"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, junho 29, 2011

O regresso de Vanda














Esta manhã, a Dona Irene e eu recebemos a nossa querida Vandinha, finalmente regressada do longo "exílio". Com muita alegria!
Sinto-me muito vaidoso, por a ter de volta, por sermos amigos e por saber que é uma resistente.
É uma boa notícia, ampliada com a ternura dos colegas, que aplaudiram a sua vinda, e, emocionados, ouviram-na dizer que, ao longo deste ano e meio de ausência, sempre que passava por fases mais difíceis, transportava consigo um caderninho, oferecido e assinado pelos companheiros de trabalho, que ansiavam este momento. Vanda assegurou que, é por este afecto, sentido ao longo do tempo - e neste recomeço, que vale a pena estar viva!
O carinho dos colegas foi tal, que na sala, como no bolo (sem açúcar) de boas vindas, os adorados morcegos lá estavam, saudando a Vandinha.
O teu exemplo, menina de ouro, é para todos nós estímulo, para vencermos os obstáculos quotidianos e sorrirmos em cada manhã para a luz que renasce. Porque tu és Luz!

Luís Filipe Maçarico (com a energia de todas e todos os que saudaram e vivenciaram o regresso de Vanda) - texto e fotos,

segunda-feira, junho 27, 2011

Festejar é Resistir






Junho cumpriu-se uma vez mais, celebrando Santo António a 13, São João a 24 e dia 29, será evocado São Pedro.
Este ano, como referi em artigo anterior, estive nas Marchas. Também acompanhei a procissão de Santo António, pelas ruas das freguesias da Sé, São Miguel, Santo Estevão, São Vicente e Santiago. O objectivo é elaborar um relatório, na sequência de um honroso convite, para o estudo do imaginário popular em torno do Santo.
No meu bairro festejaram-se os santos de Junho, em arraiais promovidos pelas colectividades (Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes" e Clube Desportivo Cova da Moura).
Como sempre, foram espaços de belo convívio, entusiástica degustação de petiscos e estimulante partilha bairrista, que nenhuma troika pode usurpar. A alegria, a vontade de viver, dificilmente desaparecem das vidas daqueles que acreditam no futuro. O mundo não há-de ser sempre esta descida aos Infernos, que a Grécia está a provar. Por isso, festejar é resistir! Resistir à corrupção, à injustiça, ao saque, à tentativa de eliminar direitos, custosamente conquistados, ao longo de várias gerações...
Daqui para a frente é resistir - com energia redobrada - aos ladrões de sonhos, uma vez mais.
Para o ano, se cá estivermos, hão-de sentir-nos, bem vivos, para fazermos - a todos os intrusos - um grande manguito!
Texto e fotografias de Luís Filipe Maçarico

domingo, junho 19, 2011

Calçada Portuguesa: Quando Privatizar é Matar Uma Tradição Emblemática










A bela calçada, produzida por operários qualificados, quase desapareceu das ruas de Lisboa.

Acabou-se com a Escola de Calceteiros, uma entidade que tinha grande qualificação, ao ponto dos bons artífices terem reproduzido a sua marca no Rio de Janeiro e Macau.

Emergiram empresas, com gente desqualificada e incompetente, que sabendo mamar do erário público, não possuem a capacidade dos mestres de antanho, para requalificar os passeios.

Nas mãos destes torcionários, os passeios ficam perigosos, desajustados, quais crateras calcetadas, originando uma procissão de pés torcidos (eu já torci ao longo destes anos, várias vezes, os meus desgraçados pés, na Rua Prior do Crato, ainda agora ando com dores no esquerdo), que se sabe ter acontecido, pelo contacto diário das conversas de café e de mercearia de bairro, mas não chega aos autarcas, porque os portugueses não praticam a cultura da opinião, do comentário e da crítica, assumidos
, talvez por terem no ADN a marca secular da Inquisição e da PIDE.
Que o diga a minha vizinha Zaida, que partiu o pé e andou de muletas mais de um ano e teve de ser operada!

Segundo alguns "visionários", a solução seria acabar com a calçada, deixando uns vestígios apenas. Raios os partam por tanta maldade que nos têm feito!
Haja quem restaure a Escola de Calceteiros e honre uma tradição que, se for bem feita, vale a pena, pois é marca identitária de um património emblemático, que nos orgulha, pela beleza e técnica singulares. Com eles, a pedra transforma-se em obra de arte e os pés viajam em segurança. Que voltem, pois, esses fazedores de harmonia!

