"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, novembro 29, 2010

Palestina...Até Quando?


TEU NOME, PALESTINA

Teu nome, Palestina
Corre o Mundo nos
Lábios solidários e
Nas mãos que anseiam
Cidades de crianças
Sem medo.

Teu nome, Palestina
Resiste entre escombros
E rios de sangue
Na custosa esperança
De vencer o tempo
Das flores esmagadas.

Teu nome, Palestina
Também faz parte de mim:
Não é possível sorrir
Se choras; não consigo
Cantar se morres.

Teu nome, Palestina
Lembra a luta dos que buscam
Na liberdade o afago da paz
o voo da sabedoria
o elixir da vida contra
os tanques e os canhões
dos opressores.

Teu nome, Palestina
É a lágrima e o grito
De um povo sufocado
Pelo roubo do futuro
Sempre adiado.

Teu nome, Palestina
É uma rosa de cinzas
Sonho teimoso
No coração dos que não
Se rendem dos que não
Se vendem dos que não
Desistem!

Luís Filipe Maçarico

Fotografia recolhida na Net (jovem pastor de camelos de Jenin - Cisjordânia)

Comentário do Professor Dr. Santiago Macias, em 1 de Janeiro de 2009, no seu blogue Avenida da Salúquia 34 :
O poema, de Luís Filipe Maçarico, data de Março de 2002. Podia ter sido escrito ontem. Poderá vir a ser escrito de hoje a um ano...
O Luís Filipe Maçarico refere a rosa de cinzas. Estranha ironia a da faixa de Gaza, outrora célebre pela produção das mais belas rosas do Médio Oriente.

Regresso a Viana do Castelo


















Viana é uma cidade encantadora, do Norte de Portugal, princesa do Lima, no coração do Minho, rica em património e tradições.
Terra de artistas e poetas, nas suas esplanadas - mesmo que o sol seja frio - há sempre, como neste fim de semana - gente da Galiza com asas nas palavras, saboreando a conversa e o café, felizmente bom, oriundo de Campo Maior, onde há o melhor café português.

Outra felicidade que Viana proporciona é viver lá uma Cristina especial, que gosta, como eu, de bolas de Berlim (e não há outras como as do Manuel Natário, com o equivalente dos pastéis de Belém, na cidade de Lisboa)...
Outra cena deliciosa foi escutar e ver raparigas e rapazes da Ronda Típica da Meadela cantando e dançando com a energia e a elegância incomparável do povo da serra de Arga.
Tive esse privilégio - e voltei satisfeito, apesar de não haver um Intercidades para a capital de um distrito, que tem a serra e o mar no seu território.

Passei, em suma, um fim de semana intenso, no solar das Werneck, onde assisti ao ensaio da Ronda, nas ruas mais antigas de Viana, a olhar para os monumentos, as lojas, as pessoas, na Biblioteca Municipal, no Teatro Sá de Miranda, utilizando intensamente os pés, os olhos, a máquina fotográfica, o cérebro.

Voltarei um dia destes, até porque, - enquanto antropólogo, - Viana é terreno fértil para estudar o desenvolvimento de uma colectividade, como a Ronda.
Até lá, fica uma selecção de imagens, que mostra uma ínfima parte da beleza, que me foi dado desfrutar, seis meses após ter conhecido Viana, longe de outros tempos em que passava em excursão pelo Minho.

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

domingo, novembro 28, 2010

DA ALMA DE VIANA










Na passada sexta feira e respondendo ao convite de uma amiga minhota, lá fui eu até Viana, para assistir ao belíssimo espectáculo "Da Alma de Viana", no Teatro Sá de Miranda, uma sala fascinante, teatro secular como já houve noutros locais do país e que a edilidade vianense conserva, permitindo animações como a da noite de sábado 27.

Celebravam-se os 50 anos da criação, em Meadela, da Ronda Típica, cujo fundador foi lembrado, com a declamação de alguma poesia de sua autoria.
José Figueiras, etnógrafo, associativista, homem de cultura, ao assumir actividades de cidadania em prol da salvaguarda do património e da identidade local, promoveu serões, nos idos de 60, onde estiveram os poetas Pedro Homem de Melo e Couto Viana, entre muitas outras personalidades.

O seu filho, Henrique Figueiras preencheu a segunda parte, executando no acordéon uma verdadeira viagem musical, onde não faltou o tango, o fado, a kalinka, as melodias da serra de Arga e a Nona de Beethoveen.

Sua irmã, Laurinda Figueiras, presidente da associação, encerrou a sessão, chamando todos os intervenientes ao palco e agradecendo os apoios, a inúmera assistência, evocando o fundador, que escreveu:

"Se um programa de divulgação histórica pode merecer o carinho mais sentido doe um povo, naturalmente que o apontamento relativo às suas tradições seculares há-de conquistar-lhe um particular interesse e superior devoção."

