"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sábado, dezembro 28, 2019

“INTERMITÊNCIAS” NOVO LIVRO DE POESIA DE CRISTINA POMBINHO





Se “um poeta é sempre irmão do vento e da água” como cantou a poetisa brasileira Cecília Meireles, sabemos que “A vida só é possível reinventada.”
A vida vivida, como lembra Sousa Dias, citando Manuel António Pina, é “ficção, esquecimento e memória”.[1]
Sousa Dias diz-nos que a Poesia é “experiência dos limites do dizível, confronto da linguagem com o silêncio.”
Este autor evoca Merleau-Ponty[2], abordando o enigma da sensibilidade na Pintura, enquanto imagem poética é questão ontológica de efeito de realidade.”[3]
Na construção dos seus poemas, Cristina Pombinho domina o jogo metafórico e imagético, inscrevendo a sua escrita na galeria da poesia no feminino, onde encontramos Teresa Horta e Natália Correia, ainda que tempere (com o tom onírico de palavras-imagem) o conteúdo primordial da sua afirmação lírica.
Montserrat Villar González, poetisa galega que conhecemos em Salamanca salienta: “Agarro-me a ti como me agarro à vida/ que através dos teus olhos/ aprendi a olhar”.[4]
E esta escritora acrescenta: “Me quieres, te quiero/ a pesar del dolor que causa la vida cotidiana.”[5]
Os versos, as artes sublimam os dias comuns “transfigurando em luxo o próprio lixo”, como escreveu em Muriel o criador de “Aquele Grande Rio Eufrates” e de “Despeço-me da Terra da Alegria”. Cristina Pombinho supera a banalidade dos dias com a elegância voluptuosa das palavras.[6]

“Para que servem / os poetas em tempo de indigência?” questiona-se Hélia Correia, em “A Terceira Miséria”[7]
“Intermitências” traz-nos uma poesia alicerçada em leituras de Eugénio (“Eu ainda não te falei desta cidade”), Rui Belo (“Esperei por ti…/ tu não vieste,/ nem sei se virás, algum dia!”) Gedeão (“as infinitas partículas subatómicas do quotidiano”), Cristina reflecte igualmente a boa influência de Herberto Hélder e Ramos Rosa, confirmando o que o pintor gestualista Artur Bual disse tantas vezes, ou seja “ninguém nasce sozinho!”
Folheando o livro vislumbramos Freud, que define o artista como alguém que “sabe como trabalhar os seus sonhos acordados de modo a […] que outros partilhem do seu gozo neles.”[8]
Cristina Pombinho escreve que “por dentro dos sonhos é que a vida existe” e Sophia discorre: “Eu busco o rasto de alguém/ que ao meu encontro vai/ no sonho de cada linha.”[9]
Entre o real e o imaginado, “Intermitências” parte sempre da pegada para o voo, com enormes recursos vocabulares, que constroem uma eficaz transmutação do quotidiano.
A linguagem depurada e metafórica, evidencia a qualidade da escrita desta poetisa, por vezes irónica; reparem nestes exemplos “As janelas são os olhos das casas”, “um soluço de tempo”, “Deus embebeda-se e ri alto, razão da existência dos trovões.”
“É preciso falar para inventar/ o jogo dos silêncios”, proclama Maria Alberta Menéres.[10] E Ana Luísa Amaral confessa: “Sou condenada a ver para além deste tempo.”[11]

Com as palavras, Cristina Pombinho urde uma envolvência simbólica, carregada de energia positiva. A utilização de verbos luminosos acentua a vontade de ser, como é o caso de existir, estar, pertencer, respirar, olhar, oferecer, poder, sentir, voar, querer, crescer, caminhar e acreditar.
Temas como “A Mãe” (que belo tríptico dedicado a Clementina Pombinho!) “os gatos”, “os pássaros”, “o amor”, “a ausência”, “o sul”, “o vento”, “a noite”, “a solidão”, “o corpo”, “a metafísica” e “a filosofia”( através de Aristóteles, Heraclito e Parménides), que são filigrana de um tear cósmico, irrompem  nestas páginas, exalando o inebriante perfume da Música.

Ana Rossetti considera que “A poesia é um vendaval de ar puro em nossas existências irrespiráveis”[12]
A autora de “Intermitências” revela “[o] mundo habita em mim/ como um bando de aves em migração.”
Vinte anos depois, a Arte de Mena Brito, pintora de grandes recursos, junta-se às sílabas mágicas de uma poesia singular (“esta espécie de animal faminto que cresce por dentro e que é quase êxtase”.)
“A alma feita luz e os anjos “pescadores de nuvens” desafiam-nos para a leitura desta obra, onde a pedra se torna carne e “ser um pássaro louco […] com mãos em vez de asas” exalta uma liberdade criativa sem limites. Bem Hajas, Cristina por esta significativa partilha que tanto nos enriquece.

18-6-2019
Luís Filipe Maçarico

FOTOGRAFIAS: Da apresentação na Casa do Alentejo em 17-12-2019 - Mário Sousa e Manuel Silva. Das apresentações dos dois livros de Poesia da Autora em Vilarelhos, no Festival Transfronteiriço de Poesia, Arte de Vanguarda e Património, em Meio Rural/ PAN - Julho de 2019 e Julho de 2018 - Rodrigo Dias.



