"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sábado, janeiro 30, 2010

Contra a Obscuridade


Há cerca de uma semana o jornal "Público" noticiava que o espólio de Eugénio de Andrade fora entregue à Câmara Municipal do Porto.
Como é possível que se entregue a um município os testemunhos da vida de um vulto da nossa cultura, a sua respiração poética, pedaços da sua caminhada, quando sabemos que uma vez armazenados os originais podem degradar-se, perder-se num banho de traças, num mergulho de incúrias...quando deveriam estar salvaguardados e mostrados para escolas, investigadores, admiradores do autor de Branco no Branco.
Não quero acreditar que os "sábios" que dirigiram a Fundação se tenham "esquecido" de fazer chegar a uma entidade abrangente como a Biblioteca Nacional de Portugal.
Ficaremos (os que conheceram o homem e as palavras) todos dependentes das vontades de um qualquer figurão, que futuramente ocupe a cadeira do poder.
É a segunda morte do poeta, que tão cioso era da sua intimidade, tão recatado nos seus sentimentos, tão generoso na partilha com os que estimava.
Eugénio, pela grandeza da sua obra, não merecia a pequenez portuguesa. Será que o Ministério da Cultura não pode fazer nada?

Texto de LFM Foto recolhida na Net

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Saudação Aos Enfermeiros




Se tal como os Professores, a vossa União for uma Força indestrutível, teremos mais um bom exemplo em como não é possível aos que governam fazer tudo, roubando-nos direitos, tão duramente conquistados por gerações que sofreram, para os podermos fruir.
A luta dos Enfermeiros, pelo que acabei de ver na Televisão, atingiu hoje o clímax, com 20.000 profissionais vindos de todo o país, em dezenas de autocarros, nomeadamente desde o Porto, Chaves e Bragança, protestando nas ruas de Lisboa.
Vi também (ontem e hoje) os macios comentários de Suas Excelências, tão diferentes da forma como falavam, quando tinham o papo cheio de maioria absoluta.
Contudo, apesar dos sorrisos, sabemos como as lutas desgastam a imagem dos que decidem a vida de milhões. Pelas injustiças que cometem.
Companheiros: Não se iludam e não parem!
Dedico-vos um poema, escrito há bastante tempo, pois ao saber da vossa indignação que trouxe à capital as cores da vida, respiradas em colectivo, sei que há futuro e que os poemas de Ary ("Isto vai", dizia o grande poeta) são matemática, hão-de bater certo.
Permitam-me que personalize e nomeie na dedicatória o Pedro e a Verónica, dois jovens que dão o melhor de si ajudando os que sofrem:

FOMOS PELAS AVENIDAS

Fomos pelas avenidas
que ainda não cheiram
a pétalas para todos.

Numa só voz de milhares
como crianças despertas
em busca do sol.

Pés bem assentes no chão
e o orgulho dos punhos
conhecedores da poesia
de saber florir o pão.

Luís Filipe Maçarico (artigo e poema) Fotografias recolhidas na Net.

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Poema de Pablo Neruda



"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
Chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
Simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!"

Agradeço à Paula Rodrigues por me ter enviado este poema de Pablo Neruda.. O desenho é de Luís Ferreira e foi digitalizado pela Sónia Frade.

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Indizível


Atravessamos tempos indizíveis, pela sem vergonha, pela falta de palavra, pela injustiça, pela corrupção, pelas malfeitorias, pelas constantes dificuldades, que começam a ser comparados aos anos do estertor do marcelismo. Dir-me-ão os que enfrentaram com risco e sofrimento o regime salazarista: Mas vivemos em Liberdade, temos um sistema pluri-partidário, hipóteses várias que não existiam para a realização de cada indivíduo (acesso a determinados bens, ao estudo, etc...) E dinheiro para pagar isso tudo? Com os salários da maior parte dos que trabalham? E as consequências que se enfrentam, neste momento, se dissermos o que pensamos aos que nos oprimem? Que não ousem questionar-me os que andam de barriga cheia e das pressões que outros sentem pouco sabem...

