Numa sala repleta (Centro Paroquial), aquecida por uma magnífica lareira, decorreu na noite de ontem, dia 3 de Fevereiro de 2018, em Alpedrinha, a segunda apresentação de "Vozes do Tempo" (a primeira foi a 13 de Outubro de 2017 no Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes").
O anfitrião, Francisco Miguel Barata Roxo deu as boas vindas aos inúmeros convidados, designadamente à Senhora Vereadora da Cultura da CMFundão, a um vereador do PS e aos Presidentes da Assembleia de Freguesia e da Junta de Freguesia.
Organizado por este alpetriniense ilustre, o evento desenrolou-se num clima fraterno, havendo uma exposição de livros, fotografias e documentos, evocativos de outros acontecimentos, relacionados com o escritor, filho adoptivo da vila, que foi celebrado, através da audição de um poema seu, cantado pelo saudoso Grupo de Música Popular, ligado à Liga dos Amigos, que chegou a gravar um LP.
De salientar que todas as associações e colectividades de Alpedrinha marcaram presença na sessão, através de dirigentes ou representantes.
Grande surpresa foi a vinda de Carlos Fatela e Fernanda Neto, o casal que me trouxe pela primeira vez a este lugar tão belo da Gardunha.
Presentes ainda personalidades de relevo na nossa vida cultural e política, como o Dr. Lourenço Marques, Catarina Gavinhos, Diamantino Gonçalves e a Professora Dra. Maria Beatriz Rocha-Trindade.
A Professora Antonieta Garcia foi convidada para falar sobre este livro de contos e pronunciou-se, afirmando que "A Arte serve para salvar o Homem" destacando que "De luz falamos quando falamos de obras de Luís Maçarico", acrescentando que estes contos têm raízes mais profundas."
Antonieta Garcia fez uma radiografia dos textos, encantando a numerosa assistência que saiu do conforto das suas casas para assistir a um momento inesquecível, sublinhado pelo "Cantar de Amigos", grupo de músicos do Fundão, com grande qualidade, que evocaram José Afonso.
Da intervenção do autor transcrevem-se as seguintes passagens:
Acerca dos oito textos de "Vozes do Tempo", importa salientar que (...) Todos eles são autobiográficos, mesmo quando falam de outras pessoas, como Manuel Losté, personagens reais que se cruzaram comigo ao longo desta caminhada que é a assistência.
Contudo, o mais longo - "Pardieiros" - é catártico, pois através dele tentei justificar o que nunca me foi explicado, por aqueles que me trouxeram a este mundo, apaziguando o desconforto.
"Pardieiros" desenrola-se, em parte, na Fonte Santa (...) onde a avó paterna resgatou o meu Futuro, levando-me para a sua casa de bonecas, com um parapeito onde sonhei viagens, seguindo o voo dos pássaros.
No primeiro livro de memórias, intitulado "Degraus", falei da Carmo Leiteira, que urinava no leite que vendia porta a porta e da Luísa Choca, que era tão bêbeda, que nem se apercebeu que uma rata de cano de esgoto comera a cana do nariz do neto de colo que dormia numa enxerga.
Eram assim os Becos dos Contrabandistas... Como escreveu Isabel do Carmo "Já vivi nesse país e não gostei!"
Trago lembranças terríveis desse tempo e todas elas doem, sejam escritas ou jamais reveladas.
Passou-se fome nas cidades mas havia umas senhoras benfazejas, que a troco de rendas e bordados, executadas pela vista cansada de velhotas carentes, pagavam com leite em pó e outros víveres, que ajudavam a minorar uma pobreza envergonhada que tantas vezes recorria às casas de penhores."
O encontro terminou com um simpático beberete, que proporcionou o convívio entre todos.
Maria Beatriz Rocha - Trindade descreveu assim o evento: "Tudo correu o melhor possível, na realidade muito acima do que poderíamos ter imaginado...Ultrapassou-nos. Foi tudo lindo e todos gostam muito de si. Viu-se bem. Não é que não mereça mas deve estar, como estou, muito emocionado. Parabéns, parabéns!!!"
LFM (texto e fotos 3,4,5,6 e 7) com Melisa Gomes (Fotos 1 e 2)