Gostaríamos
de agradecer ao Executivo da Junta de Freguesia de Pias, na pessoa do seu
Presidente, Sr. José Augusto Martins Moreira, em nome da Aldraba - Associação
do Espaço e Património Popular, o honroso convite para participarmos no acto
inaugural do Espaço Museológico, saudando a Câmara Municipal de Serpa, através
do seu Presidente Engº Tomé Pires, e todas as individualidades presentes.
Permitam-nos que cumprimentemos com especial destaque Madalena Borralho, por
esta realização e que estenda ainda o nosso abraço aos dirigentes associativos
desta vila, aos membros da Aldraba, na pessoa do Presidente da Direcção, Engº
José Alberto Franco e ao Povo de Pias.
Foi
pela mão do Arqueólogo Marco Valente, que cheguei a este território e do muito
que observei e aprendi, partilhei na revista nº 17 da “Aldraba”, através de um
artigo que apresenta as vivências e as memórias que originaram o Espaço
Museológico.
Ao
longo de uma década,- a Aldraba nasceu em 25 de Abril de 2005, - promovemos
encontros, em quase 3 dezenas de localidades, entre os distritos de Castelo
Branco e Faro. A associação possui página no Facebook e um blogue.
“Dez
anos de existência conferem-nos o direito de nos considerarmos também um
garante da salvaguarda do património português”.
Os
dezassete números da revista foram apresentados, entre outros, pelos
Antropólogos Joaquim Pais de Brito, Paula Godinho, Augusto Flor e Paulo Lima,
pelos historiadores Santiago Macias, Luísa Tiago de Oliveira e António Cardoso,
pelo músico António Prata da Ronda dos Quatro Caminhos e pelo companheiro Marco
Valente. Em locais tão diferentes, como o Campo Arqueológico de Mértola, A Voz
do Operário e a Biblioteca de Beja.
Nas
várias edições da revista, foi abordada uma grande diversidade temática, acerca
do património identitário, salientando-se o associativismo, os barbeiros, o
Cante, os cataventos, o contrabando, as chaminés, as claraboias, os fornos de
cal, os espantalhos e os moinhos, celebrando-se ainda resistentes culturais e
políticos, como Adeodato Barreto, Alves Redol, Jaime Gralheiro e João Honrado,
só para citar alguns.
Uma
vez apresentada a Associação, que aqui representamos, e enquanto autor do
artigo sobre o Espaço Museológico de Pias, acrescentarei - neste dia tão
importante para a promoção da cultura local e regional, que seguramente será um
novo pólo de atracção turística - algumas breves palavras, a propósito do
trabalho extraordinário de Madalena Borralho elaboradas com Ana Isabel Carvalho
e Marco Valente, dirigentes da Aldraba e elementos da equipa que pretende
apresentar em breve um estudo sobre o imaginário popular de Pias.
Em
primeiro lugar, há que aplaudir e sublinhar a dedicação de Madalena - com o
apoio da autarquia piense - que construiu o espaço museológico, com uma
preocupação expositiva, cuja linguagem tem em conta a escala humana dos
objectos biográficos recolhidos, que são metáforas de um tempo vivido e
revisitado, através de leituras e entrevistas.
Tempo
de diferenciação social, como podemos observar no espólio das meninas Santas,
grande parte dele constituído também por livros, cuja leitura não estava
naqueles tempos ao alcance de todos, pois a instrução para todos nunca foi uma
preocupação tida por parte de governos ditatoriais. Pelo luxo dos seus vestidos
rendados, a mesa farta com imensas iguarias, que podemos observar nas suas
fotos. Esse tempo para o ócio e recriação que o Povo nunca teve, como o simples
prazer de ler um livro.
Num
tempo em que tudo se transforma em Mercadoria temos de evitar o esvaziamento
das lições do percurso colectivo. Este será sempre um espaço pedagógico e de
diálogo entre gerações.
Deixamos
algumas sugestões para uma futura dinamização deste espaço. Em termos da
oralidade, com a realização de conversas temáticas sobre os objectos, as
actividades de quem os produziu e o seu modo de vida. Trazer as escolas a este
espaço, para que os mais novos aprendam com os mais experientes aspectos que
fazem parte da sua identidade enquanto pessoas e Pienses. Ateliers e workshops
de como se fazia antigamente: renda, bonecas, carrinhos de esferas. Quais as
actividades que eram mais destinadas aos homens e às mulheres desses tempos.
Outros espaços que pretenderam guardar a
identidade dos sítios onde se implantaram, descuraram este importantíssimo
pormenor: cada objecto conta uma história e cada história interage com vidas,
com protagonistas reais. Por isso, nessas experiências mal concebidas, as
populações locais, ao verem que os objectos doados não tinham referência sobre
a pertença, diluindo-se numa leitura primária, que podia ter a ver com qualquer
lado, menos com o seu testemunho, deixaram de frequentar o mostruário,
supostamente criado, também, para reverem a sua caminhada.
Todavia,
noutros lugares - embora com maiores recursos que Pias - a vida rural foi
recordada com êxito, dando-se primazia à Memória, que os testemunhos sobre uma
realidade passada ajudam a compreender, comunicando ao visitante interessado, a
viagem de gerações, através dos objectos, e de tudo o que está relacionado com
estes: trajectos e factos, existências e saberes fazer, evaporados pelo
progresso. Falamos do Centro Cultural Raiano, de Idanha - a - Nova e do Museu
da Ruralidade, em Entradas, cujos mentores, Joaquim Pais de Brito e Miguel Rego,
respectivamente, cuidaram de documentar, com eficácia, as antigas tarefas dos
camponeses da campina da Idanha e do Campo Branco, que cá estiveram antes de
nós, e como asseguraram, com o seu desempenho, o sustento quotidiano.
Com
a sua intuição, o seu conhecimento empírico e a sua excelente ligação ao povo
de Pias, Madalena Borralho, mulher informada, captou o olhar colectivo,
conferindo a cada artefacto a qualidade de documento de uma época, que a Nova
História nos ensinou.
Neste
primeiro dia, a poética da linguagem evocativa aproxima-nos das pegadas de
heróis desconhecidos que aqui ganham personalidade e voz, como na “Ode do Homem
Invisível” que Pablo Neruda imortalizou.
As
terras eternizam-se pelo Amor dos seus habitantes. Esse Amor feito de trabalho
e sofrimento, que a linguagem deste Novo Museu espelha, apresentando objectos e
narrativas, a partir de um olhar conhecedor, que de dentro permite reforçar a
génese resistente dos Homens e Mulheres daqui que permanecem no imaginário
popular.
Parabéns
a Pias, por ter criado este lugar de partilha, reflectindo a História da sua
Comunidade! Parabéns à Madalena Borralho, por se ter entregue, de alma e
coração a este belo sonho tornado realidade!
Parabéns
ao Povo de Pias!
Texto de Luís
Filipe Maçarico, Ana Isabel Carvalho e Marco Valente. Fotos de AC e LFM.