[1] DIAS, Sousa “O que é Poesia?”, Documenta, Lisboa, 2014, p. 44.
[2] Ibidem, pp. 31-32.
[3] Ibidem, p. 33.
[4] GONZÁLEZ, Montserrat Vilar “Vida Incompleta”, Lema de Origem, Carviçais, 2019, p. 23.
[5] GONZÁLEZ, Montserrat Vilar “tierra en mármol y ternura”, Lastura, Ocãna, 2ª edicion, 2015, p. 58.
[6] Esta parte do texto foi acrescentada ao escrito inicial, apresentado em Vilarelhos, no início de Julho, onde a obra teve o seu lançamento inaugural. Redigido em Almada, na madrugada de 17 de Dezembro de 2019, destinou-se à apresentação na Casa do Alentejo, na tarde desse mesmo dia.
[7] CORREIA, Hélia “A Terceira Miséria”, Relógio de Água, Lisboa, 2013, 2ª edição, p.7.
[8] FREUD, Sigmund “Textos Essenciais da Psicanálise”, volume III; Publicações Europa América, Mem Martins, 2001, 2ª edição, p. 147.
[9] ANDERSEN, Sophia de Melo Breyner, “Dia do Mar”, Ática, Lisboa, 1961, p. 86.
[10] MENÈRES, Maria Alberta “O Jogo dos Silêncios”, Hugin, Lisboa, 1996, p. 5.
[11] AMARAL, Ana Luísa “Entre dois rios e outras noites”, Campo de Letras, Porto, 2007, p. 112.
[12] ROSSETTI, Ana “Fuera de Campo”, Associación cultural “El Zurguén”, Morille, Salamanca, 2018, p. 64.

MARIA DE LURDES BRÁS: COSTUREIRA DE ALFAIATE, POETISA E FADISTA “TENHO ORGULHO NAQUILO QUE TENHO FEITO!”*


Maria de Lurdes Brás é uma alentejana do litoral, mais exactamente do concelho de Santiago do Cacém, terra de Poetas como Eduardo Olímpio e Domingos Carvalho, que canta Fado e escreve Poesia.

Costureira de Alfaiate de profissão, quisemos descobrir a sua história de vida, que é bem interessante, pelos obstáculos que superou, pelas alegrias que a voz e a mão, tecendo versos e costurando fatos, lhe foram proporcionando.

Começou por nos contar que nasceu no “Cercal do Alentejo. Na altura era aldeia. Na Rua Velha (é o nome pela qual é conhecida).”

Acerca da infância no Alentejo recordou: “Lembro-me de quando ia para a escola, e era mais pequena, antes de ir para a escola, daquelas ribeiras que tínhamos de atravessar e dos invernos, em que usávamos botas de borracha e havia gelo na estrada que parecia vidro e com as botas partíamos o gelo e dos trabalhos do campo, os meus pais trabalhavam na ceifa, na monda, o meu pai tirava cortiça, fazia limpeza das árvores. E uma coisa interessante: a minha mãe lavava na ribeira e eu pescava.”

Com dez anos veio para Almada. “Ainda fiz aqui a quarta classe”.

Maria de Lurdes conta como - e com quem - aprendeu o ofício:

“Tive uma má professora e perdi o interesse por estudar. O meu pai veio primeiro, a minha mãe mais tarde…

A minha madrinha fazia-me sempre vestidos muito bonitos e eu queria ser costureira como a minha madrinha…Fui trabalhar para alfaiate. No desemprego fiz o 6º ano e tirei um curso de computadores…”

A nossa entrevistada revela como a Poesia surgiu no seu percurso.

“O meu interesse era precisamente por causa do Cante Alentejano. Quando os trabalhadores vinham do campo, faziam cante ao despique e uma palavra a rimar com a outra fez-me mentalizar que aquilo tinha interesse. Nos livros da escola, procurava os versos. A minha musa inspiradora era a Florbela Espanca.”

Lurdes refere também o poeta Afonso Lopes Vieira e acrescenta: “Gostava muito de cantar e a minha mãe não queria…”

E o Fado, como nasceu no seu caminho?

“Quando era miúda, ouvia Fado na rádio. As pessoas associavam o meu nome à Maria de Lurdes Resende. Na minha imaginação ouvia-me a mim, a cantar na rádio.

A minha sensação de me ouvir a primeira vez na rádio é assim um misto de sentimentos.

Como trabalhava no alfaiate, tinha um colega que fazia parte do grupo de Variedades da Incrível [Almadense]. Mandaram-me um postal para ir aos ensaios. A minha mãe rasgou o postal, que foi para o lixo. Em casa, era proibido falar nisso.”

A sua luta para poder cantar em público foi tenaz, persistente. Só conseguiu ultrapassar as proibições depois de se casar. A nossa interlocutora revive o momento decisivo: “Quando casei, fomos passar o fim do ano ao Casino do Alvor onde estava o Carlos do Carmo a cantar. Começou aí a minha liberdade”.

Entretanto, “Os primos do meu marido abriram um restaurante. O “Solar Alentejano”. Reuniam para o petisco e todos cantavam. Havia um senhor que dizia “Aquela senhora além, se cantasse um fadinho, seria bem melhor.”

“Tá bem, eu sei bocadinhos…Eu cantava para uma colega o Fado da Fernanda Maria “Não Passes com Ela à Minha Rua”…

Um dia, houve uma noite de Fados no Pragal. Assim que entrámos, lá estava o nosso amigo…e pôs os braços no ar: “Hoje é que você vai cantar a sério!”

Não sabia músicas do fado, os tons. Foram logo chamar-me. Trauteei aí um bocadinho. Daí o lamiré. Os fados que sabia do princípio ao fim. E um deles era o Fado do Sobreiro…[1]

Gostaram muito. Cantei outro, gostaram muito e eu a querer saltar. Tive de cantar mais um ainda. No fim da noite, o apresentador veio ter comigo e disse onde havia fados: Alto do Moinho e Giramar, na Fonte da Telha. E todos os fins de semana, lá estava.

