"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Litoral Português: tragicomédia




Queriam fazer uma ilha frente a esta paisagem, que a pressão imobiliária degradou. Imitação serôdia da grotesca ideia que nasceu nos Emiratos, de fabricar em série ilhas para magnatas...

Nos mouchões do Tejo a erosão fez o seu desgaste e há quem se irrite por ter comprado alguns deles para construir hotéis...lucro, ganância, fossanguice...

Houve bom senso e nem a ilha passou do papel nem os hotéis dos mouchões são viáveis, em termos do equilíbrio ambiental...



O litoral português está em adiantado estado de decomposição. Perigosamente, de Ofir a Espinho, do Furadouro à Costa da Caparica, de Sesimbra a Vale do Lobo, os especuladores têm erguido mastodontes e bairros queques para que uma fauna oriunda das grandes cidades venha pavonear status no varandim com vista para o mar.

A Zambujeira que frequentei com agrado nos anos 80, foi morta, porque o dinheiro compra tudo e tudo destrói.

Face ao despautério do estrondo produzido por bares nocturnos, com seres burbulhentos a urrar e urinar na via pública, tal como sucede em Lisboa, protestei junto de umas velhas locatárias de casas para passar temporadas, fins de semana...

Qual não foi o meu espanto quando as ouvi censurarem a minha postura, acusando-me de ser pouco evoluído, por desejar sossego(atraso, para elas) em vez de agitação (desenvolvimento)...

O litoral português é um território escaqueirado, sem identidade, semelhante a tudo o que existe no mundo em termos de desrespeito da escala humana.

Há uns anos atrás houve um político que irradicou uma parte do barraquedo que prolifera(va) na Fonte da Telha. Quantos actores desta tragicomédia estarão dispostos a desempenhar um novo papel nesta novela, para tentar alterar o final (anunciado) horrível?

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