Pergunto-me se não estamos de volta aos anos 50-60, em termos da deposição dos resíduos sólidos, ou seja, ao balde, onde se despejavam os lixos domésticos (cascas de legumes e frutas), que depois eram removidos pelos "almeidas" (actuais cantoneiros de limpeza)...
Com a imposição do Governo, ao pocurar controlar o uso excessivo de sacos de plástico, que proliferava nas grandes superfícies, qual será no futuro o discurso dos serviços de sensibilização sanitária dos municípios?
Vamos voltar ao tempo, em que os moradores atiravam, pela janela, os seus lixos, na calada da noite?
O Porto, cidade tão bonita, talhada em granito, que nos anos 70-80, do século XX, era um viveiro de detritos, atrofiando aquela beleza rude, que ao fim do dia, vista da serra do Pilar transmutava a pedra em oiro...Reencontraremos o Porto sujo, como dantes?
Lisboa, que tem andado mais poluída, conseguirá vencer essas sombras, decorrentes de uma transformção administrativa? A cidade branca não conseguiu ainda o apuramento higiénico do seu status de capital europeia, que pretende ser cartaz turistico....
É que a narrativa da sensibilização sanitária, alude a metermos, dentro dos contentores herméticos, os sacos de plástico, com os detritos, bem acondicionados....
Será que todos os governantes (Governo Central e Câmaras Municipais) pensaram nisto, ou como é costume, implementa-se primeiro a nova medida, restritiva, e depois, consoante os resultados, logo se vê...
No meu caso específico, utilizo o saco de plástico, para depositar os resíduos, decorrentes da atividade doméstica, reciclando ainda garrafas e garrafões de plástico, embalagens cartonadas, etc, que considero excessivas, pois os produtos seriam seguramente mais baratos, se não tivéssemos de pagar tanto estrago. A verdade é que o abuso da utilização do plástico foi imposta pela União Europeia...
Inúmeros vegetais, frutas e demais produtos agrícolas, tiveram de ser expostos - obrigatoriamente - dentro de autênticas redomas plastificadas.
Os próprios jornais, alguns dos quais sou assinante, passaram a ser expedidos via ctt, em embalagem plastificada, quando vinham com uma cinta de papel identificador do assinante.
Note-se que não sou contra a redução do plástico e até aplaudo os sacos de papel reciclado que as grandes superfícies oferecem aos consumidores dos seus produtos....
Tudo somado e dissecado, parece que afinal as pseudo regras, que visam melhorar o desperdício, configuram, não benefícios para o ambiente, mas uma nova taxa encapotada, em nome da protecção da Natureza, mas destinada a fins diversos. Na Antena Um, foi isto que percebi, durante uma reportagem, que desmontava a suposta inovação verde...
Há poucos dias, comerciantes da Rua Prior do Crato (Lisboa) insurgiam-se contra o facto das pessoas não reagirem a esta medida, recusando comprar sacos de plástico e depondo o lixo, directamente de um balde para o contentor.
Numa loja chinesa, a proprietária queixava-se de ter comprado centenas de sacos de plástico, para a sua actividade, tendo sido apanhada de surpresa, com esta medida restritiva ao uso dos mesmos.
Noutra loja de indianos, que abriu há menos de um mês, um saquinho frágil já é cobrado a dez cêntimos, se não quisermos trazer o rolo de papel higiénico ou a garrafa de água na mão. Curiosa, a febre de implementar a regra do pagamento do saco de plástico, quando esta casa está aberta das 8 às 24h, e os comerciantes em redor - de drogaria, sapataria e mercearia - têm de fechar para almoço, cumprindo regras que afinal não são para todos...
Afinal, em que ficamos?
Luís Filipe Maçarico