"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quinta-feira, setembro 28, 2006

O ÚLTIMO A RIR...


Um dia em Alpedrinha um miúdo veio ter comigo e interpelou-me desta maneira: o senhor faz livros, mas como não vai à televisão não é importante!
Perguntei-lhe se os pais eram importantes para ele. Respondeu-me com incontida frontalidade: claro que são! Prossegui o inquérito: e alguma vez foram à televisão?
Esta conversa vem a propósito de um telefonema, recebido há dias, da minha amiga Ana. "Luís, já és uma pessoa importante, até aqui era só aplausos e unanimidade, agora passaste a ser criticado... és importante!"
A questão da importância que nos damos ou que nos atribuem merece reflexão.
A opinião que tenho, acerca daquilo que os outros pensarão do meu desempenho social, opinião antiga, é a mesma do poeta que foi ter com o Fuhrer, segundo um texto de Brecht, e pediu que lhe queimassem os livros para não ser comparado com aqueles que perante a ignomínia assobiam para o lado. Escrevi há anos que "pago o preço" por ter uma intervenção na Sociedade deste tempo em que respiro e sonho.
Há muitos anos que me envolvo nas questões associativas, políticas e culturais. Publiquei quinze livros de poesia, mais seis com temática diversa onde se aborda o associativismo comunitário, as colectividades, e ainda uma biografia, uma investigação sobre o contrabando e conto, além de sete títulos de literatura infantil, num total de 28 publicações (7x4) ... não contando com as quinze antologias, organizadas e editadas por entidades credíveis e respeitáveis, onde as minhas palavras assinalam um olhar genuíno sobre o mundo.
São inúmeros os artigos, da crónica ao ensaio académico, os milhares de poemas dispersos em jornais e revistas de norte a sul, inclusivé em periódicos estrangeiros. As sessões de animação de leitura para crianças e jovens (interrompidas pelo Mestrado) são mais de 120.
Mesmo que tudo isto possa ser beliscado pela incompreensão de um país que hostiliza quem trabalha, protegendo o parasitarismo - embora a discursata oficial ataque tudo e todos, metendo o zelo e a incompetência no mesmo saco - tenho orgulho no que sou. Gosto de mim, coisa que nem toda a gente sabe ser. E isso, com a imensa solidariedade dos amigos, me basta para continuarem a ter de levar comigo. Não se livram de mim tão cedo, se depender da minha vontade. Estou cá para ver a queda dos títeres, dos pseudos, dos tiranos, dos que não valem nada e estão convencidos do contrário, dos que julgam os outros vivendo com telhados de plástico. O último a rir...
Fotografia de Jorge Cabral

12 comentários:

paula silva disse...

Este é o Luis que eu conheço, frontal, humilde, mesmo sabendo o seu devido valor, íntegro, humano, solidário e acima de tudo sensível, criativo, trabalhador, lutador, AMIGO do seu amigo, um verdadeiro cidadão do mundo, sem vaidade mas objectivo!
Se nesta sociedade só existissem homens e poetas assim, o mundo seria um paraíso!
Bj :)
PCLS

Eduardo Castro Serra disse...

Pura e simplesmente soberbo!
Quem me dera ter a uma veia poética para poder envolver este teu post com a elevação que te é devida.
Bem Hajas por me deixares fazer parte do teu rol de Amigos.
Um abração.
Eduardo

jade disse...

Querido AMIGO LUÍS...parabens.
É tão bom saber que ainda existem pessoas tão puras neste meu país de oportunistas...
Um beijo da amiga

Abade.anacleto disse...

Luis, depois de ler este teu artigo dá vontade de chamar aqui o velhíssimo ditado "os cães ladram, mas a caravana passa."
Infelizmente houve, há e sempre haverá quem por comparação não suporte a sua inferioridade e ataque quem não se limita a querer fazer, mas faz! Não se enche de boas intenções, passa ao agir. Esse és tu, os que te criticam hipocritamente, pois que falem à vontade. Ouvidos que ouvem não os escutarão.
Bem hajas por existires.
Teu sempre amigo: D. Francisco de Beja (risos).
Um grande abraço.

Pete disse...

É o Portugal que estámos habituados a conhecer, talvez um dia a sociedade valorize mais quem faz algo por ela e não os que fingem que fazem.
Não sabia que já tinha publicado tantos livros, fico contente que assim seja e com a esperança que muitos mais venha a publicar.

Um Abraço e bom fim-de-semana.

Nádia disse...

Assim é que se fala!
Só pra dizer que não me esqueci de te mostrar os meus humildes poemas e quando o fizer quero também entrar para a Aldraba, é uma vergonha ainda não ser associada.
Muito obrigada por tudo!
Parabéns à Aldraba pelo Aldraba Digital!
até breve
Nádia

Nádia disse...

Assim é que se fala!
Só pra dizer que não me esqueci de te mostrar os meus humildes poemas e quando o fizer quero também entrar para a Aldraba, é uma vergonha ainda não ser associada.
Muito obrigada por tudo!
Parabéns à Aldraba pelo Aldraba Digital!
até breve
Nádia

marialascas disse...

Já conheci a história, já ma tinhas contado. Nás, alguns de nós é que permitimos que a nossa importância seja medida pelos media. Apetece lembrar-me do meu ainda Chefe Souto Moura, a ideia que o povo português formou dele foi construída completamente pelos media e não pela realidade...
Beijos, gosto muito de ti.

Abade.anacleto disse...

Amigo Luís, ao ler este teu artigo dá-me vontade de evocar o velho ditado: "Os cães ladram, mas a caravana passa.". Houvesse muitos como tu, que pensam e agem, não se enchem de intenções que estagnam e apodrecem. Tu ajes, eles criticam, é óbvio. Quando nos sentimos inferiores criticamos o bom trabalho dos outros.
Bem hajas por seres quem e como és.
Um abraço do teu amigo D.Francisco de Beja (risos)

Klatuu o embuçado disse...

Nem mais!... o último a rir...

Fernando Pires disse...

Este post está genial. Como tive oportunidade de te dizer pessoalmente, gosto muito da tua poesia, mas ainda gosto mais da tua prosa.
Acredito claramente que um dia ainda vamos ver "a queda dos títeres, dos pseudos, dos tiranos, dos que não valem nada e estão convencidos do contrário, dos que julgam os outros vivendo com telhados de plástico." Deus permita que eu também faça parte do grupo dos "últimos a rir..."
1 abraço.
P.S.: Apesar de não ires à televisão, para mim, continuas a ser importante.

augustoM disse...

Distraido é que ele não anda Teresa, e como poderia estar com a atenção que a crítica lhe dispensa?
Estás muito bem na fotografia, Luís,se calhar é o teu charme que lhes mete inveja.
Um abraço. Augusto