"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, novembro 30, 2012

Siliana, De Novo, o Exemplo do Povo Tunisino


Milhares de habitantes da cidade de Siliana, organizaram hoje, 30 de Novembro de 2012, uma marcha pacífica, de rejeição à política repressiva do Governador, apoiado pelo Governo do Partido Islâmico, de Hamadi Jebali. 

Protestos anteriores, por causa da situação económica, foram reprimidos violentamente pela polícia, o que fez alastrar este movimento de insatisfação, levando as pessoas a deixarem os seus lares, partindo, em direcção à capital do país. Eis um vídeo que testemunha o que dizemos, além das duas fotos que também reproduzimos:



A marcha simbólica, em direcção a Tunis, foi decidida por militantes sindicais e políticos, bem como representantes da sociedade civil de Siliana.
Através desta iniciativa, os manifestantes pretenderam transmitir uma mensagem: "Deixemos o governador reinar sobre uma cidade deserta."



O actual Presidente da República da Tunísia, Moncef Marzouki, face aos incidentes dos últimos dias, que causaram feridos graves, dirigiu-se esta noite à nação, demonstrando solidariedade, para com as reivindicações dos habitantes de Siliana, condenando a violência inaceitável. Segundo ele, o governo não esteve à altura das exigências do povo, reprimindo os seus legítimos anseios.
Desde que o ditador Ben Ali foi afastado, a Tunísia tem sofrido constantes convulsões. Um dos mais recentes protestos, aconteceu quando os constituintes, tentaram impôr ditames de inspiração religiosa, considerando  a mulher, não igual ao homem, mas complementar, numa regressão de tudo o que este povo conquistou, com Habib Bourguiba, o primeiro presidente da Tunísia.

A forma como o povo tem reagido é espantosa, em comparação com o sonambulismo de outros.....

Luís Filipe Maçarico (notícia)
Fotografias recolhidas em:

sexta-feira, novembro 23, 2012

O Espólio de Alves Redol - Comunicação num Colóquio da Sociedade de Geografia de Lisboa


Esta tarde, apresentei uma comunicação (a segunda, em quinze dias), acerca de Alves Redol, desta feita na Sociedade de Geografia de Lisboa. O Colóquio chamava-se "A Etnografia na abordagem literária – comentando obras de etnógrafos e referenciando a importância do acervo etnográfico em Bibliotecas e Museus da Península Ibérica” e teve as seguintes intervenções:

15h00 - Abertura pelo Prof. Doutor João Pereira Neto, Secretário Perpétuo da Sociedade de Geografia de Lisboa.

15h10 - Mestre Drª Maria Helena Correia Samouco: “A Etnografia na literatura de viagens - Entre a observação de Wenceslau de Morais e a de Fernão Mendes Pinto”.

15h40 - Prof. Doutora Ana Cristina Martins: “Entre a palavra e a imagem: a etnografia no discurso arqueológico”.
16h10 - Mestre Dr. Luís Maçarico: “Prática etnográfica em Alves Redol: Descobrindo o seu espólio do Museu do Neo - Realismo”.
16h40 - Mestre Dr. José Fernando Reis de Oliveira: “Alguns aspectos do acervo etnográfico do Museu Gonzalez Santana, de Olivença”.
17h10 - Prof. Doutor João Pereira Neto: “De Júlio Dinis (Livros integrados na Crónica da Aldeia) e Camilo Castelo Branco (A Brasileira de Prazins – Senas do Minho) a Paul Theroux (The Lower River) - quase dois séculos de diferença, a mesma preocupação com os detalhes etnográficos”. 

Grato à Senhora Professora Maria Helena Samouco, que me integrou na Secção de Etnografia, há alguns anos e ao Professor  Doutor João Pereira Neto, pelas gentis palavras que dedicou à minha intervenção, considerando o meu trabalho de qualidade e a minha postura de humildade. 
Escutei com muito interesse todas as comunicações, foi um prazer estar entre pessoas, que permitiram a partilha da sabedoria.
Bem hajam!

Na fotografia, da autoria do Professor Andrade Lemos, do Centro Cultural Eça de Queirós, Olivais, estão todos os comunicadores, a saber: Luís Maçarico, Professores Reis de Oliveira, Maria Helena Samouco, Ana Cristina Martins e .João Pereira Neto.


