"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"
terça-feira, março 31, 2009
Esta Noite, As Estrelas...
O odor nupcial
da flor de laranjeira
e o cacho de garças
alojado nos choupos
da beira-rio não casam
com a míngua de palavras tuas.
O cansaço tomou-me definitivamente.
Escondo lágrimas, numa gaveta
de emoções...
Não sei se esta noite haverá estrelas...
Vou deixando caminhos para trás
e o sabor de uma boca
que me sorriu em algumas madrugadas
mais a ternura ausente
dos gestos que outros talvez tenham
a sorte de sentir...
E fico sem provar o aroma da tua pele
no sonho de uma manhã que nunca houve.
Mértola, 27-3-2009; 19:42
Luís Filipe Maçarico
domingo, março 29, 2009
Pátio das Laranjas
Pelo pátio das laranjas
diante do Guadiana
Sorvo o sol da tarde
no sumo de frutos luminosos.
Há vento e gritos de pavões
na paisagem e o silêncio
brilha nos potes caiados.
Se tivesses alma
partilhava contigo.
Começo a habituar-me
à contenção.
Não respondes...não reajes...
Para quê então falar-te
dos aromas mediterrânicos,
oferecendo-te versos de mel?
As águas do rio deslizam,
assim as horas no ponteiro
do relógio e os gestos
de cada dia.
Começo a esquecer-me
dessas palavras esfareladas
como espigas secas.
Começo a esquecer-me
do teu sabor a amora silvestre
que recusaste.
Começo a esquecer-me
de ti.
Mértola, 16:25 28-3-2009
Luís Filipe Maçarico
quarta-feira, março 25, 2009
Tamareira
terça-feira, março 24, 2009
RECADO
segunda-feira, março 23, 2009
Tempo de Estevas
Pelas olaias floridas
sei que é o tempo
das andorinhas voltarem
aos beirais...
tempo de escutar
a tua voz macia
e de sonharmos
o encontro.
quero aromas do sul
na tua pele ardente
línguas de terra
beijando mamilos orelhas
e o amor prometido
entre estevas e olivais
pinheiros rumores de mar
escrevendo os melhores poemas
com pernas entrelaçadas
lábios colados, braços ancorados
na fusão dos corpos
gulosos por ter mais tempo
para enganar a morte com o desejo
prolongando carícia e beijo.
Lisboa, 23-3-2009 15:00 e 21:35
Luís Filipe Maçarico (poema e fotos tiradas em Castro Verde/ miradouro de Nossa Senhora de Araceli
domingo, março 22, 2009
O Meu Fim de Semana em Mértola
Às sextas, quando o Pedro Carlos não pode dar boleia, é preciso sair mais cedo de Lisboa, no comboio para Beja e depois de aconchegar o estômago, partir para Mértola na camioneta, que passa por estes campos esplendorosos, ainda tão verdes.
E lá está o monte "Marrocos", perto da ribeira de Terjes e Cobres. A primeira vez que lá passei (em 1984) com a Cristina, o sr. Manuel, a D. Lucy e a avó da Cris...disseram todos em uníssono: "Quando Lisboa for derrubada, Marrocos será levantada!" Velha loa, passada de geração em geração, enigmática, que no carro do Pedro se repete, quando atravessamos aquela parte da paisagem...
As localidades sucedem-se: Amendoeira do Campo, Vale de Açor, Alcaria Ruiva...terras antigas, com pequenos rios, barrancos, estevas, trigais, campanários, silêncio e o sol bem forte do Alentejo.
Esta semana fiz a viagem na quinta feira, pois tinha de apresentar uma aula e de me preparar convenientemente, no sossego da biblioteca do Campo Arqueológico de Mértola.
Lá estavam umas favas à alentejana e um bacalhau com grão divinos no "Tamuje" à minha espera e as bifaninhas com muito alho do sr. Henrique do café "Guadiana" que vai passar a abrir aos domingos por causa dos espanhóis que chegam em catadupla e mais depressa através da nova ponte do Pomarão.