Exige-se a quem trabalha sacrifícios permanentes, aumento salarial zero, desprotecção na saúde, na educação, no emprego, na velhice...só falta daqui a pouco, por este andar, pedir desculpa à vida por estarmos vivos e pagar imposto por respirar, enquanto os tubarões procuram destruir o sonho, o direito a sermos pessoas livres e satisfeitas, que são muito mais criativas, para além da cela diária que é fossar neste sistema, cujo esperado descanso, após dezenas de anos, se for antecipado será duramente penalizado.

Acabamos de escutar as últimas pérolas e custa a acreditar que cada dia que passa poderemos descer e descer ainda mais, em termos da insegurança e da escravidão.
6% é agora o valor anunciado por cada ano que falte até aos 65 anos, que será cobrado a quem queira reformar-se. Chama-se a isto o quê?
LFM (texto e foto)

terça-feira, janeiro 26, 2010

O Exemplo da Câmara Municipal da Vidigueira


Senhores Autarcas de todo o país!

O exemplo da Vidigueira está escarrapachado na Imprensa de hoje, nomeadamente no "Público":

Os trabalhadores com salário mínimo são aumentados em 82€ e todos aqueles que ocupam cargos de nomeação (vereação e assessores) reduzem em 10% a massa salarial.

É um sinal que a Câmara liderada por Manuel Narra dá, segundo afirmações deste presidente (eleito pela CDU) "ao país, aos outros municípios e ao poder central que a situação que vivemos é grave e que os políticos, primeiros que todos os outros devem dar o exemplo e também apertar o próprio cinto."
LFM

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Inch'Allah




Este fim de semana entreguei mais um trabalho para uma cadeira do Curso que frequento há quinze meses (Arte Islâmica) e o projecto da minha nova tese de Mestrado (se conseguir concretizar, será uma felicidade...)
Em 2005 concluí, com a apresentação da dissertação de Mestrado em Antropologia, no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (Património e Identidade), em torno de um Herói do Imaginário Popular - o pugilista Santa Camarão.
Três anos depois, decidi frequentar um novo Mestrado, desta vez em História, no Campo Arqueológico de Mértola ( Portugal Islâmico e o Mediterrâneo), em parceria com a Universidade do Algarve.
A Mão/Khamsa, - seja a de Islamabad, trazida pela luso-paquistanesa Maria, ou a de Chaouen, que Faissal Lahzar me ofereceu no último Festival Islâmico de Mértola, vai ser objecto de dissecação, para clarificar alguns equívocos, em torno de um símbolo ancestral.
Como o segredo é a alma dos empreendimentos ousados, fico por aqui, acrescentando apenas: Inch'Allah me dê sorte, sempre!

Palavras e imagens de Luís Filipe Maçarico

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Caminhos do Sul

Ando pelo sul, todas as sextas e sábados, há quinze meses. Abençoada hora em que decidi (depois de bem aconselhado) frequentar o Mestrado "Portugal Islâmico e o Mediterrâneo".
Aprendi coisas fabulosas e ousei sonhar de novo. Para mim, sair de Lisboa é sempre um alívio, pois apesar de ter a sua beleza, a cidade tem o germe da opressão, a começar por ser o lugar onde confluem muitas e desvairadas gentes...
O sul é o meu caminho.

A vida é feita de rotinas, pequenos nadas, surpresas, grandes emoções.
A minha tem sido intensa. Seja nas Associações, seja nos Amores, seja na Poesia que recebo de todos esses momentos de partilha.

De quando em vez, as palavras são também de revolta.
Nas Águas do Sul continuo a navegar, lamentando os Haitis deste Mundo e as pessoas, sem coração, que nos varandins dourados do planeta falam com desdém dos que sofrem, vomitam desumanidade com a barriga cheia...
Ontem acordei com a notícia que um cruzeiro de luxo atracou numa zona da ilha para a desbunda dos turistas ricos...como é possível?

À noite, quando cheguei a casa, após um dia de trabalho, a notícia que a minha amiga São tinha sido assaltada na Amadora, empurrada por uma escada, maltratada, esperava-me.

Quando Saramago fala de um Deus cruel, castigador, identifico-me com a sua visão. Apetece, perante tudo o que vejo, oiço e leio, perguntar mais uma vez: Que Mundo é este?