LFM (texto e foto da vitrine) Prof. Andrade Lemos (fotografia do grupo de comunicantes)

sábado, novembro 17, 2012

Geografia dos Afectos: Memória de uma Partilha Afectuososa

Já foi há alguns dias, mais precisamente a 7 do corrente, e o facto de andar muito ocupado, a preparar intervenções, em colóquios diversos (UNL, 8 de Novembro; SGL, 22 de Novembro; Escola Eça de Queirós, 29 de Novembro, as duas primeiras, sobre Alves Redol e a terceira, sobre Santo António), impossibilitou retomar esta conversa, com quem me lê, - este Águas do Sul, - onde se espelham os dias, os sonhos, a nostalgia e até o desencanto.

 
 
                                     
Senti naquela noite que os Amigos estavam lá. Apesar do Benfica. Apesar do frio. Apesar de todas as crises que nos atrofiam, quarenta pessoas deram um "abraço redondo". Aconteceu no "Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes", uma partilha luminosa!

Quando me for possível, transcreverei aqui o que eu disse e o que disseram, a Dra. Margarida Almeida Bastos e o Eng.º João Magalhães Pereira, meus amigos,que apresentaram "Geografia dos Afectos". 

Grato a todos, e particularmente à Colectividade, na pessoa do Presidente da Direcção, Júlio Machado, à Junta de Freguesia dos Prazeres que ofereceu um Porto de Honra e à repórter Paula Silva, que captou, para memória futura estas imagens.

Aqui ficam algumas imagens desse belo momento.

Historinha de Crá Crá Crá

Pelo Natal, tenho celebrado a amizade, com alguns amigos (que me convidam, para passar a consoada com as respectivas famílias), entregando também aos filhos pequenos, lembranças, que julgo serem simpáticas.
 
Em Dezembro de 2011, distingui igualmente, alguém que julgava Amigo, comprando uns pijamas fofinhos, para as suas crianças...

Há dias, e depois de um telefonema insólito, aquando do lançamento de "Geografia dos Afectos", tipo "podia não dizer nada, mas até estou a telefonar, por acaso estou de férias, mas não vou!", decidi devolver os presentes, ainda dentro de embrulhos, com laçarotes, os quais estiveram, todo este tempo, guardados em minha casa, na mesma loja, trocando-os por lençóis polares...



Esta atitude, de manifesta ingratidão e de grande pobreza espiritual, é, a nível humano, um verdadeiro tornado, que estremeceu, mas não abalou os alicerces de um percurso...

Todavia, este não é um caso isolado...
Será que a crise deforma a alma dos indivíduos?

Quanto à pessoa em questão, é óbvio que passou a integrar a lista dos conhecidos. 
É o que faz chegarmos aos sessenta e já não termos tempo a perder, com quem não nos merece...

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)


domingo, novembro 11, 2012

O Arcaísmo Grotesco dos Pouco Polidos e a Modernidade do Visionário Redol

Na passada sexta-feira 9-11-2012, Vasco Pulido Valente, escreveu, a propósito da reeleição do Presidente dos Estados Unidos da América, que "A raça (é bom chamar os bois pelos nomes) determinou [a vitória ]". E exemplificou: "Quem votou em Obama? Trinta por cento dos brancos e uma esmagadora maioria de africanos (96%) de latinos (79%) e de asiáticos".
Vem isto a propósito do Colóquio, que decorreu, entre quarta feira, dia 7 e sábado, dia 10, entre a Universidade Nova e o Museu do Neorealismo, abordando "Alves Redol e as Ciências Sociais".
A Professora Paula Godinho, num dos mais brilhantes momentos do Encontro, referiu que a Noção de Raça, existente no tempo de Redol, segundo o autor de "Glória, uma aldeia no Ribatejo", "Não deve ser usada", preferindo "Talvez grupo étnico". Isto, dez anos antes de Jorge Dias publicar Vilarinho da Furna...
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)


sexta-feira, novembro 09, 2012

O Olhar da Investigação Literária e da História (Etnografias, Etnografismos) no Colóquio "Alves Redol e as Ciências Sociais"

Num dos painéis do Colóquio "Alves Redol e as Ciências Sociais", ocorrido ontem de manhã, o Professor Vítor Viçoso, especialista na investigação da literatura neo-realista, fez uma abordagem à obra do autor de "Avieiros", que seguimos com redobrado interesse, pois versou sobre o etnografismo e o universo ficcional do escritor.