Participaram a Banda de Gaitas de S. Tiago de Cardielos, a Associação Cantadeiras do Vale do Neiva, a Rusga de S. Vicente de Braga, o Rancho Típico de S. Mamede de Infesta, a Tuna de Veteranos de Viana do Castelo e Júlio Couto, que disse poemas como este:

DA ALMA DE VIANA

No riso aliciante dos "ferrinhos"
Que o eco, pelos caminhos,
Leva em estranhas toadas...
Naquele tic-tac harmonioso,
Compassado e caprichoso
Das chinelinhas bordadas...
Nas vozes dos harmónios, alcateia
Que leva aos cantos da aldeia
Os domingueiros bons-dias...
Nos cantares de timbre doce, argentino,
Dançando num desatino
Em boda de sinfonias...
Na quente melopeia das violas,
No sorrir das castanholas
discreto e ameninado...
No gargalhar vaidoso e divertido
Do cavaquinho atrevido,
Brincalhão e agaiatado...
No meigo trinar da água das fontes,
Ou na balada que os montes
Se não cansam de rezar...
Naquele tom de festa em que se aposta
Subir a íngreme encosta
Boieiro carro a cantar...
Em tudo, enfim, que é graça e harmonia,
Por feitiço, por magia
sonho que em sonhos delira,
Nasceu o rodopio apaixonante
Do bailado alucinante
Que tomou por nome:
O VIRA!

José Figueiras


NOTA: A fotografia de Henrique Figueiras foi realizada em Maio de 2010, durante a primeira sessão das Jornadas Culturais de Viana do Castelo. A primeira fotografia é do ensaio da Ronda, na sua sede, no solar das Werneck, na Meadela.

Introdução e Fotografias de Luís Filipe Maçarico

quarta-feira, novembro 24, 2010

Sejamos Teimosos nos Sonhos e Solidários com aqueles que amamos!


Saímos para a rua e há lixo por todo o lado.
Aparece um autocarro de hora em hora.
Sente-se a Greve Geral...e muita gente sabe do que estou a falar.
Que obviamente não é a linguagem de Ângela Merkel, a vaca histérica alemã, que passa o tempo a exigir mais sangue dos países mais instáveis da Europa, nem dos Belmiros, nem dos Banqueiros, nem de gentalha, como aquela senhora que diz que é Ministra do Trabalho, numa república onde o bananal está a ficar podre.
A geração que se segue não pode ser mais pobre que nós. Tem de haver um futuro melhor para todos e não este chão constantemente armadilhado pelas agências capitalistas que todos os dias fazem coro com a vampira nazi, disfarçada de chanceler.
Os povos da Europa têm de perceber que o que sucedeu na Grécia e na Irlanda e está a suceder em Portugal vai mais tarde ou mais cedo desestabilizar os seus países se não se unirem em prol da Europa dos cidadãos que os politiqueiros de meia tijela prometeram.
Esta Europa não é livre!
Por isso lutamos aqui no jardim da praia dos toscos. Para que um dia destes não surja uma taxa por respirarmos, que muita coisa já nos está a ser roubada.
Temos de ser teimosos nos sonhos e solidários com aqueles que amamos. A vida é curta e os ministros não podem impedir-nos de existir para gostarmos de gostar!
Viva a Greve Geral!

Luís Filipe Maçarico (fotografia e texto)

domingo, novembro 21, 2010

Rosamaria Abrunheiro: Uma Mulher com um Coração do Tamanho do Mundo


Conhecia-a em Dezembro de 2005, em Elvas e fiquei seduzido pelo seu magnetismo. Uma Diva, foi assim que a vi e continuo a sentir no meu imaginário.
Parteira da maternidade de Elvas, cantava com jovens que tinha ajudado a nascer.
Na época, escrevi assim neste blogue:

"Ontem passei uma noite de Fado admirável no Cine - Teatro de Elvas. A receita do simpático espectáculo revertia a favor do Hospital local. Mas o melhor daqueles instantes, foi ter conhecido RosaMaria, a Maria Callas do Fado, uma Diva de sorriso lindo, uma pessoa que é jóia rara, porque é uma cascata de ternura, adorável. (...) Rosa Maria - um portento de voz e de alma, que é um escândalo não ser mais conhecida."

