Sábado 20 de Abril de 2013, em Mértola, assistimos à intervenção final de Cláudio Torres, culminando a Homenagem, que a Faculdade de Letras, o Campo Arqueológico e a Associação de Defesa do Património de Mértola organizaram.
Num tempo em que a rua protesta, mas os académicos medem as palavras, para não terem de enfrentar consequências, que ponham em causa o status, Cláudio Torres não calou o incómodo que sente.
Nos anos 70 o Professor instalou-se numa vila apagada, do interior, para fazer arqueologia, mas também com o objectivo de colocar aquela terra no mapa, com todo um Saber descoberto, e assim proporcionar a populações abandonadas, uma melhor qualidade de vida.
Nos anos 70 o Professor instalou-se numa vila apagada, do interior, para fazer arqueologia, mas também com o objectivo de colocar aquela terra no mapa, com todo um Saber descoberto, e assim proporcionar a populações abandonadas, uma melhor qualidade de vida.
Disse o investigador, decorridas décadas desse trabalho pioneiro, que deixou sementes por todo o lado:
"O interior desertifica-se, porque a Escola diz aos jovens
que os pais não têm cultura, que são analfabetos, burros e alicia-os a
irem para a cidade, porque lá é que está o saber e a importância.
Abandona-se a terra, a essência da vida..."
Oxalá estas palavras se espalhem e cheguem aos que decidem, não apenas aos ministros, mas aos eruditos que escolhem os textos dos manuais e até aos professores universitários, que leccionam matérias, sem aventurarem ensinar saberes, que são património e identidade, em vez de papaguearem e obrigar a vomitar os textinhos redutores.
"É pela comunicação e não pela espadeirada , a implementação do Islão, entrando com produtos e ideias. Seria estúpido que um comerciante para vender um produto matasse o cliente" defendeu Cláudio Torres, durante a sessão realizada na sexta feira 19, no Anfiteatro 1 da FLUL, prosseguindo: "No sul da Tunísia, os povoados (Ksur) estão abandonados, tudo emigrou... deixando restos dessa fantástica civilização, parecidas com o nosso sul. Barragens com 3-4 metros de altura, para segurar a terra arável, que é arrastada com enxurradas. Essa terra alimenta uma oliveira. para alimentar a comunidade com 3-4 azeitonas. É uma estrutura frágil a desaparecer. Isto é a mesma cultura, faz parte do nosso passado e do nosso futuro!"
"É pela comunicação e não pela espadeirada , a implementação do Islão, entrando com produtos e ideias. Seria estúpido que um comerciante para vender um produto matasse o cliente" defendeu Cláudio Torres, durante a sessão realizada na sexta feira 19, no Anfiteatro 1 da FLUL, prosseguindo: "No sul da Tunísia, os povoados (Ksur) estão abandonados, tudo emigrou... deixando restos dessa fantástica civilização, parecidas com o nosso sul. Barragens com 3-4 metros de altura, para segurar a terra arável, que é arrastada com enxurradas. Essa terra alimenta uma oliveira. para alimentar a comunidade com 3-4 azeitonas. É uma estrutura frágil a desaparecer. Isto é a mesma cultura, faz parte do nosso passado e do nosso futuro!"
Cláudio Torres, como disse Santiago Macias, na Faculdade de Letras, ensinou de outra forma, contrariando o estabelecido. "Não era alguém que desse muita matéria ou permitisse tirar muitos apontamentos. Não havia testes nem exames, mas fichas de leitura, trabalhos individuais e colectivos. No fundo, o que ele queria era que encontrássemos caminhos, o que ele nos dava foi o sentido de liberdade, enquanto investigadores e cidadãos." Fez os alunos procurarem métodos, deu-lhes pistas
No tempo actual quantos professores actuam assim?
Não deve ser por acaso que, quando recebeu o Prémio Pessoa, o tenham confundido com César Torres, corredor de automóveis, esse sim, então mediático.
A sua arqueologia "procura - segundo Santiago Macias, citando o Mestre - a cerâmica dos ocupados. São muitas perguntas e outras tantas respostas, que morosamente é preciso procurar! Quem interessa a cima dos palácios é o homem que hoje trabalha em cima do seu passado!"
Hoje, é conhecido pelo que trouxe de novo, sobre o nosso passado árabe, e por tudo o que possibilitou estudar, com os caminhos que abriu. "Construtor de casas", chamou-lhe a arqueóloga Conceição Lopes.
Hoje, é conhecido pelo que trouxe de novo, sobre o nosso passado árabe, e por tudo o que possibilitou estudar, com os caminhos que abriu. "Construtor de casas", chamou-lhe a arqueóloga Conceição Lopes.
E de facto, Mértola deve-lhe o ter ensinado, o quanto vale a História dos povos e culturas que nos antecederam, com evidentes benefícios para o turismo, comércio, escola e habitantes, entre outros beneficiários, da vinda de excursões de turistas nacionais e estrangeiros e de estudantes e estudiosos do mundo inteiro.
Falta apenas encontrar uma visão certeira, por parte dos que governam, ousada, que não pode ser dissociada do sonho, numa ambição de desenvolvimento, à escala humana, estancando a estagnação e a desertificação. Mas isso, é tarefa de um povo e dos seus espelhos, que entendam governar, ao invés da crise, que provoca a agonia deste país, dirigido por mentecaptos e lacaios, trazendo para Mértola o que Mértola anseia e merece.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)