Luís Filipe Maçarico (texto e foto)

sábado, janeiro 16, 2010

Cinco Tesouros de Ouarzazate

As fotos são de Yvette Lejeune, que conheci em Jerba há alguns anos.
Durante uma ida ao sul de Marrocos, Yvette, sabendo do meu interesse por aldrabas e batentes, realizou uma intensa recolha para me presentear.
Hoje, partilho convosco cinco desses tesouros do património mediterrânico, por ela trazidos de Ouarzazate, onde se evidencia o resultado do desempenho de grandes talentos e criatividades, que tendem a desaparecer, neste tempo de tecnologia acelerada, em que escasseiam os artífices e abundam os remendões.
Texto de Luís Filipe Maçarico




quarta-feira, janeiro 13, 2010

Mulheres Mágicas




Um dia destes ela auto-fotografou-se e o

resultado foram estas imagens que

partilho. Para celebrar a Amizade com

todos os meus Amigos e Amigas.

Daqui a uns tempinhos, espero que

breves, com o sol a voltar e a luz da

ternura de novo no seu olhar, iremos

rir muito! Vivam os Amigos!

(e muito particularmente esta Vanda tão especial, Menina Mágica,

que continua a resistir, com uma energia notável!)

Aproveito para enviar igualmente um Xi Coração à não menos discreta Gia, que também

enfrentou uma Tempestade na sua caminhada. Força, Companheiras de Sonho!

Luís Filipe Maçarico (palavras) Vanda Oliveira (imagens)

terça-feira, janeiro 12, 2010

Minudências


Já lá vão uns anos. A Rosa Dias, o Joaquim Avó, a Ana Fonseca e o António Dias quiseram que ficasse registada a sua passagem pela Travessa dos Lagares, em Montemor-o-Novo.
Todos quiseram ver o portão das três aldrabas.
A fotografia fala de um lugar que desapareceu. O portão já não existe - nem os três utensílios, habituados a chamar quem ali morou.
Bastou quem lá residia ter vendido a casa correspondente ao portão, para um muro tapar aquela entrada e as aldrabas terem sido asfixiadas.
Terá havido nova vida para elas? Onde? Num vendedor de velharias? Na Feira da Ladra ou em qualquer feira de coisas deitadas fora?
As Câmaras Municipais não controlam estas situações do pequeno património, que é quase imperceptível...limitando-se a autorizar obras, ou seja, ao não inventariarem os objectos urbanos como as aldrabas e batentes, estão a ser coniventes, por omissão, nos permanentes atentados que se continuam a fazer, em todo o país, a estas marcas seculares, da passagem por este mundo, de artistas populares - os ferreiros. A consciência, quando existe, descansa com um exemplar ou dois num qualquer museu rural, onde jaz numa espécie de sepulcro, o que podia ser museal mas com vida.
Conseguiremos travar esta avalanche? Iremos a tempo? Vale a pena insistir, chamando a atenção, ficando "mal visto" ou sem resposta, por aqueles que têm mais que fazer do que reparar em minudências?
Luís Filipe Maçarico (texto e foto)

domingo, janeiro 10, 2010

Solidariedade e Emoção


Realizou-se hoje no local onde, desde o passado dia 5, dois associativistas se mantinham em greve de fome, um Conselho Nacional extraordinário da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, dirigido pelo professor Barbosa da Costa, presidente da Mesa do Congresso daquela instituição.
Participaram inúmeras colectividades, de Norte a Sul do país, expressando solidariedade e preocupação com os grevistas e com as razões que originaram a sua indignação.
Foi discutida e aprovada por unanimidade uma moção, proposta pela direcção da CPCCRD, através do respectivo presidente, o antropólogo Augusto Flor, que informou os presentes das 7 reuniões realizadas ao longo de 5 horas, na sequência desta acção de protesto, com as forças políticas representadas na Assembleia da República, que se comprometeram a rever a situação, agendando em sede da 8ª Comissão -Educação e Ciência, a implementação da Lei 34/2003, de 22 de Agosto, que apesar da sua aprovação unânime, nunca foi tornada realidade.
Na ocasião foram lidas mensagens de apoio, de associativistas como Aberto Pereira Ramos e da estrutura associativa dos portugueses da Alemanha, entre muitas outras recebidas.
O Conselho Nacional pediu a Carneiro e Vaz que suspendessem a sua greve de fome. Foi com emoção que este acontecimento histórico terminou, com Fernando Vaz, visivelmente comovido, tal como o se companheiro de luta, agradecendo a solidariedade, "quando a luta deixou de ser individual e passou a ser colectiva", acrescentando que "os resultados já obtidos são bastante animadores".
O associativista, ligado à Liga dos Amigos da Mina de S. Domingos, acrescentou em seu nome e no de José Carneiro que "apesar de ter sido uma decisão isolada" a greve de fome consumada pelos dois, ao longo destes dias, fora "muito responsável e convicta".
Esperemos que este exemplo - cujo eco ultrapassou fronteiras - não fique esquecido e dê os resultados almejados.