Noutro post, nessa altura, deixei estas notas de reportagem:
"Já pertence à memória e ao onírico mais um momento vivido. Ontem em Elvas, no CineTeatro foi assim: uma plateia interessada, as frisas compostinhas e um elenco de qualidade, todo regional.
Portugal não é só Lisboa. O país real habita naquela cidade da raia. Mas a imprensa e os meios audio-visuais informativos, histéricos de sangue, ignoram ostensivamente os pequenos grandes acontecimentos. Ninguém nos jornais, nas televisões ou nas rádios quer saber dos instantes felizes que, por exemplo, os trabalhadores do Hospital de Elvas semearam no serão tão bem passado naquelas paragens. A não ser a comunicação social local, e nem sempre, seja um encontro de poetas, seja uma noite de fados, não há uma envolvência com os factos positivos até para ajudar a dar volta ao mal estar do povo, sobrecarregado com taxas, impostos, inflações, salários baixos, notícias nefastas, reformas cada vez mais tarde.
Portugal palpita, numa energia belíssima de arte e alma, como estas imagens, tremidas pela emoção do antropólogo (em observação-participante) demonstram."

Passaram cinco anos.
A Fadista foi recentemente homenageada, a Mulher resiste ao peso - que faz doer a alma, - das decisões dos que governam com os pés e a Parteira, que vê as mulheres irem ao Hospital de Badajoz terem os filhos, está desde há alguns dias em Bissau.

Rosa Maria nasceu em Coimbra, mas apaixonou-se pelo Alentejo. Recorro ao seu blogue, onde em 5 de Fevereiro de 2009 escreveu :


"Passaram mais de 20 anos mas esta cidade continua sendo a cidade do meu coração.
Cada vez mais alegre e mais bela e me encanta falar dela aos amigos que ficaram na cidade de onde vim.
Foi a água dos Arco da Amoreira que fez nascer esta paixão dentro de mim?
Se foi não sei, o que sei é que permaneço apaixonada por Elvas cidade do meu coração".

Acabei de ler no seu blogue as palavras que colocou hoje, e, não posso deixar de partilhar com os meus leitores toda a sensibilidade desta mulher generosa.
Efectivamente, há gente muito humana, semeando poesia com os seus gestos, transformando os dias, com um saber - fazer solidário, que mostra como os portugueses possuem grandes qualidades, que só na sua terra muitas vezes não são reconhecidas...


"Porque hoje é domingo ,21 de Novembro, bateram-me a porta do meu quarto e comunicaram-me que acabara de chegar uma grávida com dores.
Levantei-me à pressa não fosse o caso de estar mesmo a parir, mas quando a observei , não estava em trabalho de parto.
Doía-lhe o corpo, porque ardia em febre, com episódios frequentes de vómitos.
Foi internada e após observação médica com o diagnóstico, paludismo , iniciou quinino entre outros medicamentos que são habituais nesta realidade , bem diferente da qual eu estava habituada.
Enquanto a medicação lhe percorre o corpo, a febre, baixou e sem dores a grávida adormeceu e eu sentei-me a seu lado não só para lhe fazer companhia mas também para me sentir, eu também acompanhada.
Fiquei a olhar aquele rosto adormecido e pensei se mesmo dormindo essa mulher podia sonhar, com apenas 15 anos já vai ser mãe.
Não há meios anticoncepcionais disponíveis, não há informação sobre os riscos e tudo o que possa existir custa o que não tem .

As mulheres casam muito cedo, com mais outras quantas para trabalhar e servir o mesmo homem, servir na cama , sem prazer, sem amor e no trabalho árduo, com os filhos ao seu redor que mais parecem os seus irmãos mais novos. "

Bem Hajas, Alentejana de Coimbra, mulher, artista e profissional vencedora que pelo mundo espalhas uma mensagem de Amor.
Adoro-te!

Luís Filipe Maçarico (introdução, recolha de textos e fotografia realizada em Dezembro de 2005, no Teatro de Elvas)

Universidade Nova de Lisboa: O Palhaço Americano e a Credibilidade de uma Instituição Respeitável







O palhaço norte-americano, que se diz especialista em contar manifestantes, ontem apenas vislumbrou 8 mil pessoas (quando a plataforma que organizou o desfile, afirma que estiveram mais de 30 mil) manifestando-se contra a NATO...

Sendo um barra a fazer contas, na manifestação da Função Pública, onde participaram 100 mil, assegurou que estavam menos de 5 mil... Na deste sábado, repito, onde terão participado mais de 30 mil, a criatura jura que só estiveram 8 mil...
Que credibilidade tem este fantoche?

E porque razão uma instituição como a Universidade Nova de Lisboa lhe dá guarida?

Não é comum, independentemente das posições de cada professor, enquanto cidadão, relativamente à política governamental local e universal, surgirem intervenções deste cariz...

Ou será que este esfregão do decadente status do capitalismo mundial, anda a cumprir um contrato de propaganda abjecta e desesperada, tal é o descrédito sobre a política que está a destruir os países?