Este investigador escreveu anteriormente que:

“Ao etnografismo estilizado e domesticador do Estado Novo, opunham os neo-realistas um etnografismo da dignificação popular, húmus donde se iriam gerar as suas obras. Por isso Alves Redol precedia a laboração dos seus romances com uma presença junto das comunidades rurais a representar ficcionalmente (…), de molde a captar o seu sociolecto específico, o seu folclore e as suas vivências. Este material recolhido, com bloco de notas e máquina fotográfica, seria posteriormente montado nos seus romances de acordo com a perspectiva criativa e empenhada do autor. Deste modo o eu-etnográfico distanciado transfigurava-se num eu que comungava das vivências populares, pelo que o seu universo romanesco tem uma dimensão coral, numa interacção, no plano da linguagem, entre o sociolecto popular e a sua voz “erudita”. *
 
O painel "Etnografias, Etnografismos", contou igualmente com João Madeira (Acerca do Inquérito em Alves Redol), historiador, que confirmou:


“O seu trabalho é o de um etnógrafo. Descreve instrumentos, artefactos, edifícios, fornos, associa-os ao trabalho concreto, à sua função económica e ao respectivo modo social de uso. Resgata costumes e tradições, atém-se às festas e às crenças; não deixa de fora o vestuário ou o cancioneiro, os bordados ou as danças. 
(…) 
É com o rigor da observação etnográfica que enquadra na trama narrativa toda a fase final do ciclo produtivo do arroz. Regista cuidadosamente expressões colhidas nos campos alagados, esboça objectos, anota as suas funções, cruza-as com as leituras feitas, escreve pequenos textos explicativos de situações, protagonistas, topónimos.” **

Ouvimos igualmente David Santos, director do Museu do Neorelismo, que dissertou cerca de"Etnografismo e Tauromaquia em Alves Redol", salientando a lucidez do intelectual, ao incluir nas suas reflexões, motivadas pelo facto do toureiro José Júlio ser seu primo-irmão, o ponto de vista daqueles que não apreciam touradas...
Este painel foi moderado por Ana Paula Guimarães, exemplar nesse desempenho. 

Antecedendo este painel, o programa incluiu - no dia anterior - comunicações de Luísa Tiago de Oliveira (As Franças de Redol) Inês Fonseca (Guardadores de vacas, de sonhos...e de memórias)

LFM (Notícia e fotos)

* VIÇOSO, Vítor Pena. “Ler Hoje o Neo-Realismo”, http://www.esquerda.net/dossier/ler-hoje-o-neo-realismo 
** MADEIRA, João “Redol, de Vila Franca a Lisboa e de Glória a Gaibéus”, Disponível na www: http://www.esquerda.net/dossier/redol-de-vila-franca-lisboa-e-de-glória-gaibéus



Professor Jorge Crespo no Colóquio "Alves Redol e as Ciências Sociais"

No início dos anos 90 do século passado, frequentei e completei a minha licenciatura em Antropologia, na Universidade Nova/Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, tendo sido brindado com um naipe fabuloso de professores e de cadeiras, que muito enriqueceram a minha formação, pela sábia partilha de conhecimentos, pela bem delineada estrutura do curso.
De Mesquitela Lima, José Anes, José Gabriel Pereira Bastos a Paula Godinho, Yannez Casal e Jorge Crespo, passando por Carlos Jesus, bebi aquelas aulas, com o entusiasmo de ter entrado num mundo novo, e o privilégio de ter tido, como colegas, jovens de muita qualidade, como Cláudia Casimiro, Daniel Rocha e Inês Fonseca, só para citar alguns dos muitos e destacados antropólogos que se formaram na Instituição.
Nos anos do curso, apresentei trabalhos tão diversos, como A Obra de Bual à Luz da Psicanálise, A Lógica na Poesia de Eugénio de Andrade, A Festa das Papas em Póvoa de Atalaia, A Festa do Anjo da Guarda em Alpedrinha, cujos títulos deixam entrever como a observação - participante foi fundamental para aprender no terreno, os rituais, a tradição, o património, os gestos, o saber-fazer, os comportamentos, as atitudes, as mentalidades...

Na passada quarta feira, regressei à "minha escola", para escutar, deliciado, o Professor Crespo, com uma conferência de abertura, introduzindo o Colóquio "Alves Redol e as Ciências Sociais".
O Professor Jorge Crespo, que foi Presidente do Júri, que avaliou a minha dissertação, sobre os "Barbeiros de Alcântara", e arguente na dissertação de Mestrado em "Patrimónios e Identidades" ("O Processo de Construção de um Herói do Imaginário Popular - O Caso do Pugilista Santa Camarão") durante a sua comunicação, contextualizando a época em que o escritor viveu, falou assim do autor de "Gaibéus": 

"Alves Redol convivia de perto com o Saber. Antes de escrever e durante a escrita ia ao terreno. O romance de Redol fazia-se com documentos, como faz o historiador e o antropólogo."

Parabéns à Organização, pela excelência deste evento.

Texto e Fotografia de LFM