O texto magnífico, que hoje desejo partilhar, com todos os leitores, foi escrito por uma jovem ligada ao melhor Associativismo do Património Popular (Ronda Típica de Meadela), que encara a existência com uma vontade de viver fulgurante.
Recolhi-o no blogue da Carolina Figueiras, estudante da Universidade do Minho e elemento do grupo de dançarinos da Ronda, grupo de gente fantástica, criado por seu avô há cinquenta anos e presidido na actualidade por sua mãe.
O blogue é este: http://cfigueiras.blogs.sapo.pt/25658.html
E o texto aqui está:
"Sim, acredito. Coincidências? Não creio. Vejo o mundo como algo maior e mais completo do que um lugar onde pessoas fazem coisas. Maior do que a natureza, a ciência e todas essas coisas que acontecem na vida de toda a gente. Não acredito em deus, nas religiões como elas são e nos livros de instruções que trazem com elas, muito menos nos seus milagres.Acima de tudo acredito nas pessoas, no mundo interior, no amor e no ódio que põem no que fazem e no que querem: chamemos-lhe energia. Acredito em justiça divina, mas com outro nome: consciência. Não falo propriamente apenas dos pesos que ela possa carregar, mas daquilo que o mundo interior faz por nós… Porque lá no fundo - segundo o que penso, que vale o que vale -, há dois “eus”: a representação daquele que vive cá fora e o “eu” normativo, aquele que faz connosco tudo o que o mundo lá fora nos faz, nuns mais duro, noutros mais benevolente. Creio que esse eu interior produz energia suficiente para conseguirmos tudo o que queremos ( que está ao alcance, imagino eu) e também para destruirmos tudo. Quando fazemos algo mesmo muito mau, «what goes around, comes around» e a nossa consciência põe-se mesmo a jeito para produzir energia negativa suficiente para só trazermos o que não tem grande interesse para a nossa vida. Há quem diga que é uma forma de religião, eu concordo em parte porque se trata de acreditar em algo superior que rege aquilo que não é empírico ou palpável. A religião afasta as pessoas, por serem regras impostas e não naturais, a energia não.
No fundo, acho que algo que realmente junta as pessoas e devia ser mais importante do que qualquer religião é a música. Não é à toa que milhões de pessoas se juntam por ela e são felizes… Naquele concerto, porque aquela música deu na rádio, porque aprenderam a tocar isto ou aquilo, porque voltam a ouvir o tema “x” que estava a dar na ocasião “y” e traz boas recordações. Claro que também há a musiquinha da baba e do ranho, mas estou a falar mesmo é de várias pessoas na mesma frequência, talvez no mesmo ritmo, eventualmente na mesma tonalidade, amiúde no mesmo compasso, mas sempre a canalizar energia para o mesmo centro.
Isto tudo, porque hoje preferi pensar, em vez de existir (contrariando o «penso, logo existo») e porque tive saudades de Viana, dos sons que há por lá, de 4 rapazes que pegam na sua música e a juntam à minha, numa cave onde às vezes não se toca nada, mas também onde se toca tudo… De alguém que toca guitarra para mim muitas vezes… dos sons mais castiços do grupo folclórico, dos meus amigos e da música que partilhamos ao som de gargalhadas e toda a sonoridade conjunta. Porque eu posso ter tudo, mas dado que também não acredito no silêncio e o som perdido só por si não chega, é preciso partilhar e a música é, para mim, isso mesmo."
Carolina Figueiras (texto)
LFM (foto - O mar diante do Castelo Velho, Viana do Castelo)