Como antigo aluno da Universidade Nova de Lisboa, onde me licenciei em Antropologia, em 1994, tendo tido professores de grande qualidade profissional e categoria humana, como Jorge Crespo, Gabriel Pereira Bastos, Maria Cardeira da Silva, Mesquitela Lima e Paula Godinho, para citar apenas alguns, sinto vergonha.

Se a UNL integrar mais indagadores - como o americano delirante - tão pouco rigorosos, correrá o risco de deixar de ser uma instituição credível, devendo os docentes que lá desenvolvem as suas carreiras e nada têm a ver com esta mixórdia, e todos os estudantes que por lá passaram, exigirem mais seriedade na investigação, afastando gente bizarra, que em nada abona a instituição.

Luís Filipe Maçarico (texto e três fotografias iniciais)
As duas fotografias finais foram recolhidas em: http://www.facebook.com/brunoramosdias

sábado, novembro 20, 2010

Contra os Canhões... Marchar, Marchar!



























Foi feito tudo para evitar que as pessoas descessem a Avenida da Liberdade.
Tentaram amedrontar aqueles que desejavam manifestar-se.
Mas aquela parte do Povo português, que tem consciência dos perigos que a Humanidade corre, com a existência de organizações como a Nato, e ensinou aos filhos e aos netos os valores da liberdade, da fraternidade e da igualdade, só podia voltar a pisar a Avenida, com uma certeza maior - Ninguém pode calar a Voz da Verdade!
Foram outravez milhares e milhares de manifestantes, de seres humanos, de todo o mundo, que aqui disseram PAZ SIM! NATO, NÃO!
Estou sempre que posso com os companheiros de trabalho e sonho, gente que luta há décadas por melhores tempos.
São a minha gente: como a Salomé, primeira e única mulher até agora a presidir à Direcção do meu Sindicato (STML), a Ana Lucília, filha de mineiro, o Jaime Salomão, o Augusto Flor, o Fernando Vaz, o José Carneiro, o José Alberto, a Maria Eugénia, o Zé Rodrigues e a Dina, a Sano, a Marta e o Rui, a lista é enorme, mas estes (e muitos outros) vi-os hoje e são a "minha gente", pois com eles ajudo a construir os dias, com raiva e poesia, deixando gargalhadas ou pegadas melancólicas, gritos de revolta, esperanças teimosas.
Pessoas que são voluntárias, em colectividades, nos sindicatos, na política, no quotidiano que precisa de contributos sérios, senão a vida é uma respiração acorrentada, para gáudio dos senhores do mundo.
Hoje fui com os camaradas da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura Recreio e Desporto e confesso que não me lembro de um pano ter sido tão fotografado por gente de todo o mundo. Centenas e centenas de fotógrafos registaram a nossa presença, que trazia a companhia de um grupo de cabeçudos e bombos, simbolizando no desfile a criatividade popular que se encontra nas colectividades e anima a vida nas cidades, nas vilas e aldeias do país, tornando-as mais humanas.
Ecoam ainda as palavras da Moção que Maria do Céu Guerra leu e as palmas de concordância da multidão, antes de dispersar, ordeiramente, em Paz, contrariando a voracidade de uma comunicação social forense, para citar um amigo.
Os poetas escrevem contra as sombras, exaltam a luz. Hoje fui poeta sorrindo com os "meus", abraçando pessoas, sentindo que faço parte de uma grande barragem contra a ignomínia.
Contra os canhões...marchar, marchar! É o hino de Lopes Mendonça e Keil do Amaral, escrito há um século que o diz.
Será que os políticos de pacotilha que nos governam sabem honrar os "egrégios avós"? Será que defendem a nossa independência?
Por considerar que as respostas são negativas, hoje fui mostrar a minha indignação com a submissão reinante, contra os vendilhões do planeta.
Hei-de ser sempre contra os capatazes, que não conseguem ser Homens de Estado, por muito in que a aparência das fatiotas de alta costura, possa fazer crer.
Um dia seremos muito mais livres do que eles pensam! E chegará o Dia das Surpresas, como diz o belo poema de Saramago.

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

quarta-feira, novembro 17, 2010

Santa Camarão distinguido como um dos 100 Desportistas dos 100 Anos da República pela Confederação do Desporto de Portugal






Acabei de chegar do Casino Estoril...
Isto dito assim até parece uma contradição com o que é costume escrever neste espaço e com a minha postura quotidiana.
Mas descansem que a minha ida ao Casino não é aquilo que parece...

Há umas semanas atrás e na minha qualidade de membro do Conselho Nacional, respondi a um pedido da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura Recreio e Desporto (CPCCRD), no sentido de corresponder a uma solicitação da Confederação do Desporto de Portugal, que pedia sugestões de nomes para a iniciativa "Cem Desportistas, Cem Anos da República".