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias- recolhidas em Lisboa - Rampa das Necessidades, Praça da Armada (Prazeres), Graça, Boa - Hora e São Pedro de Alcântara)

sábado, junho 18, 2011

VIVA O QUÊ???


Quando o espaço aéreo é interrompido, para se realizar o patético baptizado do filho de Cristiano Ronaldo, quando um monopólio interdita, - com a conivência das autoridades -a principal avenida da capital, a fim de fazer propaganda pseudo - benevolente e patrioteira, com a rebuscada argumentação da suposta importância agrícola deste caixote de lixo disfarçado de país, junto da populaça alumbrada, quando futuros juízes copiam em escala elefantisíaca um teste americano, e ao invés de chumbar, parece que hão-se ficar aptos para julgar outros aldrabões, quando começa a ser usual assaltar à bomba caixas multibanco, quando se subsidiam vacas, ao mesmo tempo que se retiram abonos de família, quando se canalizou imenso dinheiro do erário público, para amparar o banco dos corruptos, quando o primeiro ministro cessante, que reduziu salários, reformas, subsídios de desemprego, impondo taxas e impostos, aumentando medicamentos e bens vitais, facilitando despedimentos, se retira, dizendo que quer ser feliz e o primeiro que se segue, diz que irá mais longe, que a própria Troika, concluo estar lúcido e felizmente inapto, para sentir mais que zero desse folclore patrioteirista, que Scolari, enquanto mamava à tripa forra, semeou na fértil terra do carneirismo luso.

Não se amofinem pois aqueles que, ao acordar um dia destes, se revelaram nacionalistas, após um recalcamento de três décadas, descobrindo as delícias de beijar, - repetindo o gesto do defunto papa polaco, - o torrão natal, como se fosse a primeira maçã do Paraíso, entoando, qual oração, palavras grandiloquentes, de fervoroso amor pátrio.

Têm todo o direito de seguir por esse caminho, tal como os que aplaudem os trapaceiros do futebol, votam em vendedores da banha-da-cobra, delambem-se com couratos e musicatas ordinarotas, numa qualquer feira rasca e chunga, ou os que saíram de casa, para apreciar a Mega Farmville de Belmiro, na Avenida da Liberdade, alegando grande interesse em assistir ao espectáculo dum regorgitador de canções, sempre iguais, de dor de corno...

Mais facilmente se vai a estas coisas, do que ao teatro, ou a uma exposição de pintura...

É a coltura, pois então! A tal, que não precisa de ministério, porque está habituada ao cheiro do curral e da capoeira. E que, mentecapta e ressabiada, puxa da pistola, à primeira crítica, incapaz de digerir o próprio azedume.

Não se esqueçam pois os incautos, quando gritarem a inflamada adoração a Portugal, que o Portugal concreto está nas mãos dessa gente, que vive à grande e à francesa, impedindo os vossos filhos de serem felizes, os vossos pais e avós, de terem uma velhice digna, rasteirando -vos a passada segura...
O resto é ficção, História, passado. O presente é um poço de água envenenada e o futuro, um filme de terror ao vivo, em que os vampirizados somos nós.

Quem deseja viver neste espaço, numa dimensão verdadeiramente humana, sabe que isto só lá vai com o fim dos empórios dos chulos, que cá dentro e em todo o mundo, põem e dispõem no equilíbrio das nossas vidas.
Da forma como o jardim, à beira mar espezinhado, se encontra, será bom sublinhar que não é país que se grame, muito menos que se ame!...
E não me parece que melhore, apesar do júbilo de Medina Carreira, lídimo representante de uma elite que abocanha quem trabalha, com tubarónico desprezo.
Esta é a ditosa pátria, que já foi de Camões, em sucessivos refluxos de babugem...

VIVA O QUÊ???

Luís Filipe Maçarico (texto e foto)

sexta-feira, junho 17, 2011

Marchas Populares na Noite de Santo António - 2ª Parte


São Vicente.

Alfama.

Bica.

Alcântara.

Belém.

Santa Engrácia.

Castelo.

Beato.

Graça.

Bela Flôr.