Um dia, apareceu um fadista que cantou o Fado do Sobreiro (uma música por vezes é adaptada a várias letras). “Tenho de aprender outro Fado…

Escrevia versos e não guardava, não ligava importância…”

Uma patroa sugere que guarde. Pensou: “Escrevo versos para cantar. Sempre impulsionada pelos outros”.

Questionada sobre quem foram os fadistas que a marcaram, responde rapidamente: “Fernando Farinha e Fernanda Maria. Acho que foi com o Fernando Farinha que aprendi a gostar de Fado. Pela pessoa que era e maneira de cantar.”

A nossa artista alentejana conta no seu curriculum com três discos: o 1º em 1997 – “Rigorosamente”. O 2º em 2005, “Meu Fado Maior” e o 3º em 2009 “Com sentido (25 Anos de Fado)”. Maria de Lurdes Brás escreveu dois livros: “Poesia Alinhavada” e “Lamiré Poético”.

“Nesta altura já vão aproximadamente 35 anos” diz esta almadense adoptiva que já viveu mais décadas na cidade da margem sul, que na terra natal.

Fez-se escutar em “Muitas casas de Fado, restaurantes, hotéis, colectividades de Lisboa, quase todas, Festa das Colectividades e três anos nas Noites de Fado do Coliseu. Fui cantar à Academia de Santo Amaro, o Paulo Vasco convidou-me. Tenho orgulho em ter sido madrinha de Fado da Raquel Tavares. O relacionamento é bom, apesar de ela ter pouco tempo. Conheci a Amália, Fernando Maurício, essa gente grande do Fado.”

Maria de Lurdes Brás foi madrinha da Marcha da Charneca, com António Calvário: “Foi impressionante, em miúda via-o como um galã. Convidaram-me para fazer a letra da Marcha - Homenagem a Laura Alves. Quando me pedem alguma coisa, eu faço. As coisas na minha vida têm acontecido assim. Na minha terra há um grupo de teatro. O José Luís Assunção todos os anos faz uma revista, faz espectáculos de transformismo - Carmen Duvale - e ele, como eu era da terra e cantava, fiz 3 revistas como atracção convidada. Há sempre a atracção do Fado…E no Parque Mayer uma amiga falou em mim ao Hélder Costa. Fiz o trabalho muito interessante de sair as roupas para a revista, é trabalho muito artístico mesmo. A mestra era tia da Anabela que também trabalha para o La Féria e para as Marchas. “Lurdes Brás fez fatos para “João Baião, Marina Mota, Carlos Cunha, Melânia Gomes. Era um elenco assim, muito interessante.”

Não continuou, porque não estava disponível, acrescenta.

Quanto ao seu público disse-nos que “é geral, principalmente para quem gosta de ler.” E informa: “às quartas- feiras na Casa das Artes há poesia”.

No que concerne ao ofício partilha: “Trabalho numa loja, faço os arranjos das roupas que vendem. Já passei por fábrica, alfaiate, várias lojas, e agora estou aqui. Trabalho há mais de cinquenta anos no meio dos trapos. Nunca deixei de trabalhar mesmo por causa do Fado. Cheguei a fazer directas, mas como diz o outro, quem corre por gosto não cansa.”

O seu balanço de vida, é resumido em breves linhas e com um sorriso: “Desde que a gente faça as coisas por gosto e se sinta feliz por isso, para mim é o suficiente. Mal entendidos, passam ao lado. Tenho orgulho naquilo que tenho feito!”



Luís Filipe Maçarico



ONDAS DE SAUDADE[2] poema de Maria de Lurdes Brás



Eu nasci no Alentejo
Entre o Rio Mira e o Sado
Nas ondas do meu desejo
Embalo este meu fado

Cabelos feitos de trigo
Searas ao Sul do Tejo
Saudades trago comigo
Eu nasci no Alentejo

A sombra, o silêncio, o sol
Verdes campos, pasta o gado
Canta o velho rouxinol
Entre o Rio Mira e o Sado

E vou sorrindo ao sol-posto

Nas areias limpas festejo
Deixo o vento tocar meu rosto
Nas ondas do meu desejo

Searas verdes e mar azul
Orgulho, não demasiado
Na beleza da Margem Sul
Embalo este meu fado.




[1] Fado do Sobreiro: “Lá no cimo do montado/ No ponto mais elevado/ Havia um enorme sobreiro/ de todos era a cobiça/Ao dar bolota e cortiça/ No montado era o primeiro// Mas um dia a tempestade/Fez ouvir lá na herdade/ O ribombar dum trovão/ E no céu uma faixa risca/ Uma enorme faísca/ Fez o sobreiro em carvão// Passaram anos e agora/ No mesmo sítio lá mora/ Um chaparro altaneiro/ E em noites de luar/Ouve-se o montado a chorar/ Com saudades do sobreiro//É assim a nossa vida/ Constantemente vivida/ Quase sempre a trabalhar/ Mas se um dia a morte vem/ Nós deixamos sempre alguém/ Com saudades a chorar//.
[Letra de Abílio Morais; Música de Alfredo Duarte (Marceneiro)]

*Entrevista publicada na revista "Alentejo" nº 46, Junho/Novembro 2019. 

sexta-feira, dezembro 20, 2019

ENTREVISTA COM FILIPE LA FÉRIA: TENHO GRANDE ORGULHO DE SER PORTUGUÊS E DE SER ALENTEJANO *





Ser Humano culto, talvez filósofo, com quem dá gosto falar, Filipe La Féria autodefine-se como um “faz-tudo”, pois escreve, encena, compõe a música, intervém nos cenários e sobretudo vibra com o Teatro, essa enorme paixão à qual se entrega integralmente, celebrando a Vida.