Propûs então que fosse incluído na lista de nomeados, José Soares Santa - "Santa Camarão", e a verdade é que na noite de 16 de Novembro de 2010, durante a 15ª Gala do Desporto, efectuada no Casino Estoril, tive a honra e o privilégio, em representação da CPCCRD, de receber a distinção que a Confederação do Desporto de Portugal atribuiu ao atleta de Ovar.

Foi emocionante estar ali, graças a José Soares Santa, com os maiores do desporto nacional e as jovens promessas, como João Silva (triatlo), atleta do ano, a quem ofereci um exemplar de "Com o Mundo nos Punhos", exortando-o a manter a sua espontaneidade e augurando-lhe uma longa e profícua carreira.

No palco, entre outros, estiveram Carlos Lopes, Fernando Gomes, Fernando Mamede, Georgete Duarte, João Garcia, João Pina, Mário Gonzaga Ribeiro, Mário Moniz Pereira Naide Gomes, Nuno Delgado, Rosa Mota, Telma Monteiro, Vítor Baía e Artur Agostinho.

A CPCCRD através de uma delegação, em breve, fará chegar a distinção à terra natal de "Santa Camarão"- Ovar, porque quer o diploma, quer a placa, apresentam o nome do nosso herói trocado, lapso que será certamente corrigido.

Enquanto biógrafo do lendário desportista, - consagrado na 15ª Gala do Desporto Português, como um dos 100 melhores dos 100 anos da República, - eu fui apenas aquele que recebeu, durante a cerimónia, o diploma e a placa evocativos, entretanto entregues à Confederação das Colectividades para os devidos efeitos.

Durante a sessão, acompanhada pela RTP, foram ainda distinguidos, Albertina Dias, Artur Jorge, Eusébio, Cristiano Ronaldo, Fernanda Ribeiro, Luís Figo, Manuela Machado, José Mourinho, Nélson Évora, Vanessa Fernandes e velhas glórias como Alves Barbosa, António Livramento, Jesus Correia, José Maria Nicolau, José Maria Pedroto, Mário Coluna e Joaquim Agostinho.

E aqui está o texto, enviado à Confederação do Desporto de Portugal e que mereceu o reconhecimento prestado, no Casino do Estoril, a um herói do boxe e do povo:



JOSÉ SOARES SANTA (“SANTA CAMARÃO”)

No dia 25 de Dezembro de 1902, nasceu uma figura ímpar do desporto português: José Santa “Camarão”, pugilista de renome, que durante sete anos foi campeão nacional de todas as categorias, entre os anos vinte e trinta.

Fragateiro em Lisboa, desde os dezanove anos de idade, este beirão, natural de Ovar, media 2 metros e 2 centímetros e calçava 49,5 podendo ser apreciado, no museu da cidade vareira, algum do seu espólio.

Em 1930 integrou o elenco do filme alemão “Amor no Ringue”, com Max Schmeling, campeão mundial de boxe, com quem contracenou, tendo Artur Duarte participado como seu manager.

Os diálogos entre os dois foram gravados em português, tendo sido nesta película que a nossa língua foi falada pela primeira vez na 7ª arte.

Depois da Europa e do Brasil, na primeira metade da década de 30 do século XX, Santa “Camarão” permaneceu nos Estados Unidos, onde combateu com os futuros campeões mundiais Primo Carnera e Max Baer. Na América participou na película “O Boxeur e a Mulher”, com aqueles dois famosos pugilistas...

Referindo-se ao seu percurso, o escritor João Sarabando notou que a correcção, a lealdade e a grandeza dos gestos fraternos e proverbiais deste homem simples terão contribuído para celebrizar uma figura de atleta vitorioso, que os orientadores da sua carreira exploraram, ao ponto de um deles, segundo consta, o ter envenenado para que perdesse diante de um adversário de categoria inferior.

O seu nome era um chamariz que atraía multidões para o ver lutar nos ringues contra os grandes desse tempo.

O imaginário popular assimilou a sua história lendária em versos que os ceguinhos cantaram pelas ruas e os jornais exaltaram.

Na memória de muitos ovarenses, José Santa (Camarão era alcunha) permanece, não só pela glória, enquanto desportista, mas também pela lembrança do convívio, que manteve com os seus conterrâneos, entre 1934 e 1968, ano da sua morte.

Efectivamente, José Soares Santa continua a ser recordado pela integração efusiva nos carnavais da sua terra, pela participação cívica, nas colectividades e pela vivência colectiva, partilhada nos momentos alegres e tristes, da comunidade vareira.