Reportagem e fotografia de arquivo de Luís Filipe Maçarico

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Fernando Vaz e José Carneiro



No Natal contactei com um amigo, que lamentou vivermos num país de mentalidade retrógrada. Falou em sair daqui, decisão que desde os anos 60 muitos portugueses têm tomado, por não suportarem as difíceis condições de vida material... Tentei dissuadi-lo, pois apesar do conservadorismo evidente, "o mundo pula e avança"... ou, pra citar um poeta que li na minha juventude: "Há sempre alguém que diz não"!

Ontem, um velho alucinado passou por mim e pelos companheiros do Associativismo Popular, em greve de fome, frente à Assembleia da República, gritando que o Governo aumentara os reformados apenas em 3 euros... ou seja, o mal estar chegou aos próprios loucos, que reagem!

O desemprego sobe todos os dias, os bons costumes mascaram a realidade, o país afunda-se, é verdade.
Mas ninguém fala dos que ainda aguentam isto. Dos que trabalham, dos que tiram à família e ao descanso para tornarem os lugares onde vivemos em nichos de maior humanidade. Com trabalho voluntário. Não são capa de revista. Não matam, não roubam, não são corruptos, não fazem notícia nas televisões, nas rádios, nos jornais.
Mas eu digo o nome de dois: Fernando Vaz e José Carneiro. Que continuam a fazer o seu protesto, neste Janeiro gelado. Homens com agá grande.

Texto e foto Luís Filipe Maçarico

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Dirigentes Associativos em Greve de Fome


Fotografia de LFM

"Levanta a fronte, levanta!

Quem ergue a fronte, levanta a voz,
levanta o sonho num facho a arder:
Ele é maior que tu e todos nós
- um mundo por nascer."

Excerto do poema "Coluna" de Luís Veiga Leitão

A notícia que hoje partilho foi enviada pela Direcção da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura; Recreio e Desporto, que começa por se afirmar "surpreendida pela iniciativa de dois dos seus dirigentes - José Carneiro - Presidente do Conselho Fiscal e Fernando Vaz - Membro do Conselho Nacional que, às 18,00 do dia 5 de Janeiro de 2010, iniciaram uma GREVE DE FOME frente à Assembleia da República, ao cimo da Avenida D. Carlos I".

Mais adiante, revela-se que "Estes dois colegas, dirigentes de longa data, exigem do Governo a definição e aplicação da Lei 34/2003 de 22 de Agosto; a resposta à proposta de apoio ao Movimento Associativo 2009/2012; a participação da Confederação no CES - Conselho Económico e Social, no CND - Conselho Nacional do Desporto, no CNPV - Conselho Nacional de Promoção do Voluntariado e exigem da Assembleia da República o agendamento e a discussão das propostas de lei apresentadas pela Confederação às quais, alguns partidos ainda não se dignaram, tão pouco, acusar recepção".

Diz-se ainda naquela informação que tal situação não poderá manter-se por tempo indefinido, carecendo de resposta e medidas imediatas por parte das entidades competentes, "pelo que a Confederação apela que no mais curto espaço de tempo seja recebida e sejam dadas as garantias que o Movimento Associativo Popular, composto por mais de 17.000 Colectividades, 260.000 Dirigentes Voluntários e Benévolos e cerca de três milhões de associados, sejam ouvidas e tidas em conta as suas opiniões e reivindicações".

A finalizar "A Confederação solidariza-se com os seus colegas Dirigentes, responsabiliza as entidades que não correspondam a este apelo desesperado, mas justo e consciente dos nossos colegas e apela a todos os associativistas, a todos os voluntários e estruturas locais, regionais e nacionais que se solidarizem com os nossos colegas, apoiando-os no local e enviando apelos aos Órgãos de Poder político, nomeadamente ao Governo, à Assembleia da República e ao Presidente da República."