Somos recebidos com simpatia contagiante, apesar do seu cansaço, pois enquanto acompanha o espectáculo em cena, já anda numa enorme azáfama, a ensaiar aquele que se segue.

Como ele diz, mesmo que o Teatro seja “a grande mentira”, o que faz transmuta-se na grande verdade que fascina o público.

Através dos bastidores do Politeama, que parece um barco (“barco dos sonhos”, assegura ele) entre o seu gabinete e o palco, para breve sessão fotográfica, La Féria orgulha-se de ter mudado uma rua mal - afamada, transformando-a no ponto de referência que é na Lisboa actual.

O Politeama é o lugar acolhedor para todos os que vindos de longe, apreciam o teatro musical e ali encontram o espaço encantatório de beleza e sortilégio que escasseia nos seus quotidianos.

Transcrevemos a seguir - através das palavras e ideias de Filipe La Féria - os momentos mais vibrantes da conversa que connosco teve.



O MEU CORAÇÃO É ALENTEJANO



Começamos, naturalmente, pelo início da existência.

Na infância de Filipe La Féria desenhou-se a vocação de toda a sua vida. O artista conta: “Sou da Aldeia Nova de São Bento. De uma família abastada, mas muito liberal. Toda a minha infância foi passada no Alentejo. Era uma família muito grande. Comigo, éramos seis irmãos. Fui muito feliz. Tive o grande privilégio de uma família sólida, com uma educação muito boa. Tudo o que sou, devo a essa infância.”

Filipe La Féria diz-nos que tem sido “Uma criança com os olhos abertos toda a vida!” rematando: “O meu coração é alentejano! Ainda vou lá muitas vezes, tenho um pequeno monte ao pé de Safara. É um regresso ao mais profundo do meu ser. É um reencontro com pessoas que partiram, com recordações, memórias.”

Voltando aos seus primeiros anos de vida, La Féria diverte-se a recordar:

“Na infância fazia já (sempre!) teatro! Com uma caixa de sapatos, recortava do “Diário de Notícias” e fazia já teatro no quintal da minha avó, onde levava uns tostões a quem assistia e começou aí a vida artística e de empresário.”

“Fiz a primária - prossegue - no Alentejo. Vivi muito com uma tia minha na Aldeia Nova. Lembro-me de quando o lápis caía. Os colegas iam descalços para a escola. Era um outro Portugal…”

Entretanto prosseguiu os seus estudos “Em Lisboa, no Colégio Infante Sagres, nas Laranjeiras, Palma de Baixo. Depois fui para o Conservatório Nacional. Estreei-me muito cedo na Companhia Amélia Rey Colaço, no Teatro Nacional.”



A GENTE AJOELHA-SE PERANTE O ESTRANGEIRO, QUANDO TEMOS GRANDES POETAS, ESCRITORES, PINTORES, ACTORES!



Grande e longa foi a caminhada de meio século de Teatro. “Fiz mais de quinhentas peças. Fui actor durante doze anos. Nasci para “Faz - Tudo”. Gosto de fazer música.

Evocamos a sua consagração na Casa da Comédia, [onde dirigiu Teresa Roby, Rogério Samora e João de Ávila, entre outros actores, produzindo êxitos como “Eva Péron”, “A Paixão Segundo Pier Paolo Pasolini”, “What Happened to Madalena Iglésias”, com Rita Ribeiro]: “Começámos lá [como empresário] e acabámos no Coliseu dos Recreios. Foi uma reviravolta no Teatro. Seguiu-se um espectáculo histórico [“Passa por Mim no Rossio”, com Ruy de Carvalho, Varela Silva, Catarina Avelar, João Perry, Fernanda Borsatti, Lurdes Norberto, Irene Isidro, São José Lapa, Henriqueta Maya, Eunice Muñoz, entre outros].

A aposta no Politeama “dura há quase vinte anos. Dezenas e dezenas de peças! Vem público desde Vila Real de Santo António. Esta rua foi modificada pelo teatro Politeama. O espectáculo “Amália” [com Alexandra, Anabela, Liana e Carlos Quintas] esteve seis anos em cena, com milhões de espectadores. Tornou-se um “ex-libris” da cidade.”

Como conseguiu tanta adesão junto do público?

A chave do sucesso “É a qualidade, é o talento. Nasci com este dom de fazer espectáculos. O talento, como dizia Amélia Rey Colaço, é 95% de trabalho. Os outros 5% é jeito…”

Para si, o teatro é um entretenimento ou também deve ter um papel pedagógico importante?

“Eu tenho sempre um papel pedagógico no que faço. “A Severa” está há oito meses em cena. “A Severa” é uma lição de História. A grande força do teatro é falar de nós próprios. O teatro surge na Grécia, porque os gregos queriam transmitir a sua História às novas gerações. O teatro é entretenimento, prazer, ensina, educa, é um grande espelho para os espectadores se reconhecerem. Com a luz e a sombra que o Ser Humano tem.”

Recuamos à sua vivência de Londres. Ali estudou Arte Dramática…

“As bolsas de estudo eram pequenas. O Teatro, - a Cultura - é o parente pobre de tudo. Toda a experiência é importante. Até estar a falar com vocês! Não há milagre maior do que estar vivo! [voltando a Londres] Em Londres há muito bom teatro mas também há mau. A gente ajoelha-se perante o estrangeiro, quando nós temos grandes poetas, escritores, pintores, actores! Os ingleses gostam de si próprios. Nós invejamos - e isso é muito provinciano!”