Na última década, e na sequência do centenário do seu nascimento, a cidade de Lisboa consagrou-o na sua Toponímia, Odivelas evocou-o num colóquio, Aveiro assistiu à cerimónia onde o Governo Português lhe atribuiu a medalha de mérito desportivo, a par da homenagem que Ovar lhe prestou, com uma exposição na Biblioteca Municipal e a inauguração de uma estátua de Emerenciano.

Recordá-lo, é combater a ignorância e o esquecimento, acerca de um cidadão e desportista notável, que se destacou pela qualidade e categoria do seu desempenho, enquanto boxeur e ser humano.

LUÍS FILIPE MAÇARICO

(Mestre em Antropologia, pelo ISCTE, autor da tese “Os Processos de Construção de um Herói do Imaginário Popular: O Caso de Santa Camarão”; Biógrafo daquele pugilista, através da obra “Com o Mundo nos Punhos”; Técnico Superior da Câmara Municipal de Lisboa - Desporto)

Texto: LFM Fotografias: LFM e Ângelo Santos.

segunda-feira, novembro 15, 2010

IRENE LISBOA



Irene Lisboa acompanhou-me na adolescência e marcou-me, pois também eu tive uma infância solitária e um crescimento onde a inadaptação a este mundo permaneceu ao longo da vida. Todavia, Irene Lisboa chega a este blogue apenas hoje.

O meu regresso recente à Arruda dos Vinhos, concelho onde nasceu e que lhe dedicou um Museu em Arranhó, tornou urgente esta partilha e peço-vos que sigam o seu rasto luminoso e melancólico, pois a sua obra, graças a Paula Morão foi reeditada. Aqui fica uma brevíssima selecção de poemas (lidos em diversos espaços da Net), com uma biografia e a bibliografia, recolhidas na Wikipédia.

O esquecimento a que foi votada esta magnífica escritora é injusto e trazê-la a esta página é uma forma de dar vida às suas palavras, evocando esta autora que colaborou na Seara Nova e que por ser uma mulher inteligente e livre, foi perseguida pelo regime fascista de Salazar.

POEMA UM DE PEQUENOS POEMAS MENTAIS

Quem não sai de sua casa,

não atravessa montes nem vales,

não vê eiras

nem mulheres de infusa,

nem homens de mangual em riste, suados,

quem vive como a aranha no seu redondel

cria mil olhos para nada.

Mil olhos!

Implacáveis.

E hoje diz: odeio.

Ontem diria: amo.

Mas odeia, odeia com indômitos ódios.

E se se aplaca, como acha o tempo pobre!

E a liberdade inútil,

inútil e vã,

riqueza de miseráveis.


OUTRO DIA

O melro canta,
e já quase me é indiferente…
Mas sempre é uma voz
que se distingue,
aflautada e fresca,
entre os ruídos ingratos
da manhã:
pregões de jornais,
apitos, carros…
Um vapor parte;
ouve-se aquela sua zoada
sem timbre,
soprada e grave,
falha de harmonia…
Melro, canta!
Tenho o coração murcho
e triste…


NOVA, NOVA, NOVA, NOVA!

Não era a minha alma que eu queria ter.
Esta alma já feita, com seu toque de sofrimento
E de resignação, sem pureza nem afoiteza.

Queria ter uma alma nova.
Decidida, capaz de tudo ousar.
Nunca esta que tanto conheço, compassiva,
torturada, de trazer por casa.
A alma que eu queria ter e devia ter...
Era uma alma asselvajada, impoluta, nova, nova
nova, nova!

CHUVA
Chuva nos vidros.
Nada, chuva nos vidros!
Espaçadas, casuais, agudas, oblíquas agulhadas.
Chuva que se anuncia, que apenas se anuncia.
Pingas que vão secando. Se vão arredondando,
tornando imateriais e invisíveis.
Vagas coisas. Como quê?
Como as coisas da minha vida.
Nem já chuva nos vidros...
Já não se vêem os sinais.

JEITO DE ESCREVER

Não sei que diga.

E a quem o dizer?

Não sei que pense.

Nada jamais soube.

Nem de mim, nem dos outros.

Nem do tempo, do céu e da terra, das coisas...

Seja do que for ou do que fosse.

Não sei que diga, não sei que pense.

Oiço os ralos queixosos, arrastados.

Ralos serão?

Horas da noite.

Noite começada ou adiantada, noite.

Como é bonito escrever!

Com este longo aparo, bonitas as letras e o gesto - o jeito.

Ao acaso, sem âncora, vago no tempo.

No tempo vago...

Ele vago e eu sem amparo.

Piam pássaros, trespassam o luto do espaço, este sereno luto das

horas. Mortas!

E por mais não ter que relatar me cerro.