Esta notícia foi enviada ontem. A sede da CPCCRD situa-se na Rua da Palma, 248, em Lisboa e podem saber mais em:

www.confederacaodascolectividades.com

www.museudascolectividades.com

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Hedy, Cidadã do Mundo



Na estrada entre Santana de Cambas e Pomarão, como um fantasma na paisagem, o velho posto da Guarda Fiscal em ruína, lembra como a verdade de ontem não tem cabimento hoje...
O contrabando que ontem proporcionava a sobrevivência de muitas famílias, era punido por vigilantes guardas, que cumpriam a lei do governo fascista, matando e prendendo os prevaricadores de então, heróis de hoje...

Esta semana completou-se meio século sobre a fuga do Forte de Peniche, de um grupo de "combatentes da liberdade". Homens que foram fundamentais para o chamado regime democrático, como Álvaro Cunhal, passaram de prisioneiros (como Nelson Mandela e tantos outros) a exemplos de lutadores coerentes por causas que transcendem o quotidiano comezinho...



Vem esta lembrança a propósito da leitura de uma notícia recente, com a judia Hedy Epstein, 85 anos, sobrevivente do Holocausto, protestando contra o bloqueio de Israel a Gaza, fazendo greve de fome.

Um dia, a Palestina será uma realidade, tal como a República Sarahoui, não obstante a enxurrada de mails que recebo conotando todos os árabes com o fanatismo terrorista e incensando as atitudes neonazis dos sionistas.
São exemplos de pessoas como esta, que nos fazem acreditar, no meio do antro de egoísmo em que o Mundo está transformado, que o Amanhã pode ser melhor!

2009 teve um final feliz com esta atitude.
Obrigado, Hedy, cidadã deste planeta onde todos sonhamos com a Paz, uns mais do que os outros...

Luís Filipe Maçarico (texto e foto do posto da GF no concelho de Mértola)

domingo, janeiro 03, 2010

Efabulações e Realidades


Durante anos, na cidade de São João de Deus, na Travessa dos Lagares, número 7, um portão muito antigo exibiu três aldrabas robustas, visitadas pelo tempo. E pelo desprezo.
Falavam de outras épocas e até de outras latitudes...
Reinventavam, ao olhar do viandante, estórias vividas ou lidas, que nos transportavam para exóticas paragens e suas lendas.
No Magrebe, por exemplo, supõe-se que terá havido o costume de usar estes três objectos para comunicar, através de um código, que era percepcionado nas habitações, consoante o som do toque, assim se sabia quem batia onde e quem era... Isto foi-me assegurado pelos guias, em Fez, ou por amigos, em Tozeur...
Há inúmeros blogues a contar essa lenda, mesmo que nunca a tenham escutado - hoje em dia copia-se o que os outros escrevem, - e é assim que alguns artigos surgem em revistas, baseando a sua "pesquisa" em textos de conteúdo romântico...
O que me diverte, é que algumas das historietas, que eu "vendi como comprei", são efabulações, repetidas até à exaustão - que começo a descobrir serem treta, por isso a minha próxima tese de mestrado vai pôr em causa um desses mitos...
Mas eu falava do portão de Montemor-o-Novo.
2009 teve o desmérito de ser o ano em que foi desmantelado este portão, que a foto mostra, e que mãos destruidoras deixaram um muro de silêncio, com uma portinha envergonhada, no lugar onde a imaginação respirava.
2009 foi também ano para vários atentados ao património na Travessa da Trabuqueta, aqui na freguesia dos Prazeres, Lisboa. Nas portas onde existiram entradas de madeira, triunfante, impera uma bebedeira de alumínio castanho, emblema da estupidez ostensiva de um povo ignorante, governado quase sempre por ministros e autarcas, que se estão nas tintas para minudências, mas que também não resolvem os grandes problemas.
2009, tal como 2010, porque nestas coisas não estou optimista, foi mais um ano em que muitas portas de saberes fazer se fecharam para sempre, escancarando-se as da mediocridade, da falta de bom gosto e sem beleza.
Estamos na era da Arte de esmagamento do que é tradicional e tem história.
Num mundo assim, eu não quero viver!
Luís Filipe Maçarico

Regresso à Cidade






Retorno aos sítios da minha infância e a um quotidiano com mais de meio século. Assim começa 2010...
LFM