Cláudio Torres desvendou-me os meandros da Biblioteca que ofereceu ao CAM, a Armanda, a Filipa Medeiros e o Filipe aturaram-me no acesso à Net e a outros bens essenciais dentro daquele espaço: água, café, luz, simpatia.
Na sexta, a Sandra festejou os seus 33 anos e confraternizámos no excelente restaurante "Brasileiro"com algumas ausências de vulto: O Pedro fez falta, como a Ana Isabel e a Ana Dias. Mas em compensação, reapareceu a Fernanda Mestre.
Foi mais um fim de semana envolvente, que terminou com uma feijoada e o anúncio do candidato à Câmara de Mértola por parte da CDU - o professor e associativista Jorge Revés, rodeado de centenas de entusiastas daquela candidatura.
Estas eleições vão ser muito interessantes, pois do seu resultado dependerá o futuro, mais ou menos dinâmico, relativamente à identidade, à valorização do património e à imagem de marca que esta terra foi construíndo.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)
E lá está o monte "Marrocos", perto da ribeira de Terjes e Cobres. A primeira vez que lá passei (em 1984) com a Cristina, o sr. Manuel, a D. Lucy e a avó da Cris...disseram todos em uníssono: "Quando Lisboa for derrubada, Marrocos será levantada!" Velha loa, passada de geração em geração, enigmática, que no carro do Pedro se repete, quando atravessamos aquela parte da paisagem...
As localidades sucedem-se: Amendoeira do Campo, Vale de Açor, Alcaria Ruiva...terras antigas, com pequenos rios, barrancos, estevas, trigais, campanários, silêncio e o sol bem forte do Alentejo.
Esta semana fiz a viagem na quinta feira, pois tinha de apresentar uma aula e de me preparar convenientemente, no sossego da biblioteca do Campo Arqueológico de Mértola.
Lá estavam umas favas à alentejana e um bacalhau com grão divinos no "Tamuje" à minha espera e as bifaninhas com muito alho do sr. Henrique do café "Guadiana" que vai passar a abrir aos domingos por causa dos espanhóis que chegam em catadupla e mais depressa através da nova ponte do Pomarão.
Cláudio Torres desvendou-me os meandros da Biblioteca que ofereceu ao CAM, a Armanda, a Filipa Medeiros e o Filipe aturaram-me no acesso à Net e a outros bens essenciais dentro daquele espaço: água, café, luz, simpatia.
Na sexta, a Sandra festejou os seus 33 anos e confraternizámos no excelente restaurante "Brasileiro"com algumas ausências de vulto: O Pedro fez falta, como a Ana Isabel e a Ana Dias. Mas em compensação, reapareceu a Fernanda Mestre.
Foi mais um fim de semana envolvente, que terminou com uma feijoada e o anúncio do candidato à Câmara de Mértola por parte da CDU - o professor e associativista Jorge Revés, rodeado de centenas de entusiastas daquela candidatura.
Estas eleições vão ser muito interessantes, pois do seu resultado dependerá o futuro, mais ou menos dinâmico, relativamente à identidade, à valorização do património e à imagem de marca que esta terra foi construíndo.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)
terça-feira, março 17, 2009
ADEUS
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
domingo, março 15, 2009
MATANÇA DO PORCO: UMA TRADIÇÃO DIFÍCIL DE EXTINGUIR COM DECRETOS E POLÍCIAS
Foi num lugar de nuvens rasteiras, grávidas de chuva em Fevereiro, que é terra de lumes, mal a Primavera desabrocha. No sábado gordo, um grupo de citadinos, partiu para um convívio gastronómico no sul, cujo pretexto era a matança do porco.
A matação tradicional no Alentejo é referida por inúmeros autores, que sublinham o facto de ser uma festa íntima de família e amigos.
Leite de Vasconcellos, no volume V da Etnografia Portuguesa, afirma que “deve escolher-se o quarto crescente, para a carne crescer na panela.”
