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"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"
segunda-feira, agosto 31, 2009
Guardarei Sempre os Instantes
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domingo, agosto 30, 2009
A Marca dos Abutres
Foi com tristeza que um dia destes passei ali e vi a ruína. Ladrões do património aproveitando o abandono em que o espaço se encontra, desferiram mais um golpe e tentaram arrancar utensílios criados para anunciar visitas.
O anúncio que esta gente faz é o da morte do património.
Não basta lamentar. Quem nos governa, seja no país, seja nas Câmaras, deveria legislar e actuar contra estes abutres.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)
sexta-feira, agosto 28, 2009
ADMIRÁVEL ALKATIRI
"A questão da segurança foi resolvida, porque a violência de 2006 veio, porque havia pessoas que tinham pressa de chegar ao poder e provocaram violência... e quem está agora na oposição não quer a violência."
Luís Filipe Maçarico
quinta-feira, agosto 27, 2009
Félix Ramos e o Foro Por la Memoria de Huelva
São gente revolucionária a valer, imparáveis. Daqueles que agem.
Em Espanha ainda há ruas com nomes ligados ao doloroso passado, imposto pelos vencedores do conflito fraticida dos anos 30.
Conheci estes amigos, quando do lançamento do livro "Memórias do Contrabando em Santana de Cambas" e na ocasião apercebi-me da importância da sua luta, do seu empenho e da justeza da sua causa.
Há mais de 70 anos atrás os nossos vizinhos ibéricos viviam o inferno de uma Guerra Civil, da qual o ditador Franco foi o vencedor.
Muitos Republicanos, Comunistas e Revolucionários, foram fuzilados e os corpos atirados a valas comuns. Tal como no Chile dos anos 70...
Félix Toscano Ramos, com outros jovens universitários, generosos, fundou este movimento de resgate, pela dignidade, - que tem enfrentado poderosos obstáculos.
Há anos que resistem, para retirar da toponímia espanhola nomes fascistas, desenterrando as ossadas dos mortos anónimos, com a ajuda de netos e outros familiares desses heróis desconhecidos, que sonhavam uma terra sem exploradores e opressão.
Numa altura da minha vida, em que me sentia despedaçado, por uma maldade terrível, que me tinham feito, dei comigo numa sala de El Almendro (perto da fronteira portuguesa, frente a Mértola), com lágrimas nos olhos, vendo um filme que mostrava as operações (com uma equipa multidisciplinar, integrando arqueólogos, antropólogos e demais cientistas) de exumação, seguidas do funeral, com a Comunidade, reabilitando a memória daqueles que não tinham tido direito a um enterro.
Entretanto, estiveram em Portugal, homenageando aqueles que ajudaram o povo espanhol como João Carrasco em Santana de Cambas e mulheres rurais como Catarina Eufémia, tombada pelas balas de Salazar, em Baleizão.
Saúdo estes combatentes da Liberdade e da Verdade Histórica, espalhados por todo o território espanhol, unidos numa federação de fóruns, que obrigaram as autoridades (Zapatero teve um avô fuzilado pelos franquistas porque pensava diferente) a tomar medidas, perante tão aguerrida atitude, tão consequente acção.
Companheiros! Força! Vocês são um exemplo, para aqueles que em Portugal também lutam por um Mundo mais humano.
Quem quiser aprofundar, pode pesquisar em:
Texto: Luís Filipe Maçarico; Fotos: Foro por la Memoria de Huelva e LFM
quarta-feira, agosto 26, 2009
AGOSTO, MAIS AO MENOS...
segunda-feira, agosto 24, 2009
Mais Dois Poemas Para Longe
COMO O JASMIM...
Preciso desses lábios
como o jasmim da terra para florir
sou semente de fogo
quero ficar colado
à tua boca e às ancas de argila quente
braços agarrados na explosão
do sexo, estremecendo de gozo
labareda de sonho
entre as pernas de luz.
18-1-2009/24-8-2009
SENSUAL
Trocamos o verbo
da luxúria, na carícia
das horas inventadas.
Saboreamos a ternura
de um encontro sensual.
Digo o teu nome
sílaba a sílaba
como quem mordisca
frutos silvestres e sabe
o caminho para a água
rumorosa onde os corpos
se fundem
em cascatas de prazer.
