"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, agosto 11, 2009

SÁTÃO - VISEU: TERRA ENCANTADORA E TRANQUILA: (BREVES IMPRESSÕES DE VIAGEM)










Chega-se a Sátão, por uma estrada bordejada pela água e arvoredo que, entre Coimbra e Viseu embala o coração, com preciosas jóias naturais de imensa beleza.

Súbito, no silêncio da tarde, o chilreado das aves que procuram copas e beirais, a magia da luz melosa lambendo o granito, mesmo que haja vento e as paisagens de Abril não queiram deixar estas ruas...

É Primavera, todavia.

Por momentos, o sol cai a pique no jardim onde os velhos tagarelam, de olhar perdido e alguns pares de namorados, ávidos de beijos e segredos, descobrem a sensualidade.

Em cada passo, encontram-se pétalas, um rosto, uma história.

Saboreia-se a gastronomia, o falar terroso dos que vivem aqui e a memória identitária.

Dirijo-me à Biblioteca, aos largos com respiração antiga e admiro o barroco das fachadas dos palácios e a graciosidade da arquitectura popular, onde os vasos floridos sublinham a proximidade serrana.

Sento-me num banco, escuto o sino da igreja nova, descanso a alma olhando em volta: casas com cenário de montanhas em fundo.

Tranquilidade absoluta, prometendo a suavidade dos lugares eleitos.

O olhar percorre o rasto de fachadas ancestrais, onde a ruína espreita.

Alguém lamenta espaços modernos que destoam. Salvaguardar é preciso.

Concentro-me numa aldraba, em pormenores, no nome antigo, escrito com dois tês e um éme e gravado em azulejo de edifício decadente com uma janela esventrada cercada de silvas e heras, elegantes varandas de ferro forjado, cantarias majestosas, onde a pedra imita a filigrana...

No século dezanove, um frade descobriu que este nome (Sattam) teria origem árabe e significaria entupimento, atulhar...

Vim até estas paragens atraído por vários brilhos.

A curiosidade toponímica, a lembrança de Aquilino que incluía esta vila nas "terras do Demo", onde faunos e lobos aguardam a melhor hora para se revelarem, o património histórico, o bom vinho do Dão, a hospitalidade, comidas caseiras, talvez sonhos de paraíso e um silêncio que os poetas perseguem para guardar nos seus cadernos de encanto e mágoa. Estrelas de espanto na noite fria.

Arqueólogo amigo mencionou espólio notável.

Informante adoradora das pequenas grandes preciosidades, que só podem ser desvendadas caminhando entre aldeias, mencionou templos, santos, recantos plenos de interesse.

E o manto de astros derramou-se, limitando o tempo da estadia, necessariamente breve, pois a interioridade para quem não conduz, pesa.

Antecipei o regresso, e foi com melancolia que cheguei a Lisboa, o olhar e a alma lavados de tanto verde e da vontade de voltar um dia com mais tempo.


8-5-2009

Luís Filipe Maçarico

(Antropólogo; Poeta. Autor também das fotografias)

1 comentário:

mariabesuga disse...

Temos este país bonito a que nem sempre fazemos justiça. Há tanta injustiça a contrariar esse lado emocional da relação com o espaço que somos...

O teu relato de viagem faz justiça aos lugares que te cativam. Assim enches de memórias o caderno dos encantos que o de mágoas... só se da nostalgis das saudades dos lugares...

Gosto destes teus escritos relatando a essência dos lugares passando pelos teus sentidos.

Jingã
Belmi