Joaquim Pulga, escreve em “Alentejanando Estórias e Sabores”, que é “velha como o passado, esta tradição alentejana de matar o bacorinho preto. Matança que assegurava a mantença.”
“O porco quando está vivo suscita a antipatia, quando está morto convida ao prazer”, assegura Alfredo Saramago em “Para uma História da Alimentação no Alentejo”.
E João Mário Caldeira na sua obra “Margem Esquerda do Guadiana As Gentes, A Terra, Os Bichos”, recorda que o ritual teve “direito a figurar até na ilustração, executada entre 1518 e 1535, do Livro de Horas do Rei Dom Manuel”. Caldeira diz que a matança é “imolação em prol da subsistência do homem”
Joaquim Pulga informa que “Cabia aos homens o sacrifício, o musgar e o lavar, o desmanchar do animal e o separar das peças grandes. As mulheres tinham de cor a sua labuta, aparar o sangue, lavar e preparar as tripas, fazer os torresmos e a banha mais a tarefa incontornável de tratar das comedias para o afago dos estômagos. Migar a carne do alguidar, temperar e fazer os enchidos eram tarefas também suas.”
Em “Memórias e Narrativas Alentejanas”, Brito Camacho lembra: “Engordam-se porcos desde que o mundo é mundo, e nunca se engordaram senão para se comerem”. Segundo este autor, “Ao primeiro golpe, havia sempre quem dissesse na roda: - Se queres conhecer o teu corpo abre um porco”.
Costa Caldas em “A Tradição” informa: “Do sangue, temos os chouriços d’esse nome. Da carne, temos os chouriços, paios, linguiça, salsichas, não falando nos assados de lombo, perna e costoletas. Das mãos e pernas, o presunto e o fiambre. (…) Da cabeça, os miolos com ovos; a orelheira (…) a língua é manjar saborosíssimo. Do interior, os rins (…) coração e fígado que com o sangue, dá (…) a surraburra do Alentejo; as tripas para o enchido; as banhas (…) o toicinho.”
Aníbal Falcato Alves registou em “Os Comeres dos Ganhões Memórias de Outros Sabores” este depoimento: “No dia da desmanchação (…) tirava-se o entrecosto, metia-se tudo no pimentão”
O jornalista Pedro Ferro escreveu: “O porco morre ao amanhecer. Três ou quatro homens arrastam o bicho que protesta e seguram-no sobre uma banca de madeira - a sua ara sacrificial. (…) Esforceja. Debate-se. Desesperadamente grunhe. (…) Cerimónia complexa é esta da matança. De véspera fica o animal sem comer. De véspera atarefa-se o mulherio na preparação dos alguidares que hão-de receber as vísceras e o sangue (…) o porco é chamuscado: queimam-lhe o pêlo com braçadas de tojos (…) Bocado a bocado o bicho vai para o alguidar.” (in “Errância pelos Comeres do Alentejo Onde o Pão sabe a Sol”, Imenso Sul, Nº 15, Verão 98).
Partilhado por cerca de quarenta pessoas, contactadas com recato para evitar intrusos, o cerimonial foi intenso.
À roda da mesa conviveu-se e saboreou-se. Provaram-se vinhos únicos. O porco pesava 70 quilos. “Já pouca gente sabe fazer a moleja”, alguém lamentou.
E houve um arroz confeccionado com mão de mestra, queijo fresco, caldo verde e doces que a aguardente caseira ajudou a digerir.
Passeou-se, para conhecer melhor uma realidade que raramente chega aos telejornais, ávidos por drama, porque este lugar é longe e sangue…só o da matança do porco!
A alegria reinou nesta convivência e o regresso aos meios urbanos fez-se com boas lembranças.
Afinal, ainda há gente que resiste, mantendo a tradição, da mesma maneira que todos os anos pinta as aldeias com cal ou apanha a cortiça e a azeitona.
Luís Filipe Maçarico*
*O texto foi escrito em Fevereiro de 2008 e publicado no Jornal "Conversas de Café". A fotografia foi registada hoje, no mesmo local
A matação tradicional no Alentejo é referida por inúmeros autores, que sublinham o facto de ser uma festa íntima de família e amigos.
