"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, outubro 24, 2010

Concretizado um Sonho Mágico!






Abílio Duarte pôde viver um grande momento da sua existência, realizando um sonho tão mágico como o lançamento do seu primeiro livro, após setenta anos de caminhada.
Mais de cem amigos rodearam-no nesta tarde de domingo, sobrelotando a Tasca do Careca, onde decorreu o evento.
José Manuel Osório, Augusto Flor e Luís Maçarico apresentaram o cidadão, o autor e o fadista.
Seis fadistas, entre eles a filha Sara Reis e Lino Manuel cantaram versos de Mestre Abílio, que também interpretou, à viola e à guitarra, um poema seu.
Entre a assistência, os deputados da Assembleia Municipal de Lisboa, engenheiros José Alberto Franco, presidente da Aldraba, Associação do Espaço e Património Popular e João Magalhães Pereira, presidente da Junta de Freguesia de Prazeres, seguiram as diversas fases do evento com visível interesse.
Foram ditas palavras muito luminosas, e de tal modo a energia boa do momento foi envolvente, que à despedida Abílio avisou-me, com um sorriso de satisfação, apesar do cansaço, que vai querer fazer um segundo livro.
Entretanto, o Presidente do Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes", Júlio Machado convidou poeta-fadista a apresentar "Marés da Minha Vida" naquela colectividade.
Foi bom partilhar este dia com um ser humano tão solidário e criativo, rodeado de gente boa.

Texto:Luís Filipe Maçarico; Fotografias: Ana Isabel Carvalho

Lançamento de "Marés da Minha Vida", de Abílio Duarte, hoje às 17h na Tasca do Careca


É lançado hoje, pelas 17 h, na Tasca do Careca, o livro de Abílio Duarte "Marés da Minha Vida", com design de Marta Barata.

Partilho convosco o prefácio que escrevi, para esse conjunto de poemas, seleccionados por mim e pela minha amiga e colega antropóloga Ana Isabel Carvalho:

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ELEMENTOS PARA UMA BIOGRAFIA DE ABÍLIO DUARTE -FADISTA, POETA E MAREANTE

Fui um Saltimbanco

Abílio Duarte nasceu em 28 de Novembro de 1937, na freguesia das Mercês, em Lisboa. O pai, natural de Setúbal “foi pescador e descarregador de peixe” e a mãe, originária da Madragoa, “vendia peixe”. “Em miúdo, conta este filho do mar, cheguei a estar aqui na Ribeira; apanhava baldes de água para lavar as tecas do peixe.” Criado entre a Bica, Madragoa, o Casal Ventoso e Chelas velho, Abílio Duarte é neto de um algarvio, pescador dos galeões (avô paterno) e de um serralheiro do Arsenal (avô materno).

Reformado da marinha mercante e tendo sido serralheiro de precisão de moldes para plástico e de cunhos e cortantes, Abílio assegura, com ironia: “O Salazar ensinou-me a ser comunista!”[1] Acerca do seu percurso profissional afirma: “Fui um saltimbanco, sempre entendi que trabalhar numa mesma casa era atrofiante.” Tendo viajado por todo o Mundo várias vezes, recorda: “América quase toda, uma parte do Brasil, uma parte de África, Ásia…Japão, a Itália toda e a Turquia. Só não fui à União Soviética!”

Abílio Duarte começou a escrever para fados, a partir de um episódio estimulante: “Em 1959, quando fui trabalhar para a Marinha Grande (estava ligado ao fado e trabalhava) foi quando acabei a tropa…queria casar e fui para a Marinha Grande…comecei a sentir a saudade do Fado, foi quando fiz a homenagem ao Alfredo Marceneiro. Tive a felicidade de cantar versos, em dueto, com o Alfredo Marceneiro na casa da Maria Teresa de Noronha, em Cascais. Era casado com a Julieta Reis[2]. Comecei a cantar, a primeira sextilha, que é dum fado do Marceneiro - “Natal do Prisioneiro” - quando canto a segunda, manda-me calar, improvisa o elogio que lhe estava a fazer, cantamos a seguir os dois. Foi dos momentos mais lindos, foi ter a felicidade de fazer um improviso com o Alfredo Marceneiro! A partir daí comecei a fazer algumas quadras (o marítimo é um homem sozinho).”