OS ACTORES SÃO CONDENADOS DA SENSIBILIDADE



Abordamos a sua participação na Televisão.

“Fiz horas e horas de televisão mas a minha paixão é o teatro, é olhos nos olhos com os espectadores. Isso só se consegue no teatro.

Todos são filhos do Teatro, que é a mãe de todas as Artes. O Teatro é a Vida!”

Qual foi o seu primeiro desempenho no Teatro?

“Gil Vicente, no Teatro Nacional”.

La Féria aproveita para valorizar o que está a fazer agora:

“Não se deve voltar ao passado. Devemos gostar do presente. O futuro há-se ser o resultado de nos afirmarmos e de vivermos!”

Acerca dos actores com quem trabalhou, realça:

“Os Actores são condenados da sensibilidade. Devo ter trabalhado com quase todos. Trabalhei com grandes actores. São seres muito delicados. Sedentos de Amor e de serem amados!”

O seu olhar sobre o teatro tem esta profundidade: “O teatro ajuda a crescer, a conhecermo-nos a nós próprios e aos outros. É um meio sem tabús, onde pode dar largas à sua imaginação. Um Actor demora dez anos a fazer!”


HOJE HÁ A CENSURA ECONÓMICA E DA ESTUPIDIFICAÇÃO COM TELEVISÕES ESPECIALIZADAS EM CRIMES ONDE TUDO É ESPECTÁCULO



Chegados aqui é inevitável aos entrevistadores regressar ao passado para abordar a Censura.

“Era horrível, os ensaios da Censura! Fizemos um clássico, Lope da Veja - Fuentovejuna. Tivemos dezasseis ensaios de Censura! Mas hoje também há a censura económica e da estupidificação. Hoje vivemos uma censura mais sofisticada, com televisões especializadas em crimes, onde tudo é espectáculo!”

Em jeito de remate, La Féria afirma com veemência:

“Temos grandes actores e escritores. Não devemos ter vergonha de sermos portugueses. Tenho grande orgulho de ser português e de ser alentejano! O alentejano é um povo que viveu sempre na adversidade. De uma erva daninha fazemos uma sopa (com pão!)

Gosto muito de falar com pessoas, até com quem guarda cabras. Eles por vezes sabem mais que nós. Um pastor de cabras conhece o tempo que vai fazer e sabe falar com o vento!”



Luís Filipe Maçarico / Rosa Honrado Calado
Fotografias de Luís Filipe Maçarico (o artista no Politeama e aspectos da casa onde nasceu em Vila Nova de São Bento, actualmente sede da junta de freguesia local)

*Entrevista publicada na revista "Alentejo" nº 46, Junho/Novembro 2019. 


ALCÂNTARA: METAMORFOSES DE UMA FREGUESIA DA LISBOA OCIDENTAL *





Alcântara terá sido um arrabalde de Lisboa, território de quintas e palácios da nobreza, onde a aristocracia se refugiava, fugindo das doenças que assolavam o centro da capital, como a peste. O seu nome deriva do árabe Qântara, que significa ponte. Ponte que ligava a zona à cidade. Ponte que voltou a existir em 1966, ligando agora as duas margens do Tejo.

No século XV surgiram as primeiras actividades industriais, ligadas às pedreiras, das quais se extraía pedra para cal, originando fornos de produção dessa substância.

Entretanto, em 25 de Agosto de 1580 defrontaram-se os exércitos de António Prior do Crato e de Filipe II de Espanha, na batalha de Alcântara, perdendo-se a independência, retomada somente em 1640.

Em 1582 e com o patrocínio do soberano espanhol, foi fundado o convento das Flamengas e mais tarde, em 1617, o Mosteiro do Monte Calvário, também feminino, começando esta zona a ter uma presença religiosa importante.

No alto de Santo Amaro, a Capela do século XVII assiste a peregrinações de galegos que ali vão orar e folgar. Ainda hoje (embora seja uma festa recriada) se realiza anualmente a Romaria, no final de Junho.

O aparecimento de fábricas de curtumes e de pólvora (1690/1728), poluiu as águas que corriam entre os campos. O Marquês de Pombal, cujos pais foram proprietários da Quinta, posteriormente designada do Fiúza, assim chamada por ter sido pertença de um magistrado com esse nome, estimulou a criação da Tinturaria da Real Fábrica das Sedas. No palácio com a mesma designação haviam de reunir-se posteriormente conspiradores republicanos, contestatários da velha élite e das ideias dominantes.

O terramoto de 1755 vai deixar marcas de ruína nos conventos e outros edifícios, saindo a corte do Real Palácio de Alcântara para se instalar na Real Barraca da Ajuda, um palácio de madeira, profusamente evocado por Baptista Bastos no seu romance “Cão Velho entre Flores”. A inauguração da Igreja Paroquial de S. Pedro de Alcântara, em 1788, revela segundo alguns autores uma miniatura da basílica da Estrela.

Notável é a criação da Real Tapada, onde em 1852 se instituiu o Instituto de Agronomia. Com 100 hectares, no reinado de D. Luís passa a ter um belíssimo pavilhão de exposições, construído em ferro e vidro.

Entre 11 de Setembro de 1852 e 18 de Junho de 1885, e durante pouco mais de três décadas, constituiu-se e desenvolveu-se o concelho de Belém, cujo primeiro presidente foi Alexandre Herculano.

Abarcava aquele concelho territórios de Ajuda, Belém, parte de São Pedro de Alcântara, Santa Isabel, São Sebastião da Pedreira, Nossa Senhora do Amparo de Benfica, São Lourenço de Carnide e Menino Jesus de Odivelas.



