
Toca a defumar a casa com incenso e a usar lixívia, para desinfectar o ambiente poluído.
Para conseguir respirar a Poesia (possível) no meio do país porco, fedorento e ruidoso.

LFM (Texto e fotografia)

sexta-feira, julho 08, 2016

MIL SADAMS

Quando aconteceu  a invasão do Iraque, combinada entre Bush, Aznar, Blair e Durão, critiquei essa guerra que visava, como se veio a constatar, espoliar recursos, espalhar pobreza, dividir povos, etnias, liquidar a identidade de um território, dirigido por um dos aprendizes de feiticeiro, que os EUA apaparicaram.
Escudado pelo anonimato, um indivíduo com mau carácter, comentou (e a partir daí accionei o mecanismo que me permite não aceitar o insulto) "Maçarico e o seu discreto apoio ao terrorismo"...

Leio agora que um "Inquérito demoliu argumentos de Blair para justificar invasão no Iraque". O "caniche de Bush" porém, ainda argumenta que está convencido que tomou a decisão correcta e que, apesar de todos os erros, o Iraque está melhor sem Sadam".

Leio também na Imprensa que um iraquiano, que ajudou a derrubar a estátua do ditador de Bagdad, tem opinião diversa, mostrando-se arrependido do seu gesto, pois hoje, segundo a criatura, existem mil Sadams...[O Iraque como sabemos, passados treze fatídicos anos e após uma sucessão de "governantes" corruptos,  tornou-se um Inferno na Terra, com atentados diários e consequente morticínio]

Se ainda é vivo o cobarde que me insultou devia ir passar férias a Bagdad, para respirar a "democracia" e "liberdade" implantada pelos "libertadores". Com um pouco de sorte, o seu discreto apoio aos EUA poderia proporcionar-lhe a sensação única de tomar um refresco, literalmente à bomba.

LFM (texto e foto)