Das leituras dos diversos escritores que o enriqueceram, salienta António Aleixo, Carlos Conde, Ary dos Santos, Cesário Verde, Álvaro de Campos. “Fui apanhando bocadinhos aqui e acolá. O jornal “A Bola”, quando era trissemanário, à quinta-feira trazia um manancial de formação, feito por rapaziada de esquerda. O “Diário Popular”, ao sábado trazia cultura!...”

Escutámo-lo, longamente, desfiando um rosário de sombras. Com pudor, recolhemos os dados primordiais para esboçar o retrato. E quisemos saber como foi o tempo de ser criança: “A minha infância…pronto! Eu estava perto dos oito anos quando morreu a minha mãe. O meu pai tirou-me à minha mãe e fiquei a viver com a minha avó aqui na Baixa. Porrada foi mato e cara esfregada no colchão.

Estava a comer sopa de massa[3], o meu pai chamou-me: “Olha, a tua mãe morreu, a tua avó vai-te levar, quando lá chegares abraça a tua mãe.”[4]

As memórias doem, têm um sabor amargo: “Juventude, não tive! Não tinha relógio, cheguei sempre cedo ao trabalho. Levava a lancheira para o trabalho, dormia num vão de escada, na Calçada Salvador Correia de Sá, no nº 19, com a minha avó materna…”

Eu Não me Abstraía

Não obstante o fadista afirmar que a sua escrita não está sujeita a espartilhos formais, descortinámos a presença do jogo metafórico e encontrámos termos de origem mais erudita, que fazem evidenciar a puerilidade dos seus versos.

Sem sermos exaustivos, registámos, entre outros, os seguintes vocábulos que aparecem nos poemas de Abílio Duarte: “convénios, mausoléu, arquitectar, retórica, paralelo, autonomia, mareei, eclipsei-me, órbita, épico, boreal, translação, rotação, espoletas, belicismo, rubra, pertinaz, floração.”

A introdução destas palavras, numa parte substancial, ligadas às Ciências, denota uma panóplia de conhecimentos práticos, enquanto profissional da marinha mercante, certamente complementados com uma razoável cultura livresca, que sempre o impeliu a procurar saber mais.

Com um estilo próprio, misto de singeleza e sapiência, a poesia deste homem do povo, que encontrou as agruras da vida no alto mar, durante longas ausências da terra madrasta, reflecte como num espelho, algumas contrariedades.

O falecimento prematuro da mãe, a rudeza do pai, a pobreza em que viviam os desfavorecidos da sorte, esse contexto de dificuldades sobrepostas e sucessivas, marcou o seu percurso de ser humano e o despojamento de uma escrita, onde morte e desencanto espreitam.

Todavia, e teimosamente, no seu horizonte poético surge um jardim de sonhos, abordado com termos mais luminosos.

A Revolução de Abril, esperança dos deserdados, assume nos versos de Abílio Duarte o papel de paraíso, bálsamo, farol.

Depois da grande errância, o prazer de ter cantado pelo país, com Ary, Tordo e José Viana, artistas solidários, que ansiavam como ele um futuro mais fraterno, marcou uma fase exaltante da sua trajectória.

Abílio considera que “A vida nas oficinas, com os colegas serralheiros, que é a vanguarda da classe operária, foi essa vivência que me ensinou. Eu não me abstraía, eu agarrava tudo. E a vida do Bairro Alto também me ensinou. Casei com vinte e dois anos e ensinei a mulher, que tinha vinte e quatro, a pôr uma fralda, pela experiência que tive no Bairro Alto.”[5]

“A vida obrigou-me a ir para a luta”, confirma.

Abílio chegou aos setenta anos com a dignidade e candura dos sábios.