No século XIX verificou-se a proliferação de unidades industriais, que tentaram aproveitar ainda a existência da ribeira, espalhando-se ao longo de um espaço delimitado pelo rio Tejo e o curso de água local que foi posteriormente encanado, tal eram os odores e a necessidade de construir uma rede viária.

Na primeira metade daquele século surgiram as Fábricas de Fiação e Tecidos Lisbonenses e a Companhia Lisbonense de Estamparia e Tinturaria de Algodões.

Em 1864 surgiu a Companhia de Carruagens Lisbonenses, aparecendo seis anos depois o carro americano. O caminho - de - ferro que chegou cedo a Alcântara-Terra, durou pouco tempo a levar passageiros para sintra, passando a servir durante largos anos só para o transporte de mercadorias.

Ao pé das chaminés, multiplicaram-se as tabernas (eram inúmeras). Uma colectividade musical - Sociedade Filarmónica Alunos Esperança (SFAE) ainda hoje existente, tentou valorizar o ensino da música entre a classe operária. Institui-se a União Fabril, mais tarde CUF, fabricando sabão, velas, adubos e outros produtos.

No dealbar do século XX, três cinemas procuram trazer a sétima arte junto do povo.

Nos primeiros anos de 1900 faz sensação a Feira de Alcântara. Com atracções de causar espanto, barracas de comes e bebes, teatro e circo, entre outras novidades.

A Carris dá os primeiros passos.

A semelhança de Alcântara com as cidades industriais inglesas atinge o auge a partir da construção da Fábrica Napolitana, tendo sido usado tijolo refractário nos seus quatro andares. Nas obras que evocam ou estudam esta arquitectura há quem compare este edifício a uma catedral.

O ferro forjado (presente no antigo mercado) e a azulejaria embelezam as fachadas,

Durante o Estado Novo, a gare marítima de Alcântara liga Portugal ao mundo, havendo painéis de Almada Negreiros exaltando a Nau Catrineta e o afã das mulheres que ganhavam o pão nas duras actividades da descarga de mercadorias das fragatas do Tejo.

Em 1932 passou a desfilar na Avenida da Liberdade, a Marcha desta freguesia da cidade, terra de marinheiros, varinas e carroceiros, tendo como primeira madrinha a jovem fadista Amália Rodrigues, que cantava na verbena do Carcavelinhos e venderia limões na doca.

Os pátios e as vilas operárias passaram a pontuar a paisagem humana, tal era a abundância de trabalhadores das várias indústrias (têxteis, química, cerâmica, metalurgia).

Naturalmente, o associativismo alastrou, a partir do triunfo das ideias liberais, fortalecendo-se com o espírito republicano. São disso exemplo a já referida SFAE e a Sociedade Promotora de Educação Popular. O Atlético Clube de Portugal nasce nos anos 40 da fusão do Carcavelinhos Foot-ball clube com o União Foot-ball Lisboa, clubes desportivos da primeira década de novecentos. A Academia de Santo Amaro é também resultado da fusão de três colectividades do século XIX com vocações recreativas, musicais e teatrais.

Alcântara tem sido abordada pelas Ciências Sociais, havendo contributos fundamentais para o seu estudo, de Ana Luísa Janeira, Carlos Consiglieri, Cláudia Leitão, Jorge Custódio, Mário Freire, Marina Tavares Dias e Norberto Araújo, só para citar alguns dos mais conhecidos.

Do passado ficaram as marcas visíveis dos Palácios Burnay, da Ega, Vale Flor, Conde Sabugosa e Palacete da Ribeira Grande. Esta freguesia de Lisboa, que na transicção do século XX para o XXI se transformou num sítio de lazer, oferece agora as Docas, um conjunto de bares e restaurantes, com esplanadas ao lado do rio, uma restauração de nomeada e a Lx Factory, nascida em 2008, num cenário industrial, onde encontramos inúmeros contributos para um melhor conhecimento da moda, dança, cinema, publicidade, comunicação, multimédia, arquitectura, decoração, música e literatura (Livraria Ler Devagar).

O edifício da Comissão Reguladora do Bacalhau de 1939 transmutou-se em 2008 no Museu do Oriente.

As metamorfoses de Alcântara são afinal o espelho da evolução da cidade e do país.

*artigo publicado na revista da Aldraba, Associação do Espaço e Património Popular.



Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias a estação de Alcântara-Terra e da marcha de Alcântara). Graça Nogueira da Silva (fotografias da Capela de Santo Amaro e do adro em forma de proa de navio).

terça-feira, dezembro 17, 2019

Bio-Bibliografia Reactualização


NOTA BIOGRÁFICA E ACADÉMICA: Luís Filipe Maçarico nasceu em Évora, em 29-10-1952. Licenciado pela Universidade Nova de Lisboa - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Antropologia, em 26/09/1994, com “Barbeiros de Alcântara - A Identidade Masculina e Bairrista entre Estratégias de Sobrevivência e Ameaças de Extinção”.  Mestrado em Antropologia (Patrimónios e Identidades) no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, com “Os processos de construção de um herói do imaginário popular - o caso de Santa Camarão”. Em 2008 matriculou-se no Mestrado “Portugal Islâmico e o Mediterrâneo”, leccionado pela Universidade do Algarve, no Campo Arqueológico de Mértola, que concluiu em 2012, com 17 valores.