Leite de Vasconcellos, no volume V da Etnografia Portuguesa, afirma que “deve escolher-se o quarto crescente, para a carne crescer na panela.”
Joaquim Pulga, escreve em “Alentejanando Estórias e Sabores”, que é “velha como o passado, esta tradição alentejana de matar o bacorinho preto. Matança que assegurava a mantença.”
“O porco quando está vivo suscita a antipatia, quando está morto convida ao prazer”, assegura Alfredo Saramago em “Para uma História da Alimentação no Alentejo”.
E João Mário Caldeira na sua obra “Margem Esquerda do Guadiana As Gentes, A Terra, Os Bichos”, recorda que o ritual teve “direito a figurar até na ilustração, executada entre 1518 e 1535, do Livro de Horas do Rei Dom Manuel”. Caldeira diz que a matança é “imolação em prol da subsistência do homem”
Joaquim Pulga informa que “Cabia aos homens o sacrifício, o musgar e o lavar, o desmanchar do animal e o separar das peças grandes. As mulheres tinham de cor a sua labuta, aparar o sangue, lavar e preparar as tripas, fazer os torresmos e a banha mais a tarefa incontornável de tratar das comedias para o afago dos estômagos. Migar a carne do alguidar, temperar e fazer os enchidos eram tarefas também suas.”
Em “Memórias e Narrativas Alentejanas”, Brito Camacho lembra: “Engordam-se porcos desde que o mundo é mundo, e nunca se engordaram senão para se comerem”. Segundo este autor, “Ao primeiro golpe, havia sempre quem dissesse na roda: - Se queres conhecer o teu corpo abre um porco”.
Costa Caldas em “A Tradição” informa: “Do sangue, temos os chouriços d’esse nome. Da carne, temos os chouriços, paios, linguiça, salsichas, não falando nos assados de lombo, perna e costoletas. Das mãos e pernas, o presunto e o fiambre. (…) Da cabeça, os miolos com ovos; a orelheira (…) a língua é manjar saborosíssimo. Do interior, os rins (…) coração e fígado que com o sangue, dá (…) a surraburra do Alentejo; as tripas para o enchido; as banhas (…) o toicinho.”
Aníbal Falcato Alves registou em “Os Comeres dos Ganhões Memórias de Outros Sabores” este depoimento: “No dia da desmanchação (…) tirava-se o entrecosto, metia-se tudo no pimentão”
O jornalista Pedro Ferro escreveu: “O porco morre ao amanhecer. Três ou quatro homens arrastam o bicho que protesta e seguram-no sobre uma banca de madeira - a sua ara sacrificial. (…) Esforceja. Debate-se. Desesperadamente grunhe. (…) Cerimónia complexa é esta da matança. De véspera fica o animal sem comer. De véspera atarefa-se o mulherio na preparação dos alguidares que hão-de receber as vísceras e o sangue (…) o porco é chamuscado: queimam-lhe o pêlo com braçadas de tojos (…) Bocado a bocado o bicho vai para o alguidar.” (in “Errância pelos Comeres do Alentejo Onde o Pão sabe a Sol”, Imenso Sul, Nº 15, Verão 98).
Partilhado por cerca de quarenta pessoas, contactadas com recato para evitar intrusos, o cerimonial foi intenso.
À roda da mesa conviveu-se e saboreou-se. Provaram-se vinhos únicos. O porco pesava 70 quilos. “Já pouca gente sabe fazer a moleja”, alguém lamentou.
E houve um arroz confeccionado com mão de mestra, queijo fresco, caldo verde e doces que a aguardente caseira ajudou a digerir.
Passeou-se, para conhecer melhor uma realidade que raramente chega aos telejornais, ávidos por drama, porque este lugar é longe e sangue…só o da matança do porco!
A alegria reinou nesta convivência e o regresso aos meios urbanos fez-se com boas lembranças.