17-1-2009/24-8-2009
Luís Filipe Maçarico
Fotografia: Fonte das Figueiras (Santarém) Autor: Luís Filipe Maçarico
domingo, agosto 23, 2009
Papoilas para Morais e Castro
Advogado, preferiu ser actor. Artista, não se esqueceu de ser solidário. Revolucionário, esteve do lado certo da vida.
Por isso, estas singelas papoilas do Alentejo, colhidas em Abril, para que o sonho nunca morra e a luta nunca se interrompa. Até o Mundo ser melhor.
Luís Filipe Maçarico (texto e foto)
sábado, agosto 22, 2009
Três Poemas Escritos na Tunísia
AS ÁGUAS
Cada rosto é a miragem
No doce oásis da tua embriaguês
de palavras.
Escutarás a rola, o pardal
No céu de areia destes dias.
Escutarás todos os rumores
Que chegam dos tempos
Mais remotos.
Não estás nem só nem
acompanhado. És como as árvores.
Tozeur, 14-10-1996
Só o silêncio floresce
Nos imensos olivais.
Um tropel de rebanhos
Anuncia a manhã
Sobre a terra fresca.
Com os pássaros
A palavra virá
prenhe de odores
e leveza. Só o silêncio
ficará no teu olhar
Entre o deserto
E a cal.
No comboio Tunis/Gabés 1-11-1996
No doce aroma
de amêndoas da pele amada
amassei a farinha
dos meus versos.
Ver-te era banhar de luz
Cada passo e
nessa noite de cigarras
Cresceu, como uma lua
Ou uma rosa
O teu sorriso.
Jerba, 5-11-1996
Poemas e fotos de Luís Filipe Maçarico
Ramadão
sexta-feira, agosto 21, 2009
Cinco Poemas Escritos em Itália
Entre janelas
a humidade
veio lamber
toda a réstea
de luz.
No pequeno largo
Com varanda
sobre as ondas
O café da manhã
sabe a mar.
RIOMAGGIORE
do castelo
vê-se o mar
o longodorso
de prata
onde mergulha a tarde
e os olhos
do gato
que traz
o sol
nas patas.
AGUARELA TOSCANA
Pelas colinas incandescentes
entre o gracioso bordado
das vinhas, ao sol de bronze de Agosto
eis o vulto esguio dos ciprestes
este noivado de árvores e palhas
na tarde luminosa
de alabastro.
VENEZA AGONIZA
perturba olhar
a carne em chamas
de limos que se afoga
todas as noites
Mais um pouco
A cabeça coroada
por estátuas sinos
zimbórios torres
os dedos adornados
por jóias palácios
pontes poços
Veneza agoniza
em câmara lena
diante de uma impotência
maravilhada.
DOLO
Manhã fresca
de cisnes e choupos
procuras a esmeralda,
quero dizer, a poesia.
NOTA: Poemas do livro "Os Peregrinos do Luar", de Luís Filipe Maçarico - vivido e escrito nas Cinque Terre (Monterroso Al Mare, Vernazza, Corniglia, Manarola e Riomaggiore). E ainda em Firenze, Siena, S.Giminiano, ou seja na Toscânia e em Veneza e Dolo.
quarta-feira, agosto 19, 2009
AFEGANISTÃO, NÉLSON ÉVORA E A COMUNICAÇÃO SOCIAL
Ontem, o Governo Afegão (com Hamid Karzai na presidência, o amigo dos ocidentais, que concorre à reeleição) decretou que mulher que se recuse a ter relações sexuais com o marido, poderá ser castigada por este, a morrer à fome. E viva a Democracia! Nas imagens que passaram, a burka aparecia em grande quantidade nas ruas.
A notícia foi dada de chofre, despejou-se informação sem espírito crítico, nas televisões... como se estivessem a falar da churrasqueira do senhor Guilherme, que vende frangos assados em barda.
As mesmas televisões, logo a seguir, sobre Nélson Évora limitaram - se a falar do excelente medalha de prata, como se o atleta não estivesse no pódium... pior, só falaram dele, quase no fim dos telejornais, como se o jovem tivesse feito um penúltimo lugar, em cinquenta competidores...
Não ganhou o ouro, logo, foi esquecido.
Fantástica, esta comunicação social!
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)
segunda-feira, agosto 17, 2009
domingo, agosto 16, 2009
BOM DIA, MENINO ARTUR BUAL!
