"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, abril 11, 2006

VI Encontro da Aldraba em Aljustrel - Parte II






A segunda parte do VI Encontro da Aldraba constituiu uma bem conseguida homenagem a Adeodato Barreto, cujo centenário do nascimento se comemora desde Dezembro passado.
Incluiu a inauguração de uma exposição, resultado de 10 meses de pesquisa e reflexão de um grupo de trabalho que se formou logo no dia da fundação da Associação.
A exposição estará patente até ao fim do mês na Biblioteca Municipal de Aljustrel e conta com documentos e objectos cedidos para o efeito pelo Arquivo da Universidade de Coimbra e pela família de Adeodato.
Seguiu-se no auditório municipal, na presença de duas centenas de pessoas, com muitos jovens, uma sessão solene evocativa, com intervenções do presidente da Câmara, José Godinho, do presidente da Junta de freguesia de Aljustrel, do presidente da direcção da Aldraba e de Kalidás Barreto.
Encerraram a sessão um grupo de metais da Sociedade Filarmónica, dirigentes da Aldraba que disseram poemas de Adeodato e os grupos de cante do MDM e do Sindicato dos Mineiros.
Aqui fica um excerto da intervenção do presidente da direcção da Aldraba:

"Há muito que na tinta feliz das palavras partilhadas esta ideia foi alastrando, até ser confluência de esforços para celebrar a caminhada de um homem singular, que influenciou gerações, atravessando, com a marca da eternidade este território de branduras ardentes e sonhos teimosos.

Adeodato Barreto gostava do vocábulo Tertúlia. Adeodato praticava a palavra Fraternidade. Adeodato era Homem de Palavra. Honrado Mestre da Liberdade saboreada, mau grado as sombras, as ameaças, os riscos.

Adeodato viveu intensamente os seus dias. Dias irrepetíveis de profunda aplicação escolar, de exaltante produção filosófica e poética, esgrimindo pensamentos, e de um incansável labor, enquanto notário e artista, homem livre e cidadão interventivo.

Adeodato apreciava a existência à escala humana, mas também de transcender o quotidiano.

Semeador de jornais, pedagogo, esperantista, solidário, sonhador da harmonia na diversidade, Adeodato desafiou o “status” dos acomodados, dos medíocres, que em todas as épocas tentam travar o progresso.

A sua exemplar passagem, decorridos cem anos, tem sido e continuará a ser alimento espiritual dos que reconhecem grandeza, génio e humanismo nos seus escritos, nas suas posturas.

A Aldraba - Associação do Espaço e Património Popular associou-se a este ciclo de evocações, apresentando no início do Verão passado uma proposta à Comissão de Toponímia de Lisboa.

No passado mês de Novembro estivemos presentes na Casa de Goa, aquando da bela homenagem que ali foi prestada, na presença do saudoso Orlando Costa.

Assinalámos o dia do nascimento, com ilustres convidados, em 5 de Dezembro na Casa do Alentejo, num jantar-convívio.

Oito dias depois, nas solenidades que a nível nacional sublinharam a importância deste vulto da cultura luso-indiana, quisemos participar em Coimbra, ao lado da família, e hoje, em Aljustrel, terra muito especial tão ligada à memória de Adeodato Barreto, este trabalho atinge o seu auge com o fôlego do estímulo de gente fraterna.

Vamos fazer um ano no próximo dia 25 de Abril.
A Aldraba persegue o exemplo de homens como Adeodato Barreto. Trabalhamos sem alardes nem embustes. (...)

VIVA ADEODATO BARRETO!

VIVA A CULTURA!

(fotografias e textos de LFM)