Expressão antiga, epistolar: me cerro.

Tão grato é o velho, inopinado e novo.

Me cerro!

Assim: uma das mãos no papel, dedos fincados,

solta a outra, de pena expectante.

Uma que agarra, a outra que espera...

Ó ilusão!

E tudo acabou, acaba.

Para quê a busca das coisas novas, à toa e à roda?

Silêncio.

Nem pássaros já, noite morta.

Me cerro.

Ó minha derradeira composição! Do não, do nem, do nada, da ausência e

solidão.

Da indiferença.

Quero eu que o seja! da indiferença ilimitada.

Noite vasta e contínua, caminha, caminha.

Alonga-te.

A ribeira acordou.

Irene Lisboa



BIOGRAFIA

Irene do Céu Vieira Lisboa nasceu na Quinta da Murzinheira, freguesia de Arranhó, concelho de Arruda dos Vinhos, no dia 25 de Dezembro de 1892.

Foi escritora, professora e pedagoga.

Formou-se pela Escola Normal Primária de Lisboa, depois continuou os estudos na Suíça, França e Bélgica, onde se especializou em Ciências de Educação, o que a habilitou a escrever várias obras sobre assuntos pedagógicos.

Durante a estadia em Genebra, mercê de uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, teve a oportunidade de conhecer Jean Piaget e Édouard Claparède, com quem estudou.

Começou a vida profissional como professora da educação infantil.

Em 1932 recebeu o cargo de Inspectora Orientadora do ensino primário e infantil.

Como destaca Rogério Fernandes: «o programa de tal departamento desenhado por Irene Lisboa, reformulava de alto a baixo as funções de um órgão estatal até aí consagrado exclusivamente ao controlo ideológico, administrativo e disciplinar dos docentes.» Eis a razão porque Irene Lisboa foi afastada do cargo, primeiro para funções burocráticas – foi nomeada para o Instituto de Alta Cultura – e depois, em 1940, definitivamente afastada do Ministério da Educação e de todos os cargos oficiais, por recusar um lugar em Braga. Na verdade, foi uma forma de exílio para uma pedagoga incómoda pelas suas ideias avançadas.

Irene Lisboa dedicou-se por completo à produção literária e às publicações pedagógicas.

No entanto não foi livre na expressão dos seus pensamentos. «Restavam-lhe a imprensa, o livro, a conferência. Grande parte das suas intervenções tem, precisamente, esses suportes, mas convém não esquecer que o controlo censório exercido pela ditadura salazarista sobre a expressão pública do pensamento não lhe permitiu certamente a transmissão das suas opiniões com toda a claridade.»

Faleceu a 25 de Novembro de 1958, a um mês de cumprir 66 anos de idade.

A escrita dominou toda a sua vida. A obra literária que produziu foi elogiada por alguns dos seus pares como José Rodrigues Miguéis, José Gomes Ferreira e João Gaspar Simões, embora nunca tenha tido grande aceitação por parte do público.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Irene_Lisboa





BIBLIOGRAFIA


Poesia

Um dia e outro dia… – Diário de uma mulher, (sob o pseudónimo de João Falco),1936, Seara Nova, Lisboa; reeditados em Poesia – I, 1991, Editorial Presença – Obras de Irene Lisboa, vol. I, prefácio e notas de Paula Morão.

Outono havias de vir latente triste, (sob o pseudónimo de João Falco),1937, Seara Nova, Lisboa, reeditados em Poesia - I, 1991, Editorial Presença – Obras de Irene Lisboa, vol. I, prefácio e notas de Paula Morão.

Folhas Volantes, (sob o pseudónimo de João Falco),1940, Seara Nova, Colecção À Pena nº 2.

Antologias
  • Folhas soltas da „Seara Nova"1929/1955 begin_of_the_skype_highlighting 1929/1955 end_of_the_skype_highlighting, Imprensa Nacional, Casa da Moeda,1986, Lisboa, prefácio e notas de Paula Morão.
  • Poesia – I,1991, Editorial Presença – Obras de Irene Lisboa, vol. I, prefácio e notas de Paula Morão, contém: Versos amargos, inéditos durante a vida de autora.