PERCURSO ASSOCIATIVO (VOLUNTÁRIO): Alguns dados: Dirigente da direcção do Sindicato dos Trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa, entre 1982/1985. Secretário e vice-presidente da mesa da Assembleia-Geral do Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes”, entre 1997/2001 e 2017/2020) Relator do Conselho Fiscal do Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes” (2011/2013). Presidente do Conselho Fiscal desta colectividade em 2006. Vogal, director cultural da direcção do centenário, presidente da Mesa da Assembleia-Geral e presidente da direcção da Sociedade Musical Ordem e Progresso, entre 19997/2001. Segundo e Primeiro secretário da direcção da Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio, entre 1997/2001. Vogal efectivo da mesa da Assembleia-Geral da Casa do Alentejo entre 1999/2001. Fundador do Círculo Artístico e Cultural Artur Bual (2000). Fundador e Membro da Comissão Promotora de “A Aldraba - Associação do Espaço e Património Popular” (Novembro/2004). Presidente do Conselho Fiscal da Liga dos Amigos de Alpedrinha (2005/2006). Presidente da direcção da “Aldraba” (2005/2006) e da Mesa da Assembleia-Geral (2007/2011) Vice-Presidente da Direcção da Aldraba (2011/2018) Vice-Presidente e secretário da Mesa da AG da Liga dos Amigos de Alpedrinha (2007/2018) Fundador e membro do Grupo dos Amigos da Tapada das Necessidades (2007/2013) Membro do Conselho Nacional da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto (2008/2010 e 2010/2013) Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga dos Amigos de Alpedrinha (2010/2014). 
PUBLICAÇÕES/ASSOCIATIVISMO"Associativismo, Património e Cidadania, Edição de Autor, Lisboa, 2010. “Um Antropólogo no Associativismo”, edição Territorial, Associação de Estudos Territoriais e Análise Regional, 1998.

PUBLICAÇÕES/ POESIA: "Uma Casa é como uma Árvore por Dentro", Edição de Autor, Lisboa, 2018; "Aquela Pequena Sabedoria de Estrelas Repartidas", Edição de autor, Lisboa, 2017; "É de Noite que me Invento", Edição de autor, Lisboa, 2015; "Ilha de Jasmim", edição do autor, Lisboa, 2013. "Geografia dos Afectos", Apenas Livros, Lisboa, 2012. "Transumância das Pequenas Coisas", Câmara Municipal de Castro Verde, 2012. “Cadernos de Areia”, edição do autor, Lisboa, 2008. “Ar Serrano”, edição Câmara Municipal do Fundão, 2006.“Caligrafia do Silêncio”, edição do autor, Lisboa, 2004;  “A Secreta Colina”, Câmara Municipal de Lisboa/ Cultura, 2001; “Lisboa, Pegadas de Luz”, Câmara Municipal de Lisboa/ Cultura, 2000; “A Celebração da Terra”, edição das C. M. de Évora e Montemor-o-Novo, Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Vila e Delegação Regional de Cultura do Alentejo, 1999; “Os Peregrinos do Luar” edição do autor, Lisboa 1998; “Lisboa, Cais das Palavras”, Câmara Municipal de Lisboa/ Cultura, 1998;  “O Sabor da Cal”, edição da Câmara Municipal de Beja, 1997; “Vagabundo da Luz”, edição Liga dos Amigos e Junta Freguesia de Alpedrinha, 1997; “Íntim(a)Idade”, Edição do autor, Lisboa, 1996; “Os Pastores do Sol”, Ed. Autor, versão trilingue, português, francês e árabe, Lisboa, 1995; 2ª ed. Escola Profissional Fundão, tradução francesa de Raja Litiwinoff e árabe do prof. Ezzeddine Mansour, 1996; 3ª ed. prefácio de Salem Omrani, Lisboa, 2001; “Lisboa, Asas de Água”, Câmara Municipal de Lisboa/ Cultura, 1994; “A Essência”, Edição Autor, Lisboa, 1993; “Mais Perto da Terra”, Edição do Autor, Lisboa, 1992; “Da Água e do vento”, Átrio, Lisboa, 1991; 
RECITAIS/POESIA - Morille, Salamanca (2015, 2017 e 2018), Vilarelhos (2018), no Festival/Encontro de Poesia Transfronteiriça, Arte de Vanguarda e Património. Fórum Romeu Correia/Almada (20152016), a convite do Grupo dos Amigos do Alentejo, Alpedrinha (desde os anos 90, no Encontro de Poetas, promovido pela Liga dos Amigos de Alpedrinha), Campo Arqueológico de Mértola, durante o Festival Islâmico (entre 2008 e 2017), Serpa, Casa do Cante (2015) Biblioteca Municipal José Saramago, Beja (2013-2017) Biblioteca Municipal de Aljustrel (2018) e em diversas colectividades de Lisboa, como a Sociedade Musical Ordem e Progresso e Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes", em sessões de Música e Poesia (anos 90/ 2017)

LITERATURA INFANTIL: Alguns títulos; “Flor de Sementinha”, Caixa de Crédito Agrícola de Montemor-o-Novo, 2000; “Azedal, Sarzedar e a Manhã de Abril”, Junta de Freguesia de Prazeres, 1996; 2ª edição, Comissão Instaladora do Município de Odivelas, 2001 “A Princesa Joaninha e o Lagarto Saltitão”, Junta de Freguesia de Prazeres, 1994. 