segunda-feira, abril 10, 2006

VI Encontro da Aldraba em Aljustrel - Parte I














A Aldraba - Associação do Espaço e Património Popular no espaço de um mês realizou dois encontros que envolveram dezenas de associados e amigos, uma no passado mês de Março em Coruche e no passado sábado dia 8 um agradável percurso pelo património da Messejana e de Aljustrel.
Começámos por admirar um belo templo rural: Nossa Senhora da Assunção (fotografias 1 a 3).Depois, as ruínas de um convento fundado no tempo de D. Sebastião (fotos 4 e 5).E finalmente, a igerja matriz de Messejana, juntando-se ao grupo Kalidás Barreto e esposa e a dra Ludovina Capelo da Universidade de Coimbra e marido(fotografia 6).
Após uma visita a um museu etnográfico popular, cujas autoras posaram na reconstituição da mercearia (fotos 7 e 8), almoçámos no restaurante "Bangula", onde se almoçaram iguarias bem cozinhadas de chorar por mais, acompanhadas por vinho de truz (fotografias 9 e 10).
Passeou-se ainda em Messejana, para de seguida visitar o Museu Municipal de Aljustrel, culminando a primeira parte do Encontro no novo polo museológico dos Compressores dos Algares, onde o associado José Soares (fotografia 11), que viajou com a família para este evento desde Bruxelas, evocou a vida dos trabalhadores locais, enquanto seu irmão João Soares disse poemas de sua autoria sobre a mina e os mineiros (fotografias 12 e 13).
Incansável no acompanhamento da iniciativa, também ele associado da Aldraba, o presidente da Junta de Freguesia de Aljustrel, engenheiro Francisco Palma Colaço, foi de um companheirismo que se saúda, com muita alegria. A ele se deve uma grande parte do êxito da iniciativa.
Bem Hajas amigo por tudo - que é tanto - o que fazes de bom em prol do teu povo!
(fotos e texto de LFM)


quinta-feira, abril 06, 2006

Chebika: A montanha, o Oásis e o Silêncio














Não são necessárias muitas palavras para falar do que as imagens documentam de forma satisfatória. A Tunísia apresenta esta magia constante. Propícia à Poesia, à comunhão com a Natureza, à reflexão sobre as formiguinhas estúpidas que teimamos em ser, perante a majestosidade de certos lugares.
Como é bom escutar o silêncio em tais paragens, apenas invadido pela água da cascata e pelos pássaros felizes que cantam sem cansaço.
Ouçamos o guia contar que em 1968, no mesmo ano em que por cá houve enxurradas com muitos mortos, choveu 3 dias e 3 noites sem parar, destruíndo a aldeia antiga, cujas ruínas visitaremos, subindo por ruas de terra e paredes de barro, até ao dorso de um "dragão", descendo a seguir até às frescas nascentes de Chebika, onde a vida renasce.
Quem me dera ainda lá estar!...
(texto e fotos de LFM)

terça-feira, abril 04, 2006

A Ilha de Lótus e Calipso










Cheguei ao fim da tarde de ontem, com algum cansaço, mas com a cabeça melhor.
Como Ulisses também me senti preso ao esplendor que Jerba guarda. Tem 29 por 28 km a ilha mágica. Diz-se que as sereias apareceram por aqui no tempo mítico. Supõe-se que os antepassados dos actuais habitantes viviam do lótus.
Penso que estas primeiras imagens partilham a beleza que diariamente bebi.
Na primeira, depois da faina, os barcos "descansam", atracados no cais.
Na segunda e sétima fotografias registei dois momentos do souk libia, um mercado tipo feira de Carcavelos e do Relógio, onde se vende de tudo, das cenouras e nabos à cuequinha ninja, passando pelas especiarias...
Segue-se um vendedor de peixe no mercado de peixe, legumes, chá de menta e harissa, um tempero picante de pimentos vermelhos secos e amassados, misturados com sal e azeite.
Na quarta, quinta e oitava imagens a praça com esplanadas de Houmt-Souk, a capital da ilha, onde em Junho de há dois anos, durante o Euro 2004, os tunisinos torciam pela equipa portuguesa, vendo os jogos numa tela gigante. Esta praça fotografada de noite e de dia, lembra-me sempre Capri e já foi mais bela quando uma buganvília majestosa a coroava. Mas ainda tem uma intensidade humana que merece paragem e olhar atento, sem pressa.
A sexta foto é do "meu" hotel, à noite. A nona é do mesmo edifício de dia. Este espaço terá sido um caravansail, onde segundo reza a lenda as caravanas do deserto paravam, para repousar, ficando cavalos e condutores no rés-do-chão e cavaleiros no primeiro andar.

