Em 1996 associei-me ao GDEC pela mão de dois dirigentes de referência (Jorge Rua de Carvalho e Jorge Neves), que ao longo de décadas deram grande parte da sua vida ao convívio fraterno, ao Teatro que sempre foi um dos grandes valores desta colectividade e ao voluntariado que os fez gerir, integrando vários corpos sociais, os destinos colectivos.Associações como esta, fundada por pessoas que desejavam criar uma escola para os filhos dos mais necessitados, daí o nome “Escolar”, que o Grupo também “Dramático” ostenta, combatendo então o analfabetismo e o alcoolismo que seriam abundantes em 1906, têm um mérito que o tempo não apaga, enquanto a memória identitária persistir.
Para muitos habitantes do bairro actuais e ex dirigentes, associados de longa data, este espaço de tantas actividades foi e será sempre considerado a “Segunda Casa”.
Com os dois referidos veteranos e mais um punhado de jovens participei em “O Teatro Segue Dentro de Momentos”, onde se reviviam quadros de revistas antigas, alguns cantados, incluindo uma parte do texto de minha autoria.
Nos “Combatentes” organizei e participei em várias Noites de Música e Poesia, apresentei diversos livros de Poemas e Contos, meus, mas também de Paula Silva e Fernando Duarte, com largas e participativas assistências e um estudo sobre Associativismo, com dirigentes da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, recentemente distinguida pelo Presidente da República.
A par disso, coordenei, enquanto representante da CPCCRD, com a Professora Doutora Maria João Brilhante e o Professor Doutor Carlos Patrício, o Relatório de estágio da licenciatura em Artes do Espectáculo “Reconhecimento do lugar social das Colectividades Recreativas na área metropolitana de Lisboa”, apresentado em Julho de 2006 na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo a estudante acompanhado na segunda fase do estágio curricular o Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes” (páginas 17-48). O trabalho incluiu um questionário, que consta nos anexos, onde a autora incluiu fotografias dos diversos lugares da sede e até do Campo de Jogos.
Um artista plástico meu amigo - Rodrigo Dias - concebeu e implantou um painel de azulejos, que integra a sala de jogos, enriquecendo o edifício com uma obra de arte.
Não exagero ao testemunhar que centenas de pessoas frequentaram a sede do GDEC.
Entre elas, a Liga dos Amigos de Alpedrinha e o Grupo Etnográfico “Amigos do Alentejo” do Clube Recreativo do Feijó, foram alguns dos muitos participantes colectivos em inesquecíveis momentos de actividade cultural que a colectividade proporcionou aos seus associados, amigos e vizinhos. Relembro um dos prestigiados associados, cuja presença nessas sessões era constante, até porque morava perto - o poeta Fernando Pinto Ribeiro. Ocorrem-me em épocas recentes nomes como Elsa de Noronha, Teresa Bispo e Álvaro Faria, enquanto declamadores.
As frequentes Noites de Fado e as Revistas à Portuguesa integraram muitas noites de puro entretenimento, onde se revelaram nomes que hoje são conhecidos do grande público e está ainda na minha mente as presenças das saudosas Mariema e Ada de Castro.
Na área desportiva, a ginástica para idosos, a par do Taekwondo, marcaram os decénios contemporâneos, havendo um glorioso historial de inúmeras modalidades, patente nos recortes, fotografias, taças e outras provas materiais guardadas no importante museu associativo.
Maria Clara, cujo filho Dr. Júlio Machado Vaz proferiu uma extraordinária comunicação, aquando de uma deslocação a Lisboa, Aida Baptista, Arthur Duarte, Tony de Matos, Sidónio Muralha e mais recentemente Flávio Gil (jovem autor, actor, encenador, poeta e até ex presidente da direcção) são alguns dos nomes da Cultura Portuguesa, que cintilam no extraordinário quadro de honra da Colectividade.
A importância de uma associação centenária como esta não se esgota nestas palavras.
Os diversos depoimentos de outros associados permitirão enriquecer o conhecimento acerca de uma caminhada fantástica, em prol do bem - estar da Comunidade de pertença.
Ao longo dos anos, diversas publicações (jornais, boletins, menções na imprensa) espelharam os êxitos constantes. Muitas gerações foram bafejadas pela felicidade de conhecerem e interagirem com vizinhos, casamentos foram proporcionados, grandes amizades nasceram e permaneceram.
Seria injusto esquecer nesta breve resenha o enorme prazer dos arraiais, que no caso dos “Combatentes”, graças a uma parceria com os “Inválidos do Comércio” remetem para uma vivência das festas de aldeia, graças ao território onde se desenrolam os festejos.
Na cidade dos bairros antigos, que em Junho apresenta um tentador cartaz de celebrações genuínas, tornando Lisboa mais humana e para o qual contribuem decisivamente os infatigáveis voluntários que incarnam o espírito da festa, o GDEC destaca-se pela qualidade do ambiente, dos petiscos e dos grupos que vão animando musicalmente as noites.
Que cidade seria Lisboa se estas colectividades desaparecessem e estas pessoas fossem impedidas de continuar a sua obra?
Talvez não seja despropositado recordar o que escreveu Norberto Araújo e Amália Rodrigues cantou com música de Raúl Ferrão:
“Enquanto os bairros cantarem/ Enquanto houver arraiais/ Enquanto houver Santo António/ Lisboa não morre mais”.