Alto do Pina.

A marcha do Alto do Pina foi aquela que o Júri considerou merecer a melhor classificação.
A de Alfama marchou, com apuro e simpatia, tendo a da Bica - como sempre - feito a sua exibição descalça, contando-se até, que no tempo em que as marchas iam ao Pavilhão Carlos Lopes os rivais espalhavam pioneses pelo chão...
O Santo António, em nichos ou tronos, surgiu várias vezes, ao longo do desfile.
De salientar ainda, os padrinhos - vedetas da TV, da Canção e do Teatro, que espalharam charme. E não poderei deixar de referir a presença na marcha de S. Vicente, de Sofia, uma jovem, que começou, em criança, nestas lides, pela marcha infantil da "Voz" e da qual hoje é um dos responsáveis. Sofia ficou de tal modo tocada por esta experiência, que continua a marchar, agora na marcha organizada pela Academia Leais Amigos.
Como é visível, nestas fotografias, a publicidade invadiu o espaço. Ainda por cima, prefiro Sagres - preta, - que a dos anúncios não me sabe tão bem...
Gostei bastante de assistir ao vivo, pois sempre tinha visto este desfile pela TV e recordo até um ano, em que segui a reportagem radiofónica a cargo da saudosa locutora Esmeralda Serrano, na Antena 1, que colocou muita vivacidade nesse seu directo fora do estúdio.
O meu pé esquerdo e a coluna é que não apreciaram, pois estive grande parte daquela noite sempre em pé.
Obrigado Ana Isabel, Clara e Luís pela companhia!

Fotos e palavras de Luís Filipe Maçarico

Marchas Populares na Noite de Santo António - 1ª Parte


Marvila.

Bairro Alto.

Carnide.

Mouraria.

Olivais.

Penha de França.

Madragoa.

Campolide.

António Costa com Rosa Mota.

Marcha dos Mercados.

Marcha Infantil da Voz do Operário.

No passado dia 12 à noite, tive o ensejo de, pela primeira vez, assistir ao desfile das marchas de Lisboa, na Avenida da Liberdade.
Como é costume, desde meados da década de 80, as crianças da Voz do Operário apresentaram-se, extra-concurso, logo a seguir a um grupo marroquino convidado que iniciou o desfile, aberto por um conjunto de cantores que interpretou um tema alusivo aos festejos.
Depois da marcha dos mercados, os vinte bairros concorrentes exibiram os seus trunfos, disputando um prémio que tem sido conseguido por um ensaiador de referência, ao ponto do próprio, quando comparado a Mourinho, corrigiu: "Ele é que é o Mendonça do futebol! Eu já cá ando há mais tempo!"
Fui fotógrafo (e antropólogo de serviço, para um estudo sobre o imaginário popular, em torno de Santo António) e ao aceder à tenda que fornecia alimentos à bancada presidencial, constatei que os vips se amontoavam para deglutir croquetes e imperiais.
O colorido do guarda-roupa dos marchantes, o jogo das danças e dos efeitos visuais, a exuberância dos arcos e o fervor das claques, tornaram aquela noite num carrocel de alegria bairrista, onde o Fado foi o tema central.
Entre as 21 e as 3 da manhã, Lisboa foi uma vez mais o palco de uma tradição inventada, que dura há 79 anos, com algumas interrupções e ou variações, mas sempre com Santo António, a cidade e os seus habitantes como protagonistas.
Este imenso musical, digno dos palcos da famosa Brodway ou da actividade cinematográfica de Hollywood, ficará na memória, por tudo o que demonstrou: celebração, interacção, cultura, espectáculo.

Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)

segunda-feira, junho 13, 2011

Festa da Cereja em Alcongosta










O melhor da cultura popular mostrou-se em Alcongosta, terra de cesteiros, onde o mais jovem dos artífices tem 60 anos.
A Festa da Cereja foi o grande pretexto.
O precioso fruto, acabado de sair dos pomares inundou ruas e adoçou bocas, porta sim, porta sim.
Ele havia compotas e geleias de cereja, licor e espetadas com mel, onde aquele fruto era rei.
Nos restaurantes do Fundão, em simultâneo, aconteceu um festival gastronómico, em torno desse purificador do sangue, que os diabéticos podem comer, mitigadamente.
E bolos e queijos. E pastelinhos com gosto aos cozinhados das avós.
E bombos e muita cultura popular -sabores e saberes de um povo sábio. Música e comeres de sonho.
E houve lojas antigas, em Alcongosta, tascas e mercearias, que reabriram durante 4 dias de festa.
O melhor do país são estes saberes e estas gentes, que inventam caminhos para o futuro, a partir da tradição. Assim a sua voz possa começar a ter mais força...
Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)