Associativista, ex-presidente da mesa da Assembleia Geral do Grupo Excursionista “Vai Tú”, da Bica e participativo, nas noites de fado das colectividades e da “Tasca do Careca”, continua a vender peixe ao lado da sua terceira mulher, no mercado de Campo de Ourique.

O sorriso, talvez o tenha trazido de longe, das mil andanças, e como os pescadores de pérolas, deslindando tesouros no fundo do oceano, assim desanuvia rosto e gestos…

Quando canta, cerra os olhos e a voz, rouca, desenha pegadas sofridas, ou celebra patuscadas bem regadas.

O quotidiano de um mareante tem altos e baixos, como as ondas do Mar. A vida de um poeta não é menos contrastante…

Os seus versos essenciais e profundos alojam o ferrete de diversas etapas da caminhada, adversas. E um ou outro instante de júbilo.

Por vontade de Mestre Abílio passam a ser património de todos. A sua fruição em livro é a melhor homenagem que podemos fazer a este homem - acompanhando-o nos passos que a existência lhe impôs.

Libertemo-lo do peso de um destino áspero, pois o afecto pode ser lenitivo, atiçando sílabas de contentamento.

Bem hajas, Poeta, pelo teu exemplo partilhado, por esta vontade de soltar a alma, que te fez transcender as amarras que apertam o barco ao cais, o marinheiro ao fadário e o sonho à ousadia de voar.

Lisboa, 14-1-2008, entre as 2 e as 3 da madrugada

17-1-2008, entre as 19h e as 19h e 55m

25-1-2008, entre as 12h e as 18h

Luís Filipe Maçarico

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[1] “O Salazar a mandar sobras para a Alemanha e a Espanha e a minha mãe morreu com 28 anos tuberculosa e os irmãos dela morreram com tuberculose” (depoimento em 9 de Agosto de 2007).

[2] Primeira mulher.

[3] “E a última refeição com a minha mãe foi massa guisada com carne…”

[4] Depoimento em 10 de Agosto de 2007.

[5] Ibidem.

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Fotografia de São Duarte, a quem agradeço, em nome dos Amigos de Abílio, o grande companheirismo, que tornou possível a concretização deste belo sonho que é "Marés da Minha Vida". Ou, como Álvaro Cunhal me escreveu em Novembro de 1995: "vale a pena sonhar, vale a pena ser poeta!"

sábado, outubro 23, 2010

A DESCOBERTA DE UM POEMA MEU NA ANTOLOGIA "NA LIBERDADE"


Um destes dias, quando fazia uma pesquisa na Internet descobri esta Antologia, organizada por Jorge Velhote, Nicolau Saião e Nuno Rebocho. Fiquei feliz por descobrir que lá dentro - página 183 - havia um poema meu, que hoje partilho no "Águas", e a companhia, entre muitos outros, de Albano Martins, Amadeu Baptista, Ana Hartely, António Ramos Rosa, António Salvado, Casimiro de Brito, Ernesto Melo e Castro, Eugénio de Andrade, João Rui de Sousa, Joaquim Pessoa, José do Carmo Francisco, José Fanha, José Luís Peixoto, José Jorge Letria, Manuel Alegre, Maria Teresa Horta, Mário Cesariny, Orlando Neves, Ruy Ventura, Sophia de Mello Breyner Andresen e Vasco Graça Moura, além dos coordenadores, num total de 131 autores.
A edição é da Garça Editores, de Peso da Régua, que assim se associou aos 30 anos do 25 de Abril. "Na Liberdade" foi publicado em 2004. E agora, o poema seleccionado por Velhote, Saião e Rebocho (aos quais agradeço a menção):

EU TINHA UM PAÍS

Eu tinha um país
- talvez a ficção de um país
(e não este país de ficção)
que me levava a atravessar as noites
iluminado pela esperança
dum dia tudo poder ser diferente

eu tinha um amor
- talvez o sonho de amar e ser amado
(e não este vazio disfarçado)
que me levava a viajar dentro das horas
iluminado pela alegria
de cada manhã nascer sempre diferente

mas afinal não tinha nada:
Só eu me possuía!
e uma tarde, olhando em redor
esvaído o rasto duma euforia
deparou-se-me o país estranho:
Só eu me possuía
nesse país que julgava ter
onde inventara o amor que não havia!