ÍCARO
(Para o Bual)
DÉCIMO QUARTO QUADRO
Este Cristo acusa sem falar
e à volta dele estiveram
os casacos de pele os vip's
as fotos os vídeos as vedetas
o dinheiro a vernissage
este pintor acusa sem dizer
e rodeado de coristas ricas
que se desunham para o
monopolizar (estar in é bom
pró ego) só pede, entre sub-
tilezas que lhe tragam
um copo de whisky
Este Cristo acusa sem olhar.
Luís Filipe Maçarico
Lisboa 14-12-1988 e Monte Caparica, 16-12-1988
http://www.pcv.pt/singleAuctions.do?id=70
AMINA ALAOUI
Entre nós, cantou de Norte a Sul, sendo inesquecível a sua interpretação em "Águia", com Pedro Caldeira Cabral (e grupos corais alentejanos) no álbum "Terra de Abrigo" da "Ronda dos Quatro Caminhos".
É a minha sugestão para terem mais um pouco de beleza no vosso domingo.
sábado, agosto 15, 2009
O "UMBIGO DO SÉCULO", O TRAQUE E A MANADA
Felizmente, tenho bons amigos.
E há quem se enraiveça, encurralado no seu quotidiano medíocre (tem de ser, senão usava o tempo para fazer coisas luminosas) ao ler o meu blogue, não suportando que eu ame, respire tranquilidade, escreva e estude, além de ter de trabuquir mais uns anos.
Vem isto a propósito de um recado, que quero dar e que a bom entendedor meia palavra bastará.
Numa época de atropelos, que são o pão nosso, em que alguns não resistem a "matar-nos" em vida, apagando o que antes incensavam, porque não prestamos vassalagem aos seus decadentes e megalómanos arrotos, tipo "Eu sou o Umbigo do Século"... sinto-me honrado por haver quem tenta ignorar-me, desesperadamente.
Não me comparo a ninguém.
Como qualquer dos meus detractores (que os vossos deuses vos dêem muitos anos de vida, para verem tudo o que ainda tenho para fazer!!!) também sou único.
Durmo é descansado, o que suponho não ser a vossa sorte.
Talvez porque emprego o meu tempo a ser útil à Comunidade, com o gozo inerente que as coisas que gostamos de fazer dão.
O que escrevo não deve ser assim tão dispiciendo, pois desde anónimos, que comentam algures "Ah e tal é muito eugeniano", até aos que, bolsando incontidas e larvares sentenças, de cariz escolástico, profetizam sobre quem será eterno e quem será etéreo, só me falta ver pavões a cantar a "Aida"e a comerem torresmos.
Se aos cães que mordem, desvairadamente, nas canelas, um mero traque os assusta, eu obro para todas as feras de rosto humano, com muita alegria, por não fazer parte da manada.
Luís Filipe Maçarico
Abençoada Crise!!!
O amigo Manuel informou-me há bocado, enquanto saboreava a bica, que este ano falaram entre si e em Agosto haverá sempre cafés abertos.
Abençoada crise!!!
Luís Filipe Maçarico (texto e foto)
sexta-feira, agosto 14, 2009
BERTOLT BRECHT
Bertolt Brecht viveu em tempos tenebrosos. Hitler dominava a Alemanha e queria mandar no Mundo. Deixou uma herança asquerosa de sofrimentos inimagináveis.
Brecht, poeta, homem de esquerda, escritor, em parceria com Kurt Weil, de peças de teatro musicado, como "Ascensão e Queda da Cidade e Mahagony" (quem não se lembra de Jim Morrison cantando com os "Doors " a fantástica melodia "The Moon of Alabama"?) e "Ópera dos Três Vintens", exilou-se nos Estados Unidos.
Escreveu textos imortais, porque falam da desenfreada exploração do homem pelo homem, das guerras, do desvario dos poderosos, da escala humana que deveria existir nesta tão breve passagem...
Na celebração que através do "Águas" resolvi oferecer-vos, podemos escutar um actor brasileiro a declamar "O Analfabeto Político", ler o poema "Elogio da Dialéctica", publicado no Blogue "O Castendo" e recordar Jim Morrison ou David Bowie interpretando "Oh Moon of Alabama /You must say goodbye..."
Para os que têm dificuldade em perceber inglês, recomendo o terceiro vídeo de uma encenação com legendas em português que passou na RTP2...
Neste ano de eleições, com o desemprego a roçar os 10%, vale a pena constatar a actualidade de versos escritos há setenta anos.
