No dia 25 de Abril de 1974, eu estava em Nampula. Cumpria serviço militar obrigatório - um dos malefícios do Fascismo de má memória, que reinava desde 1927, no nosso país, impondo a uma maioria trabalhadora rural e fabril, pobreza, analfabetismo e o recurso à emigração, para ter uma vida melhor. A censura na comunicação social, a perseguição política, a prisão e a tortura, para todos os que se opusessem ao regime de partido único, eram outras marcas pesadas da ditadura.
Aqueles que na actualidade suspiram pelo autoritarismo e criticam a Liberdade, tentam passar a ideia que o 25 de Abril foi calamitoso para a actualidade.
Quem não esquece que o salário mínimo, os subsídios de férias, de Natal e de desemprego, o Serviço Nacional de Saúde, o acesso à Universidade, a procura de uma igualdade profissional, social e cultural, entre homens e mulheres, o fim da maldita guerra colonial e as independências dos territórios libertados, são conquistas da chamada Revolução dos Cravos, tem motivos (ainda), passados 44 anos, para celebrar.
O oportunismo, a desinformação, os governos que retiraram qualidade de vida ao Povo, a corrupção na política e na gestão económica, minaram os dias novos, que ficaram ofuscados por tanta gentalha com mau carácter.
A luta é gigantesca para, nos mais diversos caminhos da realidade se repôr o que foi roubado das esperanças de Abril.
Fico triste, quando oiço gente, sobretudo pobre de espírito [que já nasceu depois das transformações, não passou fome, não teve de ir à guerra e a quem foram dadas oportunidades, para estudar e trabalhar e não aceitaram, sendo mais de 20% na faixa etária entre os 15 e os 29, o dobro da percentagem dos que em 2000 se encontravam nessa situação] vociferar contra a generosidade dos homens e mulheres, que tanto sofreram para acontecer "(...) a madrugada que eu esperava/ O dia inicial inteiro e limpo/ Onde emergimos da noite e do silêncio/ E livres habitamos a substância do tempo/ / que Sophia cantou na sua Poesia.
As Portas que Abril Abriu de Ary e a côr da Liberdade, sonhada por Jorge de Sena (quinze anos antes da revolta), enquanto houver quem defenda o melhor que Portugal tem - as pessoas fraternas e solidárias - jamais serão fechadas.
Viva o 25 de Abril!