LUÍS FILIPE MAÇARICO, in "Na Liberdade", Antologia Poética (Coordenação de Jorge Velhote, Nicolau Saião e Nuno Rebocho), Garça Editores, Régua, 2004, pág. 183.

domingo, outubro 17, 2010

O CISNE SUBMERSO



Foi lançado ontem, num hotel de Lisboa, o livro póstumo de Fernando Pinto Ribeiro "O Cisne Submerso", uma obra cuja edição alguns amigos do poeta, como Julião Bernardes e J. Leitão Baptista, organizaram, para eternizar este vigoroso e sensível testemunho de um homem, que deixou um rasto luminoso neste mundo desconcertante.
Ler os seus poemas, partilhar do seu universo mágico, eis o desafio, que vivamente aconselhamos a quem desejar conhecer esta voz singular da poesia portuguesa.

Há um ano atrás, no boletim do Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes", publicámos uma sentida homenagem ao poeta, que se transcreve, celebrando mais este momento de respiração para as suas palavras:

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FERNANDO PINTO RIBEIRO: COMBATENTE DA LUZ MAIS FORTE

Guardo religiosamente um dossier com palavras. Palavras da vida real de um vate.
Partilha-se, com a suavidade que caracterizava o homem, uma pequena parte dessas palavras inéditas, contadas ao longo de várias sessões, em que nos foi revelando passagens do seu percurso como ser humano e artista..
Durante algumas semanas, Fernando Pinto Ribeiro ganhou nova energia, enquanto revivia memórias dos seus passos.
E foi assim que o saudoso poeta que muitos fadistas cantaram, nos falou:

"Apenas tenho tido o gosto de fazer o que faço, faço para mim, dá-me muita volúpia. Sou preguiçoso, não sou pessoa de grande cultura livresca. Por isso emendo-me, emendo-me, emendo-me. Comprazo-me a recriar. Quando procuro fazer bem feito, envaideço-me" (16-1-2008)

"Eu em criança, recordo-me, muito novinho, comecei a fazer versos. Nas águas furtadas que era a parte mais romântica da minha casa, que era a parte mais romântica da minha casa. Telha vã, onde havia o pote das azeitonas, a salgadeira, os queijos da serra, onde havia a um canto a cama das criadas, que vinham lá de longe...
E escrevia-os então, achei que era ao mesmo tempo tão hermético, sigiloso, misterioso, que não desse a conhecer a ninguém e ia meter nessas telhas vãs...achava que aquilo se devia esconder como os pássaros têm o ovo no ninho."
(16-1-2008)

"Aceitei sempre os perigos, mandaram-me sempre prá frente. Hoje, percebo, tiveram medo, encolheram-se. O meu problema é de conflito de identidade. Como defesa nunca gostei de chamar a atenção sobre mim, escondia-me (...) Precisei sempre do excesso, como costumo dizer, com esta carinha de sonso, sem dar nas vistas. Duplicidade à procura de mim próprio."(30-1-2008).

"Eu nasci na Guarda. Num largo onde se faziam as grandes feiras, onde se vendia tudo: ovelhas, vacas, os saltimbancos, os cegos que cantavam as grandes desgraças todos os sábados.
Em criança sonhava com aquilo tudo. As portas estavam abertas e comecei a assistir àquelas sessões, a rodopiar na poeira, a ver ranchos de ceifadeiras..." (6-2-2008)

"Minha mãe foi criada na abastança na viragem da monarquia. E os meus tios perdulários, ébrios, espatifaram todo o património. O meu pai era filho do farmacêutico de Celorico da Beira, natural de Viseu. A minha mãe ficou a braços com a educação dos filhos (4). Abriu uma casa de pasto, mas foi sempre enganada, ingénua, sempre roubada pela criadagem." (6-2-2008)