ENSAIO: Selecção de artigos e livros publicados:  "Memória Oral e Imaginário Popular em torno das Invasões Napoleónicos na vila de Alpedrinha", EBVROBRIGA, Revista do Museu Arqueológico Municipal José Monteiro, Fundão, 2018. "Não se Recolhem os Materiais da Vida, Vivem-se! Alves Redol e a vivência etnográfica preparando os romances", in Paula Godinho e António Mota Redol (coordenação), O Olhar das Ciências Sociais, Colibri, Lisboa, 2014. "Elementos para uma Imagem Contemporânea do Alentejo", "Callípole", nº 19, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 2011. "Jóias Imperceptíveis em Portas de Lisboa Aldrabas, Batentes e Puxadores nas Casas de Catorze Personalidades da Cultura Portuguesa"; Apenas Livros, 2009.  “Aldrabas e Batentes de Porta. Uma Reflexão sobre o Património Imperceptível”, Aldraba, Associação do Espaço e Património Popular, 2009. “Portas de Évora”, Revista “A Cidade”, Câmara Municipal de Évora, 2009. “Imaginário e Patrimonialização em Murfacém”, “Anais de Almada”, Câmara Municipal de Almada, 2008; “Os Comeres dos Reis no Imaginário Popular”, “Calípole”, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 2008; “Os Heterónimos de um Mistério: Azóias, Cubas e Morábitos no Imaginário Popular. O caso de Montemor-o-Novo”, Almansor, nº6, 2ª série, Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, 2007; “Memórias do Contrabando em Santana de Cambas - Um contributo para o seu estudo”, edição Junta de Freguesia de Santana de Cambas, 2005; “Os Morábitos na Arquitectura Religiosa do Sul”, “Calípolle”, 2006, Câmara Municipal Vila Viçosa; “Aldrabas e Batentes de Montemor-o-Novo: Um Olhar Antropológico”, Almansor, nº4, 2ª série, 2005, Câmara Municipal de Montemor-o-Novo; “A Função Antropológica da Aldraba: Da Origem Simbólica à Morte Funcional”, “Arqueologia Medieval”, nº8, Campo Arqueológico de Mértola, Afrontamento, Maio 2003; “Atmosferas do Corpo” - ensaio sobre a pintura de Mena Brito, Prefácio, 2002; ”Associativismo em Lisboa: Perspectivas para o Futuro”, “Actas do III Colóquio Temático Lisboa - Utopias na Viragem do Milénio”, Câmara Municipal de Lisboa/ Cultura, 2001, pp. 317-324; “O Alentejo, O Cante e os seus Poetas”, “Arquivo de Beja”, vol. XIII, série III, Abril 2000, pp. 13-36. “A Personalidade Poética do Alentejano”, “Arquivo de Beja”, volume X, série III, Abril 1999, pp. 111-124; 

BIOGRAFIA: “Com o Mundo nos Punhos - Elementos para uma biografia de José Santa “Camarão”, Câmara Municipal de Lisboa/Desporto, Outubro 2003;

POETAS POPULARES /HISTÓRIAS DE VIDA: "Por Feitiço, Por Magia", Câmara Municipal de Viana do Castelo (organização, pesquisa bibliográfica, análise literária e antropológica e anotação, a propósito da poesia de José Figueiras, com Laurinda Figueiras), 2012; "Marés da MInha Vida", ed. autor (introdução, recolha e selecção de poemas de Abílio Duarte, com Ana Isabel Carvalho), 2010; "Fui Camponês, Fui Caixeiro", ed. Junta de Santana de Cambas (introdução, recolha e selecção, com José Rodrigues Simão, de poemas de João Carrasco), 2007.

CONTO: "Vozes do Tempo", Edição de Autor, 2017; “Degraus”, Universitária Editora, 1999;

ANTOLOGIAS: Publicado em inúmeras antologias. Destacam-se: "O Sangue dos Rios Poetas celebram Fernando Namora", organização de Pedro Salvado, António Lourenço Marques e Carlos d'Abreu, Câmara Municipal do Fundão, 2019. "O Sol é Secreto Poetas celebram Eugénio de Andrade", organização de Pedro Salvado, Luís Filipe Maçarico e Carlos d'Abreu, Câmara Municipal do Fundão, 1919."Morada da Poesia Poetas celebram Manuel da Fonseca", Câmara Municipal de Castro Verde, 2011. "Gómez Naharro Antologia - Poesia vernácula musicalizada de la Península Ibérica", Asamblea de Extremadura, Mérida, 2010, página 106, com Fernando Pessoa, Nicolau Saião e Salvador Espriu. "Na Liberdade", coordenação de Jorge Velhote, Nicolau Saião e Nuno Rebocho, Garça Editores, Régua, 2004. “Cerejas Poemas de Amor de Autores Portugueses Contemporâneos” selecção de Gonçalo Salvado, editorial Tágide e Câmara Municipal do Fundão, 2004; “Vento - Sombra de Vozes/Viento - Sombra de Voces” coordenação Pedro Salvado e Juan Gonper, edição Câmara Municipal do Fundão/Celya, 2004. “Cadernos Despertar I”, edição dos autores, com Eduardo Olímpio, José Carlos Ary dos Santos, José Jorge Letria, Amadora, 1982; “O Poeta faz-se aos 10 anos”, organizada por Maria Alberta Menères, 1ª edição, Assírio & Alvim, Lisboa, 1973; 2ª. edição Plátano, 1984.

PEQUENA NOTA CURRICULARARTÍSTICA": Aprendeu com Artur Bual, a pintar com café e vinho.
Escreveu para catálogos de exposições de pintura e livros de Arte, de Artur Bual, Mena Brito, Rodrigo Dias e Margarida Barroso (Guika).


Ilustrou artigos e poemas no “Diário do Alentejo”, “Diário do Sul” e vários outros periódicos.


Livros de poesia, como “O Sabor da Cal”. “Transumância das Pequenas Coisas” e “Ilha de Jasmim”, têm desenhos de sua autoria, pintados com café.


Participou em várias exposições de Arte Postal e numa exposição da Galeria Artur Bual (Amadora), intitulada “Zero Figura”.


Tem os seus desenhos de café espalhados por Portugal.