No entanto, muita coisa tem acontecido, e nem sempre de bom. Os últimos paraísos estão condenados a um progresso estúpido que rebenta com tudo. Como as dunas por exemplo. Está na moda as motas de 4 rodas andarem por todo o lado e devassarem a harmonia, passando quase por cima dos pés de quem está à beira-mar fora das coutadas turísticas. Além de amassarem e transformarem a orla marítima para pior.
Não me parece que gente farta de stress queira ir para um sítio onde o silêncio pode ser quebrado de repente pelas máquinas ameaçadoras que como um bando de abutres se impõem.
No lugar da vegetação selvagem e de praias quase secretas nasceram cerca de 20 km de hotéis uns em cima dos outros, o excesso. Há 16 anos quando ali estive pela primeira vez Jerba era ainda um reduto da vida campesina. Agora as terras vão sendo abandonadas. Em vez dos menzel-habitações tradicionais- assistimos à proliferação das casas tipo maison, dos emigrantes, que também têm azulejos de casa de banho, como em certos sítios da ocidental praia lusitana.
Uma via rápida surgiu onde os rebanhos de cabras pastavam e só os que gostam de ver o pôr do sol entre palmeiras se aventuravam a andar por aquelas veredas.
Há ainda os amigos, o colorido, a algazarra dos dias de mercado, bairros adormecidos, coisas ainda imperturbáveis e incontáveis, que só quem lá for disposto a conhecer poderá perceber.
A minha Jerba é outra, que já existiu. Talvez eu persiga aquele que fui nessa Jerba. Ou Calipso. Ou Ulisses. Ou as sereias. Ou...
(fotos e texto de LFM)

quinta-feira, março 16, 2006

Exílio


Nunca precisei tanto de respirar, no sentido físico e metafórico. Levarei comigo um caderno como este para o meu exílio na ilha de Djerba. Volto daqui a uns tempos...
(foto de Sónia Frade) Posted by Picasa

sábado, março 11, 2006

A ALDRABA EM CORUCHE










No próximo dia 19 (domingo) a Aldraba - Associação do Espaço e Património Popular realiza o seu primeiro Encontro de 2006 no belo concelho ribatejano de Coruche.

Programa
:
  • 10 h - Encontro dos participantes junto à Igreja de Nossa Senhora do Castelo, de onde se avista toda a vila e vale do Sorraia;
  • 11 h - Visita ao Museu Municipal;
  • Tempo livre para visitar o centro antigo da Vila: a Igreja da Misericórdia estará aberta por forma a permitir a nossa visita;
  • 12.30 h - Partida para Santana do Mato com visita à igreja, situada perto da localidade e onde em tempos se realizava o cerimonial da bênção do gado;
  • 13 h - Almoço no restaurante Fonte Pau, também em Santana do Mato, com menu regional;
  • 15.30 h - No Centro Social, apresentação e exibição de um rancho folclórico, usando os mais diversos tipos de traje usados na região, acompanhada das explicações de um dos idosos da terra, versado no assunto. O Engº Téc. Agrário Joaquim Serrão -vereador da Câmara Municipal de Coruche - falará da produção de cortiça no concelho e o sr. Heraldo Bento abordará a pesca no Sorraia.
Mais informações no blogue da ALDRABA

Legendas das Fotografias (da autoria de LFM)
UM - João Costa Pereira fundador da rádio Sorraia, presidente do Clube Ornitológico de Coruche, colaborador de jornais locais, autor do blogue http://barbosebordalos.blogspot.com
João é um homem fraterno, sereno e de grande sabedoria. Foi um prazer partilhar com ele uma tarde de sol pela magia da sua terra, a par da delícia de um almoço na Fonte de Pau, bem comido e regado com vinho e queijo especiais.
Há muito que este convívio era desejado, tendo surgido hoje a oportunidade para o conhecer e escutar. A impressão não podia ser melhor. Há pessoas que nos deixam com a alma cheia de luz.
DOIS - A companhia da Margarida Alves, vice-presidente da direcção da Aldraba foi sete estrelas. José Prista e ela têm estado a organizar o Encontro de dia 19, com a preciosa colaboração de João Costa Pereira e das Juntas de Freguesia de Coruche e Santana do Mato.
TRÊS - Quiosque no Parque do Sorraia, perto da Praça de Touros.
QUATRO - Fonte histórica.
CINCO - Painel de azulejos (séc. XVI?) na Igreja da Erra.
SEIS - Guida fotografa aldraba numa porta da Erra.
SETE - Provável morábito na Igreja de Santana do Mato.
OITO - Interior do átrio da Igreja de Santana do Mato.
NOVE - Aspecto do Sorraia em Coruche (vista da Senhora do Castelo)