"Encontrei os maiores inimigos nos professores primários da Guarda. Fui martirizado, professores ferozes (...) E havia um...Este não só tinha a palmatória, como punha as mãos cá atrás, com ferocidade...chegava a bater com cavacos da cozinha - pimba pimba!!! - esse fulano nunca ensinou nada de nada. Eu safei-me, vou contar um milagre: lia em casa, tinha uma memória espantosa, decorava tudo, mas assim que o via tremia, ficava inibido e ele vai e pergunta: "Integrantes", e eu a gaguejar..."que, se"...safei-me!!!" (6-2-2008)

O depoimento de Fernando Pinto Ribeiro, acerca de uma existência, rica em encontros e desencontros, continua guardado, à espera de uma ocasião, em que a Junta de Freguesia onde ele residia há muito tempo, tenha possibilidade de o editar, com uma selecção de poemas.
Faz falta um livro dele, plural, pois este beirão com coração de lisboeta foi espalhando por jornais, revistas e antologias os seus versos, de sabor erudito e na boca de muitos fadistas e cançonetistas, queixumes e folias da alma, que o povo trauteou.
Obrigado, companheiro Fernando, combatente da luz mais forte - Liberdade.

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O livro chegou, como disse, graças a amigos que tiraram o poeta do limbo em que estava. Renascidos, os versos que integram "O Cisne Submerso" aguardam que novos leitores o conheçam. Fernando Pinto Ribeiro, um nome que fica na Literatura e na Música Ligeira de Portugal.
A edição tem a chancela da Edium Editores.
Esperemos que seja possível compartir estas outras palavras, que o poeta nos trouxe, com a poesia do encontro e a esperança no ser humano, quando decidiu reunir com alguns amigos na Junta de Freguesia dos Prazeres, embalando o seu sonho de espalhar vocábulos elegantes e secretos, como só ele sabia escrever e dizer.

Luís Filipe Maçarico

sexta-feira, outubro 15, 2010

Um Poema de Maria José Lascas


"Meu Amor partiste - um improviso"

Meu Amor partiste... eu sei
sempre partiste para longe, eu sei
e não há escudo que te guarde
nem euro nem barca nem vela que te traga
pois se nem notícia veio d' El-Rei...

a mesa está vazia, não há pão não há vinho
sem filhos não há leite
os velhos esquecidos nem comem
e não há pachorra que os oiça
a dizer que é a miséria de outrora que volta

como a mesa a cama está vazia
sem dinheiro os prazeres são pecado
e só as saudades ficaram
daqui te mando palavras do meu amor
que por ora ainda não paga imposto
Meu Amor partiste, eu sei
e agora até o totobola dá pouco
só se for o TGV que te traga
- se é por ele que a gente se mata...

Maria José Lascas
Fotografia: LFM

quarta-feira, outubro 13, 2010

Comunicação Social: Pilar da Actual Ditadura


Nos últimos dias, a Comunicação Social manipulou, como se vivêssemos em ditadura (e será que não vivemos?) as informações que nos chegavam de França.
Em vez de explicarem que os Franceses tinham aderido, em massa, às manifestações contra o Governo e avançavam para a Greve Geral, porque se opunham ao facto de Sarkozy ter decidido que a idade mínima (com penalizações) para os trabalhadores obterem a reforma passava a ser 62 (em vez dos anteriores 60) e que sem penalizações só poderia ser aos 67 anos (em vez dos 65).
O que se transmitiu foi - e sem explicação - esta mensagem: os franceses não aceitam que a reforma passe dos 60 para os 62.
Ou seja, os pasquins dos patrões do Capitalismo desenfreado, fizeram o seu melhor, ocultando a verdade, para evitar que os trabalhadores europeus pudessem demonstrar solidariedade pelos franceses, dado que a maioria só se pode reformar aos 65...
E ainda dizem que vivemos em Democracia!
Texto e foto de Luís Filipe Maçarico

segunda-feira, outubro 11, 2010

Santiago López - Petit: O Cidadão não é Livre


O meu Amigo Alfredo Flores enviou-me esta entrevista de Santiago López-Petit, tão oportuna, face ao mundo assustador de hoje.
Sugiro que cliquem em cima da imagem e reflictam sobre a análise deste filósofo, que nos impele a reagir.
LFM

domingo, outubro 10, 2010

Colectividades de Lisboa: Sobrevivendo à Crise







A Comunidade atravessa um período muito complexo e já cansa escutar sempre o negativismo que prolifera, dos que já não conseguem ver nada positivo.