ELOGIO DA DIALÉCTICA
Bertolt Brecht
A injustiça avança hoje a passo firme.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que mandam.
E em todos os mercados proclama a exploração: isto é apenas o meu começo.
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.
Quem ainda está vivo nunca diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados.
Quem pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? Também de nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.
http://ocastendo.blogs.sapo.pt/269928.html
quinta-feira, agosto 13, 2009
Youssef Chaine/Le Destin
Hoje partilho no "Águas do Sul" uma parte desse encanto: o príncipe está a ser manipulado pelos fundamentalistas de então e os ciganos reúnem-se para dançar enquanto ele sofre, com um dilema: por um lado, o espírito envenenado pelos ditames dos críticos, esconjura a dança, por outro, o corpo arde no desejo de dançar...
Divirtam-se, nesta celebração de um realizador egípcio, que conquistou com esta obra o prémio dos 50 Anos do Festival de Cannes.
quarta-feira, agosto 12, 2009
Santarém A Parte Melhor
Vimos em artigo anterior como essas borbulhagens existem em Santarém, a capital ribatejana. Nada que uma gestão autárquica empenhada não possa sarar.
Seria porém injusto se não mostrasse também o que há de aliciante na Santarém que renasce.
Aqui ficam algumas imagens, penso que bastante apelativas.
Vá um destes dias até lá e frua de paisagens urbanas e campestres num mesmo espaço, entrelaçando-se como se fossem estrofes de uma epopeia.
Os políticos do carrocel governativo - também conhecido por bloco central - com mais ou menos alarido, passam, mas o património (se não o espezinharem) fica.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)
terça-feira, agosto 11, 2009
SÁTÃO - VISEU: TERRA ENCANTADORA E TRANQUILA: (BREVES IMPRESSÕES DE VIAGEM)
Súbito, no silêncio da tarde, o chilreado das aves que procuram copas e beirais, a magia da luz melosa lambendo o granito, mesmo que haja vento e as paisagens de Abril não queiram deixar estas ruas...
É Primavera, todavia.
Por momentos, o sol cai a pique no jardim onde os velhos tagarelam, de olhar perdido e alguns pares de namorados, ávidos de beijos e segredos, descobrem a sensualidade.
Em cada passo, encontram-se pétalas, um rosto, uma história.
Saboreia-se a gastronomia, o falar terroso dos que vivem aqui e a memória identitária.
Dirijo-me à Biblioteca, aos largos com respiração antiga e admiro o barroco das fachadas dos palácios e a graciosidade da arquitectura popular, onde os vasos floridos sublinham a proximidade serrana.
Sento-me num banco, escuto o sino da igreja nova, descanso a alma olhando em volta: casas com cenário de montanhas em fundo.
Tranquilidade absoluta, prometendo a suavidade dos lugares eleitos.
O olhar percorre o rasto de fachadas ancestrais, onde a ruína espreita.
Alguém lamenta espaços modernos que destoam. Salvaguardar é preciso.
Concentro-me numa aldraba, em pormenores, no nome antigo, escrito com dois tês e um éme e gravado em azulejo de edifício decadente com uma janela esventrada cercada de silvas e heras, elegantes varandas de ferro forjado, cantarias majestosas, onde a pedra imita a filigrana...
No século dezanove, um frade descobriu que este nome (Sattam) teria origem árabe e significaria entupimento, atulhar...
Vim até estas paragens atraído por vários brilhos.
A curiosidade toponímica, a lembrança de Aquilino que incluía esta vila nas "terras do Demo", onde faunos e lobos aguardam a melhor hora para se revelarem, o património histórico, o bom vinho do Dão, a hospitalidade, comidas caseiras, talvez sonhos de paraíso e um silêncio que os poetas perseguem para guardar nos seus cadernos de encanto e mágoa. Estrelas de espanto na noite fria.
Arqueólogo amigo mencionou espólio notável.
Informante adoradora das pequenas grandes preciosidades, que só podem ser desvendadas caminhando entre aldeias, mencionou templos, santos, recantos plenos de interesse.
E o manto de astros derramou-se, limitando o tempo da estadia, necessariamente breve, pois a interioridade para quem não conduz, pesa.
Antecipei o regresso, e foi com melancolia que cheguei a Lisboa, o olhar e a alma lavados de tanto verde e da vontade de voltar um dia com mais tempo.
8-5-2009
Luís Filipe Maçarico
(Antropólogo; Poeta. Autor também das fotografias)