Afinal, ainda há gente que resiste, mantendo a tradição, da mesma maneira que todos os anos pinta as aldeias com cal ou apanha a cortiça e a azeitona.
Luís Filipe Maçarico*
*O texto foi escrito em Fevereiro de 2008 e publicado no Jornal "Conversas de Café". A fotografia foi registada hoje, no mesmo local
sexta-feira, março 13, 2009
Pele
Acordei de madrugada
com a lua cheia
que ardia no teu sorriso.
As tuas palavras irromperam
como flautas de espanto,
desinquietando o sono
dos jardins secretos.
Esperei toda a manhã
pelos teus lábios,
a cama lavada
e os dedos ansiosos
por tocar
na pele
da poesia.
São horas de partir
para outras paragens.
Deixarei a cidade
sem o teu olhar,
com a pegada triste
de viver sem ti.
Luís Filipe Maçarico, 13-3-2009, 12:45
terça-feira, março 10, 2009
domingo, março 08, 2009
Miragem
(Quase não dormi pensando
no nosso amor de lágrimas...)
As nuvens levantam-se
sobre o verde cinza dos campos
onde o orvalho fez ninho.
Oliveiras e sobreiros
espreitam sílabas enluaradas...
Quero ser a voz dos mil pássaros
que coroam o teu voo na terra
do granito e das cerejas
dos carvalhos e dos sonhos.
Trago os teus lábios
na minha boca e saboreio
os frutos da tua língua
que nunca beijei.
Guardo as palavras quentes
de uma madrugada de promessas...
O comboio matinal
leva-me para o sul
numa pequena viagem
onde o grande rio da poesia
canta saudades.
Fazes falta nesta paisagem
de esperas e desencontros
risco frases, rasgo versos...
mas as tuas mãos tardam
e os teus olhos são miragem...
Luís Filipe Maçarico (poema e fotografia)
sábado, março 07, 2009
Mértola, Atmosfera e Imaginário
No belo terraço de cal, tivemos a nossa primeira aula ao ar livre, com o professor João Pedro Bernardes, que dinamizou uma reflexão sobre o Mediterrâneo.
Semana após semana os laços reforçam-se e à medida que o tempo vai sendo vencido, os sonhos e os desaires do colectivo que somos, vão sendo partilhados, no jantar de sexta, no almoço de sábado, nas pausas entre aulas, na interpretação do gesto, da presença estimulante ou da ausência estampada no olhar.
Esta semana, entre outros momentos, foi bom receber o abraço fraterno da Ana Isabel, ouvir a Ana Paula, acamaradar com a Ana Dias, o Rolando e o Marco no Lancelot, saber que a Sandra é uma mulher especial, resistente e irmã, e que a Mariana, de repente, ficou com cara de colegial. Adoro esta maltinha.
E assim vamos rumo ao futuro, embalados pelo Guadiana, por umas andorinhas tontas que descobriram a casa de banho ou pelas portentosas cegonhas que esvoaçam naqueles céus de azul vibrante.
O ar de Mértola entranha-se já no imaginário, sabemos de cor os caminhos, é bom regressar todas as sextas. Sinal de interesse e de vida, de saber um pouco mais e aprender a ser humilde.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)
Semana após semana os laços reforçam-se e à medida que o tempo vai sendo vencido, os sonhos e os desaires do colectivo que somos, vão sendo partilhados, no jantar de sexta, no almoço de sábado, nas pausas entre aulas, na interpretação do gesto, da presença estimulante ou da ausência estampada no olhar.
Esta semana, entre outros momentos, foi bom receber o abraço fraterno da Ana Isabel, ouvir a Ana Paula, acamaradar com a Ana Dias, o Rolando e o Marco no Lancelot, saber que a Sandra é uma mulher especial, resistente e irmã, e que a Mariana, de repente, ficou com cara de colegial. Adoro esta maltinha.
E assim vamos rumo ao futuro, embalados pelo Guadiana, por umas andorinhas tontas que descobriram a casa de banho ou pelas portentosas cegonhas que esvoaçam naqueles céus de azul vibrante.