domingo, junho 12, 2011

Melancolia de um Pássaro


Ontem, ao regressar de Alpedrinha, perguntei à vizinha que ficava com o Kiko nas minhas ausências, se o Júnior estava bem e a mulher, com aflição, pôs-me ao corrente da situação: a rola turca bébé recusara-se a comer, nos dois dias que ficou na casa dela.
Pedi-lhe que trouxesse de imediato o animal e, qual não foi o nosso espanto, quando o retirámos da gaiola, onde estava, abriu as asas e começou a rodopiar, biquinho aberto, pedindo o seu Cerelac (pão molhado)...
Se não visse, não acreditava.
Há quem defenda que os pássaros, são amigos de qualquer um, que lhes encha o papo. Será?
O Júnior será a excepção que confirma a regra, ou a estória está mal contada?
Responda quem perceba mais de aves que eu...
Texto e foto: Luís Filipe Maçarico

Encontro de Poetas 2011 em Alpedrinha: Salvé, Maravilha!













































A Né Ladeiras depois de ver estas imagens e ler este post certamente que me desculpará por ir buscar à sua obra este "Salvé, Maravilha!"
É que na sexta feira passada, em Alpedrinha, aconteceu de novo POESIA!
Desta vez, porém, os adultos da assistência e os convidados que estavam na mesa, ombrearam com uma miudagem muito atenta, que também partilhou versos de sua autoria, como foi o caso da Beatriz, ou de Augusto Gil e Luísa Ducla Soares.

Este ano, José Manuel Gema e Teresa Bispo, vieram de Lisboa, trazendo os seus poemas, Marília Hilário, a actual presidente da direcção da Liga dos Amigos de Alpedrinha leu quadras de dois "anónimos", Laurinha (Laura Freire), como é conhecida entre os alpetrinienses, apresentou trabalhos de grande sensibilidade e Paula Lisboa completou este grupo, dizendo Eugénio de Andrade, entre outros, com a dicção certa e a ternura, que os poemas pediam.

Na assistência, além dos meninos, alunos da escola de música da Liga dos Amigos de Alpedrinha, desafiados a fazer o seu poema ou a escolher um texto de um poeta, disseram também versos, entre outros, Alice Peixeiro, Maria Odete, Pilar e António Ribeiro.
José Alberto Franco terminou a sessão poética, dizendo um poema de Aboulkacem Chebbi, poeta nacional tunisino.

A transição dia-noite fez-se com caldo verde, bom vinho, entremeada, morcela e outras iguarias de truz, como uns pasteis de queijo (estes da anfitriã Manuela Castro, que com o marido, voltaram a proporcionar que esta festa decorresse no seu jardim).
Carlos Ventura (em representação da Junta de Freguesia de Alpedrinha), Manuela Castro e Marília Hilário, disseram poemas de Paula Cristina Lucas da Silva e, de entre os pequeninos, houve um menino que fez questão de ler/soletrar uns versinhos que, pelo interesse da criança, fizeram vibrar a assistência, tal como o outro mais crescido que a dada altura se esqueceu de umas estrofes da Balada da Neve, comentando "ai que já não me lembro daquela parte"...

Tenho a certeza que esta iniciativa ficou marcada no coração das crianças, foi um momento de simpático convívio, no quotidiano das pessoas de Alpedrinha, elevando a Liga ao destacado lugar de espaço de cultura e encontro, em torno do património popular, que estes eventos potenciam.

A feliz ideia da direcção da Liga, integralmente feminina, em estimular a apetência pela poesia, por parte dos seus jovens alunos de música, merece os parabéns de todos, pela beleza, harmonia e graciosidade, que pautaram esta sessão, consumada com muito trabalho voluntário destas valentes mulheres, compensado pelo êxito evidente nos olhos brilhantes de grandes e pequenos...

Texto e fotografias: Luís Filipe Maçarico