Prosa

Novelas
  • Começa uma Vida, (sob o pseudónimo de João Falco), Seara Nova, 1940, Lisboa; 2ªed.: 1993, Editorial Presença – Obras de Irene Lisboa, vol. III, prefácio de Paula Morão.
  • Voltar atrás para Quê?,s/d (1956), Livraria Bertrand; 2ªed: s/d, Editores Associados – col. Livros Unibolso, Lisboa; 3ªed.: 1994, Eitorial Presença – Obras de Irene Lisboa, vol.IV, prefácio e notas de Paula Morão.
  • Título Qualquer Serve para Novelas e Noveletas,1958, Portugália Editora, Lisboa; 2ªed.: 1998, Editorial Presença – Obras de Irene Lisboa, vol. IX, prefácio e notas de Paula Morão.
Literatura infantil (contos)
Diários
  • Solidão – Notas do Punho de uma Mulher, (sob o pseudónimo de João Falco), 1939, Seara Nova, Lisboa; 2ªed.: 1966, Portugália Editora; 3ªed.: 1973, Círculo de Leitores; 4ªed.: 1992, Editorial Presença – Obras de Irene Lisboa, vol. II, prefácio e notas de Paula Morão.
  • Apontamentos, 1943, ed. da autora; 2ª ed.: 1998, Editorial Presença – Obras de Irene Lisboa, vol.VIII, prefácio e notas de Paula Morão.
  • Solidão - II, s/d (1966), Portugália Editora, Lisboa; 2ªed.: 1999, Editorial Presença – Obras de Irene Lisboa, vol. X, prefácio e notas de Paula Morão.
Crónicas
  • Idem, (sob o pseudónimo de João Falco), 1940, ed. da autora, Lisboa.
  • Lisboa e quem cá Vive, (sob o pseudónimo de João Falco), 1940, Seara Nova, Colecção À Pena n°1-3.
  • Esta Cidade!, (crónica lisboeta), (sob o pseudónimo de João Falco), 1942, ed. da autora, Lisboa, 2ªed.: 1995, Editorial Presença – Obras de Irene Lisboa, vol.V, prefácio e notas de Paula Morão.
  • O Pouco e o Muito – Crónica Urbana, s/d (1956), ed. da autora; 2ªed.:1997, Editorial Presença – Obras de Irene Lisboa, vol.VII, prefácio e notas de Paula Morão.
  • Crónicas da Serra, s/d (1958), Livraria Bertrand, Lisboa; 2ªed.: 1997, Editorial Presença – Obras de Irene Lisboa, vol.VI, prefácio e notas de Paula Morão.

Obra pedagógica

  • Irene do Céu Vieira Lisboa, "Critica à actividade da «Maison dês Petits» anexa ao Instituto Jean- Jacques Rosseau", "Relatório sobre as escolas maternais do Paris", "Os ‘ Jardins d’Enfants’ de Bruxelas", "Bases para um programa de escola infantil", "O método Decroly ou dos centros de interesse", em Relatórios das viagens de estudo dos bolseiros, Lisboa, Junta de Educação Nacional, 1933; pp. 71 – 186.
  • Irene do Céu Vieira Lisboa (relatora), "A contribuição do desenho para o ensino elementar sobre o Império colonial Português", em A formação do espírito colonial na escola primária portuguesa – Tese oficial apresentada pelos Serviços de Orientação Pedagógica da Direccao Geral do Ensino Primário, Lisboa, Imprensa Nacional, 1934; pp. 19-22.
  • Irene do Céu Vieira Lisboa (Inspectora-orientadora), "Prelecção realizada aos professores do distrito escolar de Coimbra, em 25 de Janeiro de 1934, e repetida aos de Beja, em 1 de Fevereiro", em Prelectores inaugurais, Direcção Geral do ensino Primário, Serviços de Orientação Pedagógica, Lisboa, Imprensa Nacional, 1935; pp. 124-137.
  • Manuel Soares (pseudónimo de I.L), Froebel e Montessori/ O trabalho manual na escola (duas conferencias pedagógicas), Lisboa, Cadernos da Seara Nova – Estudos Pedagógicos, 1937.
  • Manuel Soares, O primeiro ensino, I e II, Lisboa, Cadernos da Seara Nova – Estudos Pedagógicos, 1938.
  • Manuel Soares, A iniciação do cálculo, Cadernos da Seara Nova – Estudos Pedagógicos, 1940.
  • Irene Lisboa, A psicologia do desenho infantil (Palestra), Lisboa, seara Nova, 1942.
  • Irene Lisboa, Modernas tendências da educação, ilustrações da Ilda Moreira, Lisboa, Edições Cosmos – Biblioteca Cosmos n.º 21, 1942.
  • Irene Lisboa, Educação (Palestra), Lisboa, Seara Nova, 1944.
  • Irene Lisboa, Inquérito ao livro em Portugal – I, Editores e livreiros, Lisboa, Seara Nova, 1944.
  • Irene Lisboa, Inquérito ao livro em Portugal – II, Editores e livreiros, Lisboa, Seara Nova, 1946.

LINK DO MUSEU IRENE LISBOA:
http://www.cm-arruda.pt/CustomPages/ShowPage.aspx?pageid=b4b4d706-55e0-4f31-9b24-1c4c5be52b41