O ar de Mértola entranha-se já no imaginário, sabemos de cor os caminhos, é bom regressar todas as sextas. Sinal de interesse e de vida, de saber um pouco mais e aprender a ser humilde.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)
quinta-feira, março 05, 2009
Carta para o Meu Amor de Longe
Apareceste em Janeiro. As noites tornaram-se menos frias. O teu sorriso vencia os dias sem sol. Súbito, às sextas feiras, antes de partir para as aulas em Mértola, telefonávamos, trocávamos mensagens, a esperança chegava e dava-me força para vencer todos os obstáculos.
Um dia deixaste de aparecer no meu computador, amor virtual...
Procurei-te em tardes cinzentas, à beira da ria que é um tapete de magia para o teu olhar, entre moliceiros e lodo. Chamei por ti fitando as vagas alterosas do mar que deve saber de cor o teu nome sílaba a sílaba oferecido ao vento.
Amanhã começa o Segundo Semestre...
Parto mais pobre para o sul das amendoeiras em flor.
Sem ti e sem a boleia do costume, naquele automóvel que desbravava as estradas entre Santa Margarida do Sado e o Guadiana, entre amigos, a caminho da sabedoria.
Amanhã era bom que, subitamente, uma mensagem tua me devolvesse o sol da meia-noite roubado sem explicação.
Que no comboio para Beja os beijos voltassem a ser trocados e os dias se tornassem menos melancólicos.
Que a poesia não fosse mais necessária, para falar do júbilo e da ausência.
E brotassem palavras singelas, escritas pelos teus dedos, para partilhar sentimentos, emoções, desejos.
Será que ainda "adoras a minha atenção" e continuas a "esperar que nunca se venha a esgotar"?
Deita fora o silêncio, abre a clarabóia do teu sonho e mergulha numa página nova que precisa de ser escrita.
5-3-2009 23:46
Luís Filipe Maçarico (palavras e fotografias de Mértola)
Um dia deixaste de aparecer no meu computador, amor virtual...
Procurei-te em tardes cinzentas, à beira da ria que é um tapete de magia para o teu olhar, entre moliceiros e lodo. Chamei por ti fitando as vagas alterosas do mar que deve saber de cor o teu nome sílaba a sílaba oferecido ao vento.
Amanhã começa o Segundo Semestre...
Parto mais pobre para o sul das amendoeiras em flor.
Sem ti e sem a boleia do costume, naquele automóvel que desbravava as estradas entre Santa Margarida do Sado e o Guadiana, entre amigos, a caminho da sabedoria.
Amanhã era bom que, subitamente, uma mensagem tua me devolvesse o sol da meia-noite roubado sem explicação.
Que no comboio para Beja os beijos voltassem a ser trocados e os dias se tornassem menos melancólicos.
Que a poesia não fosse mais necessária, para falar do júbilo e da ausência.
E brotassem palavras singelas, escritas pelos teus dedos, para partilhar sentimentos, emoções, desejos.
Será que ainda "adoras a minha atenção" e continuas a "esperar que nunca se venha a esgotar"?
Deita fora o silêncio, abre a clarabóia do teu sonho e mergulha numa página nova que precisa de ser escrita.
5-3-2009 23:46
Luís Filipe Maçarico (palavras e fotografias de Mértola)
quarta-feira, março 04, 2009
Espuma da Manhã
A tua presença
irrompe na espuma da manhã
no risco de asa que abraça o céu
nas formas perdidas
trazidas pela maré
nas rosas que não vi à deriva
sobre o areal desmedido
no pontão dos vultos sonâmbulos
nas palavras pegadas
no silêncio onde o teu retrato
se esfuma e as sílabas partilhadas
guardadas são relíquias e
se dissolvem como as gaivotas nas ondas
tão longe tão longe tão longe.
4-3-2009; 00:20
Luís Filipe Maçarico (poema e fotografias - Praia da Vagueira, Aveiro)
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