Ao longo do último mês, participei em algumas festas de aniversário de colectividades de Lisboa, constatando que, apesar da Crise, as instituições com equipas coesas resistem às dificuldades.

Quando as direcções produzem eventos e actividades, que revertem a favor da associação, onde gerações aprenderam a viver em colectivo ou até aprenderam a ler e os associados se unem, na defesa de um trabalho, secular, o futuro pode não ser incerto...

Aqui fica um abraço a todos os associativistas, que continuam a conduzir estes espaços, honrando os ideais dos seus fundadores, prosseguindo no seu devir de humanizar a cidade.

Luís Filipe Maçarico (fotos e texto)
José Manuel Lopes (primeira foto)

terça-feira, outubro 05, 2010

POEMA DE AGRADECIMENTO À CORJA


Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado
pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.

Joaquim Pessoa

No Centenário da República, Sofremos o Poder Ditatorial da União Europeia






No dia em que passam 100 anos sobre a revolução republicana, destaco, lamentando que depois de 48 anos de fascismo se atravessem novos momentos ditatoriais, agora em nome de uma Democracia que despreza os cidadãos, algumas passagens do artigo de uma jornalista, sem papas na língua, que corajosmente põe em causa o estado a que isto chegou:

"Convencionou-se, entre os que dominam a opinião publicada e o comentário político, que as posições da esquerda portuguesa (...) não são para serem tidas em conta na grelha de análise.
São, assim, raríssimos os comentadores e analistas que fogem ao tom concordante de que o caminho político a seguir é o do modelo sócio-económico de influência ideológica neoliberal, que elege como objectivo o lucro e os interesses dos que dominam o mercado e que deixa para trás e sacrifica o interesse comum, pessoas e o seu bem-estar. Resta saber até quando a subserviência ao poder vai dominar os meios de comunicação social em cujas redacções velhas e novas gerações de jornalistas estão mais preocupados com o interesse em manter o emprego do que no que deve ser o interesse público - a crise e o medo do desemprego assusta todos.
(...)São medidas determinadas pelo poder na União Europeia (...) um poder que há já mais de três décadas se tem fortalecido e levado a cabo uma duríssima batalha contra os direitos dos cidadãos e dos trabalhadores (...)que age como se (...) a História fosse uma ficção, a Europa social uma anedota e as pessoas bonecos de palha."

Excertos do Artigo de São José Almeida, "Onde pára o PS?", publicado no "Público", no passado sábado 2 Outubro de 2010.

sexta-feira, outubro 01, 2010

Homenagem aos Imbecis e Invejosos


Os imbecis e invejosos que se nivelam sempre por baixo e há muito desejavam que a função pública fosse penalizada, estúpidos como são, nunca perceberam que a seguir seriam eles.

Por isso, quando hoje li num matutino que o "Governo abre a porta aos privados para congelarem salários" não pude deixar de pensar: Oxalá também lhes roubem, como aos funcionários públicos, 5% dos salários, a ver se aprendem a ser solidários e a nivelar-se por cima.

Luís Filipe Maçarico

FESTEJAR ESTA REPÚBLICA QUE NOS VAMPIRIZA, NÃO!!!



Festejar o centenário da República, promovido por aqueles que se dizem republicanos e nos estão a roubar sonhos e salários, para ainda lhes dar mais força para fazerem pior (porque depois servem-se disso para dizer que afinal até têm apoio popular) NÃO! NÃO! NÃO NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO!
Não contem comigo!
D. Carlos, ao pé desta escumalha que nos vampiriza, merecia estar vivo!
Luís Filipe Maçarico